Observando alguns detalhes da cantilena política há muito exercitada neste país, devo dizer a todos os que hoje estão e os que amanhã aspiram ao poder, dito “democrático”, do capital administrativo e legislativo das cidades, dos estados ou do país, que eles são personagens do mesmo complô social orquestrado no tabuleiro ideológico do pensamento conservador e retrógado que há muito nos governa.
Depois de 27 anos da redemocratização desse país nada de novo aconteceu que transformasse a sociedade brasileira ou que pudesse modificar o universo político doentio que hoje estamos vivendo.
Se não vejamos: entre os presidentes Sarney, Collor, Itamar, Cardoso, o Lula foi o melhor, mas não fez as reformas e as transformações necessárias nas estruturas da base do poder e do saber desta nação. Em verdade todos estavam sobre a mesma tutela e em nada poderiam avançar se não rompessem com as bases da economia capitalista e com a filosofia da globalização.
Chegamos ao momento onde a mídia discute o nome que substituirá o de Lula no poder. Dilma, Serra, Aécio, Marina, Cyro, entre outros nunca citados. Quais destes nomes que hoje se apresentam poderão trazer ao país as reformas necessárias que o Lula não fez e que o país realmente precisa?
Esses nomes, que tiveram a suas vidas forjadas no temor a Deus, na defesa da família e da propriedade, são todos farinha do mesmo saco, acreditam-se impunes e inatingíveis, mas quando pressionados pela miséria social a sua volta, se organizam e transformam-se em guardiões do templo, em verdadeiros paladinos das tradições civilizatórias, da democracia ameaçada, tornam-se iguais aos “Congregados Marianos das igrejas de Minas Gerais” que outrora infestavam as esquinas das cidades com suas listas e estandartes de tristes lembranças, ou nos novos caras pintadas, uma garotada privilegiada, mal informada, lideradas por homens que sempre se apoiarão nos pequenos golpes que os poderes instituídos, em sua suprema soberba, praticam. São eles que paradoxalmente clamam aos deuses quando se sentem ameaçados em sua liberdade predadora. Eles foram criados na ânsia indômita da conquista do mercado, no milagre da economia e das suas posses e heranças, do papel moeda e dos apelos financeiros, de um consumo oferecido e prestigiado pela grande mídia das poderosas empresas de comunicação que nasceram e se fortificaram nas mãos dos mesmos golpistas que proliferaram durante a ditadura militar e dominaram a nova república brasileira onde novamente muitos trabalham a serviço dos interesses de poucos.
Assim surgem, por toda a história conhecida, acirradas contendas política que se proliferaram em todos os níveis do poder. Estas disputas, muitas vezes fratricidas, fazem brotar na sociedade, como um diabo louco, o jovem predador e sua necessidade existencial, vital, de ascensão social, individual, mesquinha e a qualquer custo. Assim surgem os novos líderes neste mundo animal. Eles se alimentam da carniça humana, nascem do caos, da ganância, da vaidade, da soberba e da suas momentâneas superioridades financeiras, do sucesso instantâneo, de serem os mais admirados entre seus pares, do seu pequeno poder, hoje tão almejado e tão disputado pela maioria dos que habitam nossas precárias cidades. Se esses cidadãos da classe média, sem as informações verdadeiras, sem a prática do saber, da crítica dialética e da psicologia das massas, cegos que só se alimentam dos sonhos irrisórios oferecidos pelo papel moeda, pelas miçangas modernas anunciadas na mídia global, um dia puderem ver e enxergar a mecânica dessa engrenagem econômica em que se meteram, e passarem a pensar na sua infeliz existência, a não engolir facilmente o que lhe é dado na boca, alguma coisa começaria a mudar no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário