Rogério filma ABISMU com a minha câmera Arriflex-blimpada
Hoje, 26 de setembro, o meu saudoso amigo Rogério Sganzerla (1946)
estaria completando 66 anos.
De meu outro amigo Andrea Tonacci, um dos maiores expoentes
do cinema brasileiro, relembrando Rogério: “Fazia-se cinema para mudar o mundo, não
para ganhar dinheiro ou ocupar mercado. Devo a Rogério essa compreensão de que
o cinema era um instrumento de descoberta, de transformação do mundo. O cinema
como um processo vital, não funcional”.
Maranhão em transe
(Transcrito da Tribuna da Imprensa)
Sebastião Nery
GLAUBER
O Maranhão continua sem
ser a Rússia. E é um pesadelo nacional. Tem o menor IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano, medido pela ONU) do País. De todos os Estados, ainda
hoje, com 47 anos de dominação de Sarney sobre a política e a economia do
Estado, é onde há mais fome no Brasil.
O gênio de Glauber Rocha
viu isso logo depois de 1965, quando o jovem deputado José Sarney se elegeu
governador anunciando a revolução do “Maranhão Novo”. Glauber foi lá fazer um
documentário, viu a alma profunda do Maranhão em transe e anos depois se
inspirou para fazer o clássico “Terra em Transe” sobre gente de carne e osso,
contando a história de uma nova oligarquia que estava nascendo:
– Paulo Autran,
conservador, velho líder absoluto, era Victorino Freire. José Lewgoy, bigodinho
bem cuidado, cabelo brilhantinado até a testa, contraditório, cada dia
defendendo uma posição diferente, era Sarney.Paulo Gracindo, sotaque gringo,
era Alberto Aboud, dono de jornal, que Sarney, governador, comprou e mudou o
nome para Estado do Maranhão. Jardel Filho, jornalista, poeta, poliglota, era
Bandeira Tribuzzi. Joffre Soares, o padre sempre com Sarney, era o cônego Artur
Gonçalves. Quase 50 anos depois, o filme consagrado, Glauber já morto, o transe
do Maranhão pouco mudou. Dono da principal TV (repetidora da Globo) e de rádio
e jornal, e da alma política dos donos das outras duas TVs, Sarney foi, até há
pouco, senhor de baraço e cutelo do Estado. Diz o povo que aqui ele só não
conseguiu comprar três coisas: o Jornal Pequeno, a fábrica de papagaio de
Manoel Caveira e o “Cuscuz Ideal”. O resto é dele ou dos dele.
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