Dormi muito mal a noite. Comi exageradamente o delicioso jantar acompanhado de muitas garrafas de vinho na cantina Piacere que fica na Rua Getúlio Vargas, 241, Fone: (31)3551-4297- http://www.restaurantepiacere.com.br/), do meu amigo Guilherme Mansur. A noite estava fria e fomos tarde para o restaurante convidado pelo simpático Alessandro Ricardo e a jovem equipe de estudantes que o assessorava. Foi uma noite alegre onde todos riam muito e parecia-nos, com franqueza, que o mundo todo estava em festa.
Acordei cedo e fui encontrar os amigos e me preparar para a exibição dos filmes
Perdidos e Malditos de Geraldo Veloso; Sagrada Família de Sylvio Lanna; Os Monstros de Babaloo de Eliseu Visconti. É preciso preparar o espírito, aguçar a visão, limpar os ouvidos, libertar a inteligência, para poder dialogar novamente – cinema x espectador - com estes três monstros sagrados do cinema de vanguarda brasileiro.
Na porta da Pousada nos reunimos sob a luz do sol que temperava a manhã fria do inverno ouropretano.
Logo chegou Silvio com sua digital registrando o acontecido.
Depois de algumas poses para o intrépido fotógrafo e com a chegada do Andrea, acompanhado de Cristina Amaral, a talentosa editora do seu premiado filme Serra da Desordem, saímos em direção do grande cinema Vila Rica e fomos almoçar. - Como se come durante um Festival de Cinema! – Café da manhã – Almoço – Lanchinho – Jantar.
Recebi, assim que cheguei à porta do cinema, o programa da mostra onde pude ler um bom texto de apresentação dos nossos filmes:
Cinema de Resistência no Brasil Ontem e Hoje
(Emílio Maciel)
“... reunindo títulos representativos da guerrilha de invenção brasileira. Surgida durante o mais feroz Estado de Exceção, a obra dos cineastas aqui presente substitui a teleologia nacional-popular do cinema novo por um jogo dissonante e descontínuo de som e imagem, com o qual retoma-se a vertente mais extrema do legado godardiano. No entanto, como bem demonstra essa impressionante obra-prima que é Serra da Desordem, aprofundar a reflexão sobre os abismos da linguagem não significa, para esses autores, deixar de fazer frente às tensões do corpo social, que já aparecem aliás reverberando por trás das elipses, ruídos, esgares e silêncio de filmes como Bandalheira Infernal, Perdidos e Malditos e A Sagrada Família, e ainda ecoam no experimentalismo rapsódico de um Luiz Rosemberg Filho ... é alentador constatar como, dispostos um do lado do outro, esses filmes revelam uma poderosa narrativa ... itercambiando cisão comunitária e crise narrativa, eles sobrevivem e se consolidam, por isso mesmo, como um raro enclave de lucidez em meio a uma regressão que é tanto estética quanto política”.
Recebi de Ofélia Torres, neste final do dia, o convite para a exposição de seus quadros na cidade de Tiradentes. Entramos no cinema as 17:00 horas e só saímos as 23:30 horas quando o frio nas ruas vazias congelavam os ossos e fomos correndo contra o vento da madrugada ao primeiro restaurante que encontrássemos. Aquela jornada cinematográfica me fez lembrar as noites frias do inverno londrino de 1971 quando nos reuníamos no EletricCinema, na Portobello Road, Notting Hill, para um “all night show” onde assistíamos a mostras de vários cineastas de vanguarda fumando haxixe e consumindo copos e mais copos de apple juice.
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