METÁFORAS TAMBÉM AMAM
Fábio
Carvalho
Marku Ribas
Retrato do artista quando jovem cão. Durante a noite sonhos
em profusão com narrativa, personagens desenvolvidos e continuação depois da
interrupção, para o primeiro pipi do dia. Chove sobre David Bowie é o nome do
sonho que sonhei pra mim, dizendo que era para a ametista que é a pedra
reluzente naquele casarão, com um piano de calda aberta embaixo da escada em
caracol. A vontade se esbaldou em flocos líquidos de nuvens, depois que a
cigarra explodiu de cantar, como é sua missão atávica. Manhã úmida, linda
manhã. Lúbrica como todas as manhãs podem ser quando estão na temperatura da
vida amanhecendo. El dia em que no me queiras, ai tá russo! Não sei se foi isto
mesmo que ouvi a morena de cabelos trançados cantando no fim da noite no Sofia.
Foi o que entendí: tá russo compay, tá rossito! Digo, minha vida, lembrando a
fala da província, bela e cintilante como não é a de ninguém.
Caminho irregular de liberdade conquistada, podendo recusar quando
quer, indirigível na sua direção, como pré-punk
independente berra o tempo do phôda-se. Talvez seja ela a
vida eu. Posso até imaginar você sambando com a saia na mão. Minha
voz estava irresistível como a do Barry Whaite. Durante a noite anterior, tinha
feito um tratamento nas minhas cordas vocais com Morrito e charutos
autênticos Monte Cristo. Oxalá e Evoé. Dia dois de Fevereiro, dia da
aurora da revolução, dia que é tudo que o homem quer. Meu amigo, claro está,
vamos nos encontrar no seu andor, lâmpada de Aladin. Se consagrar enfim.
Iracema na cena do cinema é um poema de se olhar. As crianças são levadas pelas
mãos de gente grande. É preciso dar um jeito meu amigo, sei, nossa vida é
nascer, florescer para depois morrer. O quadril de Tereza, que beleza. O mapa
de luz. Infinitamente belo. Há tempo ainda, vamos viver a beleza, já que tudo é
efêmero, a vida é efêmera, então que se se danem os regurjitos moralistas
de auto ajuda. Viva a moral surrealista do amor louco. Vamos fazer uma
omelete. Agite usando, com propriedade de manifestação expressiva, como o
branco do papel exige a consciência desse momento completamente sem resolução,
e por aí ela vai, a revolução da imaginação solta na brisa do mar que quebra no
maior sofá do mundo chamado Malecon. En un lugar de La mancha, de cuyo nombre
no quiero acordarme. Uma distante paz foi alcançada, através das palavras, não
por outra codificação, embora se disfarcem, são armas que atingem com
sofisticação e ternura o que não será transformado. Vamos lá, a elas as
palavras. Diante da cosmogonia instaurada, o cotovelo reinou modorrento já logo
ao amanhecer. Gotitas de Angustura, axilas bonitas e perfumadas. Aplausos
não comovem, ímpetos de rechaça-los devem ser reprimidos para manter a
comodidade do entorno. Naquela noite vi o extraordinário pintor Marc Chagall
falando para a câmera 16 milímetros em branco e preto: se falam bem dele, não
acredita, se falam mal acredita e ponto. Outro lado difícil de ver as coisas na
própria dificuldade realmente desejada. À noite o Bar do Caçapa estava cheio de
Calopsitas coloridas e esvoaçantes, coisa nunca acontecida, nada natural,
também o dia tinha sido de céu azul beligerante, com meia lua branca cortada na
horizontal no meio do infinito da Rua Palmira. Os astrofísicos de plantão no
Domingo, nunca tinham visto tal mudança de ciclo. Ela a Lua fotografou aquela
convulsão na Somália. A
sequiosa volúpia de quem lê a música de maneira correta, erra o alvo do coração
e das mentes dos seres que circulam por entre regras, ao mesmo tempo fora
delas, na maioria das vezes sem o entendimento do conteúdo que mereciam para
sua colocação nas prateleiras da convicção, o que foi
bem dibulhadamente lhe apresentado. Segundo Dona Regina Lampedusa
disse: algo deve mudar para que tudo continue como está. Triste frase. Podemos
distorcer um pouco as coisas, já que falar também não adianta. O inacessível
quase toca o invisível visto: como talvez o cruzamento do olhar profundo.
A fraternidade é uma farsa e o amor não tem direitos sobre nós. Apaixonei-me
perdidamente pela Havana. Ao principio ela acenava e atraia tudo para seu
mundo, em seguida, obnubilava os corredores, confundia todas as imagens, como
fosse iludir a detecção. O alvorecer esperando na porta silenciou-a. Estreitou
em volta dos ombros sua capa, como se fosse uma ameaça final, o maior inimigo
de todos. Sem curvas na estrada de Brasília lá na traseira do caminhão estava
escrito: bruto, rústico e sistemático. Recordamos o incomparável. Só o Rouxinol
faz barulho. A tergiversação chegou ao limite, graças ao meu amigo negão inglês
Mister Bean Laden com sua arenga bem intencionada, mas inadivertidamente
servidora da grande imprensa reacionária. As piores notícias chegam do Brasil,
forças reacionárias afiam suas ganas, em sua complicada forma de se submeter.
Não fomos ao Floredita porque seu avô estava lá. Fêfa, a garçonete, já nessa
altura me chamava de mi amor, mi corázon. Tranquila e agradável essa
véspera do ano dezesseis. Procure-me
na parte funda da piscina junto dos meus amigos da turma da pesada.
Banguelo em Cuba. Na conexão, distraído enquanto filmava a bela aeromoça
panamenha, mordi uma castanha de caju com o dente errado. Lá se foi meu último
pré-molar, que estava bambo há tempos, caiu sem sangue e sem dor alguma, com
antigo anúncio simplesmente deu linha. Era chegada sua hora. Ai de
mim, de nós dois. Bambo, mambo e chá chá chá. Por que fatigar tua débil alma
com planos eternos? (Carmina, II, 11) A razão desse frequente engano é a
inevitável ilusão de ótica do olho espiritual, em virtude da qual a vida, vista
a partir do começo, parece sem fim, mas, quando revista ao fim da jornada,
parece bem curta. Tal ilusão tem seu lado bom, pois sem ela dificilmente
realizaríamos algo grandioso. Longe de mim as mesmices. Assim Shopenhauer
descreve o principio romântico. Outras vezes, lá onde procurávamos prazer,
felicidade, alegria, encontramos ensinamento, intelecção, conhecimento, ou
seja, um bem permanente e verdadeiro, em vez de um transitório e aparente. Não
experimento outro prazer a não ser o de aprender. (Trionfo d’ amore, I, 21) Na
maioria das vezes funciona para acalmar os extintos básicos. Portanto, aqui
está demonstrado uma noção do perigo, do risco da existência da resistência.
Uma tomada de posição. Estou ilhado em Cuba na manhã do credenciamento, cubando
o panorama, quando, nos jardins internos do Hotel Nacional, dou de cara com a
Mariel Heminguay sorrindo uma luz rosada intensa para mim, algo
surpreendente, não para a vida. Fomos a Marina Heminguay num carro
conversível, antes de almoçar no La Bodeguita Del Médio, ouvindo a cantora que
tocava Maracas. Nada mal caminhar pelas ruelas habitadas por todas as
cores de notas musicais em nítida visibilidade depois da chuvinha fininha que
molhou um pouco o calor do Caribe. Não consegui escrever Cuba Rebelde 1,2,3 e 4
como tinha prometido ao meu mais dileto professor editor. Ainda assim te amo.
Hierba Buena.
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