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domingo, 25 de setembro de 2011

A Minha Arte

CPB

Uma coisa que o cinema me deu foi à consciência que estava no caminho certo. Às vezes apaixonado, outras vezes me deixando dominar por divagações, intuições, conhecimento e estudo, nunca por ganância, fiz cinema por amor à arte. Sei, por todos esses anos vividos, que a arte de ilustrar, com imagens e sons, palavras por mim escolhidas, geralmente escondidas, marginais, cantadas em textos de poesia e prosa, foi como diria Gilberto Vasconcellos “a minha (sua) única quimera”.

Fiz filmes criando imagens e sons rebuscando origens e segredos da nossa cultura, seus personagens e enredos, vozes do tempo que se entrelaçavam poeticamente através de uma linguagem experimental, sempre crítica, cortada no fio da navalha daquilo que eu queria contar. Acho que não consegui me fazer entender pela nova geração de cinéfilos.

O sistema aperta o cerco financeiro. Nunca tirei um só tostão, coloquei todo meu dinheiro no cinema. Estou mais pobre do que nunca. Mesmo assim continuo acreditando que esse é o caminho da minha arte, da minha liberdade criadora. Não vou tergiversar e corromper a minha resistência cultural participando desta festa mercadológica onde os incautos se banqueteiam com a doce ilusão do sucesso

A história da arte é composta em ciclos que pulsam na ação do tempo das suas diversas escolas. A minha escola cinematográfica é a rebelde revolucionária de 1968, nascida no arrocho da ditadura militar. Naquele tempo criou-se um cinema transformador e de resistência, um cinema antropofágico, oswaldiano. Através da liberdade paradoxal de um tempo cruel de repressão, o cinema de arte poética surgiu como a única nova forma de ver o mundo que mudava velozmente. Essa novidade cinética só foi possível existir através das lentes de aumento, da aproximação transgressora, da angulação transformadora de todo tabu em totem, podendo então se ver de perto e ter visões, como as tinha Paulo Villaça no filme do Sganzerla onde o cultuado bandido da luz vermelha, em uma sala escura de cinema, observava o filme na tela de binóculos.

Hoje não vejo mais perto, não tenho visões do meu tempo e da minha arte. Não consigo me interessar mais pelos filmes que abarrotam as prateleiras das locadoras. Não vou mais ao cinema. A cada novo lançamento, um susto. O meu cinema permanece escondido, oculto, marginal. Quando penso que o filme Amaxon foi a minha derradeira quimera, fico triste e perdido alguns minutos sem saber o que fazer... Nessas momentâneas ausências eu já pensei em dedicar os meus dez últimos anos de vida útil em inventar outras artes que me dão prazer ou total desprazer, como arrumar um trabalho como operário no cinema industrial, ser útil em uma produção; em uma televisão; em uma produtora; em uma biblioteca. Escrevo contos, poesias, roteiros; sou um bom diretor de fotografia e sei editar qualquer filme. Poderia ser professor, mas o sistema também não deixa – não tenho curso superior. Algumas pessoas acham que eu deveria mesmo era desistir do cinema... Eu digo que às vezes quero, mas o cinema não me deixa ir. Agora abandonar a criação de imagens e sons e depois poder editá-los, exibi-los mesmo que seja na internet, é um prazer que eu não vou dar ao sistema, nem aos meus inimigos. É como diria o Darcy Ribeiro: “Perdi todas as batalhas, mas não gostaria de estar do lado dos vencedores”.

No mais é torcer para que os mais sensíveis amigos e funcionários da Ancine providenciem, com a máxima urgência, o CPB (Certificado de Produto Brasileiro) do meu filme O REI DO SAMBA, para que assim eu possa entregá-lo, já que foi escolhido, a TV BRASIL e receber o que a ele é merecido.

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