OCAS CULTURAIS
Caro deputado Roberto Henriques,
Eis aqui, meu caro deputado, uma ideia simples que nasceu da
importância e da espontaneidade de um movimento cultural que eu vivi no início
dos anos 60.
Nesta época a UNE promovia, com o apoio do Governo do Presidente João
Goulart, encontros dos estudantes e jovens brasileiros com algumas das
principais personagens do nosso universo cultural. Assim surgiu, por todo país,
momentos singulares na nossa história.
Podíamos, antes do golpe militar, conviver informalmente, conversar e
trocar experiências com alguns dos grandes artistas daquela época: escritores,
poetas, músicos, pintores, escultores, diretores de teatro e de cinema, atores
e atrizes, fotógrafos, técnicos renomados, que viajavam pelo país para participarem
e incentivarem esses sensacionais encontros com uma juventude, que está hoje e
sempre, sedenta de saber.
Esses encontros duraram pouco tempo na cidade de Belo Horizonte,
onde eu morava. Eram verdadeiras quermesses de intelectuais, onde tudo se ouvia
e de tudo se aprendia, conversas que forjaram a identidade de um povo universitário
sedento por um mundo novo, estabelecido na confraternização de sonhos
libertários, criando pensamentos e ideias nunca antes experimentadas e
provocando brilhantemente, a época, muitas cabeças, a minha, posso hoje dizer,
foi uma delas.
É preciso, urgentemente, deputado, refazer hoje “modernamente” esses
encontros temáticos com os jovens estudantes do nosso já carente interior
fluminense. Eles têm o direito de usufruir também do melhor que o universo das
artes brasileiras pode oferecer e também aprender, em polêmicos debates e
palestras, lançamento de livros, exposições de artes plásticas, exibições do
cinema brasileiro de cunho cultural, o pensamento dos nossos criadores de
cultura, que serão convidados para falar e expor suas obras, artistas enclausurados,
na sua grande maioria, que não tem aonde exibir, expor, ou com quem discutir as
suas obras.
Esse é o mote principal desta velha ideia: criar vários espaços
com arquitetura própria, de norte a sul do Estado do Rio, se possível nos
maiores de seus 92 municípios, onde se possam promover esses encontros com
jovens estudantes e a população interessada, de todas as idades, com os
representantes da cultura geral brasileira e assim conhecer, discutir suas
obras, criar vínculos, estéticos e de linguagem, deles com a inteligência
artística do Brasil.
Esses centros de cultura, que chamo de “OCA CULTURAL”, pois o projeto
arquitetônico se assemelha a essa conhecida casa do índio brasileiro, só poderá
ser viável se houver a união do Governo Federal com os Estados, Municípios, e
uma grande vontade política de transformar culturalmente o Estado e por
projeção o país..
Tenho certeza que um bom arquiteto da arte do novo faria de bom grado
esse singelo projeto arquitetônico.
Um governo renovador que pretende compreender e espalhar por todo
Estado o prazer do conhecimento de nossas coisas, o desejo de consumir as
coisas nossas, tem de olhar essa ideia com uma visão fina direcionada para a expansão
do mercado da informação e do saber.
A nossa sonhada libertação cultural, precisa urgentemente abrir os espaços
de exibição para toda a criação da arte nacional.
Imaginei que no (futuro) governo do seu candidato (Pezão), com a
elaboração das bases educacionais do seu programa de governo, estudasse e
acrescentasse a possibilidade de criar e implantar o projeto das “OCAS
CULTURAIS” por todo Estado.
Fico imaginando o meu caso: dirigi na década de 80 o Palácio das Artes
em Belo Horizonte e por isso sei da importância, para qualquer cidade do mundo,
dos espaços públicos como esse. Sei também como muitos outros sabem que onde se
é o produtor, diretor, escritor, realizador dos seus trabalhos, se houvesse a possibilidade
de exibi-los e debatê-los, como fiz com muito sucesso, juntamente com o
professor de história Paulo Cotias na Faculdade Estácio aqui de Cabo Frio, onde
exibi quatro filmes para mais de sessenta alunos por exibição.
Imaginei a Oca Cultural sendo dividida em quatro salas: Sala
1: Cinema HD digital e pequeno palco para esquetes de teatro,
apresentações de música, recitais de poesia, palestras, etc. Sala 2: Videoteca
e pequena biblioteca sobre arte. Sala 3: Exposição de pintura e
artesanato. Sala 4: Café e bate-papo.
Um amigo a quem eu disse que escreveria novamente ao governo sobre essa
minha ideia, me falou: - Se nesses anos todos eles não cuidaram da educação,
não criaram as escolas de tempo integral do Darcy Ribeiro, não aplicam uma lei
(a lei do curta) aprovada que leva a jovem arte brasileira aos cinemas
comerciais, o que te faz pensar que eles darão atenção aos seus centros de
cultura? Ele tem razão, pensei, vou jogar conversa fora...
Um grande abraço do amigo de sempre,
Jose Sette
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