A
desgraça da América Latina é que para cada Pepe Mujica existem 50 Antonios
Ledezmas
Paulo
Nogueira (Diario do Centro do Mundo)
Sabotador
da democracia
A
desgraça da América Latina é que para cada Pepe Mujica existem 50 Antonios
Ledezmas, o prefeito de Caracas detido sob acusação de conspirar contra a
democracia.
Ledezma,
59 anos, é aquele típico político latino-americano cuja ação predatória ajuda a
entender por que a região é recordista mundial em desigualdade social.
É um
predador.
Seu
apelido é Vampiro. Ele foi um dos homens que comandaram o massacre de
venezuelanos miseráveis que se insurgiram em 1989 nos protestos que ficaram
conhecidos como o Caracazo.
Ledezma
tem um histórico golpista notável. Ele foi um dos homens que apoiaram a
fracassada tentativa de derrubar Chávez em 2002.
Na
ocasião, nas poucas horas que durou o golpe, ele quis tomar a prefeitura do
município de El Libertador, na Grande Caracas. Perdera nas urnas, mas não
aceitara a derrota.
Recentemente,
em fevereiro de 2014, ele estimulou publicamente a violência nos protestos
contra Maduro. Morreram 43 pessoas graças a este tipo de conduta.
Agora,
pouco antes de ser preso, ele vinha exigindo a renúncia de Maduro. Pior ainda,
ele estava publicando articulando um “governo de transição”.
Isto é
tramar contra a democracia, isto é tentar um golpe que fraude o desejo do
eleitorado que escolheu Maduro – e isto é crime político.
Ledezma
sabota a democracia e despudoramente se diz vítima de uma “ditadura”.
A
jornalista americana Eva Golinger, radicada na Venezuela, nota uma semelhança
entre o que está ocorrendo no país hoje e o que aconteceu no Chile em 1973.
A mídia,
diz ela, fabrica uma situação aterrorizante. Fotos de protestos em outros
países são usadas para ilustrar o alegado descontentamento do povo.
O
objetivo, afirma Eva, é semear uma atmosfera que chancele um golpe.
(Se você
vê alguma semelhança entre a atitude da imprensa venezuelana e a conduta da
imprensa brasileira, você está certo.)
A
Venezuela – como todos os países do mundo, aliás – enfrenta uma crise
econômica. Esta é particularmente agravada pela queda abrupta dos preços do
petróleo, maior fonte de divisas do país.
Não é
diferente o que ocorre na Rússia, outro grande produtor de petróleo.
A
questão é que a mídia local tenta atribuir cinicamente ao governo de Maduro
toda culpa pelas dificuldades – que de resto aparecem amplificadas.
Isso se
chama desestabilização.
Como uma
democracia lida com um destruidor como Ledezma?
Façamos
um exercício.
Nestes
mesmos dias, documentos desclassificados – que perderam a confidencialidade com
a passagem do tempo – mostraram a frenética ação de Roberto Marinho contra a
democracia brasileira.
Suponha
que, alguns meses antes do golpe de 1964, cientificado das ações de Marinho, o
presidente João Goulart o tivesse detido Jango estaria fazendo o quê? Agindo
como um ditador ou defendendo a democracia?
A mesma
lógica vale para Ledezma.
Um golpe
contra Maduro teria, certamente, consequências. Se a velha elite ligada aos
Estados Unidos o abomina, é grande seu prestígio entre as massas chavistas.
Homens
como Ledezma, numa guerra civil, a gente sabe o que fazem: voam para Miami.
Ele é,
sim, um golpista. E como tal que responder perante a lei.
É um
anti-Mujica.
E então
repito: a desgraça latino-americana é que para cada Mujica existem 50 Ledezmas.
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