Um fragmento de "Finnegans Wake"
JAMES
JOYCE
tradução CAETANO W.
GALINDO
SOBRE O TEXTO Este
trecho do romance "Finnegans Wake", de 1939, é parte inédita da nova
tradução, ainda sem previsão de lançamento, a que vem se dedicando Caetano W.
Galindo -o livro já foi traduzido anteriormente no Brasil, por Donaldo Schuler,
para a editora Ateliê. Segundo Galindo, este excerto (págs. 21 e 22 do
original) é "uma vinheta mais ou menos independente que, no entanto,
explora e amplia temas fundamentais da obra: incesto, relações familiares,
relações homem-mulher baseadas em sedução e poder, enigmas sem respostas e,
claro, uma das famosas palavras-trovão, com cem letras, que interrompem o
desenrolar da 'trama'". Galindo dá um conselho ao leitor: "O
'Finnegans Wake' não existe para ser exatamente 'entendido'. Leia em voz alta,
brinque um pouco com o texto e deixe que ele te ensine a sua língua própria".
Heraduma
noite, tarde, munto timplo atroz, numa antaiga erdade das perdas, quando Adão
socavava e sua madãominha tessia cedas d'água, quandomem montenote era
todimundo e a premeira leal costeladra que jamais ouve osseu em-fim todomigo
com seus olhos plenamormorejantes e todomiro vivia solamante com todamina amais
e Conte Dom Cabeço metia a testada tostada benhalta no farol queimorava,
impondo mão fria assi mesmo. E seus dois geminhos, bem pecanos, primos nóssios,
Tristóvão et Hilário, chutanhavam sua bonica, no chão dolheado da casa do
homerigho, castelo embarrocado. E, por Dermoto, quenhé quelhe surge na
zeladoria dastalagem senão a contrassobrinhadessi por afinidade, a pirainha. E
a pirainha rancouma rosinha e sargutou-se adeante do posta. E sim cendeu e a
irlenda embrasil-se. E falela com o posta em seu maisquinho sotraque
parusiense: Marco Hhm, por que queu soa pareço ingual um póco de siveja mês
mussaca pais savor? E foice assim que começaram as escaramoças. Mas o posta
rexplondeu assoa graça em olandês bem nassal: Portaquibateu! Aí sua graça
o'malíncia rapetou o geminho Tristóvão e sternou-se rumoeste nunca minho alá
deirado que chuvia, que chuvia, que chuvia. E Conte Dom Cabeço guerrinhousse
atrazela em seu suave fel de rola: para péra esparajá mevoltacasa aparalá. Mas
ela jurresponsoulhe: Umprabeledade. E vil-se um rajantar naquela mesma noite de
sabote de anglos cadentes em alhum algur dos eires. E a pirainha foissembora em
camanhada quarentana atudomundo e lavou as bença das beleza das verruga do
geminho com sabão sepumensolhas e mandou seus quatro mochos mestros que lho
seus trucos persinassem e ela o convortou aoum só-bom seguro-um-só e ele
tornou-se luderano. Aí veio ela que chuvia e que chuvia e, por redemoto, estava
de nova de volto no Conte Dom Cabeço num pescar de solhas e o geminho benho com
ela navental, talde a noite, umoutra vez. E onde foi que foi ela sinão nobar do
seu brostel. E Conte Dom Cabeço estava cos calcanhos seus bartolobrutos
afagados no barril desmalte, apertando com si sóssio suas mãos acalentadas e o
geminho Hilário e a bonica na primeira infântia estavam embaixo no lerçol,
tolcendo e toussindo, comirmão e comirmã. E a pirainha pinçouma palidinha e sim
cendeu de novo e volaram flamantes frangulhos febris das colhinas. E
sargutissou delante do portarudo, dizendo: Mar cosdois, por que queu soa pareço
ingual dois póco de siveja mês mussaca pais savor? E: Portaquibateu! diz o
portarudo, rexplondendo sua deloucadeza. Então casopensada sua deloucadeza
largou um geminho e pegou um geminho e por toda a vialíria morracima até a
terra de gemém ela chuvia, que chuvia, que chuvia. E Conte Dom Cabeço bailia
atrás dela com alto fol de ralo. Para fera esparajá mevoltacausa apuralá. Mas a
pirainha jurresponsou: Quemeapretece. E ouve um talto laudejar naquela noite de
lourença-feira, de estelas candentes em alhum algur dos eires. E a pirainha se
foi na sua camanhada quarentana atidomundo e cravou as pragas protestintas com
a tonpa dum grepo no geminho e mandou sas dequatras monitrizes cotovintes que
tocassem suas lásgrimas e ela o provortou ao certo-somni-só-seguro e ele
tornou-se tristão. E aí foi ela que chuvia e que chuvia, e num látimo, por dom
temore, estava de volta no Conte Dom Cabeço e o Oiralih com ela embaixo da
borra da seia. E por que ela se detinheria se tanto se nãobem na ala de sua
mansomem em outra noutetarda para o terço dos encantos? E Conte Dom Cabeço
estava com a pelve polvorosa na despenta encaixurrada, ruminando em seus
estambos quátriplos (Varas! Devaras!), ei o geminho oavotsirt e a bonica
estavam embeijo nas cobeldas, osculando e digotando, e canalhando e jururando,
como lacraio e frialda e em sua segunda infântia. E a pirainha pinçou uma
embranca e sim cendeu e jouveram os vales só cintilos. E ela
fez-sargutissíssima defrante da arca do tio runfo, perguntando: Marco Tris, por
que queu soa pareço ingual três póco de siveja mês mussaca pais savor? Mas foi
assim que a escaramoça tevunfim. Pois quai-los camplínios conforcados de
relampos que revinhom, o próbrio Conte Dom Cabeço Boanerges, o velho terror das
sinhoritas, veio pulapula pulalante pela porta benhaberta de seus castros
triscerratos, de chapéu bem rubirrondo e cularinho civicante e com seus saios
fosquirrotos mais as louvas de peliça e aquelas salças furfúreas e a bandoneira
categuta e suas bostas panunculares morduradas como um nãosionalista
verme-amare-zerdavul violetamente indigonado, até o finda da fina fonta de seu
carjado de capatrás. E tapeou sua mão rudosa nasorícula gelhada e falhou o que
bostava e sua flh mbld dss prela ir focando côta, miafia. E a bobeca fê-lum
calapôca
(Perkodhuskurunbarggruauyagokgorlayorgromgremmitghundhurthrumathunaradidillifaititillibumullunukkunun!)
E beberam todos de graça.
JAMES JOYCE (1882-1941), escritor irlandês, autor de
"Ulysses" (1922) e "Finnegans Wake" (1939).
CAETANO W.
GALINDO, 40, é professor
de linguística histórica na UFPR e tradutor de livros como "Ulysses"
(Companhia das Letras), de James Joyce.
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