FALANDO COM O POETA
Não foi o poeta Murilo Mendes quem disse que um artista pinta sempre o mesmo quadro? Eu digo que um artista é todos os quadros pintados pelo poeta. Poeta transistor do caos moderno. Transgressor de todos os dogmas e conceitos. Mediador do absurdo. Poeta-fragmento de um cometa rastreador de palavras repletas de significados. Mnemônica dos deuses quando querem se lembrar dos homens. Linguagem aflita de quem corre grande perigo... O poeta é herói de fato! Mesmo que a fome do insignificante consiga alcançá-lo ele sobrevive. Não é fogo, nem cinza, é luz. O Poeta não tem a vida, tem o verbo que é língua e dedos como dados lançados à sorte. O poeta anda o seu caminho de volta com passos largos para frente. Vive os contrários. Mundos diferentes. Quanto mais caminha um se distancia do outro. Um é um o outro são dois. Trilogia de mistérios. Um poeta é três! Quem deles pode duvidar? O poeta transforma sempre o mesmo quadro em uma verdadeira obra de arte. Todo grande artista escreve sempre o mesmo livro em busca do seu fim que é a perfeição, o ser absoluto, a verdade que nunca vai existir, a combinação exata de todas as cores do universo, do negro total a luz que cega, do percorrer de todas as sombras a descobrir os labirintos até transpor todos os sistemas. O Poeta vive a gênese de todos os textos, sempre retorna ao princípio para começar tudo novamente. Neste mundo só a ele é dado esse direito de ver e ouvir o eterno, ser homem e deus em um só tempo, em um só momento, nos pequenos intervalos da criação. Ora! Porque no poeta tudo é arte, tudo é cultura. Nós não temos que diferenciar um bife a cavalo de uma moqueca de camarão? Pergunte ao Poeta e depois a um homem comum... Só a antropofagia nos une, o resto é bobagem! Ninguém respondeu. Para a poesia não há resposta! Só assim, meu caro poeta, eu consigo te entender.
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