Esta reportagem dá um filme que um
jovem cineasta pode e deve fazer – Está aí à ideia de um documentário que
recebi de um velho amigo que hoje vive em Rondônia.
LCP (Liga dos Camponeses Pobres)
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Baldelaire
advertia quer a maior esperteza do diabo é convencer a todos de que ele não
existe.
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A
notícia sobre troca de
tiros entre policiais federais e milicianos fortemente armados da Liga dos
Camponeses Pobres –nome fantasia do grupo guerrilheiro há anos
instalado na região de Buritis foi novamente negada hoje pela manhã
pelo tenente coronel Ênedy Dias
de Araújo, comandante do 7º BPM. Na verdade, houve o tiroteio, envolvendo um
comboio da Polícia Federal,Polícia Militar,
Ibama e Força Nacional de Segurança, que foi atacado quando retornava de uma
operação de retirada de invasores da Floresta Nacional de Bom Futuro em Rio
Pardo, distrito de Buritis.
Várias
prisões foram efetuadas, mas o comboio foi emboscado quando
deixava o local. Uma ponte foi incendiada e todo o grupo foi cercado pela
milícia em uma intensa troca de tiros. Os policiais, cerca de 40 homens,
foram obrigados a sair à pé e acabaram cercados pelo grupo armado. Eles
permanecem no local à espera de reforços. O enfrentamento evidencia a
disposição do movimento de reagir violentamente contra a tentativa de
desocupação na área onde está instalada a LCP. Os guerrilheiros, que sempre
fugiam para o mato, parecem dispostos a finalmente mostrar sua força e partir
para uma situação de confronto.
Perto de completar seis anos, a reportagem publicada pela revista Isto É na
edição de 02/03/2008 só não permanece atualizada porque a situação
agravou-se enormemente no período. As autoridades desviam o olhar para não
enfrentar a realidade. O Incra, segundo os próprios funcionários, continua
fornecendo cestas básicaspara os guerrilheiros, enquanto a
maioria está cadastrada no bolsa família, apesar dos lucros auferidos com a
venda das terras de pequenos sitiantes e posseiros “expropriadas” para a
chamada “reforma agrária na marra”.
Os moradores são
expulsos de suas terras sob ameaça de morte, mas não conseguem se livrar do
medo. Os guerrilheiros ameaçam caçá-los aonde quer que estejam caso procurem
a Polícia. Saem quase somente com aroupa
do corpo e alguns
pequenos pertences das terras nas quais trabalharam por décadas. Fogem sem
nem mesmo poderem desabafar com alguém, pois mesmo algum vizinho ou parente
que escute sua história acaba arriscando a vida. A lei do silêncio impera na
região. As autoridades fingem desconhecer, os políticos mudam de assunto por
medo de perder votos na área e as vítimas se calam, depois da citação pelos
bandidos da relação de amigos, parentes e conhecidos por eles assassinados.
A Igreja, pela voz da Pastoral da Terra, jura por Deus que isso não
existe. Charles Baudelaire já dizia que “O truque mais esperto do diabo
é convencer-nos que ele não existe”. A guerrilha, por enquanto, está
conseguindo isso no estado. Leia a reportagem publicada pela Isto É:
Isto É - março de 2008 – Jornalistas
entram na base da Liga dos Camponeses Pobres, um grupo armado com 20
acampamentos em três Estados, que tem nove vezes mais combatentes que o PCdoB
na Guerrilha do Araguaia e cujas ações resultaram na morte de 22 pessoas no
ano passado
O barulho de dois tiros de revólver quebrou o silêncio da noite na
pacata comunidade rural de Jacilândia, distante 38 quilômetros da cidade de
Buritis, Estado de Rondônia. Passava pouco das 22 horas do dia 22 de
fevereiro quando três homens encapuzados bloquearam a estrada de terra que
liga o lugarejo ao município e friamente executaram à queima-roupa o
agricultor Paulo Roberto Garcia. Aos 28 anos, ele tombou com os disparos de
revólver calibre 38 na nuca. Dez horas depois do crime, o corpo de Garcia
ainda permanecia no local, estirado nos braços de sua mãe, Maria Tereza de
Jesus, à espera da polícia. Era o caçula de seus três filhos. Um mês depois
do assassinato, o delegado da Polícia Civil de Rondônia que investiga o caso,
Iramar Gonçalves, concluiu: "Ele foi assassinado pelos guerrilheiros da
LCP."
A sigla a que o delegado se refere, com estranha naturalidade, quer
dizer Liga dos Camponeses Pobres, uma organização radical de extrema esquerda
que adotou a luta armada como estratégia para chegar ao poder no País através
da "violência revolucionária". Paulo Roberto foi a mais recente
vítima da LCP, que, sob a omissão das autoridades federais e o silêncio do
resto do Brasil, se instalou há oito anos na região e, a cada hora, se mostra
mais violenta. Apenas em 2007, as operações do grupo produziram 22 vítimas -
18 camponeses ou fazendeiros e quatro guerrilheiros. Amplamente conhecidos em
Rondônia, os integrantes da LCP controlam hoje 500 mil hectares.
Estão repartidos em 13 bases que se estendem de Jaru, no centro do Estado,
às cercanias da capital Porto Velho, se alongando até a fronteira com a
Bolívia, região onde eles acabaram de abrir uma estrada. O propósito dos guerrilheiros
seria usá-la como rota de fuga, mas, enquanto não são incomodados nem pela
Polícia Federal nem pelo Exército, a trilha clandestina está sendo chamada de
transcocaineira - por ela, segundo a polícia local, passam drogas,
contrabando e as armas da guerrilha.
A nenhuma dessas
colônias o poder público tem acesso. Sob o manto da "revolução
agrária", a LCP empunha as bandeiras do combate à burguesia, ao
imperialismo e ao latifúndio, enquanto seus militantes assaltam, torturam,
matam e aterrorizam cidades e zonas rurais nessas profundezas do Brasil.
Encapuzados, armados com metralhadoras, pistolas, granadas e fuzis AR-15, FAL
e AK-47 de uso exclusivo das Forças Armadas, eles já somam quase nove vezes
mais combatentes que os 60 militantes do PCdoB que se embrenharam na Floresta
Amazônica no início dos anos 70 na lendária Guerrilha do Araguaia. "A
Colômbia é aqui", diz o delegado Gonçalves, numa referência às
Farc.
NO CORAÇÃO DA GUERRILHA
A reportagem de ISTOÉ entrou nessa área proibida.
No distrito de Jacinópolis, a 450 quilômetros de Porto Velho, bate o coração
da guerrilha. Segundo o serviço secreto da Polícia Militar de Rondônia, é ali
que está o campo de treinamento. "Nem com 50 homens armados eu tenho
coragem de entrar na invasão deles", admite o delegado. Caminhar pelas
hostis estradas enlameadas é como pisar em solo minado. A todo momento e com
qualquer pessoa que se converse, o medo de uma emboscada é constante.
Os militantes adotam as táticas de bloqueio de estradas e seqüestro das
pessoas que trafegam pela área sem um salvo-conduto verbal liberado pela LCP.
"É a forma de combater as forças inimigas", escreveram eles num dos
panfletos que distribuíram na região. "Esses bandoleiros foram muito bem
treinados pelos guerrilheiros das Farc", revela o major Enedy Dias de
Araújo, ex-comandante da Polícia Militar de Jaru, cidade onde fica a sede da
Liga.
Para se chegar à chamada "revolução agrária", dizem os
documentos da LCP aos quais ISTOÉ teve acesso, a principal ação do grupo é
pôr em prática a chamada "violência revolucionária". E, para os
habitantes locais, essa tem sido uma violência fria e vingativa. No caso da
sua mais recente vítima, o que a LCP fez foi uma execução sumária, após um
julgamento interno suscitado pela desconfiança sobre o real propósito da
presença de Paulo Roberto Garcia na região. "Eles acreditam que o rapaz
era um agente infiltrado como agricultor e não tiveram dúvida em
matálo", disse o delegado. Dos 22 mortos de 2007, quatro eram
fazendeiros e 14 eram funcionários das fazendas, que a liga camponesa
classifica como paramilitares. Na parte dos guerrilheiros, quatro foram
enterrados - assassinados em circunstâncias distintas por jagunços das
fazendas da região.
Além de matar, a LCP é
acusada pela polícia de incendiar casas, queimar máquinas e equipamentos e
devastar a Floresta Amazônica. Os moradores da comunidade onde vivia Garcia
não sabem o que é luta de classe, partido revolucionário e muito menos
socialismo. Mas eles sabem muito bem que, desde a chegada da LCP naquelas
bandas, a morte matada está vencendo a morte morrida. Só quem consegue transitar livremente no
território da guerrilha são os caminhões dos madeireiros clandestinos, que
pagam um pedágio de R$ 2 mil por dia à LCP para rodar nas estradas de terras
controladas pela milícia. Em troca do pedágio, os guerrilheiros dão segurança
armada aos madeireiros para que eles possam roubar árvores em propriedades
privadas, áreas de conservação e terras indígenas. São terras que a LCP diz
ter "tomado" - e o verbo tomar, no lugar de "invadir" ou
"ocupar", como prefere o MST, não é mera semântica, mas uma
revelação do caráter belicoso do grupo. "A falha é do Exército
brasileiro, que deixa esses terroristas ocuparem nossa área de
fronteira", acusa o major Josenildo Jacinto do Nascimento. Comandante do
Batalhão de Polícia Militar Ambiental, Nascimento sente na pele o poder e a
arrogância desse bando armado.
No ano passado, eles derrubaram uma base militar da Polícia Ambiental
dentro de uma unidade de conservação e sequestraram seus soldados. "A
tática utilizada pela LCP para as emboscadas é certeira", admite um dos
militares, mantido preso por sete horas. "Como são estradas de terras,
no meio da floresta, eles derrubam árvores, que fecham o caminho. Quando as
pessoas descem do carro para retirar a tora, são rendidas", diz E. S.,
militar da Polícia Ambiental, que recorre ao anonimato para se proteger.
"Essa guerra é um câncer que está se espalhando pelo Estado",
alerta Nascimento.
Assim como consta nos panfletos da Liga, os guerrilheiros postam
homens em bases nos morros com binóculos e rojão para anunciar a
"invasão" de sua área por "forças inimigas". Depois de
sermos monitorados de perto por grupos de motoqueiros, durante os 38
quilômetros que levamos uma hora e meia para percorrer no território dominado
pela LCP, ouvimos uma saraivada de rojões anunciando nossa presença.
Estávamos próximos a uma base. O alerta serve também para que os homens
armados se infiltrem na mata ocupando as barricadas montadas com grandes
árvores nas cercanias dos acampamentos.
"O fato é que não dá para observá-los, mas estamos sob sua mira",
adverte o militar da Polícia Ambiental que nos acompanha. Na verdade, a PM
Ambiental é a única força do Estado cuja presença ainda é tolerada pela
guerrilha. A explicação é simples: com apenas oito agentes para cuidar de
quase 900 mil hectares naquela região, eles não representam ameaça ao grupo.
Antes, serão presas fáceis se assim os militantes o desejarem.
Logo que o barulho
dos rojões reverbera na imensidão da selva, as mulheres e crianças vestem
seus capuzes e assumem a linha de frente. Quando se chega ao topo de um
morro, depois de passar por uma barricada construída com o tronco de uma
imensa árvore com a inscrição da Liga, avista-se uma bandeira vermelha
tremular na franja de um acampamento de casas com cobertura de palha. Pouco
tempo depois, outra barricada e chega-se a uma parada obrigatória. Do outro
lado da porteira, transcorreu o seguinte diálogo com uma trupe maltrapilha,
encapuzada e arredia.
- O que vocês vieram fazer aqui? - disse um
nervoso interlocutor mascarado.
- Somos jornalistas e queremos saber o que vocês têm a dizer sobre a reforma agrária e a Liga dos Camponeses Pobres. - Podem ir embora, não temos nada a dizer. Vocês só atrapalham. - Quantas famílias estão nesta invasão? - 300. - Podemos falar com o líder de vocês? - Aqui não existe líder, todos nós somos iguais. - Por que vocês ficam mascarados? - A máscara é nossa identidade. - Vocês acreditam que podem fazer uma revolução? - Não temos que dar satisfações à imprensa burguesa. - De quem vocês recebem apoio? - Não interessa. - Podemos entrar no acampamento? - De forma alguma. Vão embora daqui!
Com colete à prova de balas sob a camisa, saímos da porteira do
acampamento por uma questão de segurança e voltamos a percorrer de carro, numa
estrada precária, mais uma hora e meia até o primeiro ponto de pedágio da
LCP. "No ano passado, fomos presos por eles, éramos oito militares e
eles tinham mais de 50 homens armados com metralhadoras", conta o
sargento da tropa. "Não tem jeito, para resolver o problema com esse
bando só com uma ação conjunta do Exército, da Polícia Federal e das forças
do Estado."
Ao voltar da área dominada pela LCP, fica claro,
nas reservadas conversas com alguns poucos moradores dispostos a contar algo,
que o terror disseminado pela guerrilha se mede pelo silêncio dos camponeses.
Os revoltosos controlam a vida das pessoas, além de investigar quem é quem na
região. Quem não "colabora" com eles - fornecendo dinheiro, gado ou
parte da produção - vira alvo de ataques covardes. Histórias de funcionários
das fazendas da região que foram colocados nus sobre formigueiros ou que
apanharam até abandonar o local estão muito presentes na memória dos
moradores. As torturas praticadas pelos bandoleiros contra trabalhadores
rurais dificultam até contratação de mão-de-obra na região.
"Ninguém quer trabalhar mais na minha fazenda", admite
Sebastião Conte, proprietário de 30 mil hectares de terra. Ele teve parte de
sua terra "tomada" há dois anos pela LCP, a sede da fazenda foi
queimada, assim como seus tratores, alojamentos e área do manejo florestal. O
fazendeiro, acusado pela Liga de ser um latifundiário, é prova de que o
terror da guerrilha é igual para todos. Segundo ele, nos últimos dois anos,
teve que enterrar três de seus funcionários. "Todos eles assassinados
barbaramente", diz Conte. "Estou pedindo socorro. Não sei mais a
quem recorrer."
Longe de lá, na cidade
de Cujubim, os trabalhadores rurais empregados das fazendas não dispensam o
porte de armas. "Aqui ou você anda armado ou está morto", diz M.L.
O capataz da fazenda e seu filho já perderam a conta de quantas vezes
trocaram chumbo com os mascarados que tentam invadir a fazenda. Tratados como
paramilitares, os funcionários das fazendas são, depois dos fazendeiros, os
alvos prediletos dos ataques da Liga. Nelson Elbrio, gerente da Fazenda
Mutum, teve o azar de cair nas mãos da "organização". Ele foi
rendido exatamente como os militares da Polícia Ambiental e ficou preso sob a
mira de uma arma por seis horas.
"Assim que eu fiz a curva na estrada dei de cara com uns 15 homens
encapuzados e fortemente armados. Eles me tiraram do carro e a partir daí
vivi um inferno", conta Elbrio. "Eles queriam que eu revelasse os
segredos da fazenda: quantas pessoas trabalhavam lá, depósito de combustível,
se tinha seguranças armados." O sofrimento do funcionário se estendeu
até o final da tarde, quando o grupo o arrastou até a sede da fazenda, dando tiros
de escopeta próximos a seu ouvido. Em seguida, o obrigaram a assisti-los
incendiando a propriedade e os tratores. "Nunca mais dormi bem",
diz Elbrio.
Com a morte à espreita, o medo transformou distritos inteiros em
zonas despovoadas - verdadeiras vilas fantasmas - e criou uma massa de gente
refugiada de sua própria terra, expulsa pela guerrilha. Em Jacilândia, das 25
casas de madeira da única rua do distrito, só oito estão habitadas. Até a
igreja fechou suas portas. "O povo foi embora com medo dos
guerrilheiros", conta um dos moradores, um ancião que só admite a
entrevista sob o anonimato. "Aqui não podemos falar nada. Para ficar de
pé tem que se aprender a viver", diz o velho agricultor. O silêncio e o
abandono das terras são a mais dura tradução desse novo modo de viver. Maria,
a mãe do agricultor assassinado, não esperou a missa de sétimo dia do caçula.
Deixou para trás os 100 hectares, onde tinha 100 cabeças de gado e a casa
recém-construída. Partiu para um lugar ignorado, sob a proteção de outro
filho.
Naquele pedaço de terra, os poucos que, apesar de tudo,
permanecem na área não têm rostos ou nomes. Quando interrogados pela polícia
na apuração dos crimes, eles se tornam também cegos e surdos. "Não
existe testemunha de nada", reclama o delegado Gonçalves. A razão das
infrutíferas apurações policiais é que os insurgentes presos são facilmente
liberados pela Justiça. "Como eles usam a tática guerrilheira do uso de
máscaras em suas ações, nós ficamos de mãos atadas para puni-los. Nunca se
sabe quem de fato matou", queixa-se o delegado.
As únicas lideranças da LCP a enfrentar a prisão por causa de
assassinatos foram Wenderson Francisco dos Santos (Russo) e Edilberto Resende
da Silva (Caco), que se encontra foragido. Os dois foram acusados de
participar do assassinato do trabalhador rural Antônio Martins, em 2003.
Russo foi absolvido em primeira instância e os promotores recorreram da
decisão ao Tribunal de Justiça.
Essa tensão é o pano de fundo de uma guerra psicológica que os
ideólogos da organização avaliam como a ideal para que a área seja abandonada
pelos fazendeiros. "A melhor forma de desocupar a área é destruindo o
latifúndio", nos disse um dos mascarados, chamado de Luiz por um colega.
Na lógica da LCP, os fazendeiros têm que tomar prejuízo sempre, senão eles
não abandonam a terra. À frente de 300 famílias da invasão da Fazenda
Catanio, uma propriedade de 25 mil hectares, o guerrilheiro Luiz defende o
confisco do gado para matar a fome dos invasores e considera que a
"tomada" de terra é a forma legal de fazer uma "revolução
agrária". "Se esperarmos a Justiça, ficaremos anos plantados
aqui", diz ele.
A audácia dos militantes da LCP é tanta que no ano passado mais de
200 deles marcharam encapuzados pelas ruas do município de Buritis, a 450
quilômetros de Porto Velho, até parar na porta da delegacia, onde exigiram a
saída do delegado Gonçalves da comarca. Motivo: ele tinha prendido um dos
líderes da facção guerrilheira. Não satisfeitos, os bandoleiros bateram às
portas do Ministério Público e da Justiça exigindo que os titulares dos
órgãos também se afastassem.
O fato foi reportado ao Ministério da Justiça, ao presidente Lula e
ao governo estadual. Até agora, não houve nenhuma resposta. "Ninguém
leva a sério nossas denúncias. Eles pensam que estamos brincando, que a
denúncia de guerrilha é um delírio", indigna-se o delegado Gonçalves.
"Isso vai acabar numa tragédia de proporções alarmantes, e aí sim vão
aparecer os defensores dos direitos humanos", critica ele. É exatamente
nessa desconsideração das denúncias de promotores, juízes e militares que a
Liga ganha força e cresce impunemente.
Tão trágica quanto o terror que esse grupo armado impõe às
comunidades rurais é o fato de os governos estadual e federal saberem da
existência desse bando armado - e não fazerem nada. Segundo o Dossiê LCP, um
relatório confidencial da polícia de Rondônia, com 120 páginas, encaminhado
em dezembro passado à Agência Brasileira de Inteligência (Abin), ao Exército
e ao Ministério da Reforma Agrária, o grupo armado, além de cometer todo tipo
de barbaridade, é financiado por madeireiros ilegais.
Conforme o documento, a LCP controla uma área estimada em 500 mil
hectares, onde doutrina mais de quatro mil famílias de camponeses pobres
espalhadas por mais de 20 assentamentos da reforma agrária distribuídos pelos
Estados de Minas Gerais, Pará e Rondônia. "Eles estão na contramão do que
é contemporâneo. Mas, de fato, formaram um Estado paralelo", entende
Oswaldo Firmo, juiz de direito da Vara especializada em Conflito Agrário do
Estado de Minas Gerais.
Documentos em
poder de ISTOÉ comprovam que as autoridades federais têm feito ouvidos de mercador
para o problema. No dia 11 de janeiro de 2008, o ouvidor agrário do governo
federal, desembargador Gercino José da Silva Filho, acusou o recebimento das
denúncias encaminhadas a ele sobre as ilegalidades cometidas por integrantes
da Liga dos Camponeses Pobres. Mais uma vez, nada foi feito. "Eles dizem
que sabem de tudo, mas cadê a ação?", questiona o major Nascimento,
comandante da Polícia Militar Ambiental de Rondônia.
"Essa situação aqui só será resolvida em conjunto com outras forças
militares", admite o major. Foi o que aconteceu no Estado do Pará, em
novembro passado, na chamada Operação Paz no Campo, quando uma ação
envolvendo o Exército, as polícias civil e militar e a Polícia Federal
desocuparam um acampamento da LCP na Fazenda Fourkilha, no sul do Estado. Com
dois helicópteros, 200 homens e 40 viaturas, a força-tarefa cercou o local,
prendeu cerca de 150 militantes e recolheu um verdadeiro arsenal de guerra.
"Precisamos da mão forte do Estado. Aqui somos tratados como cidadãos
marginais".
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domingo, 17 de novembro de 2013
DOCUMENTÁRIO DE CINEMA
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