A Musica no Cinema
jose sette durante as filmagens de AMAXON com trilha sonora de Emiliano 7 e Jose Luiz VieiraENTREVISTA cedida ao músico José Luiz Viera em 2008
Você acha fundamental para um filme de autor possuir uma trilha sonora original no sentido de dar à obra como um todo um caráter único?
Um bom filme tem como fonte de inspiração toda criação artística. A música é no cinema tão importante quanto à história das artes plásticas é para um bom diretor de fotografia. Creio que sua pergunta já traz embutida uma resposta. No cinema tudo é possível, nada é fundamental. O autor de um filme é o seu diretor. Um diretor pode querer fazer um filme de autor todo em cima de um tema já composto e que lhe sensibilizou a produzi-lo. Um compositor pode criar com o diretor a trama por onde se desenrolara todos os papeis de um filme, mas o autor é sempre o diretor, o dono da idéia e do roteiro. Ele, no Brasil, pode optar por realizar o trabalho com baixíssimos orçamentos, ai na elaboração do seu plano de produção da música, a trilha original, a edição de som, o dolby, etc. passa a ser complemento – só se for possível - o que também não quer dizer que sairá dali um filme ruim. Enfim, eu sei que de cada cabeça nasce uma idéia, um pensamento, uma sentença e uma boa cabeça nem sempre quer dizer um bom filme. Um filme pode ser feito do silêncio... O que quero dizer é que no mundo da tecnologia digital, dos milhões de sons disponíveis, tudo é possível, mas nada é absoluto. Se a trilha de um filme estiver no desenho da produção, se houver inteira compatibilidade entre o criador e a criatura, pode-se realmente crescer muito. Ela pode ser composta na interpretação da imagem original, preparada e depois executada em função de um clima engrandecendo a dramaticidade da cena. Enfim, de tudo que possa ser feito para agradar ao diretor, ao produtor e ao espectador, que deve ser feito, mesmo que esse som seja um só – o silêncio do seu autor.
Você poderia citar três filmes onde a trilha musical desempenha um papel não secundário, mas sim assume o "papel principal” extremando as sensações causadas por uma determinada seqüência de imagens?
Sim... No cinema brasileiro - O Descobrimento do Brasil com musica de Villa-Lobos; no cinema americano – West Side History com música de Leonard Berstein; no cinema francês - Parapluies de Cherbourg de Jaques Demi; no cinema revolucionário soviético - Eisenstein – Alexandre Nevsk com trilha de Prokofiev.
O que você tem a dizer sobre esses filmes (brasileiros) de grande orçamento que em sua maioria utilizam sucessos da MPB em suas trilhas sonoras como já foi visto inúmeras vezes, como: músicas de Caetano Veloso e companhia. Você encara isso como sendo uma "jogada de marketing" ou algo semelhante?
Acho que o cinema brasileiro está derrapando na sua originalidade e na sua autenticidade, mesmo usando grandes nomes da MPB nacional. O importante é saber que uma boa trilha sonora não faz um bom filme existir. A questão fundamental do cinema brasileiro é a conquista de seu mercado. E para isso acontecer é preciso de que se tenha um cinema de qualidade, isto é: o filme precisa ser bem produzido, ter boa fotografia, boa trilha, original ou não, um bom roteiro, bons diálogos, cenários inteligentes e direção criativa e competente, além de uma estética nova e brasileira. Um cinema com linguagem nossa, que não pretenda reproduzir e nem copiar, a pretexto do mercado, o lixo que nos é imposto pela subcultura estrangeira.
Como foi a sua experiência em trabalhar com músicos na tarefa de desenvolver uma trilha para seus filmes?
Trabalhei com grandes nomes da música brasileira, do erudito Camargo Guarnieri ao popular Luiz Eça. Assim fico a vontade para dizer que o meu maior prazer é desfrutar ao lado de um conhecedor profundo da arte de compor, de arranjar e ainda de executar, como você José Luiz muitas vezes fez para mim, as trilhas sonoras de muitos dos meus filmes.
Você tem conhecimento sobre cursos ou escolas que formam músicos aptos a desenvolverem essa difícil arte de "musicar imagens"?
Há muitas escolas que ensina música no Brasil, nenhuma é específica com relação ao cinema, eu não conheço! Mas quando ouço a relação de escola com a arte criativa, lembro-me sempre do genial Noel Rosa quando canta que – O samba não se aprende na escola... Sambar é sofrer com alegria; é chorar a nostalgia dentro da melodia... assim é também no cinema.
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