de Cendrars” Sobre Um Filme 100% Brazileiro, escrito para revista FilmeCultura em março de 1985
Aquele Rapaz
Londres 1970
Nasceu osso duro de roer - suposto delito
deleite de poucos sabores
branca luz nos seus seios a lambuzar coisas pequenas
nasceu sorrindo e depois chorou
o charme discreto enlameado na fazenda dos Barros
nas obras menores do divino
em sangue e areia
nasceu contradição e descaso
televisão desligada
antena quebrada pela força dos ventos
nasceu sombra que rodeia o meio-dia
explodindo luz no pensamento
do caos colérico a alegria
nasceu parabólico das imagens
por todos os lados envergado
buscando o saber como ser alado
buscando o sol massacrado de necessidade
néscio do amor - louco de viver
da porta negra sem casa
navegando no nada
afogando-se no ser para vir a ser
nasceu só como um sonho natural
sem choro onde se acorda sem querer
nasceu do pó
e simplesmente pode ao pó
retornar
ex interno pó
nasceu pérola inocente fabricada de plástico
dada as mulheres indesejáveis
trapo sujo no pescoço social
nasceu maldito correndo atrás da vida
pensava ser alguém
ninguém deixa hoje de ser
nasceu como um anjo louco barroco das catedrais portuguesas
criatura de chaga e gozo - semideus vivo do fogo
aquele que passa pelos portais do inferno rindo da ironia
que atrai e conduz ao retorno antes de finalmente morrer
nasceu católico ao lado dos Pais aquele rapaz
ateu e sem fé que só no último instante do eterno final
finamente observa no céu enfraquecido o velho satanás
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