Marquei o seu nome na minha agenda, disse o repórter,
- sou um agenciador de talentos, para a pobre menina. O rapaz de gravata vermelha
continuou o seu caminho pela rua da cidade. A pobre menina, linda com seu vestido
de chita, esguia e desabusada, permaneceu ainda parada na esquina do comércio a
espera do sinal vermelho estancar o movimento nervoso dos carros. Pobre menina,
tudo ali era novidade. Seus olhos, molhados de alumbramentos, passeavam e viam,
pelas vitrines iluminadas, presentes multicoloridos, desejo escrito em neons,
nas variadas luzes que brilhavam por toda galeria do moderno shopping. Pobre
menina! Era véspera de natal e o comércio, comemorando o grande movimento do
último dia, vendia com frenesi toda sorte de mercadorias. Nada parecia lhe
interessar. Ela fica apressada e passa a andar de um lado ao outro do imenso
corredor de lojas. Agia como se procurasse alguma coisa. Milhares de pessoas
passavam por ela, mas ela era diferente de todas as outras, pois tinha uma luz
que se destacava na multidão. Já estava seguindo-a a mais de três horas e
embora ela fosse realmente única não conseguia imaginá-la sendo um ser de outro
planeta, quanto mais uma pobre menina, como quis insinuar um jornal da cidade
que tentou entrevistá-la. Faz três dias que ela apareceu e de repente, no mesmo
dia, já chamava a atenção dos comerciantes da principal rua do centro da cidade
onde fica o maior shopping da região e de onde ela não saía. Pouco tempo depois
os meios de comunicação já queriam entrevistá-la e naturalmente eu fui o indicado
para essa façanha. Coloquei a minha gravata vermelha e tentei conversar com ela,
mas ela não fala, ando então do seu lado algumas lojas... Parece uma maluca, às
vezes, mas linda é sempre. Uma morena de fechar o comércio. Sinto que preciso
me controlar. Viro a esquina de lado, tangenciando a menina e parando a sua
frente como um tanque de guerra disposto a tudo. Ela fica parada por um instante.
Vejo a doçura dos seus olhos de esmeralda que me fitam com curiosidade.
Naturalmente me afasto e a deixo passar. Ela me encanta e me seduz. Eu a quero mais
e mais a cada minuto, e é tão grande essa paixão que me inunda quanto o pudor dos
que não querem nada. Às vezes duvido que também não seja deste mundo. Não Poesia
Para Lelo. Aonde podemos chegar? Ela nada fala, mas já me aceita caminhando ao
seu lado. O dia chega ao fim. A noite é uma criança. Sentia-me seguro ao seu
lado caminhando em silêncio na direção do nada, ao objeto do caos, a luz e ao
sol se pondo. O grande buraco negro que brilhando existia no final da rua me
parecia que seria esse o nosso destino. Não a abandonaria! Registrando imagens
e sons ao vivo com a minha câmara ligada na minha cabeça, avançaria do lado
dessa menina ao inferno se fosse necessário. Sim! Havia perdido todas as
esperanças em entrevistá-la e já chegando o final da rua descobri que o sol era
o começo da sombra e que era uma boca que engolia o mundo inteiro... –
Novamente marquei o seu nome na minha agenda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário