Entre a Farsa e a Tragédia
Um pouco da história...
Meus amigos leitores e leitores amigos, eu estou de
volta à vida...
Há dois meses assumi a criação do programa de tevê da
campanha política do PSOL na cidade de Cabo Frio. Escrevi aqui que não manteria mais a
publicação diária dos textos, fotos, artigos, críticas, neste blog, por total
falta de tempo. Os 19 programas e os vários comerciais necessários à campanha,
ficariam em torno de 800 mil reais (o mais baixo de todos os orçamentos), mas
no caso deste pequeno partido, por inexistência total de verba, os programas só
poderiam ser realizados por uma equipe pequeníssima, de um só profissional: –
Eu mesmo! Assim parti com o peito aberto para essa aventura. Primeiro pelo
desafio de fazer o que nunca antes fora feito - um programa de televisão
escrito, fotografado, dirigido, editado e
produzido por uma só pessoa - depois pela amizade ao Claudio Leitão, protagonista
desta peleja e pela simpatia ao seu pequeno exército de aguerridos militantes, me
fazendo, com esse trabalho quase cinematográfico, conhecer melhor os
personagens políticos desta cidade onde hoje moro e vivo. Fiz entre eles alguns amigos, mas o professor
Babade, uma das mais puras e integras figuras do pensamento marxista e das lutas
socialistas da humanidade contra o capitalismo, foi quem mais me encantou,
embora eu já o conhecesse por sua amizade com Totonho, outro professor que eu já conhecia. É como dizia o velho Marx:
“A história se repete, às vezes como farsa e outras vezes como tragédia”. Realizei,
desde que retornou a democracia brasileira, alguns filmes de publicidade e
outros de programas políticos, mas nunca havia feito nada igual a essa campanha
do PSOL. O esforço foi tremendo para um jovem como eu de 64 anos. Mas ganhei o
desafio, derrotei a farsa daqueles que diziam que isso seria impossível e tenho
certeza que fiz a cidade de Cabo Frio conhecer muito bem o pensamento do seu
mais jovem político.
Os Fatos que antecederam a quase tragédia:
Estava eu no Rio de Janeiro no fim de semana visitando
a minha mãe de 93 anos quando aproveitando a presença do seu enfermeiro tirei a
minha pressão cardíaca – 18 por 11 – Ana e Raquel ficaram apavoradas e me
levaram ao médico. Sai para Cabo Frio medicado com um remédio controlador da
pressão arterial. Continuei com a minha vida normal. No dia 15 de setembro,
depois de um debate promovido pelo sindicato dos professores, tomamos uma
cerveja gelada e o Claudio me deixou em casa. Entrei no meu pequeno espaço de
trabalho que fica no primeiro andar da casa onde moro, liguei o computador e
redigi a página publicada no blog. Fumei um cigarro e já ia me levantar quando
comecei a me sentir mal, achei que ia desmaiar... Comecei a suar bicas, fui
para o banheiro e o meu segundo filho, José Luiz, apavorado com o meu estado,
chamou Raquel que dormia no segundo andar da casa. Ela apareceu na porta do
banheiro mais apavorada que ele. Achei que iria morrer, pois não parava de
suar. Mas o pesadelo passou em pouco mais de uma hora. Recuperado subi para o
segundo andar da casa e me sentei na poltrona em frente da TV. Estava me
sentindo bem quando fui me deitar. Tudo estava calmo e assim dormi. Acordei lá
pelas três horas da madrugada com a minha perna esquerda totalmente adormecida,
pesada. Um grande e doloroso pesadelo.
Não conseguia dormir mais e fiquei acordado até o sol raiar no horizonte, acima
da ilha do mar distante de Amaxon. A tragédia estava se anunciando mais
fortemente e eu nada podia fazer. Raquel Ribeiro, companheira de mais de vinte
anos de convivência, mulher suave como a brisa de uma manhã ensolarada de
primavera, mas, ao mesmo tempo forte como uma deusa do Olímpio, foi quem tomava
as decisões e assim me levou, contra a minha vontade, a cidade para procurarmos
um médico. Passamos praticamente o dia todo neste périplo de um consultório médico
a outro, de um hospital com a fachada arquitetônica da II grande guerra, onde o
jovem médico com ares prepotente trazia no dedo o anel de doutor e nada sabia
sobre a minha perna, ao horror do último profissional de saúde visitado, que me
disse que eu estava prestes a perder a perna, exatamente igual a uma sua
paciente que já havia perdido as duas e estava no CTI morrendo aos poucos. Eu
já havia experimentado a incompetência médica que envolve os planos de saúde
deste balneário tropical. Ficamos desesperados e voltamos para casa que fica
situada em um bairro afastado. Resolvemos então, depois de consultar em São
Paulo meu amigo e irmão Dr. José Rogério Nader, ir para Juiz de Fora onde ele
já havia movimentado alguns médicos amigos. Preparado e carinhosamente avisados
pela minha incansável companheira eu estava já informado dos acontecidos e me
fortaleci sabendo que iriam me esperar no grande hospital. Raquel, com uma
sinusite crônica e exausta, com febre, não conseguiria dirigir a noite os 300
km que separa uma cidade da outra. Ela liga então para a nossa amiga Jô Mureb,
contando que precisaria de um motorista para dirigir o seu carro. Jô arrumou um
taxi da sua confiança que imediatamente nos pegou e nós saímos como três malucos
exaustos para esta viagem em busca do alívio de uma dor na perna que se tornava
insuportável. Para mim foi à viagem mais longa de toda a minha vida.
Não tenho medo da morte, mas tenho horror da dor e da
incompetência humana.
Não me lembro de como chegamos à cidade na qual vivi
mais de dez anos e onde sou muito querido e respeitado. Sei que em pouco tempo
estava em uma sala onde o simpático e alto-astral médico Jose Daher
já me esperava.
Lembro-me da sala de cirurgia, para onde fui levado
imediatamente, e também da sua jovem e linda anestesiologista, que me deixou envergonhado com a minha nudez e com as minhas partes
íntimas raspadas expondo a minha identidade de macho encolhida, escondida, enrugada,
tal qual um caramujo aflorando a pele branca. Apaguei falando com ele, como fez
o poeta Vinícius de Moraes, pedindo a deus que levantasse um pouquinho mais a
minha moral latina oprimida... A dor passou e não vi mais nada.
Preparem-se meus amigos que estou voltando renovado e
com sangue novo para o ato final das eleições municipais e posteriormente, em
outubro mesmo, reunindo os atores e a equipe técnica na preparação do meu novo filme
de longa metragem que realizarei nas praias de Cabo Frio ainda este ano antes
da posse dos eleitos.
Obrigado a todos que de uma maneira ou de outra contribuíram
para que eu superasse essa tragédia pessoal.
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