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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Roteiro para um curta 2

Diálogos do Caos
Dois brasileiros conversam caminhando por Brasília.

Um jovem e outro mais velho.

- Faz muito tempo os chineses chamavam o império americano do norte de o tigre de papel - disse o velho em tom retórico - toda a sua política expansionista foi e é baseada em uma mentira, em uma pseudo-ética, num falso moralismo, em nome de um estado democrático, da sonhada liberdade que eles nunca conheceram. Hoje, o tigre está em pedaços, desmancha-se em sua soberba e como única saída precisa instituir o caos. O caos de papel.

- Não fazem sentido essas afirmações, pois se faltar ao equilíbrio justo, universal, uma força coordenadora de todas as coisas, instituem-se o caos.

- Meu jovem artista, certas coisas hoje que tenho visto e ouvido nos meus sessenta anos de vida, não são justas e nem fazem sentido a nossa história recente, já estamos no caos.

- O que poderia ter acontecido neste continente que abalasse a nossa história e que nos levassem ao caos, velho teórico?

- Pelo satélite da televisão a cabo, vi e ouvi o Senhor Luiz Carlos Barreto, homem ligado a esquerda brasileira, fotógrafo de Vidas Secas, dono da tevê Canal Brasil, amigo de Glauber Rocha, cria e patrono do cinema novo, defender a ditadura militar dizendo que o governo do alemão general Ernesto Geisel foi o melhor que o país já teve e que se “de alguma maneira” ele pudesse ter continuado a governar estaríamos hoje muito melhor. Não é importante, mas é sem dúvida um sinal.

- Ora, meu caro! Isso não é nada. Você pode entender a tevê Globo, criada durante a ditadura militar e aliada histórica do Senador José Sarney, tentar juntamente com a revista Veja e outros jornais conservadores, através de uma campanha sistemática e difamatória, derrubá-lo? O que o Sarney fez contra os seus interesses? E os outros seus aliados, ex-inimigos - o senador que é também um ex-presidente, o Fernandinho Collor junto com o Renan, o senador mais esperto de todos? E a maior bizarrice entre tantas é que os dois apóiam com fervor o governo dito à esquerda do Lula.

- A Fundação Ford anda financiando no Brasil várias manifestações de organizações, associações, escolas, universidades e outros institutos que dizem defender o nosso patrimônio cultural e muitos artistas não vêem nada de mal nisso. Você não acha que precisamos nos defender?

- Já estamos nos defendendo! Os Estados Unidos da América do Norte querem colocar quatro bases militares na Colômbia e mais que isso: a quarta frota americana quer nos ajudar a proteger o mar do pré-sal cheio de petróleo...

- E eu não vejo nenhuma manifestação pelas ruas dos jovens estudantes, outrora rebeldes, contra essa possível invasão

-Os militares da Venezuela, os mais americanizados do continente latino, são os que hoje defendem e permitem o governo bolivariano, anarco-socialista e expansionista de Hugo Chaves.

- “Tem algo de podre nos canais de Amsterdã!” Cadê a turma da esquerda?

- A turma da esquerda brasileira que degolou, durante a ditadura militar, aquele negro militante da alegria, que movimentava com seu gingado, como um Mané Garrincha, o Maracanã inteiro, comete erros graves, não se redimem e brigam, sem o menor limite estratégico, uns com os outros. Não se entendem e são pretensiosamente sábios.
Sozinhos até que são inteligentes, cultos, agradáveis, mas quando se juntam na política, nas universidades, em partidos, ou mesmo nas administrações públicas, no poder, enlouquecem talvez perdidos no universo capitalista em que se meteram e passam a andar a passos largos para trás. A direita é muito inteligente, é organizada e caminha unida em defesa dos seus interesses.

- Por exemplo: a indústria farmacêutica é o centro de maior demanda dos interesses dos grupos de banqueiros que dominam o mundo e é o sonho dourado de qualquer capitalista visionário. Assim, calculando a dimensão do caos, o mundo está a cada dia mais doente.

- Quanto vai gastar o governo com a gripe, que ontem foi espanhola, é hoje mexicana e mata muito menos que a gripe comum, disse o nosso ministro da saúde sobre esse espírito de porco. Um lote de um milhão de vacinas para o povo brasileiro de trezentos milhões de pessoas. Que dinheirama vai correr no mundo por causa desse vírus maldito que vem matando e vai matar muito mais gente e você não acha que nós temos de tirar alguma vantagem disso?

- Mas tem alguma vantagem para os capitalistas de plantão, vassalos do rei, tipo você, nesta história?

- Acho que com isso a crise vai-se embora... É uma vantagem!Você tem mais alguma coisa para dizer?

- Muito mais coisas bizarras, que não tenho vontade de lhe dizer agora, andam acontecendo por ai e todos nós sabemos qual é o nosso papel nesse caos.

- Bem! Estou ficando por aqui...

- Em frente ao Palácio da Alvorada?

- Sim, meu velho! O Presidente está me esperando...

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