número 0 & número 1
PONTA DE LANÇA
Remexendo em velhos papeis guardados no meu baú, deparei-me com a edição completa do jornal mensal Ponta de Lança que criei quando fui diretor do Palácio das Artes em Belo Horizonte no ano de 1988.
Estavam ali pois, depois de 22 anos guardados, o tablóide que revolucionou, em suas 5 edições, o panorama cultural belorizontino a tal ponto que foi censurado e provocou a minha demissão.
O governador de Minas era então o senhor Newton Cardoso, que começou o seu governo convidando Darcy Ribeiro para implantar as escolas de tempo integral no estado. Depois me convidou para ser o diretor da Fundação Clovis Salgado. Hesitei, a princípio, pois estava envolvido nos meus projetos de cinema, acabava de voltar do Festival de Cinema de Berlim, mas achei também que era uma oportunidade única para colocar na prática muito das minhas teorias sobre a importância da divulgação e consolidação da vanguarda criativa que havia conseguido sobreviver aos 20 anos de ditadura militar.
Antes mesmo de ser nomeado, a pressão contrária ao meu nome era grande nos meios políticos e administrativos do governo. Hoje sei que meus inimigos eram muitos – alguns por medo e outros por covardia, mas a maior parte era por inveja e ciúmes.
Não me arrependo de nada que fiz. Nunca fui um radical, em qualquer circunstância. Quando recebi o telefonema do governador me comunicando da impossibilidade de me manter no cargo, compreendi o seu medo e o seu recuo. Ele já havia desistido de renovar os quadros do Estado, havia dispensado o professor Darcy Ribeiro e se alinhava ao que de pior havia em Minas.
Fiz como fez o professor Darcy, não dei asas à polêmica e voltei para o Rio de Janeiro, ao meu cinema. Mas na época escrevi um texto que hoje encontrei junto com a coleção.
A VERDADE DESCONHECIDA
Terça-Feira, maio de 1988, tudo parecia normal. Abri os jornais de Minas e pelas notícias e manchetes, pude notar que o Governo de Minas, para quem eu trabalhava, ia de mal a pior.
Tive vontade de ficar em casa. Acendi um cigarro enquanto tomava o meu cafezinho pingado. Um pássaro do peito amarelo pousou na minha janela e pareceu-me dizer que todos estavam de olho em mim. - Seria um presságio? Perguntei-me estarrecido em voz alta espantando o pássaro que saiu batendo as fortes asas contra o vento frio da manhã na Rua Gramogol do bairro Sion.
Lia todos os jornais disponíveis para me informar sobre o renascer, em um país agora democrático, o espírito libertário do nosso povo. Mas tudo me parecia ser como antes fora, era como se nada houvesse mudado. Só não mais me sentia perseguido pela polícia do Dops – Ah! A nova república e os mesmos enganos do passado, nada de novo, que merda! Pensava enquanto dirigia meu velho carro no trânsito agitado da capital mineira. Chovia uma garoa fina paulista em todo Belo Horizonte quando cheguei aos portões de ferro da Fundação que ficava encravada no belíssimo Parque Municipal. Assim que os portões foram abertos, pude reparar a agitação do meu editor, produtor, jornalista e poeta Pedro Maciel, que estava molhando-se na garoa e agitadando-se nas nuvens, com seu andar elétrico, caminhando de um lado ao outro do jardim interno onde ficava o estacionamento. Quando ele me viu agitou-se mais ainda estendendo para cima seus longos braços para mim saudar. Apressado aproximou-se do carro e antes que eu pudesse sair, abriu a porta e sentou-se ao meu lado e foi logo dizendo que estava assustado com a recepção interna dessa nova edição do jornal Ponta de Lança . Mostrava-me o exemplar que estava em suas mãos: - Esta edição mal saiu do forno e já provoca uma estrondosa polêmica... Estou preocupado Zé! – Tenha calma! Estamos fazendo história, disse a ele saindo do carro.
Remexendo em velhos papeis guardados no meu baú, deparei-me com a edição completa do jornal mensal Ponta de Lança que criei quando fui diretor do Palácio das Artes em Belo Horizonte no ano de 1988.
Estavam ali pois, depois de 22 anos guardados, o tablóide que revolucionou, em suas 5 edições, o panorama cultural belorizontino a tal ponto que foi censurado e provocou a minha demissão.
O governador de Minas era então o senhor Newton Cardoso, que começou o seu governo convidando Darcy Ribeiro para implantar as escolas de tempo integral no estado. Depois me convidou para ser o diretor da Fundação Clovis Salgado. Hesitei, a princípio, pois estava envolvido nos meus projetos de cinema, acabava de voltar do Festival de Cinema de Berlim, mas achei também que era uma oportunidade única para colocar na prática muito das minhas teorias sobre a importância da divulgação e consolidação da vanguarda criativa que havia conseguido sobreviver aos 20 anos de ditadura militar.
Antes mesmo de ser nomeado, a pressão contrária ao meu nome era grande nos meios políticos e administrativos do governo. Hoje sei que meus inimigos eram muitos – alguns por medo e outros por covardia, mas a maior parte era por inveja e ciúmes.
Não me arrependo de nada que fiz. Nunca fui um radical, em qualquer circunstância. Quando recebi o telefonema do governador me comunicando da impossibilidade de me manter no cargo, compreendi o seu medo e o seu recuo. Ele já havia desistido de renovar os quadros do Estado, havia dispensado o professor Darcy Ribeiro e se alinhava ao que de pior havia em Minas.
Fiz como fez o professor Darcy, não dei asas à polêmica e voltei para o Rio de Janeiro, ao meu cinema. Mas na época escrevi um texto que hoje encontrei junto com a coleção.
A VERDADE DESCONHECIDA
Terça-Feira, maio de 1988, tudo parecia normal. Abri os jornais de Minas e pelas notícias e manchetes, pude notar que o Governo de Minas, para quem eu trabalhava, ia de mal a pior.
Tive vontade de ficar em casa. Acendi um cigarro enquanto tomava o meu cafezinho pingado. Um pássaro do peito amarelo pousou na minha janela e pareceu-me dizer que todos estavam de olho em mim. - Seria um presságio? Perguntei-me estarrecido em voz alta espantando o pássaro que saiu batendo as fortes asas contra o vento frio da manhã na Rua Gramogol do bairro Sion.
Lia todos os jornais disponíveis para me informar sobre o renascer, em um país agora democrático, o espírito libertário do nosso povo. Mas tudo me parecia ser como antes fora, era como se nada houvesse mudado. Só não mais me sentia perseguido pela polícia do Dops – Ah! A nova república e os mesmos enganos do passado, nada de novo, que merda! Pensava enquanto dirigia meu velho carro no trânsito agitado da capital mineira. Chovia uma garoa fina paulista em todo Belo Horizonte quando cheguei aos portões de ferro da Fundação que ficava encravada no belíssimo Parque Municipal. Assim que os portões foram abertos, pude reparar a agitação do meu editor, produtor, jornalista e poeta Pedro Maciel, que estava molhando-se na garoa e agitadando-se nas nuvens, com seu andar elétrico, caminhando de um lado ao outro do jardim interno onde ficava o estacionamento. Quando ele me viu agitou-se mais ainda estendendo para cima seus longos braços para mim saudar. Apressado aproximou-se do carro e antes que eu pudesse sair, abriu a porta e sentou-se ao meu lado e foi logo dizendo que estava assustado com a recepção interna dessa nova edição do jornal Ponta de Lança . Mostrava-me o exemplar que estava em suas mãos: - Esta edição mal saiu do forno e já provoca uma estrondosa polêmica... Estou preocupado Zé! – Tenha calma! Estamos fazendo história, disse a ele saindo do carro.
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