Vamos
transformar a farsa em uma festa.
Acabei de
receber um texto do meu amigo Mario Drumond que, além de expressar o que todos
nós sentimos em relação aos atuais políticos no dantesco espetáculo de ontem na
Câmara dos Deputados, propõem uma espetacular estratégia de defesa, que o
Governo deveria ter usado e poderá usar em relação ao Senado Federal, armando
um cheque-mate nos golpistas: Organizar uma ação inesperada, revolucionária,
para o dia D, é simplesmente programar o não comparecer ao senado (de todos os
senadores que são contrários ao golpe) e ir juntos com os políticos da
esquerda, acompanhados de Lula e Dilma, de braços dados, ao encontro do povo
reunido em grande manifestação de repúdio nos jardins do Congresso Nacional.
Vamos ao
texto:
Se eu fosse
um deputado
Se eu fosse um deputado eu não iria ontem ao Congresso Nacional.
Se eu fosse um deputado eu seria um deputado de verdade e jamais participaria de uma encenação como aquela que se deu ontem no Congresso.
Se eu fosse um deputado eu teria brio e coragem para não passar recibo com minha presença e o meu voto naquela degradação infame que ontem encheu de lama e vergonha uma casa que já foi considerada, nos tempos de João Goulart, a Casa do Povo.
Se eu fosse um deputado eu teria vergonha na cara mais que suficiente para não expô-la naquela caricatura grotesca, um ritual macabro em verdade, superproduzido para linchar a Constituição e a Soberania do país em rede nacional (e mundial) de tevê.
Se eu fosse um deputado eu não iria ontem ao Congresso Nacional inclusive por uma questão de saúde mental e física. Nenhum dessas duas categorias da minha saúde suportaria um minuto sequer de convivência na imundície daquela fossa infecta em que se transformou o Congresso Nacional na noite tenebrosa de ontem.
Além do mais, não seria necessária minha presença lá para emitir meu voto, pois para que este meu voto fosse dado seria bastante que eu não estivesse lá.
Se eu fosse um deputado eu ontem estaria nas ruas, junto com o povo, protestando, com toda a energia da minha indignação e do meu patriotismo, contra a farsa e a barbárie que tomou conta do Congresso Nacional na noite nefasta de ontem.
Se eu fosse senador...
Mario Drumond
Belo Horizonte, 18 de abril de 2016
Se eu fosse um deputado eu não iria ontem ao Congresso Nacional.
Se eu fosse um deputado eu seria um deputado de verdade e jamais participaria de uma encenação como aquela que se deu ontem no Congresso.
Se eu fosse um deputado eu teria brio e coragem para não passar recibo com minha presença e o meu voto naquela degradação infame que ontem encheu de lama e vergonha uma casa que já foi considerada, nos tempos de João Goulart, a Casa do Povo.
Se eu fosse um deputado eu teria vergonha na cara mais que suficiente para não expô-la naquela caricatura grotesca, um ritual macabro em verdade, superproduzido para linchar a Constituição e a Soberania do país em rede nacional (e mundial) de tevê.
Se eu fosse um deputado eu não iria ontem ao Congresso Nacional inclusive por uma questão de saúde mental e física. Nenhum dessas duas categorias da minha saúde suportaria um minuto sequer de convivência na imundície daquela fossa infecta em que se transformou o Congresso Nacional na noite tenebrosa de ontem.
Além do mais, não seria necessária minha presença lá para emitir meu voto, pois para que este meu voto fosse dado seria bastante que eu não estivesse lá.
Se eu fosse um deputado eu ontem estaria nas ruas, junto com o povo, protestando, com toda a energia da minha indignação e do meu patriotismo, contra a farsa e a barbárie que tomou conta do Congresso Nacional na noite nefasta de ontem.
Se eu fosse senador...
Mario Drumond
Belo Horizonte, 18 de abril de 2016
OS MAGOS E O MONSTRO
Mauro Santayana
Mauro Santayana
Dizem que, certa vez, querendo derrotar um adversário, um grupo de magos e de aspirantes a magos – entre eles havia numerosos aprendizes de feiticeiro – reuniu-se para construir uma criatura monstruosa, que pudesse destroçar, impiedosamente, o inimigo.
- Vamos fazer uma cauda
longa e forte, coberta de espinhos – disse um deles.
- E uma boca imensa como um
precipício, com duas fileiras de dentes de tubarão, tamanho X-G – disse outro.
- E seis patas, longas como
lanças e grossas como porretes, que possam perseguir e acuar qualquer um que
esteja se vestindo com as cores deles – afirmou o terceiro.
- Cada uma com 12 garras,
afiadas e curvas, como espadas de sarracenos – reforçou mais um.
- Tudo isso unido, por este
tronco aqui – sugeriu outro – grosso como o de um rinoceronte.
- Coberto com escamas em
lâminas, que cortem como cacos de vidro – propuseram outros, que tinham acabado
de chegar ao encontro.
E durante meses os magos
assim procederam.
Além de detalhes físicos,
inúmeros, foram acrescidos à receita condenáveis sentimentos, que iam sendo
reunidos para alimentar, na fase final, o monstro por via intravenosa, já que
ele, como um abominável frankenstein canídeo, ressonava, roncando, no pátio do
castelo, esperando o dia em que despertaria completamente, como a Bela
Adormecida.
Por isso, no caldeirão em
que fervia a poção que era injetada, como um soro fétido, no monstro, por mil
agulhas espalhadas pelo corpo, se juntaram o ódio mais virulento, as mentiras
mais descaradas, o preconceito mais arrogante, a violência mais sádica, a
ignorância mais teimosa, a manipulação mais descarada e a mais cínica
hipocrisia.
Nesse afã, passaram-se
dias, semanas.
Até que, meses depois, em
um crepúsculo lento e friorento, os magos se reuniram nas arquibancadas do
pátio do castelo, para acordar, finalmente, a estranha criatura.
Para isso, um mago anão,
equilibrista, subindo ousadamente sobre o rabo do monstro, percorreu lenta e
solenemente o seu tronco, e, escalando sua cabeça, aproximou-se do focinho
repugnante e disforme, para soprar, precedido pelo som de trombetas, em suas ventas,
com um canudo feito de despachos judiciais, manchetes de jornal e capas de
revista, o vapor azulado da existência.
Passaram-se então alguns
segundos, de ansiedade e expectativa, em que se poderia ouvir o zumbido de um
inseto.
E no instante em que o monstro
se levantou, resfolegando como o cão dos infernos, foi como se a terra tivesse,
súbita e violentamente, estremecido.
A massa da gigantesca
criatura balançou-se, de um lado para o outro, como uma montanha, atirando,
sobre uma arquibancada mais alta, o anão-mago que havia lhe soprado a vida.
E quando, abrindo os olhos
em chamas, ele escancarou a espantosa bocarra, mostrando a garganta escura e
profunda como um poço, emoldurada pelas longas fileiras de dentes, de onde
explodiu, como uma bomba, o poderoso trovão de seu rugido, fazendo com que todo
mundo saísse correndo, desabaladamente, ainda ouviu-se, desesperado e agudo, um
grito lancinante:
- Ih! Ih! Corre, macacada,
corre!
A gente se esqueceu de
colocar a coleira!
Se
tivesse acesso a um pequeno livro de contos morávios da segunda metade do
medievo, que comprei em um velho sebo em Praga, que me inspirou o início deste
texto, certamente parte da oposição e do próprio PMDB teriam pensado duas vezes
antes de agir como os magos e os seus aprendizes, e optar, uns de forma
planejada, outros de maneira crescente e intuitiva, por incentivar e
cevar, com a velha, surrada, manipulada bandeira do combate à corrupção
de sempre, o monstro da antipolítica, e por abandonar o
calendário eleitoral normal para embarcar em um jogo suicida de encarniçado
perde-perde do qual, como se pode ver também pelas últimas pesquisas,
todos, ou quase todos, sairão exangues, feridos e derrotados, e em situação
muito pior do que a que estavam antes.
Nos últimos anos, e
principalmente nos últimos meses, da Copa do Mundo para cá, muita gente
insistiu em empurrar, radical, emotivamente, a população e a opinião pública
contra o governo, como se disso dependesse a salvação do país.
E o que se conseguiu foi
criar uma grande massa de brasileiros, equivalente hoje a cerca de 20% da
população, que nutre o mais profundo desprezo pela política, pelo Congresso,
pelos partidos, pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Poder Executivo, e que não
tem – e não quer ter – a menor ideia de como funciona um regime democrático ou
o presidencialismo de coalizão.
Uma turba que, da defesa da
tortura, da ditadura, do assassinato de adversários políticos, ao anseio de uma
democracia direta feita na base da porrada e do porrete, exercida pela força, a
pressão e a violência, exibe os mais esdrúxulos devaneios e delírios, tendo
como únicos pontos de união um anticomunismo tosco e anacrônico, o ódio
ao estado, o desprezo pelo Brasil e por suas conquistas e preconceitos de todo
tipo e que só aceita – até agora – a liderança de dois personagens
desequilibrados pelo ego e pela ambição, que representam, a médio prazo, um
imponderável, incalculável, extremado risco para a sobrevivência da democracia
e das instituições.
O PT, de sua parte, embora
não possa ser incluído no “círculo mágico” a que nos referimos, fez,
paradoxalmente, quase todo o possível para o crescimento dessa receita
fascista.
Alimentou, com bilhões de
reais, uma mídia parcial, seletiva, inimiga, quando, até mesmo usando o sábio
pretexto da austeridade, poderia ter evitado fazê-lo, suspendendo, ou limitando
à publicidade legal obrigatória, toda a propaganda paga do governo.
Abandonou, sem nenhuma
estratégia que pudesse impedi-lo, os espaços aparentemente “neutros” e de maior
“audiência” da internet para a direita, e, depois, para a extrema direita,
permitindo que, sem nenhuma reação em contrário, eles se tornassem o principal
caldo de fermento de uma malta ignorante, violenta, hipócrita, manipulada e
burra, parte dela oriunda de um público que as próprias políticas sociais do
Partido dos Trabalhadores havia levado a ter acesso, por meio da inclusão
digital, a computadores, tablets, celulares e conexões de rede.
Não estruturou um discurso
claro, baseado em dados simples, em nada cabalísticos, do PIB, dívida pública,
carga tributária, que pudesse desmentir teses estapafúrdias como a de que
quebrou o Brasil nos últimos 13 anos, ou de que sucateou as Forças Armadas,
quando lançou o maior programa de rearmamento da área de defesa dos últimos 500
anos.
Alguns de seus dirigentes
se entregaram à aceitação de pequenos, perigosos e absolutamente desnecessários
“favores” – não ilegais, mas moral e politicamente discutíveis – e outros
personagens se entregaram a operações de “consultoria”, prestadas não apenas a
empresas brasileiras – coisa totalmente compreensível, no apoio por exemplo, à
exportação de serviços e equipamentos nacionais – mas também a companhias
multinacionais, algumas delas – não necessariamente por influência do PT, mas
em seus governos - beneficiadas, nos últimos anos, por “perdão” de
impostos e empréstimos bilionários, lembrando, nessa aproximação, o que ocorria
nos governos neoliberais e entreguistas anteriores.
O caminho para o cadafalso foi percorrido,
inexoravelmente, até agora, com a resignação e a inação de quem achava
que algum milagre sempre ia ocorrer na etapa seguinte, à volta da esquina,
quando o golpe em andamento só faltou ser anunciado em luzes de neon, por fatos
como o deslocamento – para o qual chamamos a atenção à época – para Brasília,
da mesma embaixadora norte-americana que estava lotada em Assunção no processo
de derrubada jurídico-político- midiática do Presidente Fernando Lugo.
A oposição tem perdido
apoio e intenção de votos com o discurso geral de judicialização e
criminalização da política, na mesma proporção em que seus membros são acusados
de corrupção, quase que exatamente com os mesmos pretextos, jogadas e
subterfúgios – principalmente a transformação de doações legais em ilegais e
delações premiadas negociadas em troca da liberdade mesmo que provisória de
detidos – que antes se utilizavam apenas contra membros do PT e da coalizão
governista.
O Congresso também perdeu
como um todo, institucionalmente, bastando para isso ver a quantidade de
membros do legislativo processados pela justiça – incluídos os presidentes da
Câmara e do Senado – ou apenas no âmbito da Operação Lava-Jato, como é o caso,
por exemplo, da composição da própria Comissão que aprovou, em primeira
votação, por maioria simples, o impedimento da Presidente da República.
A Operação Lava-Jato,
insuflada pela oposição no início, e pela mídia conservadora durante todo o
tempo, e o esporte nacional de acuar e inviabilizar o governo, aprofundaram o
efeito da crise econômica internacional, arrebentando com a governabilidade e
com a economia e quebrando milhares de brasileiros, que, até mesmo por isso,
estão se afastando também da política tradicional, “seduzidos”, como sempre,
por novos e velhos paraquedistas que dizem que não são “políticos”.
Quanto ao PMDB, se nem os
magos e seus aprendizes conseguiram se aproximar da criatura que geraram – por
hora disposta a ganhar afagos e festas de apenas duas pessoas, o Juiz Sérgio
Moro e o Capitão Jair Bolsonaro, que se aproximam, perigosamente de 16% dos
votos;
Se a malta fascista que está
nas ruas, criada com o leite amargo do ódio e o pão de ló da criminalização e
desconstrução da política que a oposição e a imprensa amassaram com o rabo, não
aceita sequer a presença do PSDB partidário em suas manifestações, das quais já
expulsou Aécio e Alckmin, nem a do Presidente da FIESP – que foi cantar o hino
nacional e por pouco não saiu tosquiado, ou melhor, pagando o pato;
Nem
a do “líder” dos Revoltados Online, que apesar de travestido de
fascista, foi acusado de comunista e de “estar a soldo do senador Aécio Neves”
porque tentou fazer um alerta à turba de “homens de bem” e teve que sair sob
proteção policial da Avenida Paulista;
De onde o PMDB
“recém-dissidente” tirou a ideia, ou melhor – aos gritos de “Fora PT” no
Congresso – a ilusão, de que seria tratado de forma diferente por aqueles que
se convencionou chamar de “coxinhas”, ou pelo judiciário, ou pela “imprensa”,
após ficar mais de uma década apoiando e participando da coalizão governista?
Será que esse partido não
sabe que dificilmente o Vice-Presidente Michel Temer deixará de ser a bola da
vez em uma longa fila de impeachments?
Bom ou mau, o PT tinha um
acordo com o PMDB. A imprensa, o Judiciário, os “mercados” não tem nenhum.
Ainda esta semana, em entrevista ao jornal Valor
Econômico, o empresário Francisco Deusmar, dono da rede de farmácias Pague
Menos, com 830 lojas no país, disse que, em caso de impeachment, seria
melhor que o Vice-Presidente da República não assumisse.”Tem que ser como no
futebol – afirmou – o time está perdendo? Muda a Comissão Técnica toda.
E o ex-presidente do Banco Central Gustavo
Loyola, lembrou que não dá para saber que tipo de apoio teria um eventual
governo Michel Temer.
Se haverá eleições daqui a seis meses, para que
quebrar as regras do jogo?
Para que romper a aliança –
mesmo que frágil – de uma coalizão já existente, para tentar, sem nenhuma
garantia de êxito, se aliar subalternamente (pela pressão) a todo tipo de
adversários, que não têm por você a menor simpatia ou respeito?
O que é melhor, atravessar
o rio em conjunto com o grupo com que, ao menos aparentemente, se
estava enfrentando, até mesmo por imposição do campo adversário, as
mesmas vicissitudes e desafios?
Ou substituir regras
democráticas previsíveis, periódicas, pelo imponderável “pega pra capar” de uma
destrutiva briga de foice no escuro – e ser usado como boi de piranha para
tirar as castanhas do fogo para sabe se lá quem chegar ao poder, pisando por
cima do seu pescoço?
Os ministros do PMDB que
permaneceram no governo recusaram-se a queimar suas naves, como Agathocles nas
praias de Cartago.
Ao romper com Dilma, por
sua vez, outro lado do PMDB lançou-se à travessia – que promete ser longa e não
isenta de desafios – de uma espécie de Rubicão caboclo.
E um terceiro grupo,
nacionalista e legalista, tende a manter-se – provavelmente em defesa de suas
respectivas biografias – por convicção, contra o impeachment.
Esquecendo-se das
conveniências de curto prazo, que nem sempre são boas conselheiras, em Política
e na História, por maiores sejam a pressa e as dúvidas eventuais, no lugar de
ficar com o senso comum é sempre melhor ficar com o bom senso.
Senão, corre-se o risco de
morrer como o escorpião que picou a rã – que lhe dava carona – no meio do rio.
O futuro dirá se foi por
estratégia, por “natureza” (como fez o artrópode da fábula) ou estultice.
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