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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Casos políticos

Meus amigos leitores, eu peço que me perdoem a indiscreta propaganda, mas quero dizer, de pronto, que não sou candidato a nada. Só o que quero é contar mais um caso político para vocês.
Ontem fui procurado por um amigo do Rio que me indagou se eu não pensava em ser novamente candidato a deputado e que havia um partido que estaria com as portas abertas para me receber. Disse-lhe então, de forma definitiva, que não estava interessado em me filiar a um novo partido e que por mim, em uma reforma política, verdadeira e radical, deveriam extinguir-se todas as agremiações políticas no país, apressando o futuro e consolidando, de maneira única, a liberdade democrática, a cordialidade da boa malandragem brasileira, a igualdade nas disputas da política e das idéias, o homem em toda sua singularidade. - Fora com as oligarquias e agrupamentos de pessoas que naturalmente pensam diferentes uma das outras! - Fora com os privilégios dos dirigentes partidários e seus podres poderes e que cada ser político, individualmente, apresente a sua bandeira..., e fui falando.
Ele tentou argumentar, mas com a minha resposta firme e decidida, segundo ele anárquica, utópica e confusa, logo desistiu e voltou para o Rio.
Depois escreverei um texto sobre esse tema. “Por Um Novo Paradigma Político”.
Fui para casa e achei esse antigo cartaz e me veio logo à necessidade do texto que segue abaixo:

Partido hoje é coisa de amadores...

Mexendo em meus arquivos encontrei o cartaz feito para a minha campanha a deputado estadual pelo PDT de Minas Gerais ao qual, até hoje, ainda continuo filiado.
É uma bela peça gráfica elaborada pelo criativo Mario Drumond e fotografada pelo competente Milton Campos Neto. Dois grandes amigos de Minas.
Olhando para o meu retrato quando jovem, fiquei possuído por imagens e sons daquela época, formando histórias esquecidas que vinham aos borbotões, cachoeiras de fotos, cinema vivo na minha mente.
Perdi as eleições. Lembro-me que teria boas chances de vitória se o meu pai, prefeito de Ponte Nova, minha cidade natal, estivesse ainda vivo.
Foi o presidente do PDT de Minas, o jornalista José Maria Rabelo, criador na década de cinqüenta do polêmico jornal Binômio, que tentava, mais uma vez, ser candidato a deputado federal, quem me levou a ser candidato a deputado estadual em sua chapa. Meu pai, deputado do velho PTB, chamava-o de caminhão da Acesita, “aquele que só leva ferro”, embora sendo seu amigo, nunca o apoiou. Era um político amador, dizia-me ele com um sorriso matreiro.
Depois da morte do meu pai, José Maria me procurou e me empurrou goela abaixo a sua dobradinha trabalhista, o cineasta e o jornalista, de olho, é claro, nos votos que ele poderia ter naquela região da zona da mata mineira, forte reduto político da família.
Com o sentimento da liberdade e do dever de um revolucionário, embarquei nesta viagem ao conturbado mundo democrático do voto popular, mas com a visão ainda confusa de que aquela não era a minha praia.
Sem apoio financeiro, com dinheiro para quase nada, mas consciente do meu papel de artista naquele momento político, iniciei o périplo atrás dos meus eleitores.
Assumi a bandeira da educação e da cultura - é ali, imaginava eu, que estava o meu reduto eleitoral.
Muitos artistas, eruditos e populares, da capital mineira e do interior, apoiaram a minha candidatura e ajudaram na minha campanha criando e assinando postais com desenhos e textos originais que eram remetidos pelo correio a outros artistas, amigos de amigos, buscando formar uma união, uma torrente de apoio da classe artística em torno do meu nome, único artista que era candidato a deputado em todo estado.
Entusiasmado pela receptividade e aceitação do meu nome, comecei a vender alguns objetos pessoais em busca de mais recursos que financiassem as minhas viagens ao interior.
O meu companheiro de chapa, o presidente do partido, jornalista com o qual participei da criação do mesmo em memorável reunião com Leonel Brizola na Assembléia Legislativa do Rio, dizendo-se também sem grandes recursos, protelava, de todas as maneiras, o material gráfico prometido: cartaz, santinhos etc.
E assim, acreditando na vitória do saber sobre o poder, aos trancos e barrancos, fui levando aquela aventura cívica que, assumida e comprometida, não se podia abandonar.
Mas, no transcorrer da campanha, fui notando as dificuldades que a cada dia se avolumavam mais e mais. Faltava apenas um mês para as eleições e o partido ainda não havia disponibilizado para mim o material de campanha prometido, era muito amadorismo.
No exímio espaço televisivo que cabia ao Partido, eu, em conversa com o José Maria e o irmão do Walfrido Mares Guia (esqueci o seu primeiro nome), que havia trocado o PT pelo PSDB (vejam vocês), ponderei que eles deveriam me permitir, sendo eu um cineasta, sair do padrão proposto e imposto pela produtora do candidato a governo, chato e quadrado, criando um programa novo, moderno, popular para tevê. O meu argumento era que um programa de TV não dá a vitória, mas provoca a derrota. Puro desgaste, reuniões infindáveis, medo, inveja e desgosto.
Resumindo: a minha idéia não foi aceita pelo ex-petista Mares Guia (inimigo notório de Brizola e Tancredo, como mostra seus depoimentos – entrevistas em meu filme Liberdade).
O José Maria e o PDT, que haviam negado, dez anos antes, apoio a candidatura do ministro de Getúlio Vargas, Tancredo Neves, ao Governo de Minas, fechavam um acordo com o PSDB, para apoiar o candidato a governo Pimenta da Veiga. Tudo errado! A minha candidatura caminhava, juntamente com toda a campanha imposta, desordenada, amadora e paradoxal, para o caos.
Podia-se sentir isso em minhas conversas pelo interior de Minas.
Perdemos a eleição – Eu, Pimenta e o Zé Maria - mas até hoje o PDT mineiro tem fechado um acordo secreto com o PSDB e o seu atual presidente, o ex-deputado Manoel Costa, continua hoje Secretário de Estado no governo de Aécio Neves.
Só fui entender esse imbróglio quando em um encontro com meu amigo o advogado Silvio Abreu, que também presidiu o PDT mineiro, ele me explicou as origens udenistas (UDN bossa nova – Sarney, Jose Aparecido, Janio Quadros, etc.) do jornalista José Maria Rabelo... Ah! Disse eu, agora está tudo explicado.

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