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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A Grande Arte das Minas

Oficina Goeldi

Quando voltei a morar em Belo Horizonte, lá pelos idos de 1979, dez anos após ter saído de Minas e do Brasil, ao reencontrar os velhos amigos, conheci um pessoal mais novo de alma inquieta, rebeldes e repletos de criatividade. Trabalhavam as madrugadas desenterrando, na arte oculta dos taumaturgos, os enrolados cipoais da memória universal. Foi quando descobri, com alegria, que nem tudo estava perdido. Em verdade comecei a conhecê-los na praia de Ipanema - tenho uma prima no Rio que andava, naquela época, na companhia de um jovem e talentoso artista mato-grossense que vivia em BH. Ela e suas amigas passavam os dias quentes do verão carioca na praia que imediatamente passei a freqüentar. Ana, minha prima, me apresentou a todas suas amigas e ao artista Paulo Giordano, um simpático e engraçadíssimo sujeito que algum tempo depois se tornou um dos meus melhores amigos, embora eu tenha namorado a mulher que ele há muito cobiçava. Foi o Paulo Giordano que me apresentou ao produtor e artista gráfico Mario Drumond, que me apresentou a Oficina Goeldi, que me apresentou a quem eu considero o maior, o mais sensível e erudito artista plástico de minha geração, o surpreendente Fernando Tavares. Paulo Giordano e outro jovem e talentoso artista chamado Oswaldo Medeiros completava o quarteto que dirigiam a Oficina Goeldi. Foi neste ambiente modernista, repleto de boas cabeças pensantes, que produzimos os filmes Um Sorriso Por Favor e depois Um filme 100% Brazileiro. Nesta Oficina da arte de vanguarda mineira, eu conheci e convivi, ouvi e observei, o trabalho, a obra dos grandes artistas pintores do Brasil. Todos que ali passavam para realizar um trabalho eram, além de bem informados, possuidores de profundo conhecimento do nosso universo cultural. Cultivavam, experimentavam e comiam, atropofagicamente, os grandes mestres do modernismo, não só da pintura e da gravura, como também da música, do teatro, da literatura, da poesia, do cinema, enfim o que de melhor a história passada e contemporânea tinha a lhes oferecer. O cineasta Sylvio Lanna também estava em BH na mesma época produzindo o que julgo ter sido o acontecimento mais de vanguarda no Brasil naquela década. Falo do Cine Olho, do encontro de todos os movimentos da arte rebelde, do melhor que se fazia no país, dentro da lufada de liberdade que se espalhava por terras brasileiras. Mas trago essas pequenas lembranças a superfície para colocar aos leitores a minha convicção de que todas as obras criadas naquele período de tempo por aqueles jovens mestres da composição e da cor, da impressão e da corrosão, da gravura e da pintura, terão que ser melhores observadas pelos artistas, colecionadores, estudiosos e críticos que se interessam de verdade pela boa arte brasileira. Fernando Tavares se destacava entre todos com sua produção de qualidade indiscutível. É o Mario Drumond quem nos fala sobre Fernando: “Nascido em Belo Horizonte em 14 de março de 1950, começou um pouco tarde a sua carreira de artista-plástico, na cadeia de Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, onde estava como preso político. Eram os anos setenta e elaborava cartões de natal para os companheiros de cárcere. Saiu da cadeia com a saúde física e mental abalada, mas teve a sorte de ser encaminhado à Dra. Nise da Silveira, que percebendo sua inclinação para as artes, estimulou-o a frequentar a Escolinha de Arte do Brasil (EAB). Lá ele foi aluno do gravador José Altino e da pintora Maria Tereza Vieira, tornando-se depois assistente impressor da gravadora Marília Rodrigues, mestra responsável pela sua iniciação na Arte Maior da Gravura Brasileira. Em pouco tempo o aluno-assistente demonstrou suas notáveis qualidades e foi por Marília apresentado aos principais círculos do meio artístico do Rio de Janeiro, os quais não esconderam a admiração pelo novo talento: Edith Bhering, Anna Letycia, Carlos Scliar, Maria Leontina, Fayga Ostrower, Antonio Grosso e outros contemporâneos. Fernando era o diretor artístico da Oficina Goedi.

Nunes Pereira e Fernando Tavares durante as filmagens do UM FILME 100% BRAZILEIRO de Jose Sette

Foi o seu mais importante gravador e a maior autoridade em Arte da casa. Eu respondia pelos projetos gráficos e pautas editoriais, viabilizações financeiras e coordenação de produção"... A melhor notícia de hoje é que as máquinas estão sendo lubrificadas e que ele estará de volta em breve a produzir as suas gravuras e suas pinturas que tanto nos surpreendiam e nos encantavam. Palmas para Fernando Tavares!


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