TAUMATURGOS
Vejo quase nada de televisão. Não consigo. É insuportável.
Vejo a rede pública de tevê educativa, às vezes. Mas, mesmo assim, muito
pouco. Agora eu não sei por que o Governo não cria a Rede Nacional de
Tevês Educativas para exibição periódica de programas especiais de cultura. É
lógico que precisamos apresentar para todo o Brasil o melhor da nossa arte
esquecida, do nosso teatro; da nossa dança; da nossa música; da nossa
literatura; do nosso cinema. É programação pra mais de ano. Seria um sucesso!
Os filmes de curtas, médias e longas, por exemplo, produzidos com dinheiro
público, que não tiveram o mercado exibidor e que estão guardados e esquecidos
nas prateleiras, seriam exibidos diariamente, em horário nobre e em rede
nacional. Cineastas, produtores, atores e técnicos destes filmes seriam
convidados para um debate sobre a arte brasileira e o seu tempo. UTOPIA.
O que eu sei é que, ao contrário da lógica, por todas as
regiões do país, cidades como Juiz de Fora e Cabo Frio, onde se tinha um canal
aberto para a TV Cultura, presenteados pelo governo a empresários e políticos
inescrupulosos, que nunca produziram nada, pois nunca tiveram coragem de
regionalizar a produção e só repetiam os
sinais das Tevês do Rio.. Eles arrumaram agora uma maneira de faturar alto,
vendendo suas grades, leiloando os seus horários nobres, desvirtuando sua
programação cultural, trocando o já quase nada por programas horrendos
produzidos por entidades desconhecidas e por empresários que faturam com a
venda direta e tudo isso no ar pelos canais de tevês abertas: comunidades
religiosas de exorcismos fazem a parceria da alienação com as igrejas dos mil
nomes, muitas das quais eu nunca tinha ouvido falar, criando uma verdadeira
babel de consumo de fé em informações truncadas e distorcidas. Uma loucura
irresponsável que precisa ser revista. De quem são essas concessões? Que canais
são esses que proliferam no etéreo nacional? Os nossos cidadãos
tele-espectadores estarão para sempre privados das boas programações de arte e
cultura que ali existiam? As informações privilegiadas repassadas por nossos
artistas nestes canais de televisão, mais que refletem, são fontes de luz da
alma brasileira. Ora, sem essas informações, tornamo-nos assim, por
consequência, presas fáceis do massacre estrangeiro a nossa identidade
cultural. E tudo isso pelo descaso do governo na compreensão da importância da
rede nacional de cultura. Vamos criar um movimento para que os artistas tomem
posse desses canais abertos de televisão permitindo a arte praticar o exercício
da cultura no contexto midiático nacional. O que eu também sei é que se nada
for feito agora, o que irá acontecer então com a tevê digital? Com o cinema
digital? Com a Internet? Com o futuro (que não se brinca) - pode acontecer
algum milagre? Uma revolução?
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