Ao amigo com carinho...
Acordei com a péssima notícia da piora irreversível
do quadro da saúde do grande artista da imagem e do som, meu amigo e irmão,
Eliseu Visconti. Conheci esta figura singular em 1969. Quarenta e cinco anos de
uma convivência quase diária, sempre nos falando, uma hora sobre cinema, outras
sobre o Brasil e seus grandes e esquecidos autores, e muitas vezes sobre a
música do nosso passado cultural e que ele conhecia com uma riqueza de detalhes
invejável. Era um colecionador de pequenas obras, legados da nossa época:
discos, textos, pinturas, livros e principalmente colecionava amigos, um
sujeito adorável. Quando nos encontrávamos, por esse mundo afora, tomávamos umas
cervejinhas e riamos muitos da nossa própria vida, muitas vezes, por força das
circunstâncias, marginal e, quando estávamos longe, dia sim, dia não, falávamos
pelo telefone por horas a fio até a orelha doer. Era um guerreiro polêmico,
rebelde, iconoclasta e, talvez por isso, incompreendido. Vai deixar uma obra
cinematográfica genial que influenciou muito todo o nosso cinema. Autor do
inovador “Monstros de Babalu” inventou com ele a nova comédia satírica,
bizarra, melodramática do nosso cinema expressionista e com seus vários filmes de curtas metragens renovou,
brilhantemente, o cinema documental musical etnográfico brasileiro. Seus filmes
sobre o folclore, não podem ser esquecidos e precisam ser resgatados e estudados
pelas novas gerações.
Eliseu sempre foi um bruxo, um grande
artista, que recebia, por suas antenas pré-históricas, missões linguísticas de
uma raça superior. Um nobre de caráter, um homem simples dominado pelo bom espírito
da criação que vai deixar muita saudade para quem o conheceu. Enfim, Eliseu fez
o que eu chamo de cinema da alma, um cinema de visão causada por delírio, sonho, superstição,
fé e visagem. Viva Eliseu Visconti!!!
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