Amaxon, um jogo para campeões.
Acabei a edição do som do Filme Amaxon, ontem, as sete da noite, no estúdio Garimpo que fica na Gávea com Damião Lopes e Emiliano 7 (autor juntamente com Jose Luiz Vieira da trilha musical). Tudo aconteceu ao mesmo tempo em que finalizava no estádio Mario Filho, o clássico do jogo de bola carioca Flamengo e Botafogo. Saímos para comemorar o final do trabalho de meses e nos deparamos com a multidão fanática e exaltada com a vitória rubra negra. Milhares de jovens vestindo a camisa do timão se embebedavam pelas adjacências da praça do jóquei clube. O que poderia haver entre a finalização de um filme de arte com o esporte das multidões? Nada? Mas, nesta metáfora brasileira, me senti parceiro da alegria e do entusiasmo emocional em que se encontravam aquelas pessoas soltas em desalinho pela praça. Afinal acabava-se hoje a angustia de poder ver pela primeira vez o filme Amaxon praticamente pronto.Mais de um ano de trabalho entre roteiro, produção, gravações, edição e agora finalização, tal qual um campeonato de bola, como no final, onde venceu o maior e mais querido time do Brasil, nós também vencemos, pois fizemos com arte e adorno o melhor filme! Está, portanto de parabéns todo esse pequeno time de craques que participaram da realização desse pequeno-grande filme de ficção.
Amaxon foi a nossa camisa suada, pois a cada etapa no penoso processo de realização desse trabalho sentíamo-nos vitoriosos. Trabalho de artesão, sem dúvida e sem orçamento. Trabalho nobre. Metalingüístico. Deformador. Único.
Como técnico desse time vencedor quero dizer o quanto me surpreendi com cada um de vocês. Com os atores: Vera Barreto foi a minha maior revelação, sem ensaio, com pouco tempo, conseguiu fazer da sua personagem, a escritora Laura Marques, uma explosão do seu talento artístico e dramático. Otávio III, Lourenço Marques, com a sua postura de ator clássico, construiu o seu personagem de apresentador de TV, equilibrando-se, com destreza, entre a grandeza e a nobreza de um Charles Laugthon e a galhofa e o deboche de um Oscarito. Ava Rocha, que narra e canta no filme com a sua voz grave, correta, afinadíssima e sensível nas inflexões e na interpretação pedida pelo texto de difícil retórica, me fez acreditar em Deus, pois me mostrou ser e ter a alma requintada de uma grande artista. O retorno, em memória de Paulo Vilaça (o inesquecível Bandido da Luz Vermelha), Guará Rodrigues (o grande ator do cinema de Invenção) e Wally Salomão, o grande poeta baiano, me proporcionou homenagear com distinção e propriedade esses grandes nomes da arte cinematográfica brasileira. Tivemos também o especial prazer de rever Ligia Duran, nossa inesquecível musa dos anos 70, em uma performance cênica espetacular. Depois vem a imbatível produtora Ana Sette, que deu o start ao filme. A direção de fotografia de Marcelo Pegado é primorosa e criativa e justifica a minha surpresa com o resultado obtido por ele trabalhando praticamente sem luz e com a câmera na mão. O amor pelo cinema do jovem Marcos Azevedo, nosso assistente geral, fez com que todos nós trabalhássemos o dobro. Mas somente ontem eu pude sentir o peso, a magia e o profundo entendimento do filme, que foi na apresentação, na telinha do monitor, da espetacular trilha sonora criada por Emiliano 7 e Jose Luiz Vieira e mais ainda surpreendendo-me com o brilho inesperado da edição do som e da mixagem estéreo do excelente finalizador Damião Lopes. Ontem foi um dia de glória! Foi o dia em que Amaxon vestiu, por todos nós, pela primeira vez, a camisa de campeão e saiu pelas ruas bebendo e sambando.
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