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sexta-feira, 19 de março de 2010

CONTO


Fui para o barco, mudei de roupa e comecei a receber as visitas dos marinheiros que eu havia contratado.
Em um carro, neste dia de sol, Julio e Mariana viajam em uma estrada a beira mar. Julio que está dirigindo fala com Mariana.
- E velho dá trabalho!
Demóstenes sentado na cadeira observa quando passam por ele dois personagens e também as suas sombras:
- Eu sou uma criança abandonada pela família...
Marcos pára de andar na sala e olha para o lado onde prostrado está Demóstenes.
- Para com isso homem!
Julio olha para o lado e fala com a sua acompanhante Mariana e assim, esquecendo de voltar o seu olhar para a estrada, quase provoca um desastre com outro carro que vinha em sentido contrário:
- O velho, eu posso chamá-lo assim? Ele tem um nome difícil! Demóstenes..., se precisa de remédio pra viver..., e remédio custa dinheiro... Como o seu filho vai cuidar dele? ... (o som forte de uma freada) Filho da puta! Viu o que aconteceu?...
O velho fica sentado na cadeira dormindo enquanto na sala estão os dois filhos. Ele acorda e fala alto e assustando Gabriel.
- O que vocês estão fazendo ai parados? Tenho fome!
Gabriel se aproxima do velho:
- Pai! Vou lhe fazer um sanduíche...
Marcos:
- Pede uma pizza pelo telefone que eu pago!
Gabriel, não lhe dá atenção e vai para a cozinha fazer o sanduíche.
Marcos vai atrás dele...
Marcos:
- Alem de tudo o velho não tem mais dinheiro... Quando eu estava vindo de Cabo Frio, passei ali na padaria do Manoel, que estava comemorando com seus amigos um dinheiro que ele ganhou de um estranho... Estavam todos bêbados, falavam alto e ouvi, com clareza, a conversa de seus vizinhos... Um dizia para o outro: - ...Também coitado, sua mulher fugiu com outro, muito mais jovem que ele e levou todas as suas economias...
Assim estava aquela pobre família. Vivendo o inferno de uma vida sem sentido. Imaginava eu aquela cena enquanto navegava pelo canal até o cais que ficava em frente do restaurante onde se comia, com voracidade, toda aquela carne vermelha. Ali, eu estava de frente para a cidade e poderia com mais facilidade contratar as pessoas que me ajudariam nesta minha missão.
O dia amanhecia quando recebi a minha primeira visita. Tinha tirado a barba e colocado o meu paletó azul com a gravata amarela. Eu deveria mostrar naquele momento, com aquelas pessoas, que todo o negócio renderia um bom dinheiro e ficaríamos todos ricos.
No carro Julio, tenso, dirigindo, fala olhando fixo para a estrada agora mais movimentada:
- Você ainda não me disse o motivo desta nossa viagem. O que sei até agora não me deu nenhuma garantia. Embora você sendo uma mulher bonita, vou lhe dizer que o seu marido deve ser um pacote completo!
Mariana olha para Julio:
- Julio, não se preocupe com nada, não estamos sozinhos, estamos sendo acompanhados por pessoas que você não conhece. Demóstenes, hoje debilitado, foi e sempre será um ponto de luz no meio dessa escuridão e vou lhe dizer mais: ele ainda é, pra mim, um homem muito bonito... Ele só tem 56 anos!
Júlio olha para Mariana:
- A senhora vai me desculpar, mas para continuar a viagem eu preciso saber um pouco mais a respeito de toda essa história... O que aconteceu com ele? E por que agora ele está assim?
Mariana:
- Julio... Tudo tem o seu tempo... A vida de Demóstenes é uma longa história.

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