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quarta-feira, 31 de março de 2010

CONCLUDÊNCIA CINEMATOGRÁFICA

O matemático russo Grigory Perelman recusou um prêmio de US$ 1 milhão oferecido pelo Instituto Clay de Matemática (CMI, na sigla em inglês), de Massachusetts, pela resolução da conjectura de Poincaré, um dos maiores mistérios da matemática, informou a imprensa russa.

Tenho vontade de fazer um filme sobre esse matemático russo, sobre a sua história, suas loucuras aflorando no desejo de solucionar o enigma proposto, debruçado em páginas e páginas de números. Números que formavam pinturas abstratas quando enchiam a tela do computador, das máquinas eletrônicas e de tudo aquilo que podia envolvê-lo nos seus estudos sem fim vividos nas noites frias da velha Rússia. Afastando-me no tempo posso vê-lo como um personagem de Eisenstein ou mesmo de Gorki, frio, duro, curtido pela neve rigorosa das estepes russas.

Há informações de que Perelman largou a matemática em 2006 e vive em um apartamento com sua mãe, em São Petersburgo. Segundo vizinhos, o apartamento seria infestado de baratas. Perelman, tido com excêntrico e recluso, solucionou a conjectura em artigos publicados na internet nos anos de 2002 e 2003.

O fato de ter largado de mão a matemática, é que, depois da descoberta, os números passaram a não lhe dizer mais nada. Ele fecha o seu ciclo de vida, de luz, de criação, de tudo enfim, ao fim da resolução de uma conjectura, lembro-me do mesmo teorema proposto por Pasolini: quando se parte de um mundo mais sedo do que o esperado, nada mais passa então a lhe interessar. Nada mesmo. Surge em um último lampejo o caos; rompe o vazio; retorna-se ao leito; apagam-se as luzes; encerra-se a cena.

A conjectura de Poincaré foi formulada em 1904 pelo matemático francês Henri Poincaré. É de difícil compreensão para leigos, mas fundamental para se compreender formas tridimensionais. (... e as forças contidas nelas)

Pelo cinema, desconhecendo física, matemática, astronomia, eu posso até dizer, que todas as artes são desenvolvidas, um pouco, a partir dessa conjectura. Qual é a forma de se criar um filme. Um filme é aberto ou é fechado? Sabemos, por exemplo, que se a densidade da matéria contida no Universo for suficientemente grande, então ele deverá ser um espaço fechado, limitado; caso contrário, deverá ser um espaço aberto, sem limite. Não é extraordinária está relação entre a matemática e o cinema?

Quando a solução do problema foi confirmada, em 2006, ele foi indicado para receber a Fields Medal - considerado o Nobel da matemática, mas recusou o prêmio. Na ocasião, o matemático afirmou que a medalha era irrelevante para ele e o fato de a solução estar correta já seria reconhecimento suficiente...

O grande artista ou o grande cientista, não precisa de prêmios, pois já os possui em sua totalidade dentro de si, mas de reconhecimento do seu trabalho, da sua contribuição ao universo da criação, para seguir propondo novos desafios ao solucionar enigmas de todas as linguagens apresentadas a ele. Qual é a forma do Universo? A Conjectura afirma que todo o espaço tridimensional fechado 'sem buracos' tem uma forma essencialmente esférica.

Esse não é o caso de nosso personagem saído de um livro de Dostoievski. Ele era magro quase esquelético e parecia não tomar banho. Que mistério esse gênio guardava para si mesmo? Nessa pergunta está todo enredo de um próximo filme ou quem sabe de um “Nuveau Roman”?

A conjectura de Poincaré era um dos sete desafios científicos do Milênio e foi o único deles solucionado até agora.

Vamos ter uma aula de matemática sobre a Conjectura?

Parte 01http://www.youtube.com/watch?v=dCplcXMOCVU




terça-feira, 30 de março de 2010

Homenagem

Neste dia em que finalizo minhas tarefas de assistir a todos os filmes concorrentes da Mostra do Filme Livre, eu quero agradecer ao jovem diretor da Mostra, o cineasta Guilherme Whitaker, que tem se mostrado um nobre, um diplomata na delicadeza do trato e no empenho em honrar os seus compromissos, coisa rara hoje em dia. A recuperação do meu filme 100% Brazileiro, para ser exibido com qualidade, tanto trabalho lhe deu, com tantas idas e vindas, latas e mais latas, só foi possível essa produção com muita paciência e abnegação, trabalho extra, foras de suas muitas atribulações, que ele conseguiu chegar com perfeição ao fim.

Fazer cinema é uma tarefa complicada, fazer cinema no Brasil então..., é um dilema.
Assim ando-me sentindo na posição de jurado da Mostra Livre de Cinema, que este ano homenageia os meus 35 anos de trabalhos realizados no cinema brasileiro.
Vi nesta jornada prazerosa, cheia de encontros e surpresas, a maior quantidade de filmes que já assisti de um fôlego só - trinta curtas e sete longas. Estou até agora espantado. Uma massa de cinema experimental, em todos os seus aspectos estéticos, bombardeou minha cabeça. Alguns deles têm produção requintada, outros, produção nenhuma. Mas, aos meus olhos, todos esses filmes têm uma mesma dinâmica: todos foram feitos por pessoas que amam o cinema como expressão máxima das suas criações artísticas. Eu, depois de quase tudo, posso dizer que para um filme existir como cinema, é preciso se sacrificar muitas vezes. Como então posso julgar, entre todos aqueles filmes ali presentes em suas singularidades, qual seria o melhor filme. Tarefa, a meu ver, quase impossível... O que posso dizer dos filmes que mais gostei, é que realmente o cinema de invenção, como diria o Jairo Ferreira, está influenciando de sobremaneira toda uma nova geração de cineastas, que novamente buscam, através de um variado leque de temas, a linguagem estética de um cinema 100% brasileiro.

Conheci e encontrei algumas pessoas interessantes, durante essas duas semanas, o Marcelo Ikeda, a Tetê Mattos, mas a presença do cineasta pernambucano Camilo Cavalcante, pelos salões do CCBB, foi uma surpresa inesperada de acontecer. Ele se apresentou com o seu linguajar coloquial, com a objetividade dos seus comentários, com a sua conversa cantada, sonora, às vezes engraçada, espirituosa e a sua visão política da arte. De cara me simpatizei e pude notar que antes do artista existe ali uma grande figura humana. A arte é o seu reflexo, por isso também humana e grande. Senti falta do Santeiro, do Noilton, do Mourão, mas para equilibrar grandes ausências, tive o prazer de me aproximar, um pouco mais, de outro pernambucano singular, transgressor de dogmas, o cineasta Claudio Assis, que por merecimento e grande luta pessoal, está produzindo o seu terceiro filme de longa-metragem. Salve Pernambuco!

domingo, 28 de março de 2010

CONVITE

A Mostra do Filme Livre 2010 homenageia e apresenta o cinema de José Sette

“Convidamos a todos que estiverem no Rio de Janeiro, nas datas a seguir, que disponibilizem um espaço-tempo para ver, rever e ter visões de um cinema artesão, diferente, descobridor de personagens ocultos na memória brasileira, feito em prosa e poesia, descrevendo e reconstruindo o caos”.

Todas as sessões acontecerão no Centro Cultural Banco do Brasil - RJRua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro. (21) 38082020

Data: 30 de Março (terça-feira) às 20.00 h no cinema
Bandalheira Infernal RJ, 1975, 80min, 35mm

Data: 31 de Março (quarta-feira) às 20.00 h no cinema
Um Filme 100% Brazileiro (cópia restaurada) MG, 1985, 90min, 35mm
E às 17h30min na sala de vídeo
A Janela do Caos MG, 2000, 28min, 35mm – Filme sobre o poeta Murilo Mendes
O Rei do Samba MG, 1999, 71min, DVD – Filme sobre o sambista Geraldo Pereira

Data: 01 de Abril (quinta-feira) às 18.00 h na sala de vídeo
Eu e os Anjos RJ, 2001, 30min, DVD – Filme sobre o Poeta Augusto dos Anjos
Paisagens Imaginárias MG, 2005, 58 min, DVD – Filme de dança e música em um mesmo palco - Isadora Duncam e John Cage.

Data: 02 de Abril (sexta-feira) às 18.00 h na sala de vídeo
Liberdade MG, 2005, 72min, DVD – Filme sobre a abertura política de 1982 com Tancredo Neves e os políticos mineiros.

Data: 03 de Abril (sábado) às 18.00 h na sala de vídeo
Labirinto de Pedra MG, 2003, 80min, DVD – Filme sobre o médico, escritor, memorialista Pedro Nava.

sábado, 27 de março de 2010

FOTOS

FOTOS E VÍDEO DE ANA SETTE NA MFL

Sette e Robert Fberg e Robertinho Silva


Lita Cerqueira
Ana Lucia e Lina
Sette e Guilherme

Algumas fotos de Verena Kael de alguns amigos na Mostra Livre de Cinema que continua acontecendo no CCBB até o dia sete de abril.


Urano e um amigo
Fabio Carvalho e Marcelo Ikeda
Ana,Gladys,Ro,Raquel
Guilherme,Leonardo,Emiliano,Rosemberg
Sette e Camilo Cavalcanti

quinta-feira, 25 de março de 2010

Mostra do Filme Livre

Jose Sette e Luiz Rosemberg na MFL - foto de Verena Kael

Tributo Para Quem Sabe Ver

Rosa de Luxemburgo, Noel Rosa, Guimarães Rosa,
Rosa dos ventos, Rose Berg (Man) de Ingrid, Rô(se-li-ne)
de todas as mulheres do planeta, do grande e do pequeno
prazer, do ser generoso e político, polêmico e poético,
construtor de palavras e textos cinematográficos,
que condensa em si, todas as metáforas do mundo.

Ver ti (gem) é coroar de rosas o inaudito, é maturar o pensamento em turbilhões de imagens conectadas ao dilema do ser Homem maiúsculo, existencial naquilo que de mais nobre tece o conhecimento da experiência, decifrando em suas reflexões as verdades e as mentiras, os vícios e as virtudes, de toda uma cultura, de toda uma geração, que deveria nortear os rumos das cabeças bem informadas, pensantes, destas terras brasileiras, de norte a sul, de leste a oeste, mas foram amordaçadas e subjugadas por serem inteligentes e transformadoras.

Vivendo fora do sistema, somos ainda presos pela ditadura do dinheiro, na disputa e no atropelo, que nestes tempos turbulentos, onde são abjetos os valores educacionais, onde paira supremo o ser mercantilistas, onde o belo, o que tem valor verdadeiro, são levados pela enxurrada, pelos monturos de um capitalismo predador e insaciável, deixamos soltos os inimigos que dominam os que pensam dominar a mídia e o conhecimento de poucos e de pinga querem a nossa história.

Nunca seremos perdoados? -“Perdoa-se tudo neste país,
menos a inteligência”, dizia meu amigo Sganzerla. Não
adianta reclamar, discutir, afirmar o que se precisa, o que
se deve fazer... - Para esses ais, nem um copo de água...
Grita-se nos gabinetes culturais de Brasília.

Gritamos de nossas trincheiras: - Lenine revele-se
novamente, eles já estão ficando loucos...

Luiz Rosemberg Filho conhecê-lo é dividi-lo; dividi-lo é
embaralhar as partes e criar significados; significados que
decifram ícones, objetos do significante de cada imagem,
elaborada por uma inteligência privilegiada; vista como
uma criança inocente onde cada parte, onde a escrita da
vida, do devenir, é sempre o que não tem nome,
porque se oculta no mistério do seu próprio personagem.

Vê-lo é estar contigo. Devorá-lo é sempre uma surpresa.
Entende-lo é sem dúvida um presente dos deuses.

Vi e me lembro dos seus dois longas-metragens (Assuntina e Crônicas). São filmes que você dirigiu que não se fazem mais, mas muitas das cenas e sequências não me saem da memória, na certa devo tê-lo citado em todos os meus filmes (preciso vê-los novamente).

Sei perfeitamente que sem a sua anuência
eu não seria lembrado pelos jovens realizadores da
MostraLivredeCinema. Sei perfeitamente que sem a sua defesa
intransigente o meu filme 100% brasileiro não seria premiado no
Rio de Janeiro. Sei perfeitamente de sua amizade, mas acima de
tudo de sua verdade, quando gosta e escreve sobre o meu
trabalho, a minha obra. Sei de sua cultura cinematográfica e
geral, pois uma não vive sem a outra, e me sinto orgulhoso e
até posso dizer realizado sendo referenciado por você.

É um privilégio é tê-lo como amigo. Por isso, mesmo depois de assistir aos dois curtas-metragens seus pela internet, não consigo me distanciar do tudo dito, de todos os sentimentos que nutrem o meu texto crítico.

Assim peço que me espere um pouco mais e me desculpe o
tempo, pois lhe darei em breve o que sinto e o que vejo em
seu virtuoso cinema, onde a poesia e a filosofia se
unem para criar uma obra instigante, singular, panfletária
e transformadora.

terça-feira, 23 de março de 2010

Mostra do Filme Livre

Jose Sette e Claudio Assis durante a Mostra do Filme Livre - foto Verena Kael
Continuação do texto de Marcelo Ikeda sobre Jose Sette

Apesar da boa repercussão provocada pela exibição no Festival de Berlim e da premiação no Rio Cine Festival (que hoje se tornou o Festival do Rio), Um Filme 100% Brazileiro teve precário lançamento, distribuído pela Embrafilme, já em processo de decadência econômica. Com a recessão do mercado cinematográfico com os anos da Era Collor, Sette não conseguiu viabilizar seu próximo projeto, um filme sobre Teófilo Otoni. Apenas no final dos anos 1990 Sette consegue retomar sua produção. Encantamento de Camargo Guarnieri é um documentário sobre o compositor e maestro de música erudita que, assim como Goeldi, não se baseia em apresentar informações biográficas para o espectador, e sim em promover um mergulho na obra do artista. Desse modo, Sette estrutura seu filme em três movimentos, combinando aspectos que relacionam música, artes plásticas e dança, extrapolando a obra do compositor para evocar a integração entre diferentes formas de manifestação artística.
Nesse período, Sette conseguiu retomar um ritmo de produção, beneficiado pelos editais de apoio à cultura em Juiz de Fora (Lei Murilo Mendes). No média-metragem A Janela do Caos, Sette retrata o universo cotidiano de criação do escritor Murilo Mendes, combinando aspectos ficcionais e documentais, lidando com o difícil gênero do docudrama. Mesmo com poucos recursos, finaliza um novo longa: O Rei do Samba, sobre o sambista Geraldo Pereira. Inspirado pelas chanchadas brasileiras, Sette compõe um filme popular sobre um compositor popular: mulherengo, irreverente mas acima de tudo criativo, original, condenado talvez por amar demais. Recheado de cenas musicais, O Rei do Samba deixa de lado a montagem fragmentada, a agressividade irreverente de seus filmes anteriores, mas preenche de singela poesia o percurso desse esquecido compositor, integrando sua filmografia pela forma como combina ficção e documentário de maneira pouco programática.
Ainda em Juiz de Fora, Sette realiza um curta-metragem singular que, de diversas formas, sintetiza os caminhos percorridos por sua filmografia. Ver Tigem aborda o impacto sentido pelo artista plástico mineiro Arlindo Daibert após uma exibição de Um Corpo Que Cai (Vertigo), de Alfred Hitchcock. Mas como é possível documentar algo tão subjetivo como um sentimento interior, um arrepio de espírito? Para Sette isso se torna possível apenas se mergulharmos no universo criativo do próprio artista, ou seja, a obra de Hitchcock desperta no artista o desejo de se aventurar por lugares desconhecidos no interior de si mesmo, inspirando a realização de uma nova obra. Em paralelo, por sua vez, o próprio Sette se inspira a criar, a partir das relações provocadas por Hitchcock e Daibert, expressas no próprio filme que está sendo realizado. Esse círculo de relações aponta para um novo campo: que o próprio espectador, através desse cruzamento de possibilidades, também possa descobrir os seus próprios caminhos e quiçá se inspire para realizar novas e novas obras a partir de seu olhar. É nessa singularidade da imbricação de caminhos entre o experimental, o documentário e a ficção, que Ver Tigem se revela não só uma homenagem à cinefilia (e Um Corpo Que Cai não deixa de ser um filme expressionista, a eterna fascinação cinematográfica de Sette...), mas ao próprio processo íntimo entre o espectador e a obra, como base de reflexão sobre a natureza do processo artístico. Ou ainda, um bom artista é, acima de tudo, um bom espectador: aquele que sente uma obra e a modifica, mediante o próprio processo criativo. Nesse sentido, é possível ver Ver Tigem como uma nova abordagem das propostas estéticas já apontadas em Goeldi.
Já neste século, José Sette, cada vez mais afastado dos editais e das leis de incentivo, que dominam o modo oficialesco de se produzir cinema no Brasil, prossegue sua filmografia optando pelo vídeo. Prossegue a investigação sobre personagens marcantes da vida cultural mineira com um novo “doc-fic”: Labirinto de Pedra, sobre o escritor Pedro Nava. A partir de sua caminhada derradeira até a Glória, onde veio a se matar, o escritor revê momentos marcantes de sua vida, como o encontro com os escritores modernistas. Continuando suas pesquisas estéticas, Labirinto de Pedra é um filme ficcional centrado na documentação de uma personalidade. No entanto, Sette não se prende aos acontecimentos nucleares da vida e obra de Nava, mas, ao contrário, oferece um passeio prosaico, como se buscasse retratar um cotidiano afetivo relacionado ao universo da criação. Por isso, como em outros filmes, Sette apresenta sua preocupação em articular a presença de um universo cultural, em que as diversas manifestações artísticas se integram e dialogam, combinando o espírito modernista da literatura, as artes plásticas, a dança e a música, entendendo que todas integram um mesmo sentimento de ebulição criativa. Nesse sentido, uma das mais belas cenas do cinema recente de Sette acontece num sarau, em que os escritores modernistas se encontram: para representar os papéis dos “antigos modernistas”, Sette promoveu uma homenagem aos “novos modernistas do cinema mineiro”, chamando cineastas e críticos como Paulo Augusto Gomes, Geraldo Veloso, Ataídes Braga, Fábio Carvalho e Isabel Lacerda, entre outros, enquanto assistem a um espetáculo de dança coreografado por Izabel Costa.
Izabel Costa, por sua vez, motivou a realização de Paisagens Imaginárias. Apesar da simplicidade de sua realização (o média-metragem é apresentado como um “registro de palco” de um espetáculo de Izabel), Sette evidencia a preocupação em integrar dança (o espetáculo de Izabel Costa inspirado na coreografia de Isadora Duncan), música (a composição de John Cage), artes plásticas (o belo cenário elaborado por Waltércio Caldas) e o teatro (a filmagem do palco), como se o cinema (o ato do registro), como um “ponto de encontro” dessas diversas tendências, pudesse servir como um catalisador de novos processos criativos. Nessa mesma linha, Eu e os Anjos une a literatura de Augusto dos Anjos ao teatro, através da peça que Kimura Schetino encena sobre o “maldito” poeta popular, combinando diversos tipos de material, como a filmagem do espetáculo, depoimentos de poetas brasileiros contemporâneos e inusitadas cenas do cotidiano, como nuvens e passeios de bicicleta por um cemitério.
Até que, finalmente, chegamos a Amaxon, longa-metragem recém-finalizado, cuja primeira exibição em festivais a Mostra do Filme Livre tem o orgulho de promover.
Amaxon insere um tom intimista, um tanto atípico à filmografia de Sette, quase um monólogo interior de uma escritora que revê a sua vida. Ainda que Vera Barroso Leite naturalmente ofereça ao filme um tom expansivo, próprio à força de sua presença em cena, sua personagem Laura navega entre os fantasmas do passado e sente os sintomas da solidão. Numa certa perspectiva, Amaxon é sobre um processo de resistência: a necessidade de permanecer criando como antídoto contra a solidão, ou ainda, a luta da palavra contra o silêncio. Laura não deixa de ser uma espécie de alter ego do próprio Sette, reforçado pelo fato de que boa parte das imagens a que Laura assiste é dos próprios filmes de Sette, alguns deles inacabados. Desiludido diante de um contínuo isolamento, Sette busca forças para criar... criando. Nada mais coerente para um cineasta 100% brazileiro.