Judith Butler: nova vítima do lobby
israelense na Alemanha
Ludwig Watzal (Palestine
Chronicle)
Campanhas de difamação
contra pessoas que não obedeçam a pauta estreita, ‘politicamente correta’, e
respectiva retórica, no que tenham a ver com expor as repetidas violações de
direitos humanos e a opressão brutal, por Israel, do povo palestino, são rotina
na ação do lobby israelense pró-sionistas na Alemanha.
A mais recente vítima do
lobby israelense pró-sionistas na Alemanha é a judia Judith Butler, professora
do Departamento de Retórica e Literatura Comparada e co-diretora do Programa de
Teoria Crítica na Universidade da California, Berkeley. Judith Butler também é
militante ativa da luta contra preconceito de gênero, pelos direitos humanos,
contra a guerra, e participa do movimento Voz Judaica pela Paz. Esse ano,
recebeu o Prêmio Adorno, da cidade de Frankfurt, distribuído a cada três anos,
no valor de 50 mil euros.
Por que Judith Butler foi
massacrada? Seu ‘crime’ é incluir o Hamás e o Hizbollah como parte ativa da
esquerda global, e apoiar a campanha BDS (Boicote, Desinvestimento, Sanções)
contra o consumo de produtos israelenses provenientes dos Territórios
Palestinos Ocupados. Imediatamente depois de divulgada a notícia de que lhe
fora conferido o Prêmio Adorno, abriram-se contra ela as portas do inferno.
A procissão de detratores
foi chefiada pelo Secretário Geral do Conselho dos Judeus na Alemanha, Stephan
Kramer; ao seu lado apareceram imediatamente o embaixador de Israel na
Alemanha, seguido dos suspeitos de sempre.
Kramer acusou Butler de
ser “odiadora confessa de Israel” e “cúmplice” do Movimento BDS, apesar da abordagem
nuançada de Butler sobre a campanha BDS; classificar o Hamás e o Hizbollah como
parte da esquerda global ignoraria a visão de mundo fundamentalista arcaica dos
dois grupos, sobretudo contra as mulheres. Mas Kramer não rotulou a crítica que
Butler construiu contra a política de governo de Israel como “antissemitismo”.
A controvérsia em torno do Prêmio Adorno revelou a tensão existente dentro do
judaísmo entre a ética universalista e as tendências nacionalistas,
autoritárias, do sionismo.
Na furiosa campanha movida
contra ela, Butler manteve-se inabalável. Recebeu apoio, dentre outros
intelectuais alemães, do professor Micha Brumlik da Universidade de Frankfurt e
do professor Neve Gordon da Universidade Ben-Gurion, em Beer-Sheva. Gordon
escreveu: “A bem orquestrada caça às bruxas, iniciada pelos autoproclamados
“Intelectuais pela Paz no Oriente Médio” contra Judith Butler é sórdida
tentativa – baseada em mentiras e meias verdades – para silenciar uma vigorosa
crítica contra a política de abuso de direitos que Israel pratica nos
Territórios Ocupados.”
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DIFAMAÇÃO
DIFAMAÇÃO
Campanhas de difamação
promovidas pelo “Lobby israelense” na Alemanha acontecem periodicamente. Antes
da atual campanha contra Butler, houve a campanha contra Gunter Grass, prêmio
Nobel, que se atreveu – no poema “O que tem de ser dito” – a sugerir que o
governo israelense é maior ameaça à paz mundial que o Irã. Embora o Conselho
dos Judeus na Alemanha tenha iniciado a campanha, as calúnias foram publicadas
em toda a grande imprensa alemã, com a única exceção do semanário “der Freitag”
de Jakob Augstein.
Há dois anos, a famosa
advogada e militante da defesa de direitos humanos Felicia Langer, que vive na
Alemanha, foi também massacrada pelo “lobby israelense” e seus infames
apoiadores, imediatamente depois de receber a prestigiada medalha da “Ordem do
Mérito de Primeira Classe da República Federal da Alemanha”. Alguns
caluniadores não se envergonharam sequer de tentar chantagear o presidente da
Alemanha, ameaçando-o de devolver as próprias medalhas, no caso de o presidente
não cancelar a condecoração de Langer.
O modo como as
instituições alemãs e seus representantes tratam os professores palestinos é
exemplificado pela caso da conhecida professora britânico-palestina Dra. Ghada
Karmi, da Universidade de Exeter. Em fevereiro de 2012, a professora Karmi foi
convidada para falar sobre a Palestina, numa conferência na Universidade de
Bremen. No último minuto, o convite foi cancelado, e a universidade declarou
que as ideias da professora não seriam “adequadas”.
Depois se descobriu que um
aluno dos cursos de pós-graduação, israelense, havia protestado contra a
conferência ter convidado a professora Karmi, que teria ideias “antissemitas”.
As mesmas acusações infundadas foram feitas contra o professor Ilan Pappé,
judeu israelense, para impedi-lo de falar em público na Alemanha.
O pior aconteceu, no caso
da professora Karmi, quando ela participava de uma conferência Na
Universidade Livre de Berlim, organizada pelo Research College da mesma
universidade em colaboração com o Conselho Alemão de Relações Internacionais.
Nas palavras da professora Karmi: “O que aconteceu ali foi deprimente
manifestação da hipocrisia alemã diante dos israelenses presentes e mal
disfarçado incômodo com a minha presença, como se lamentassem a autorização
para que se ouvisse uma voz palestina.”
A professora Karmi foi
apresentada à conferência por um representante do Conselho Alemão de Relações
Internacionais, como alguém que, segundo “alguns israelenses” é “terrorista
palestina”. O público não protestou nem a universidade pediu desculpas à
professora. Se algum representante do Conselho Alemão de Relações
Internacionais se atrevesse a apresentar algum professor israelense como alguém
que segundo “alguns palestinos” é “terorista israelense”, sua carreira
acadêmica estaria imediatamente terminada.
Essas campanhas de
difamação são retrato claro da desoladora paisagem política na Alemanha, hoje.
(Artigo enviado por
Sergio Caldieri)
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