DIANTE DA BIFURCAÇÃO FINALMENTE VOLTEI A MIM
Fábio Carvalho
Entre mil você, era o nome da música do Jacob do Bandolim que
nunca tinha ouvido, antes daquela Segunda sem lei no chorinho do Bar do
Salomão. Maravilhosa música. Ela ainda estava com os cabelos soltos lavados e
cheirosos. Vamos transformar o que eu digo, voltei sem saber do por que ao
plural. Viajo Cinema.
Vi a tarde cair no beiral, rapidamente ela se acabou,
abrindo espaço para a lua da noite âmbar e fotográfica. Não resisto em falar da
tua sombra a se multiplicar. Gostaria de saber e poder escrever o que essa
música me diz. Sem Letra, apenas desenhando. O Milton Banana cantando Tom
parece o Saraceni falando. Se ao invés de só minha sombra nesta estrada, eu
visse ao longo desta estrada outra sombra a me seguir. A necessidade de ser
profissional. Mariposa e fedegosa ela ainda não voltou, enquanto eu toco
teclado com um balanço inimaginável para qualquer um, mesmo para mim.
Contemporâneo. Estranha palavra. O insofismável poeta músico Lou Reed morreu e
o Galo perdeu para o Botafogo, por outro lado amanhã na parte da manhã, começo
montar Jimi Hendrix e a Fonoaudióloga, na parte da tarde Guignard Imaginário e
a noitinha me encontrar com a Música na nova Segunda que já chegou.
Que vida
meu. Bom Também. O melhor é reconhecer amigos, emoção e prazer do amor bem
menos trabalhoso que o sexo. Vamos praticar com os doutores. Brindar água à
nova era. Regional Cordas que Falam. Ouvi uma Ave Maria em alemão as vinte e
uma e quarenta e seis na Classic and Jazz, cantada por uma tão redolente
cantora que jamais esquecerei, enquanto ventava muito lá fora. Logo depois veio
o milagre em bela chuva criadeira, ainda com o Sol, que não durou mais que uma
hora, era a Primavera. Beco da Tecla.
Imersão total no som do Jimi Hendrix e na
imagem das alunas do Guignard, podendo acontecer de eu vir a ficar muito doido,
a vida é arriscada, já disse com razão alguém. Ontem era Sexta Feira, dia de
todos os Santos e hoje Sábado de Finados, a volúpia de escrever me abandonou
por alguns dias, também pudera, estávamos filmando direto de uma maneira que há
muito não faziamos: com equipe e elenco numerosos, figurinos, maquiagem,
deslocamentos, enfim tudo que um filme profissional deve ter. Agora na montagem
ela voltou. Na minha cabeça ronda recorrentemente a lição em forma de carraspana
que um dia me deu. Ela me disse exatamente o seguinte: minhas atitudes devem
fazer diferença e trazer satisfação interior. Não é suficiente cumprir com
todos os deveres e responsabilidades, mas é importante que tudo o que faça
tenha a marca da dedicação profunda. Tenho me remoído nessa dedicação. Toda
diáfana a Luiza de cabelos soltos e penteados sentou na cadeira de braços
coberta por um pano lilás. A expressão imprimiu. Em 1934 Bertold Brecht
escreveu: hoje, o escritor que deseje combater a mentira e a ignorância tem de
lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades. É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que
por toda parte se empenham em sufoca-la; a inteligência de reconhecer onde por toda parte a
ocultam; a arte de torna-la manejável como uma arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em
cujas mãos ela se tornará eficaz; finalmente, precisa ter a habilidade para difundir entre eles. Estas
dificuldades são grandes para os que escrevem sob o jugo do fascismo; e até os
que escrevem num regime de liberdades burguesas não estão livres de sua ação. A
terceira dificuldade: a arte de torna-la manejável como uma arma, me encantou
sobremaneira. Mandamento muito sedutor. Esplendorosa esta entrada de noite de
Domingo no alto da Serra com visão panorâmica das luzes da cidade se acendendo,
ouvindo Oscar Peterson e Joe Pass com belas companhias em altíssimo grau.
Falemos de virtudes. Acordei meio mal na nova Segunda, só me lembrando das
obrigações. Vamos às dedicações.
Meu amigo grego Eleusis contou, enquanto a
morena cor jambo de óculos com lenço de oncinha no pescoço abria sua bolsa
enorme em cima do balcão de mármore falso, que tinha ido a um restaurante que
sempre ia e viu na parede do outro lado um quadro que ele nunca tinha visto por
lá, nem em lugar algum, ficou com preguiça de ir ver que quadro era aquele que
ele nunca tinha visto. No dia seguinte, foi lá só para ver o quadro. E viu que
o quadro que nunca tinha visto, nunca esteve lá, era inexistente. Havia sido
uma alucinação. Que dizer de tal inexistência? Os quadros têm se perdido da
visão. Sem me ver sempre ilusório, podemos apertar um pouquinho ela a visão.
Não sei ao certo para quê, hora do almoço com o sol a pino, tornei a ficar
siderado.
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