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quarta-feira, 29 de abril de 2015

TRABALHO E COERÊNCIA

Primeiro de Maio, uma data transcendente da humanidade

Havana (Prensa Latina) A celebração desde 1890 do Dia Internacional dos Trabalhadores, a cada Primeiro de Maio, data de festas, conserva fiel a sua origem o protagonismo das demandas de reivindicações sociais e trabalhistas. 
Nessas ocasiões, homens e mulheres de diversos lugares do mundo recordam também os cinco mártires de Chicago condenados a morte depois dos acontecimentos violentos que tiveram lugar nessa cidade, então a segunda dos Estados Unidos, nos dias 1 e 4 de maio de 1886.
Com o tempo, a mais que centenária convocação coloriu sua história com o sangue de participantes em muito distantes cenários, em choques com corpos repressivos, e deu novos motivos para voltar no próximo ano a encher ruas e praças.
A primeira jornada internacional foi acordada, em julho de 1889, pelo Congresso Operário Socialista de Paris, com o objetivo de organizar uma grande manifestação de trabalhadores, que em todos os países e povoados ao mesmo tempo, demandassem aos poderes públicos reduzir legalmente a oito horas a jornada de trabalho.
A data fixa -diz o acordo-, os trabalhadores das diversas nações levassem à prática estas ações de acordo às condições especiais que desfrutem em seus países.
Decidiu-se o Primeiro de Maio de 1890, tomando em conta uma similar convocada para esse dia pela Federação Americana do Trabalho (FAT), em seu congresso de dezembro de 1888.
A ela se somaram trabalhadores da Europa e um reduzido número de países de outros continentes; também o então jovem movimento operário cubano.
Em Cuba, o Círculo de Trabalhadores publicou a convocação, a 20 de abril de 1890, a celebrar uma manifestação pública pacífica, e um comício no final, "para que o governo, as classes elevadas e o público em geral saibam ou possam apreciar quais são as aspirações deste povo operário".
A manifestação de três mil trabalhadores partiu nesta capital do Campo de Marte -atual Parque de la Fraternidad- pela rua Reina para Galiano, San Rafael e Consulado, onde intervieram 15 oradores.
OS ACONTECIMENTOS DE CHICAGO
O movimento em defesa da jornada máxima de oito horas atingiu força nos Estados Unidos e países da Europa, nos anos 80 do século XIX.
O presidente estadunidense Andrew Johnson ditou uma lei sobre as oito horas diárias, mas 19 estados autorizaram até 10 horas, que na prática eram 14-16, insuportáveis para os afetados, entre eles milhares de crianças.
As longas sessões de trabalho impostas pelos patronos provocavam a rejeição dos operários com numerosos tipos de protestos, incluídas as greves e outros acontecimentos como os ocorridos o Primeiro de maio de 1886 e nos dias seguintes em Chicago.
Na planta Mc.cormik que se mantinha operando com fura-greves, seis grevistas resultaram mortos pela polícia e também dezenas de feridos.
Durante um comício a 4 de maio no parque Haymarket, um desconhecido lançou uma bomba com o saldo de um morto e vários feridos.
Foram presos os oradores e outros dirigentes operários; em um julgamento arranjado sete foram sentenciados a morte (duas mudadas a pena de prisão perpétua) e de um a 15 anos de trabalhos forçados.
Morreram na forca, no dia 11 de novembro de 1887: o estadunidense Albert Parsons (jornalista de 39 anos) e os alemães Adolf Fischer (jornalista de 30 anos), August Spies (jornalista de 31 anos) e Georg Engel (tipógrafo de 50 anos).
O carpinteiro alemão Lous Lingg, de 22 anos, suicidou-se em sua cela. Das páginas de seu jornal El Productor, o operário e jornalista cubano, Enrique Roig San Martín assumiu a defesa dos oito operários processados nos Estados Unidos (1886-1887) e denunciou o crime legal que se preparava, mediante seus artigos e de outros autores cubanos e estrangeiros.
Roig San Martín encabeçou uma grande campanha a favor dos futuros mártires de Chicago.
Ao protesto somaram-se os sindicatos de litógrafos, tabaqueiros, corregedores, cocheiros, gaveteiros, cigarreiros, mecânicos, passadores, alfaiates e sapateiros; trabalhadores tanto de Havana como de Matanzas, Cárdenas, Cienfuegos, Villa Clara e Puerto Príncipe.
Constituiu-se um Comitê de Auxílio com a participação de numerosas organizações proletárias de todo o país, que coletaram fundos para contribuir com a luta para lhes salvar a vida e de ajuda aos familiares.
Numa assembléia, efetuada a 8 de novembro de 1887, no circo Jané, mais de dois mil assistentes demandaram do Governador de Illinois o indulto dos condenados.
Outro cubano, José Martí, esteve vinculado ao caso com sua brilhante pluma; narrou com requinte de detalhes e cores a guerra social em Chicago, a anarquia e a repressão; o conflito e seus homens; o processo; o cadafalso e os funerais.
Nesta magistral crônica ao jornal La Nación, de Buenos Aires, publicada a primeiro de janeiro de 1888, pôs em boca de Spies a seguinte advertência: "a voz que vão sufocar será mais poderosa no futuro que quantas palavras eu poderia dizer agora".
Seus dois últimos parágrafos parecem atuais; diz o que pensa apoiado em outras fontes:
"Eu não venho acusar nem a esse carrasco a quem chamam alcaide, nem à nação que deu hoje graças a Deus em seus templos porque morreram na forca estes homens, sina dos trabalhadores de Chicago, que permitiram que assassinassem cinco de seus mais nobres amigos!", cita um anônimo, "que se adivinhava ser de barba espessa e de coração grave e irado".
E, ao jornal de Spies Arbeiter Zeitung: "Perdemos uma batalha, amigos infelizes, mas veremos no fim ao mundo ordenado conforme à justiça; sejamos sagazes como as serpentes e inofensivos como as palmas!"

terça-feira, 21 de abril de 2015

O QUE ACONTECE HOJE NO BRASIL



OS PUNHOS DE RENDA DO PODER
Saul Leblom
A sofreguidão conservadora cometeu um erro do qual talvez não consiga mais se redimir. Ou pelo menos não tão cedo, nem  tão facilmente.
Vitoriosa ou derrotada, carregará na testa para sempre a marca de ferro com as iniciais do seu dono: ‘Fiesp’.
Em ordem unida, a bancada dos patrões –inclua-se o tucanato e respectivas subespécies do mesmo ninho ideológico–  abraçou uma bandeira que empresta incandescente transparência às reais intenções por trás da cruzada moralista catalisada pela Lava Jato.
A terceirização total da força de trabalho no país  – doa a quem doer, como parece ser a determinação do adido patronal no Legislativo, Eduardo Cunha–  carrega  abrangência e letalidade suficientes para expor a matriz dos interesses que hoje fustigam o governo, sangram o PT, asfixiam a Petrobrás e não hesitam em quebrar o Brasil.
Com tal radicalidade, a PL 4330 ressuscitou algo que parecia ter se perdido  na imparcial conduta do juiz Moro no combate à corrupção: a luta de classes.
Borrada igualmente fica a narrativa  que equipara a encruzilhada do desenvolvimento brasileiro a uma monocausal paralisia sanável com água, sabão,  arrocho e fim do governo do PT.
Nenhuma faxina restauradora terá o efeito desejado, porém, ressalva o jogral conservador, se a viga mestra do edifício econômico não for recolocada no devido lugar: ‘é preciso derrubar o custo Brasil’, cortando a  mãe de todos os despropósitos, o custo do trabalho.
Esse é o  pulo do gato do país de Getúlio Vargas para o de Aécio, Skaf & Cunha e assemelhados.
A isso se propõe a PL 4330, ao autorizar o desmonte da CLT em todos os setores, para todas as funções laborais, em plena retração do emprego e da economia brasileira.
O ímpeto conservador quebrou o cristal do combate entre puros e sujos ao fazer aflorar a pertinência da luta dos trabalhadores e de suas organizações contra a pantagruélica bocarra dos detentores da riqueza.
Foi esse discernimento perigoso que escapou da garrafa para as ruas de todo o país na semana passada, em manifestações de dezenas de milhares de pessoas em 23 estados contra a terceirização.
A evidência prática do que é capaz uma frente ampla motivada e mobilizada –neste caso em pouquíssimos dias e com o boicote sabido do dispositivo conservador–  gerou efeitos igualmente pedagógicos.
Informe-se para os devidos fins: a rua funciona.
Lula sabe disso. Mas o cerco dos punhos de renda ao seu redor insiste em sombrear seu discernimento.
Desta vez não deu.
Em questão de horas, a bancada dos patrões recuou.
Depois de votar maciçamente pela implosão dos direitos trabalhistas, o Congresso adiou o escrutínio das emendas finais à PL 4330 para a próxima quarta-feira, 22/04.
Não sem defecções.
Metade da bancada do PSDB hesita agora em expor seu rosto e seu nome na  votação final.
A rua funciona.                                                                                                                                           Essa  lição tem um valor inestimável nos dias que correm.
Em primeiro lugar, para tirar o campo progressista do atoleiro das elucubrações existenciais e focar no que importa.
O que importa, insista-se contra o enfado dos punhos de renda, é construir nas ruas a frente ampla progressista que pode representar os intereses majoritários da sociedade no enfrentamento da ofensiva das elites.
O conservadorismo brasileiro, guardadas as devidas proporções, resolveu reeditar aqui o 1984 inglês.
Como se sabe, o 1984 inglês passou à convenção dos valores mercadistas como o ano em que o neoliberalismo veio à luz, graças à derrota sangrenta imposta por Margareth Tatcher a uma greve de mineiros de carvão que durou um ano.
O sindicato era um símbolo da luta operária europeia tendo sido o principal responsável pela conquista de uma avançada legislação de direitos trabalhistas ainda no século XIX.
A primeira ministra conservadora tinha opinião formada sobre isso.
“Maggie’ encarava o poder mineiro como a antessala do comunismo.
Via na sua tenacidade um inibidor da liberdade dos mercados, que onerava os custos de produção, alimentava a inflação, corroía a competitividade da economia inglesa nos mercados mundiais.
Soa familiar?
Exatamente.
Para esmagar os mineiros, a primeira-ministra, cuja morte em abril de 2013 inspirou um animado carnaval fora de época nas ruas da Inglaterra, não poupou truculência e contou com a solidariedade de classe.
Reagan forneceu carvão a baixo custo à amiga ‘Maggie’  para que seu governo pudesse atravessar o inverno rigoroso da velha Albion, sem ceder aos trabalhadores.
Vitoriosa, Tatcher aproveitou o refluxo do movimento operário para completar o serviço.
Uma legislação restritiva imobilizou os sindicatos.
A mudança na correlação de forças pavimentou a desregulação e a privatização da economia inglesa, consolidando-se então as bases do que ficaria conhecido como a hegemonia neoliberal no planeta.
O triunfo, porém,  não teria sido tão retumbante  – pelo menos não a ponto de oferecer uma nova síntese capitalista–  sem a rendição do Partido Trabalhista, de Neal Kinnock.
Objetivamente, os trabalhistas –a social democracia inglesa– deixaram os mineiros sem retaguarda política ao aderir aos albores do neoliberalismo.
Anos mais tarde, ao fazer um balanço do seu ciclo, Tatcher mostrou-se reconhecida. Ao ser indagada  sobre qual teria sido a sua principal obra, respondeu com um sorriso mordaz: ‘Tony Blair’.
O desafio da frente ampla progressista é não permitir que 2015 seja o 1984 brasileiro.
Não é pouco o que está em jogo.
A PL 4330 não é um embate pontual.
Trata-se de uma chave-mestra.
Com ela pretende-se  arrombar a agenda do desenvolvimento para, de uma forma definitiva, enquadrá-lo na lógica global do neoliberalismo espoliativo.
A exemplo do que se passou sob Tatcher, a desregulação do mercado de trabalho brasileiro não apenas favorece essa mutação.
Ela torna essa travessia funcional; estruturalmente compulsória.
Ao desativar o potencial ordenador que a pujança do mercado de massa brasileiro exerce nas balizas do desenvolvimento, abrem-se as portas para uma mexicanização da economia.
Mão de obra barata e pobreza sem fim; abertura comercial desenfreada e desmonte de políticas soberanas de desenvolvimento.
Nem Brics, nem pré-sal, nem integração latino-americana.
Maquiladoras, Alca, desigualdade, gangues, anomia.
Revogada a estaca estruturante deixada por Vargas –que redundou no sindicalismo metalúrgico do ABC e num Presidente operário até hoje não digeridos pelas ‘classes produtivas’ (sic)  tudo o mais escorre  com a água do banho.
Políticas sociais, previdência universal, valorização do salário mínimo, SUS etc
Não há tempo para ingenuidade.
A velocidade espantosa com que as coisas se dão exige respostas de uma prontidão engajada e corajosa.
Há apenas dois anos, o país discutia o ‘apagão’ de mão de obra e a frontera do pleno emprego.
Em 29/04/2013, uma reportagem de ‘O Globo’  tinha como título: ‘’Dificuldade para contratar, a maior queixa das empresas’. O texto exprimia a insatisfação empresarial com uma taxa de desemprego que escavava o seu ponto mais baixo em uma década.
‘O apagão, antes concentrado em cargos mais qualificados, começa também a chegar a outros setores, como construção civil e comércio’, lamentava a reportagem.
Derrubar as pilastras do pleno emprego e de seus desaforos intrínsecos  – salários reais em alta, benefícios maiores, sindicatos fortes e empregados altivos — é a obra demolidora a que se atira diuturnamente o mutirão do arrocho desde então.
É essa a filiação da A PL 4330.
Trata-se de uma marretada de classe; uma margareth tatcher na forma de lei.
Para demolir ao mesmo tempo dois inconvenientes: o custo do trabalho e o poder político do trabalhador.
A ambição não é nova.
Em 2001, uma legislação equivalente foi aprovada na Câmara Federal, presidida então pelo tucano Aécio Neves.
Antes que a medida chega-se ao Senado, porém,  Lula chegou ao poder.
Arquivou-se por 14 anos o assalto à carteira do trabalho.
A vulnerabilidade atual  do PT, associada à transição de ciclo econômico que estreitou a margem de manobra do governo, reabriu a ‘cunha’ para ombrear o país ao mundo e colocar de joelhos o trabalho assalariado.
Lênin classificava esse tipo de ofensiva como ‘formas científicas de extrair o suor ’.
Assim como a reengenharia dos anos 80, o downsizing  da década seguinte, o assalto ao suor do povo brasileiro agora é vendido à opinião púbica como um poderoso impulso ao crescimento e à criação de vagas.
Se a experiência precedente servir de parâmetro não há razões para tanto otimismo.
Como diz o editorial de Carta Maior no Especial sobre os Brics (leia nesta pág) :
‘A  devastação do mundo do trabalho pelo desemprego e a supressão de direitos é a tônica do nosso tempo. É como se uma  gigantesca  engrenagem cuidasse de tomar de volta tudo aquilo que transgrediu os limites da democracia política formal em direção  a uma verdadeira democracia econômica e social.
Instala-se em seu lugar um paradigma de eficiência feito de desigualdade ascendente.
A política contribuiu de maneira inestimável para o modo como essa lógica se impôs.
Erros e derrotas acumulados pela esquerda mundial desde os anos 70, sobretudo a colonização de seu arcabouço programático pelos valores e interditos neoliberais – de que tanto se orgulha Tatcher–  alargaram os vertedouros de uma dominância financeira cuja presença tornou-se ubíqua em todas as esferas da vida humana.
A queda do Muro de Berlim, em  1989, consagraria aquilo que os mais apressados se atreveram a denominar de ‘fim da historia’. Não era. Mas os sinais vitais nunca se mostraram tão frágeis para inaugurar um novo ciclo.
Não por acaso, ao sobrevir o colapso neoliberal em 2008 configurou-se ineditamente uma ruptura capitalista desprovida de força social capaz de transformá-la em mudança de época.
O que se paga agora em perdas e danos sociais é a fatura desse vazio’.
Para clarear as coisas: não foi a crise atual que gerou o arrocho e a pobreza em desfile no planeta.
Foi a precarização do trabalho irradiada desde meados dos anos 80, bem como a implosão das fronteiras nacionais do desenvolvimento –sobretudo com o advento das cadeias globais na indústria– que conduziram ao desfecho explosivo da crise de 2008.
Para quem cogita que a PL 4330 possa conter uma semente de mostarda de modernidade e de capacidade de regeneração do crescimento e do emprego brasileiro , vale lembrar: Reagan em 1981, antes até de Tatcher, impôs um derrota  simbólica esmagadora à greve  dos controladores de vôo norte-americanos. A partir daí, desencadeou um devastador  sucateamento laboral nos EUA.
Fatos:
-desde 2000, a classe média americana munida de diploma universitário  não tem aumento real  de poder de compra; -mais de 46 milhões de norte-americanos vivem agora na pobreza, constituindo-se na taxa mais elevada dos últimos 17 anos: 15,1% ; -em termos absolutos, o contingente atual de pobres dos EUA é o maior desde que Census Bureau começou a elaborar as estatísticas há 52 anos.; -os EUA gastam atualmente US$ 80 bi  por ano com ajuda alimentar – o dobro do valor registrado há cinco anos; - desde os anos 80, a dependência de ajuda para alimentação cresce mais entre os trabalhadores com alguma formação universitária —  sinal de que sob a égide  dos mercados desregulados, a  ex- classe média afluente não consegue sobreviver sem ajuda estatal; - cerca  de 28% por cento das famílias que recebem vale-refeição são chefiadas por uma pessoa com alguma formação universitária; - hoje o food stamps atende  1 em cada sete norte- americanos; - de  2000 a 2011 , salários baixos e desigualdade  foram responsáveis por 13% da expansão do programa – contra  3,5%  entre 1980 e 2000; - pesquisas relativas ao período de 1979 e 2005 (ciclo neoliberal anterior à crise) revelam que 90% dos lares norte-americanos viram sua renda cair nesse período; apenas 1% das famílias ascendeu à faixa superior a meio milhão de dólares; - 21% dos menores norte-americanos vivem em condições de pobreza atualmente. O quadro acima não é genuíno.
Um quarto de todos os lares da Inglaterra e País de Gales, cerca de 20 milhões de pessoas, vive em estado de pobreza atualmente, num sólido legado de sucessivos governos neoliberais, desde Tatcher, passando por Blair até chegar a Cameron; -relatório recente da OCDE – não propriamente uma trincheira progressista — indica que a renda média de 10% das pessoas mais ricas nos países desenvolvidos  é nove vezes superior à renda media dos 10% mais pobres.
Foi sobre essa base social esfacelada pela precarização e a transferências de empregos e empresas às ‘oficinas asiáticas’, que se instalou o colapso neoliberal.
Ao incentivar o consumo dos sem renda com uma oferta desmedida de crédito, a especulação financeira desencadeou a espiral que levaria às subprimes.
O resto é sabido.
Ao contrário do que afirma o trio Cunha, Skaf & Aécio, portanto, o desmonte do mundo do trabalho não apenas se revela uma resposta inadequada à superação da crise e à criação de vagas , como se destaca entre os fatores que desencadearam o seu colapso nas nações ricas.
Estamos falando de economias cuja participação do trabalho na renda nacional  –embora declinante— ainda é bem superior à brasileira, que recuou de mais de 56% nos anos 50,  para um patamar inferior a 40% ao final do governo FHC.
Embora tenha  retomado  a curva ascendente no ciclo do PT, persiste ainda muito distante do pico registrado há mais de meio século.
É sob esse pano de fundo que a PL 4330 evidencia seu impulso regressivo, capaz de arrastar diferentes elos e dinâmicas da luta pelo desenvolvimento no século XXI.
Esse risco gigantesco, paradoxalmente, encerra também o poder de desencadear o seu antídoto.
Qual?
A energia coletiva hoje desperdiçada em descrença individual, prostração solitária, perplexidade imobilizante, sectarismo ideológico e uma incontável constelação de pequenas reuniões em casas de amigos, em foruns sindicais, em debates universitarios e conversas avulsas de brasileiras e brasileiros  inconformados com o assalto conservador em marcha no país.
As manifestações do último dia 15 podem ter sido a primeira trinca nesse dique de perplexidade em direção a uma frente ampla da revolta  com o desassombro, da esperança com o engajamento coletivo.
A petulância conservadora chegou a tal ponto no Brasil que o presidente da Câmara marcou a nova votação do PL 4330 para a semana anterior ao 1º de Maio.
Chegou  a tal ponto que devolveu o sentido de ir às ruas  neste dia 1º de Maio de 2015.

sábado, 18 de abril de 2015

HOMENAGEM LATINA



Eduardo Galeano e o Horizonte
Por Orlando Senna

“De nuestros miedos
nacen nuestros corajes
y en nuestras dudas
viven nuestras certezas”, disse Eduardo Galeano, o escritor, poeta, jornalista e farol político que se foi da vida material esta semana, deixando-nos mais de quarenta livros que desvendam e orientam a América Latina, além de desvelar e nortear uma proposta de pensamento para a existência em geral. “No importa de donde he venido, sino a donde quiero llegar”, “somos lo que hacemos para cambiar lo que somos", também disse.
Sua literatura concisa e magnética, juntando e misturando informação e reflexão histórica e política, jornalismo, ficção, poesia, humor e humanismo, ultrapassa gêneros, escolas e tendências tradicionais. É um caminho de percepção e transcendência que só ele transitou, inédito e instigante, personalíssimo e surpreendente. Um caminho que se bifurca, cruza com si mesmo, encontra atalhos a cada instante mas nunca perde a direção indignada e contestadora. Um caminho (em direção ao horizonte que se afasta enquanto tentamos nos aproximar dele) que está em Memoria del fuego, El libro de los abrazos, Bocas del tiempo, Días y noches de amor y de guerra, no best seller As veias abertas da América Latina e em seus livros sobre futebol.
O poeta e cineasta Fernando Birri sempre disse que o uruguaio Eduardo Galeano é, em si mesmo, um deus ex machina, expressão originada no teatro grego, hoje empregada para qualquer atividade, que significa ao pé da letra “deus surgido da máquina”. Nas artes narrativas significa um giro inesperado na história, uma solução improvável ou repentina para uma situação, alguma coisa inaudita, um final imprevisível. É a melhor definição de Galeano que escutei, que não apenas sua obra está lastreada na criatividade surpreendente mas que ele mesmo, sua vida de guerreiro pacifista, é um deus ex machina.
Minha última conversa com Galeano aconteceu em julho de 2010, em sua querida Montevidéu, no Café Brasilero que ele frequentava quase diariamente e dizia brincando que era sua “oficina” (escritório). Conversamos sobre política regional (último ano do governo Lula, primeiro ano do governo Mujica), o mega vazamento de documentos secretos pelo ciberativista Julian Assange, a Copa do Mundo (pontualmente sobre os técnicos Maradona e Dunga), a Amazônia e a questão ambiental.
Fui ao encontro acompanhado pelo jovem argentino Nicolás Schonfeld, que trabalha comigo na TAL-Televisão América Latina e que ficou literalmente encantado com a falação de Galeano, em estado de graça: “é incrível, é genial, falando ele ainda é melhor do que escrevendo”. Galeano escreveu em algum momento que seus textos eram feitos para pessoas que não tinham acesso a eles, que não podiam ler o que lhes era destinado: os pobres, os analfabetos, os deserdados do mundo. Mas tinha consciência, ou ciência, que era lido e entendido pelos jovens e isso era uma fonte de alegria para ele. Minha impressão naquela tarde no Café Brasilero era que falava muito mais para Nicolás do que para mim.
Através de seu estilo original e beirando o minimalismo, Galeano nos disse porque, quando, como e onde a Europa e os Estados Unidos usaram a América Latina como um pasto, um lugar para alimentar-se, energizar-se e extrair riquezas. Um exercício de pirataria extrema que já dura mais de cinco séculos, usando insumos como colonização, escravidão, ideologias, dívidas forjadas, golpes de estado, propaganda hipnótica e outras pérolas da ladroagem. Há um miniconto de Galeano (não sei como definir as várias vertentes literárias dele), uma de suas realidades ficcionadas, que sintetiza o roubo com humor: os europeus chegaram, eles tinham a Bíblia e nós tinhamos a terra, e nos disseram para fechar os olhos e rezar; quando abrimos os olhos eles estavam com a terra e nós com a Bíblia.
Esse sintetizador preciso como o navegar (”el poder es como un violin, se toma con la izquierda y se toca con la derecha”), também filosofou além da política, inclusive sobre o seu próprio papel de pensador e artista revolucionário. Em outro de seus minicontos, ou como queiram chamar, ele narra a história de um pai que leva seu filho pequeno para ver o mar pela primeira vez. O menino, assombrado diante da imensidão de água, do azul sem fim, faz um pedido: pai, ajude-me a ver. Axé, paizão Galeano.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

OCULTISTAS EM FOCO



GURDJIEFF  EM 83 ENSINAMENTOS

Ele foi um místico e mestre espiritual armênio. Ensinou a filosofia do autoconhecimento profundo, através da lembrança de si, transmitindo a seus alunos, primeiro em São Petersburgo, depois em Paris, o que aprendera em suas viagens pela Rússia, Afeganistão e outros países.

1. Fixa tua atenção em ti mesma, sê consciente em cada instante do que pensas, sentes, desejas e fazes.
2. Termina sempre o que começaste.
3. Faz o que estiveres fazendo o melhor possível.
4. Não te prendas a nada que com o tempo venha a te destruir.
5. Desenvolve tua generosidade sem testemunhas.
6. Trata cada pessoa como um parente próximo.
7. Arruma o que desarrumaste.
8. Aprende a receber, agradece cada dom.
9. Para de te autodefinir.
10. Não mintas, nem roubes, pois estarás mentindo e roubando a ti mesmo.
11. Ajuda teu próximo sem torná-lo dependente.
12. Não desejes que te imitem.
13. Faz planos de trabalho e cumpre-os.
14. Não ocupes demasiado espaço.
15. Não faças ruídos nem gestos desnecessários.
16. Se não tens fé, finge tê-la.
17. Não te deixes impressionar por personalidades fortes.
18. Não te apropries de nada nem de ninguém.
19. Reparte equitativamente.
20. Não seduzas.
21. Come e dorme o estritamente necessário.
22. Não fales de teus problemas pessoais.
23. Não emitas juízos nem críticas quando desconheceres a maior parte dos fatos.
24. Não estabeleças amizades inúteis.
25. Não sigas modas.
26. Não te vendas.
27. Respeita os contratos que firmaste.
28. Sê pontual.
29. Não invejes os bens ou sucesso do próximo.
30. Fala só o necessário.
31. Não penses nos benefícios que advirão da tua obra.
32. Nunca faças ameaças.
33. Realiza tuas promessas.
34. Coloca-te no lugar do outro em uma discussão.
35. Admite que alguém te supere.
36. Não elimines, mas transforma.
37. Vences teus medos, cada um deles é um desejo camuflado.
38. Ajuda o outro a se ajudar a si mesmo.
39. Vence tuas antipatias e te acerca de quem queres rejeitar.
40. Não reajas ao que digam de bom ou de mau sobre ti.
41. Transforma teu orgulho em dignidade.
42. Transforma tua cólera em criatividade.
43. Transforma tua avareza em respeito pela beleza.
44. Transforma tua inveja em admiração pelos valores alheios.
45. Transforma teu ódio em caridade.
46. Não te vanglories nem te insultes.
47. Trata o que não te pertence como se te pertencesse.
48. Não te queixes.
49. Desenvolve tua imaginação.
50. Não dês ordens só pelo prazer de ser obedecido.
51. Paga pelos serviços que te prestam.
52. Não faças propaganda de tuas obras ou ideias.
53. Não trates de despertar, nos outros em relação a ti, emoções como piedade, admiração, simpatia e cumplicidade.
54. Não chames atenção por tua aparência.
55. Nunca contradigas, cala-te.
56. Não contraias dívidas, compra e paga em seguida.
57. Se ofenderes alguém, pede desculpas.
58. Se ofenderes publicamente, desculpa-te igualmente em público.
59. Se te dás conta de que te equivocaste, não insistas por orgulho no erro e desiste imediatamente de teus propósitos.
60. Não defendas tuas antigas ideias só porque tu as enunciaste.
61. Não conserves objetos inúteis.
62. Não te enfeites com as ideias alheias.
63. Não tires fotos com personagens famosos.
64. Não prestes contas a ninguém, sê teu próprio juiz.
65. Nunca te definas pelo que possuis.
66. Nunca fale de ti sem te conceder a possibilidade de mudança.
67. Aceita que nada é teu.
68. Quando pedirem a tua opinião sobre alguém, fala somente de suas qualidades.
69. Quando adoeceres, em vez de odiar esse mal, considera-o teu mestre.
70. Não olhes com dissimulação, olha fixamente.
71. Não te esqueças de teus mortos, mas limita-os em um espaço que não lhes permita invadir toda a tua vida.
72. Em tua moradia, reserva sempre um lugar ao sagrado.
73. Quando realizares um serviço, não ressaltes teus esforços.
74. Se decidires trabalhar para alguém, trata de fazê-lo com prazer.
75. Se você está em dúvida entre fazer ou não fazer algo, arrisca-te e faz.
76. Não queiras ser tudo para teu cônjuge; admite que busque em outras pessoas o que não lhe podes dar.
77. Quando alguém tenha seu público, não tentes contradizê-lo e roubar-lhe a audiência.
78. Vive dos teus próprios ganhos.
79. Não te vanglories de aventuras amorosas.
80. Não exaltes as tuas debilidades.
81. Não visites alguém só para preencheres o teu tempo.
82. Obtém para repartir.
83. Se você está meditando e um diabo se aproxima, bota-o a meditar também…


No seu livro Relatos de Belzebu, Gurdjieff diz
que o rito central do Cristianismo, a Eucaristia, foi
um rito de "magia antropofágica" no qual Jesus teria
dado pedaços do seu corpo a comer e goladas do seu
sangue a beber.
Nas primeiras leituras, este livro enorme e rigoroso intimida até mesmo leitores acostumados a digerir textos complexos. Ele não entrega seus tesouros a uma análise prematura ou superficial, e o leitor não deve se deixar derrotar por sua aparentemente impenetrável obscuridade, nem se iludir pelo fato de o livro tomar a forma de um inédito romance de ficção científica, pois os Relatos de Belzebu são na realidade o veículo de grandes idéias e insights filosóficos, religiosos e psicológicos. As barreiras e complexidades do livro não resultam jamais de mera forma literária. Ele é labiríntico por muitas razões: por causa do alcance, profundidade e interdisciplinariedade daquilo que Gurdjieff está buscando; das proporções míticas e os elementos épicos que atravessam sua estrutura, e porque as muitas idéias profundas e perturbadoras que contêm esquivam-se à compreensão fácil. O leitor sério atentará para o aparentemente pomposo, mas realmente “Amigável Conselho” de Gurdjieff, de que é só na terceira leitura completa que se começa efetivamente a “provar e examinar a fundo sua substância.” O que Gurdjieff está buscando não é nada menos do que aquilo que sua imodestamente intitulada série de livros se propõe a apresentar; ou seja, tudo e todas as coisas que realmente importam.
O título principal da primeira série, Relatos de Belzebu a Seu Neto: Uma Crítica Objetivamente Imparcial da Vida do Homem é o centro em torno do qual gira a estrutura do livro. Viajando através do Universo na nave transespacial Karnak com seu neto Hassin, Belzebu compromete-se a promover a educação do menino. Hassin é um sensível, inteligente e perguntador menino de doze anos de idade. Durante sua prolongada viagem, Hassin questiona amplamente Belzebu acerca dos estranhos seres tricêntricos que habitam um pequeno planeta do remoto sistema solar para o qual Belzebu foi banido em conseqüência de sua rebeldia juvenil. Hassin se esforça para compreender porque os seres tricêntricos desse planeta “tomam o efêmero pelo Real.” Como Belzebu existe numa faixa de tempo que se estende por milhares de anos terráqueos e foi banido para Marte por toda a eternidade, seu exílio lhe dá a oportunidade de observar de perto os habitantes de nosso planeta. Belzebu conta suas estórias e usa essas observações da Terra feitas a partir de seu observatório em Marte e de seis descidas à Terra—aparentemente para instruir Hassin, mas na realidade para nos proporcionar uma crítica imparcial de nossas vidas.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

MANIFESTO


Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.

JORNALISTAS PELO BRASIL

Os ares da liberdade não estão circulando de forma desimpedida no Brasil.

Há pouco fôlego para o debate de ideias e menos espaço para o exercício meticuloso, criativo e responsável da busca da verdade.

O jornalismo, com sua tarefa civilizadora de consagrar o direito à informação, vem perdendo sua força em razão do domínio empresarial de um negócio em profunda crise de identidade por razões tecnológicas, econômicas e morais.

O setor deixou de lado suas bases históricas para se definir por meio de alianças cada vez mais incontestáveis com projetos econômicos liberais e de poder político conservador. O resultado tem sido uma perda de relevância do jornalismo. De fiador da liberdade a ator interessado, com visão particular de mundo, sociedade e política, a indústria da notícia ocupa hoje um lugar estranho à sua origem e razão de ser.

A realidade da divisão social foi transformada pela mídia em ambiente de doentia confrontação, que alimenta o golpismo contra a democracia real e estimula o ódio entre as pessoas.

A imprensa, nesse contexto, vem cumprindo a triste missão de desinformar para manipular melhor.

Os jornalistas, nessa hora nebulosa, precisam trazer seu raio ordenador: o sentido da verdade, a crença na pluralidade, a força do argumento contra o nivelamento rasteiro do pensamento único. O teste vigoroso da investigação jornalística, do conhecimento fundado nos fatos, do alimento à reflexão, da sensibilidade humana aos personagens da vida real.

É urgente a defesa das conquistas democráticas, com sua pletora de ideias dissonantes em livre e saudável embate, em lugar do autoritarismo dos colunistas orgânicos, homens e mulheres servis aos patrões, das repetições acríticas das análises prontas, e do silêncio constrangido. Ações deletérias que se armam a partir das mais torpes estratégias, como a mentira, o cinismo, a venalidade e a censura.

É hora do jornalismo responsável. Contra a lógica destrutiva do quanto pior melhor; em confronto com as simplificações que personalizam os problemas estruturais; em franco embate com a defesa do privilégio, do preconceito e da exclusão.

Um jornalismo feito com força moral para combater a corrupção em toda sua extensão. Com apuro técnico que desvele as antecâmaras de uma sociedade desigual e concentradora. Com ligações com o sentimento popular e as verdadeiras expressões de aprimoramento social e humano. Uma trincheira ética que todos reconheçam.

Para isso é preciso que se enfrentem grandes inimigos e estruturas seculares que construíram um dos mais lucrativos mercados do planeta que, se hoje claudica, não é por falta de privilégios, mas pela incapacidade de competir de forma honesta, já que foi nutrido em ambiente protegido. Uma flor de estufa que apodrece em praça pública. Mais que um sistema de ampliação de vozes, a imprensa brasileira confunde a voz do dono com o dono da voz.

Um setor que defende o mercado, mas que quer se eximir de seus controles. Que não aceita regulações nem mesmo quando exerce uma concessão pública por natureza precária e sujeita a renovações. Incapaz de compreender a dimensão pública do direito à informação. Que se arvora em cantar loas à competição enquanto luta ferozmente para manter privilégios na distribuição das verbas publicitárias públicas. Que, em ato repetido de má fé, confunde regulamentação com censura.

Uma indústria eivada de estereótipos, que não gosta do povo, que criminaliza a miséria, que promove o racismo e a violência contra minorias. Que parte de noções preconcebidas, que transforma ideologias em fatos, que vai ao mundo apenas para validar sua visão menor de realidade e seu desprazer em conviver com a diferença.

E nesse quadro de capitulação da imprensa conservadora diante dos poderosos, os jornalões e as cadeias de tevê e rádio lançam-se à mais implacável campanha de descrédito e desestabilização do governo da República. Não pelos seus possíveis erros, mas pelos seus muitos acertos. Os jornalistas denunciam mais essa ação golpista e antinacional da imprensa conservadora, explorando problemas conjunturais que o Brasil enfrenta (como de resto, tantos outros países), para a defesa de seus interesses e dos setores que representam.

É contra tudo isso que os jornalistas se unem em coro com a população brasileira. Pela liberdade de expressão, pela liberdade de informação, pela defesa da riqueza brasileira, na figura de sua maior e mais valiosa empresa, a Petrobras; pelos valores democráticos, pelos direitos humanos, contra todas as formas de golpe e de fascismo.

domingo, 5 de abril de 2015

ENTREVISTA



“INTERNET PODE TOMAR O LUGAR DO MAU JORNALISMO”

Sul 21 com El País - Umberto Eco tem na entrada de sua casa em Milão, antes de sua montanha de livros, o jornal de seu povoado (Alessandria, no Piemonte), que recebe diariamente. Quando pedimos fotos de sua juventude foi a um computador, que é o centro borgiano de seu Aleph particular, seu escritório, e encontrou as fotos que o levam ao princípio de sua vida, quando era um bebê de fraldas.

Faz tudo com eficiência e bom humor, e rapidamente; tem na boca, quase sempre, um charuto apagado com o qual, com certeza, foge do charuto. Tem uma inteligência direta, não foge de nada, nem dá voltas. Acostumado a escolher as palavras, as diz como se viessem de um exercício intelectual que tem seu reflexo nos corredores superlotados dessa casa que se parece com o paraíso dos livros.

Está com 83 anos; emagreceu, pois faz uma dieta que o afastou do uísque (com o qual almoçava algumas vezes) e de outros excessos, de forma que mostra a barriga achatada como uma glória conquistada em uma batalha sem sangue. É um dos grandes filólogos do mundo; desde muito jovem ganhou notoriedade como tal, mas um dia quis demonstrar que o movimento narrativo se demonstra andando e publicou, com um sucesso planetário, o romance O Nome da Rosa(1980), cujo mistério, cultura e ironia impressionaram o mundo.

Passeamos junto com o escritor. Física e metaforicamente. Percorremos juntos a imponente biblioteca de sua casa em Milão, onde também repousam alguns de seus livros de maior sucesso, comoO Pêndulo de Foucault e Apocalípticos e Integrados. Nas mesmas prateleiras também está seu novo romance, Número Zero, uma ficção sobre jornalismo inspirada na realidade. Um olhar sobre a informação no século XXI e a Internet, campo de batalha das ideias, das notícias e das mentiras. Controlar a verdade do que aparece na rede é, para Eco, imprescindível. Uma tarefa à qual deveriam se dedicar os jornais tradicionais, para que esses continuem sendo, no futuro, garantidores da democracia, da liberdade e da pluralidade.

Com esse sucesso que teria envaidecido qualquer um, não parou de trabalhar, como filósofo e romancista, e desde então o professor Eco é também o romancista Eco; agora aparece (em vários países do mundo) com um novo romance que nasce do centro de seus próprios interesses como cidadão: ele se sente um jornalista cujo compromisso civil o levou durante décadas a fazer autocrítica do ofício; seu romance Número Zero (cujos direitos no Brasil foram comprados pela Record, que deve lançá-lo neste ano) retrata um editor que monta um jornal que não sairá às ruas, mas cuja existência serve ao magnata para intimidar e chantagear seus adversários. Pode se pensar legitimamente que nesse editor está a metáfora de Berlusconi, o grande magnata dos meios de comunicação na Itália?, perguntei a Eco. O professor disse: “Se quiser ver em Vimecarte um Berlusconi, vá em frente, mas há muitos Vimecarte na Itália”.

Alessandria, 1932. Nasceu no Piemonte, na Itália, onde foi educado pelos salesianos. Em 1954 se formou doutor em Filosofia e Letras na Universidade de Turim, onde também foi professor, além de lecionar nas Universidades de Florença, Milão e Bologna. Beirando os 50 anos, Umberto Eco obteve um de seus maiores sucessos literários com seu romance O Nome da Rosa, traduzido para vários idiomas e levado ao cinema. Ao longo de sua trajetória, conquistou inúmeras premiações, como o Prêmio Príncipe de Astúrias de Comunicação e Humanidades no ano 2000. Também é cavaleiro da Grande Cruz da Ordem ao Mérito da República Italiana e cavaleiro da Legião de Honra francesa.

Pergunta. Um romance sobre o jornalismo. Por quê?

Resposta. Escrevo críticas do ofício desde os anos 1960, além de ter na carteira o registro de jornalista. Tive um bom debate polêmico com Piero Ottone sobre a diferença entre notícia e comentário. Escrever sobre certo tipo de jornalismo era uma ideia que me passava pela cabeça desde sempre. Há leitores que encontraram em Número Zero o eco de muitos artigos meus, cuja substância utilizei porque já se sabe que as pessoas esquecem amanhã o que leram hoje. De fato, alguns me elogiaram. Por exemplo, há quem aplaudiu o que escrevo sobre o desmentido na imprensa, e já escrevi o mesmo sobre isso há 15 anos! De forma que abordei o tema porque o carrego comigo. Até o princípio do livro é muito meu, porque esse episódio em que a água não sai da torneira era também o princípio deO Pêndulo de Foucault. Para aquele alguém me disse que não era uma boa metáfora, e tirei; mas, paraNúmero Zero, gostei dessa ideia, a água que fica presa na torneira e não sai, e você espera que saia pelo menos uma gota. Gostei dessa ideia, fui ao porão, encontrei aquele primeiro manuscrito e voltei a usar. Tudo é assim: na discussão que há com Bragadoccio [um jornalista fundamental na trama de Número Zero] sobre qual carro comprar, o que escrevo é uma lista que fiz nos anos 1990 quando eu mesmo não sabia qual automóvel queria…

P. O romance está cheio de referências ao cinismo do editor que cria um jornal para extorquir…

R. Tinha em mente um personagem da história da Itália, Pecorelli, um senhor que fazia uma espécie de boletim de agência de notícias que jamais chegava às bancas. Mas suas notícias acabavam na mesa de um ministro, e se transformavam, em seguida, em chantagem. Até que um dia foi assassinado. Disseram que foi por ordem de Andreotti, ou de outros… Era um jornalista que fazia chantagens e não precisava chegar às bancas: bastava que ameaçasse difundir uma notícia que poderia ser grave para os interesses de outro… Ao escrever o livro pensava nesse jornalismo que sempre existiu, e que na Itália recebeu recentemente o nome de “máquina de lama”.

P. No que consiste?

R. Em que para deslegitimar o adversário não é necessário acusá-lo de matar sua avó ou de ser um pedófilo: é suficiente difundir uma suspeita sobre suas atitudes cotidianas. No romance aparece um magistrado (que existiu de verdade) sobre quem se lança suspeitas, mas não se desqualifica diretamente, se diz simplesmente que é extravagante, que usa meias coloridas… É um fato verdadeiro, consequência da máquina de lama.

P. O editor, o diretor do jornal que não chega a sair, diz por meio de seu testa-de-ferro: “É que a notícia não existe, o jornalista é que cria”.

R. Sim, naturalmente. Meu romance não é apenas um ato de pessimismo sobre o jornalismo da lama; acaba com um programa da BBC, que é um exemplo de fazer bem feito. Porque existe jornalismoe jornalismo. O impressionante é que quando se fala do mau, todos os jornais tratam de fazer acreditar que se está falando de outros… Muitos jornais se reconheceram em Número Zero, mas agiram como se estivessem falando de outro.

P. O jornalista, em particular, está retratado também como um paranoico em busca de histórias custe o que custar, e fica babando quando acha ter encontrado…

R. Acontece quando Bragadoccio encontra a autópsia de Mussolini… Sempre disse, também quando escrevia romances históricos, que a realidade é mais fantástica que a ficção. Em A Ilha do Dia Anteriordescrevo um personagem fazendo um estranho experimento para descobrir as longitudes; é muito engraçado, e as pessoas disseram: “Olha que bonita a invenção do Eco”. Pois era de Galileu, que também tinha ideias loucas de vez em quando e havia inventado essa máquina para vender aos holandeses. Se mergulhar na história pode encontrar episódios mais dramáticos, mais cômicos, e também mais verdadeiros do que os que qualquer romancista pode inventar. Por exemplo, enquanto buscava material para Número Zero, encontrei a autópsia inteira de Mussolini. Nenhum narrador de pesadelos e horrores jamais conseguiu imaginar uma história como essa, e é verdadeira. E a passei para o personagem Bragadoccio, jornalista investigativo, que babava enquanto a utilizava para sua crônica sobre conspiração que inventou.

P. E o senhor não a inventou, claro.

R. Está na Internet, é assim. Então é muito fácil imaginar que um personagem tão paranoico e tão obsessivo como esse jornalista comece a desfrutar tanto da autópsia como das caveiras que encontra na igreja de Milão por onde passa sua história. Também nesse caso da igreja tudo é verdadeiro: tentei desenhar uma Milão secreta, com essas ruas, essas igrejas, que abrigam realidades que pareceriam fantasias…

P. Agora a realidade e a fantasia têm um terceiro aliado, a Internet, que mudou por completo o jornalismo.

R. A Internet pode ter tomado o lugar do mau jornalismo… Se você sabe que está lendo um jornal como EL PAÍS, La Repubblica, Il Corriere della Sera…, pode pensar que existe um certo controle da notícia e confia. Por outro lado, se você lê um jornal como aqueles vespertinos ingleses, sensacionalistas, não confia. Com a Internet acontece o contrário: confia em tudo porque não sabe diferenciar a fonte credenciada da disparatada. Basta pensar no sucesso que faz na Internet qualquer página web que fale de complôs ou que invente histórias absurdas: tem um acompanhamento incrível, de internautas e de pessoas importantes que as levam a sério.

P. Atualmente é difícil pensar no mundo do jornalismo que era protagonizado, aqui na Itália, por pessoas como Piero Ottone e Indro Montanelli…

R. Mas a crise do jornalismo no mundo começou nos anos 1950 e 1960, bem quando chegou a televisão, antes que eles desaparecessem! Até então o jornal te contava o que acontecia na tarde anterior, por isso muitos eram chamados jornais da tarde: Corriere della Sera, Le Soir, La Tarde,Evening Standard… Desde a invenção da televisão, o jornal te diz pela manhã o que você já sabe. E agora é a mesma coisa. O que um jornal deve fazer?

P. Diga o senhor.

R. Tem que se transformar em um semanário. Porque um semanário tem tempo, são sete dias para construir suas reportagens. Se você lê a Time ou a Newsweek vê que várias pessoas contribuíram para uma história concreta, que trabalharam nela semanas ou meses, enquanto que em um jornal tudo é feito da noite para o dia. Um jornal que em 1944 tinha quatro páginas hoje tem 64, então tem que preencher obsessivamente com notícias repetidas, cai na fofoca, não consegue evitar… A crise do jornalismo, então, começou há quase cinquenta anos e é um problema muito grave e importante.

P. Por que é tão grave?

R. Porque é verdade que, como dizia Hegel, a leitura dos jornais é a oração matinal do homem moderno. E eu não consigo tomar meu café da manhã se não folheio o jornal; mas é um ritual quase afetivo e religioso, porque folheio olhando os títulos, e por eles me dou conta de que quase tudo já sabia na noite anterior. No máximo, leio um editorial ou um artigo de opinião. Essa é a crise do jornalismo contemporâneo. E disso não sai!

P. Acredita de verdade que não?

R. O jornalismo poderia ter outra função. Estou pensando em alguém que faça uma crítica cotidiana da Internet, e é algo que acontece pouquíssimo. Um jornalismo que me diga: “Olha o que tem na Internet, olha que coisas falsas estão dizendo, reaja a isso, eu te mostro”. E isso pode ser feito tranquilamente. No entanto, ainda pensam que o jornal é feito para que seja lido por alguns velhos senhores –já que os jovens não leem— que ainda não usam a Internet. Teria que se fazer um jornal que não se torne apenas a crítica da realidade cotidiana, mas também a crítica da realidade virtual. Esse é um futuro possível para um bom jornalismo.

P. Em seu romance, um editor concebe um jornal que não vai sair às ruas, para dar medo. É uma metáfora do que acontece?

R. E não só isso. Em Número Zero aprofundo a técnica do dossiê. A chantagem consiste em anunciar uma documentação, um informe. A pasta pode estar vazia, mas a ameaça de que existe basta: cada um de nós tem um cadáver no armário ou pelo menos recebeu uma multa por excesso de velocidade há 30 anos. A ameaça da existência de um dossiê é fundamental. A técnica da documentação é como a técnica do segredo. Filósofos ilustres, como Simmel e outros, disseram que o segredo mais poderoso é o segredo vazio. É uma técnica infantil: o menino diz (enganando): “Eu sei uma coisa que você não sabe!”. Dizer que sabe uma coisa que o outro não sabe é uma ameaça. Muitos segredos são vazios, e por isso são muito mais poderosos. Depois você vê os verdadeiros documentos, e são apenas recortes de imprensa. São vendidos a um Governo e aos serviços secretos, ou para a polícia, e são dossiês vazios, cheios de coisas que todos sabiam, menos os serviços secretos.

P. Número Zero é um romance de ficção, mas tudo pode ser visto na realidade…

R. É do jornalismo real que eu falo. Os jornais especializados na máquina de lama existem. Nem todos os jornais usam essa máquina, mas existem os que a utilizam, e por uma modesta soma de dinheiro eu poderia te dar os nomes…

P. E como sair da lama?

R. Dando notícias credenciadas. O que é maquina de lama? Normalmente é utilizada para deslegitimar o adversário e desacreditá-lo sobre questões particulares. Quero dizer que, na época áurea, se você não gostava de um presidente dos Estados Unidos, já aconteceu com Lincoln e Kennedy, o matava; era, por assim dizer, um procedimento honesto, como se faz na guerra… Por outro lado, com Nixon e Clinton se produziu uma deslegitimação com base em questões particulares. Um incitava a roubar papéis, o outro fazia coisas com uma estagiária… Essa é a maquina de lama. Poderiam ter dito, algo que não aconteceu nos Estados Unidos, que Kennedy dormia com Marilyn Monroe; a máquina de lama teria feito isso… Aquele juiz de Rimini do meu livro (que existiu realmente, em outra cidade) foi colocado na máquina de lama: usava meias extravagantes, fumava demais. Na verdade, havia emitido uma sentença que naquele momento não tinha agradado Berlusconi. E o que o maquinário do ex-primeiro-ministro fez foi buscar desacreditar sua reputação por meio de episódios menores. Pode se deslegitimar Netanyahu pelo que faz com a Palestina. Mas acusá-lo, por exemplo, de pedófilo, então já não estará trabalhando com fatos, mas estará colocando em funcionamento a máquina de lama.

P. Contra a máquina de lama…

R. As provas, as notícias rebatidas. Para a máquina de lama é suficiente difundir uma sombra de suspeita ou trabalhar sobre uma fofoca menor. No fim, na Itália, Berlusconi foi colocado contra as cordas contando o que ele fazia à noite em sua casa. Podiam dizer dele, e disseram, coisas muito mais graves, sobre seus conflitos de interesse, por exemplo. Mas isso deixava o público indiferente. E quando se provou que ele estava com uma menor de idade, então se viu em dificuldades. Como você pode ver, até defendo o Berlusconi! Ele foi vencido a partir de revelações sobre sua vida pessoal mais do que por notícias sobre fatos verdadeiros e outras coisas pelas quais é responsável.

P. O senhor cita em seu livro a Operação Gládio em relação a fatos que ocorreram após a Segunda Guerra Mundial… Entram aí até as suspeitas sobre a autoria da matança dos advogados de Atocha… Aquela sombra da extrema direita agora volta ao mundo com os atentados islâmicos. Um mundo sombrio outra vez. Qual a sua opinião desse momento outra vez sangrento, protagonizado dessa vez pelos terroristas jihadistas?

R. É como o nazismo: pensava em restabelecer a dignidade do povo alemão matando todos os judeus. De onde nasce o nazismo? De uma profunda frustração. Tinham perdido uma guerra, e é nos momentos de grandes crises que o cacique de um povo pode congregar a opinião pública em torno do ódio contra um inimigo. Acontece agora com o mundo muçulmano: três séculos de frustração, após o império otomano, após o imperialismo, surge essa frustração em forma de ódio e fanatismo…

P. E como se luta contra isso?

R. Não sei. Estava muito claro como se podia lutar contra o fanatismo nazista, porque os nacional-socialistas estavam em um território identificável. Aqui a coisa é mais complexa.

P. Tem medo?

R. Não por mim, por meus netos.

P. O senhor escreveu um livro em que um jornal da lama faz batalhas sujas sem sair às ruas… Cogita que um dia não haja jornais?

R. É um risco muito grave, porque, depois de tudo que disse de mau sobre o jornalismo, a existência da imprensa ainda é uma garantia de democracia, de liberdade, porque especialmente a pluralidade dos jornais exerce uma função de controle. Mas, para não morrer, o jornal tem que saber mudar e se adaptar. Não pode se limitar apenas a falar do mundo, uma vez que disso a televisão já fala. Já disse: tem que opinar muito mais sobre o mundo virtual. Um jornal que soubesse analisar e criticar o que aparece na Internet hoje teria uma função, e até um rapaz ou uma moça jovem leriam para entender se o que encontraram online é verdadeiro ou falso. Por outro lado, acho que o jornal ainda funciona como se a Internet não existisse. Se olhar o jornal de hoje, no máximo encontrará uma ou duas notícias que falam da Internet. É como se as rotativas nunca se ocupassem de sua maior adversária!

P. É adversária?

R. Sim. Porque pode matá-la.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

A história que eu gosto

 Kropotkin & Joyce
Você precisa conhecer

"Você não acha que existe certa semelhança entre o mistério da massa e o que estou tentando fazer?...Dar às pessoas algum tipo de intelectual prazer ou gozo espiritual, convertendo o pão da vida cotidiana em algo que tem uma vida artística permanente própria. "- James Joyce em uma carta ao seu irmão com essas histórias reinventou a arte da ficção, usando um escrupuloso, inexpressiva realismo para transmitir verdades que eram ao mesmo tempo, blasfema e sacramental”. Escrevendo sobre a morte de um padre caído ("The Sisters"), as mesquinhas maquinações sexuais e fiscais dos "Dois Gallants", ou da festa de Natal no qual um intelectual desenraizado descobre o quão pouco ele sabe muito sobre sua esposa ("mortos"), Joyce leva a narrativa a lugares que nunca tinha sido antes visitados...
Kropotkin foi preso por diversas vezes por sua militância. Seus textos foram publicados por centenas de jornais ao redor do mundo. Seu funeral, em fevereiro de 1921, constituiu o último grande encontro de anarquistas na Rússia, uma vez que este país, desde a revolução de 1917, estava sob o domínio dos bolcheviques marxistas que passaram a perseguir, exilar e aniquilar os ativistas libertários onde quer que fossem encontrados.
"Cada descobrimento, cada progresso, cada aumento da riqueza humana é o resultado do trabalho intelectual e físico feito no passado e no presente. Assim sendo, por que alguém pode ter direito à propriedade da mais pequena parte deste enorme todo, e dizer isto é meu, e não teu?"
Nascido príncipe, membro da antiga família real de Rurik, na idade adulta Kropotkin rejeitou este título de nobreza - Foi preso por diversas vezes por sua militância. Seus textos foram publicados por centenas de jornais ao redor do mundo. Seu funeral, em fevereiro de 1921, constituiu o último grande encontro de anarquistas na Rússia, uma vez que este país, desde a revolução de 1917, estava sob o domínio dos bolcheviques marxistas que passaram a perseguir, exilar e aniquilar os ativistas libertários onde quer que fossem encontrados.