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terça-feira, 26 de março de 2013

POLÍTICA - ARTIGO

Estado e desenvolvimento


01. O Estado costuma ser regido pela classe dominante. Nos países ditos desenvolvidos, a grande burguesia ganhou essa condição, graças a políticas de Estado voltadas para o engrandecimento do poder nacional.
02. O poder do Estado foi usado para fortalecer empresas estatais e privadas de capital nacional, desenvolvendo tecnologias próprias. Os capitalistas já tinham no Estado um instrumento para erguer seu próprio poder, embora ainda não tivessem completa ascendência sobre aquele, nem sobre seus quadros civis e militares.
03. Os grandes bancos e empresas industriais foram formando um sistema de poder controlado por poucos potentados, todos com “investimentos” em todas essas áreas, além de estreitos vínculos interempresariais.
04. Concentrado assim, o capital “privado” passou a predominar inquestionavelmente sobre as autoridades do Estado, bem como sobre os tecnocratas e as forças armadas.
05. Esse processo foi acompanhado pela propagação da ideologia liberal e por instituições de aparência democrática, tais como eleições periódicas, suposta divisão dos poderes do Estado.
06. Tais formas perderam todo conteúdo democrático que pudessem ter tido, através do controle das eleições por meio das campanhas alimentadas por quantias somente accessíveis aos concentradores de capital, também comandantes diretos ou indiretos dos meios de comunicação.
07. Essa é realidade política e econômica dos países centrais, a qual levou aos absurdos da financeirização, culminando com o Estado a passar aos banqueiros dezenas de trilhões de dólares das receitas tributárias e da emissão de moeda e de títulos, além de suscitar a emissão também pelos bancos centrais e pelos próprios bancos privados.
08. Assim, o Estado endividou-se para favorecer grandes bancos, cujos controladores e executivos já se haviam locupletado enormemente durante os anos da proliferação dos ativos financeiros que criaram e que se revelaram, mais tarde, títulos podres.
09. Notavelmente, exigem sacrifícios de trabalhadores, aposentados e da grande massa dos produtores e consumidores.
10. Os concentradores mundiais, há séculos, projetam seu poder em numerosos países de todos os continentes, dominando-os diretamente ou através de grupos locais. No Brasil, desde há séculos, aliaram-se a proprietários de terra e/ou mineradores, servindo-se deles para penetrar na sociedade local e obter elevados ganhos comerciais e como banqueiros credores e concessionários de serviços públicos.
11. Isso se deu, primeiro, através do comércio, tornando a burguesia local dependente da exportação para ter acesso ao padrão de vida dos ricos das economias centrais.
12. No Brasil, segmentos locais - burguesia industrial, estamentos militar e burocrático, trabalhadores - aspiraram, na primeira metade do Século XX, a tornar o Estado instrumento da autonomia nacional, livrando o País da condição de zona de exploração, administrada em função dos interesses de empresas estrangeiras.
13. Até 1930, o Estado foi, em geral, governado por representantes da burguesia “compradora”: grandes fazendeiros de café, produto cujas receitas de exportação eram, em grande parte, absorvidas pelo serviço da dívida externa e cuja comercialização era controlada por casas comerciais estrangeiras.
14. Ainda assim, formou-se apreciável industrialização, graças à falta de divisas para importar e à proteção involuntária, através da taxa de câmbio desvalorizada.
15. Apesar de ter introduzido mudanças estruturais importantes, a Revolução de outubro de 1930 contemplou os interesses dos cafeicultores, determinando a queima de estoques de café e emitiu moeda para pagar os produtores, com o que atenuou os efeitos internos da brutal queda do preço e da quantidade exportada, desde o eclodir da depressão nos EUA.
16. Isso, junto com a falta de divisas para importar, fortaleceu a industrialização. Além disso, foram aprovadas leis para colocar o subsolo sob a autoridade da União e aparelhar o Estado, organizando carreiras no serviço público civil, através de concursos e da formação de quadros e técnicos.
17. Ao mesmo tempo, foram criadas instituições de pesquisa tecnológica, inclusive nas Forças Armadas. Ademais, foi instituída a legislação trabalhista, e criados os Institutos de Previdência, autarquias e estatais para fomentar produções essenciais e estratégicas. Foi fundada a primeira siderúrgica integrada e a Fábrica Nacional de Motores.
18. Não admira que, terminada a Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas, tenha sido, em 1945, defenestrado pelos interesses imperiais. Seguiu-se o interregno entreguista do Marechal Dutra (1946-1950). Vargas, eleito em 1950, foi nova e definitivamente derrubado por conspiração dirigida por serviços secretos estrangeiros, em agosto de 1954, após difíceis avanços em seu projeto de construção nacional.
19. Apesar de estes terem ocorrido desde o início do Século XX, e se intensificado na Era Vargas, não foram suficientes para tornar o País capaz de resistir à pressão imperial. Daí em diante, o País voltou a sofrer o aumento das dependências cultural, financeira e tecnológica.
20. Isso aconteceu desde o governo militar-udenista (1954-1955) e prosseguiu com JK, que abraçou a dependência tecnológica como política de governo, ampliando os subsídios instituídos desde 1954 em favor das empresas transnacionais.
21. Seguiu-se a instabilidade, agravada pela ação das agências dos governos imperiais no quadro da Guerra Fria, os quais investiram no anticomunismo para alinhar, ainda mais que antes, as elites locais às potências anglo-americanas. O primeiro dos governos militares, em 1964, entregou a economia a Roberto Campos, e este instituiu políticas que destruíram grande parte das empresas de capital nacional.
22. Os governos militares seguintes, tal como JK, tentaram promover o desenvolvimento, sem entender que este é incompatível com as dependências financeira e tecnológica.
23. Assim, os saldos negativos nas transações correntes ganharam vulto maior, devido às transferências das multinacionais ao exterior e ao endividamento do Estado, empenhado em investir na infra-estrutura e indústrias básicas, em apoio às multinacionais, com projetos regidos pelo Banco Mundial e financiados por bancos estrangeiros.
24. Daí a explosão da dívida externa (segunda metade dos anos 70), a qual se tornou poderoso instrumento adicional da subordinação do País.
25. Esgotaram-se os recursos para a infra-estrutura, ficando tudo subordinado ao serviço da dívida. Além disso, a entrada de investimentos diretos estrangeiros para “equilibrar” o balanço de pagamentos redundou na desnacionalização quase completa da economia, realimentando os déficits externos e o crescimento das dívidas externa e interna.
26. A desnacionalização nesse grau implica regressão em relação à República Velha (1889-1930), quando os interesses estrangeiros ainda precisavam da intermediação das elites locais.
27. A partir de FHC, as empresas transnacionais determinam diretamente as políticas públicas e constituem a classe dominante, inclusive por controlarem diretamente quase toda a estrutura produtiva e financeira.
28. O investimento direto estrangeiro é o veículo da periferização por dentro, muito mais profunda que a antiga, através só do comércio exterior.

* - Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.

sábado, 23 de março de 2013

A REVOLUÇÃO DOS MINEIROS






“Ottoni e a Revolução”
“O país lembra-se ainda hoje de 1842, do
morticínio dos liberais de Minas e São Paulo,
da sufocação da imprensa, do direito de petição
eliminado, da delação premiada pelo governo da
tirania” ( Rui Barbosa )

O Projeto
Inspira-me a fazer este projeto fílmico, a pessoal convicção para com os exemplos de Minas, em sua mais íntima e substancial essência, irradiadora dos conceitos de cidadania, brasilidade e opulência política.

A imortalidade de Teófilo Benedito Ottoni, que ousou modificar a história de Minas e do Brasil, nos idos de 1842, trata-se de um deles, cristalizada por marcante epopéia política, histórica e de formação institucional que, pouco a pouco, vem esgarçando-se na memória das gerações, como que aproximar-se do mais impiedoso e injusto esquecimento.

Matéria do maior interesse na formação política do Brasil e na construção do moderno processo democrático, os Chimangos, alcunha dada aos liberais pelos portugueses conservadores de 1842, transformaram o panorama do II Reinado e deram a Minas, mais uma vez, a oportunidade de lutar em defesa da liberdade, da democracia e da república, proclamada 47 anos depois.

No Brasil, em todos os estados e regiões, existem fatos históricos de relevante interesse cinematográfico. Minas Gerais, possuindo um grande potencial para este gênero de filme, pela amplitude e riqueza de seu passado, está de frente, embora sem conhecer, de um dos seus mais instigantes episódios, ao enfocar para sempre na memória nacional, A Revolução Liberal de 1842 e o seu maior personagem, Teófilo Ottoni.

Uma série televisiva de reconstituição histórica sempre teve múltiplo interesse. Além de atrair o grande público, torna-se um patrimônio de permanente validade para a cultura e para a região enfocada, como documentário e peça de formação educacional.

Abordagem do Tema
A opção desta minissérie é pela linguagem cinematográfica direta e acessível, com cuidadosa reconstituição de época, sem descuidar da técnica e dos atores, mas com muitas cenas produzidas e filmadas em estúdios, cenas fechadas, planos curtos, teatralmente expressionistas, com uma cenografia datada onde se conta uma história real, sem deixar de lado a estética narrativa de um cinema brasileiro, de ficção e de conflito histórico.

Sinopse
Em 1842 o Brasil viveu o processo da “maioridade” no II Reinado. Eclodiam por todo o país vários movimentos revolucionários e republicanos.

Apresentada pelo fim, do ponto de vista do pico do Itacolomy, o megalítico pré-histórico, ícone dos movimentos libertários de Minas, a Revolução Liberal de 1842, liderada em Minas pelo então jovem deputado Teófilo Benedito Ottoni, se arrasta pelas ruas da capital da província.

A partir da memória do seu líder, Ottoni, o Capitão da Casaca Branca, retrata-se, em três momentos cinematográficos - o julgamento, a prisão e a revolução - este que foi um acontecimento singular na história de Minas e do Brasil.

Derrotado os revolucionários mineiros no arraial de Santa Luzia, Teófilo Ottoni é preso e é levado a julgamento na cidade de Ouro Preto, antiga Vila Rica. O Julgamento popular é tenso no seu início, pelo desejo da corte de se aplicar ao réu, como exemplo ao país, a maior das penas. O promotor acabara de falar. Ottoni pronuncia as primeiras palavras da sua brilhante autodefesa. Entra no tribunal, espremida pelo público que lota as galerias atento ao brilhante orador, uma jovem e bonita mulher, com uma criança no colo. Ottoni, visivelmente emocionado, vê, através dos olhos dela, sua esposa, e da criança, seu filho, os acontecimentos que compõem a história da revolução. Um jornal circula pelas mãos dos que ali estavam com a seguinte manchete: Presos de Ouro Preto; peçam misericórdia! Em suas recordações, estagnada na memória, a imagem do primeiro passo, o momento difícil na sua mais importante opção.

Dividido entre o amor da bela e grávida esposa Carlota Amália e a aventura de se fazer a Revolução, o jovem Ottoni, decidido, resolve abandonar o quartel da saúde - uma vida digna, respeitada, de recém-casado, vivendo em uma bela casa na grande cidade - e sai, às escondidas, numa noite chuvosa, montado na besta Montanha. Ottoni, destemido, contando só com sua argúcia e com o seu carisma, arriscando-se para levar o povo mineiro ao levante, cria um épico, numa seqüência de fatos, onde se misturam os ingredientes do romance, da aventura e avança sobre o imponderável.

Na construção dramática e no conflito do tempo histórico - do outro lado - está o poder do Império.

Nos palácios, os áulicos, ocupados em discutir outro Brasil, falam sobre o destino do menino rei e da sua futura esposa, que está sendo procurada por um emissário nas cortes européias.

É noite. Na casa dos Ottoni, está reunida a família e os amigos do Deputado. Nesta ocasião, sabendo das notícias de que os paulistas se renderam às forças do exército imperial e entregaram às armas ao General Barão de Caxias, Ottoni resolve ir ao encontro de seus seguidores e de seus companheiros que ficaram em Minas Gerais.

O rebelde deputado levaria do Rio para Minas uma “mentira” estratégica: “Os paulistas revolucionários, resistiam bravamente...” quando, em verdade, já haviam se rendidos.

Seu irmão tenta convencê-lo a ficar em casa - sua mulher está grávida - eis o seu último argumento. Ottoni não se deixa enganar - “Minas ainda pode resistir e mudar os rumos do país”- e, com seu forte ideal republicano, avança diuturnamente contra todas as barreiras e perseguições imposta pela polícia da monarquia. Mas, finalmente, enganando os soldados, passando a galope pela ponte que corta o rio Paraibuna, atravessa a divisa do Rio, chega às Gerais e é recebido com muita festa por seus companheiros revolucionários.

Com sua liderança, pelas estradas e trilhas que o leva à Barbacena, obtém as adesões das classes produtoras e também dos trabalhadores. Encontra no caminho, o amigo e também deputado correligionário, Cônego Marinho, fiel companheiro de toda a revolução.

Ottoni e o movimento de Minas preocupa o Império. D. Pedro e seus Ministros pedem ao Barão de Caxias que assuma o comando das tropas e marche rumo à província de Minas.

Na mais famosa das batalhas, a de Santa Luzia, os rebeldes mineiros, antes da derrota final, rechaçam o legendário Caxias e o exército imperial.

As movimentadas seqüências históricas e revolucionárias, terminam com a derrota e a prisão do herói em Santa Luzia e o seu julgamento em Ouro Preto, então capital das Minas Gerais, onde é absolvido pelo clamor popular contra a vontade da corte. Ottoni consegue convencer ao júri do seu amor à pátria, de sua lealdade ao povo e a nação brasileira.

Liberto, nos braços do povo, recebe, como seu maior troféu, a pena que assinou a sentença de sua liberdade. Abraçado a sua esposa e ao filho, caminha livre pelas ruas de Ouro Preto, misturando-se a população da velha capital de Minas Gerais.

quinta-feira, 21 de março de 2013

POESIA


José Régio


Pseudônimo literário do poeta português José Maria dos Reis Pereira. Nasceu em
Vila do Conde, em 1901 e nessa mesma vila faleceu em 1969.

Alguns dos seus poemas

Adão e Eva

Olhámo-nos um dia,
E cada um de nós sonhou que achara
O par que a alma e a cara lhe pedia.
- E cada um de nós sonhou que o achara...
E entre nós dois
Se deu, depois, o caso da maçã e da serpente,
... Se deu, e se dará continuamente:
Na palma da tua mão,
Me ofertaste, e eu mordi, o fruto do pecado.
- Meu nome é Adão...
E em que furor sagrado
Os nossos corpos nus e desejosos
Como serpentes brancas se enroscaram,
Tentando ser um só!
Ó beijos angustiados e raivosos
Que as nossas pobres bocas se atiraram
Sobre um leito de terra, cinza e pó!
Ó abraços que os braços apertaram,
Dedos que se misturaram!
Ó ânsia que sofreste, ó ânsia que sofri,
Sede que nada mata, ânsia sem fim!
- Tu de entrar em mim,
Eu de entrar em ti.
Assim toda te deste,
E assim todo me dei:
Sobre o teu longo corpo agonizante,
Meu inferno celeste,
Cem vezes morri, prostrado...
Cem vezes ressuscitei
Para uma dor mais vibrante
E um prazer mais torturado.
E enquanto as nossas bocas se esmagavam,
E as doces curvas do teu corpo se ajustavam
Às linhas fortes do meu,
Os nossos olhos muito perto, imensos,
No desespero desse abraço mudo,
Confessaram-se tudo!
... Enquanto nós pairávamos, suspensos
Entre a terra e o céu.
Assim as almas se entregaram,
Como os corpos se tinham entregado,
Assim duas metades se amoldaram
Ante as barbas, que tremeram,
Do velho Pai desprezado!
E assim Eva e Adão se conheceram:
Tu conheceste a força dos meus pulsos,
A miséria do meu ser,
Os recantos da minha humanidade,
A grandeza do meu amor cruel,
Os veios de oiro que o meu barro trouxe...
Eu, os teus nervos convulsos,
O teu poder,
A tua fragilidade
Os sinais da tua pele,
O gosto do teu sangue doce...
Depois...
Depois o quê, amor? Depois, mais nada,
- Que Jeová não sabe perdoar!
O Arcanjo entre nós dois abrira a longa espada...
Continuamos a ser dois,
E nunca nos pudemos penetrar!
Sabedoria
Desde que tudo me cansa,
Comecei eu a viver.

Comecei a viver sem esperança...
E venha a morte quando
Deus quiser.
Dantes, ou muito ou pouco,
Sempre esperara:
Às vezes, tanto, que o meu sonho louco
Voava das estrelas à mais rara;
Outras, tão pouco,
Que ninguém mais com tal se conformara.
Hoje, é que nada espero.
Para quê, esperar?
Sei que já nada é meu senão se o não tiver;
Se quero, é só enquanto apenas quero;
Só de longe, e secreto, é que inda posso amar. . .
E venha a morte quando Deus quiser.
Mas, com isto, que têm as estrelas?
Continuam brilhando, altas e belas.

O Amor e a Morte

Canção cruel
Corpo de ânsia.
Eu sonhei que te prostrava,
E te enleava
Aos meus músculos!
Olhos de êxtase,
Eu sonhei que em vós bebia
Melancolia
De há séculos!
Boca sôfrega,
Rosa brava
Eu sonhei que te esfolhava
Pétala a pétala!
Seios rígidos,
Eu sonhei que vos mordia
Até que sentia
Vómitos!
Ventre de mármore,
Eu sonhei que te sugava,
E esgotava
Como a um cálice!
Pernas de estátua,
Eu sonhei que vos abria,
Na fantasia,
Como pórticos!
Pés de sílfide,
Eu sonhei que vos queimava
Na lava
Destas mãos ávidas!
Corpo de ânsia,
Flor de volúpia sem lei!
Não te apagues, sonho! mata-me
Como eu sonhei.

Testamento do Poeta

Todo esse vosso esforço é vão, amigos:
Não sou dos que se aceita... a não ser mortos.
Demais, já desisti de quaisquer portos;
Não peço a vossa esmola de mendigos.
O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos já hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!
E o mesmo digo a tudo e a todos, - hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos,
E ao meu próprio Deus nego, e o ar me foge.
Para reaver, porém, todo o Universo,
E amar! e crer! e achar meus mil sentidos!....
Basta-me o gesto de contar um verso.
Cântico Negro

Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

quarta-feira, 20 de março de 2013

CINEMA CRÍTICA

ESTE FILME É DE UMA CARA DE PAU TOTALMENTE OPORTUNISTA E FOI PREMIADO COM O FAMIGERADO OSCAR(ALHO) ESTE ANO - SENDO CINEMATOGRAFICAMENTE UM LIXO.
Argo, fantasia ou farsa?

Cloves Geraldo/Vermelho

Filme do ator e diretor estadunidense Ben Affleck tenta mudar a imagem da CIA e retocar o fracasso dos EUA na ocupação de sua embaixada no Irã, em 1979
Às claras, sem maquiagem, a Academia de Artes e Ciências Cinematográfica elegeu o filme que escancara o papel de Hollywood, como um dos esteios do imperialismo estadunidense. E com a tentativa de mudar, em décadas de vilania, a imagem da CIA (Central de Inteligência Americana), através do cinema. O ator e cineasta Ben Affleck, com Argo, ganhador do Oscar de Melhor Filme de 2012, se presta a isto com todas as implicações estéticas, narrativas, conteudísticas e, sobretudo, políticas, para contar a história do resgate de “seis diplomatas” estadunidenses durante a ocupação da embaixada dos EUA, no Irã, em 04/11/1979. Contraditoriamente, Affleck reduz os fatos políticos a breves sequências de rua e de TV, takes de jornais e revistas da época, e de fotografias e quadrinhos. O que lhe interessa é destacar a competência, a frieza e o carisma do agente da CIA Kevin Harkins (Ben Affleck), especialista em resgatar estadunidense sequestrados no exterior. E, portanto, tentar mostrar o quanto a CIA é necessária, quando as vias diplomáticas fracassam, sobretudo em situações como as da ocupação da embaixada dos EUA, por manifestantes pró-Revolução, em Teerã.
Este é o objetivo deste filme de 137 minutos, produzido por Affleck e o também ator e cineasta George Clooney, num instante em que os EUA transformaram o Irã em seu principal inimigo estratégico, devido ao programa nuclear iraniano. Na verdade o que lhes interessa é o controle das ricas reservas petrolíferas daquele país e atender às pressões israelenses. A CIA então se torna o instrumento “salvador”, mistificado por Affleck.
Sidney Pollack, em Três Dias do Condor, 1975, e Francis Ford Coppola, em A Conversação, 1974, trataram-na como um organismo doente, que devora os inimigos e as próprias entranhas. A CIA, como se sabe, não merece retoques ou endeusamento. Está por trás de inúmeros golpes de estado, inclusive a derrubada de Salvador Allende, em 1973, e das tentativas de liquidar Fidel Castro, desde 1959, para ficar só nestes fatos.
Hollywood disfarça suas intenções. Como ocorre nesse tipo de filme, Affleck disfarça suas reais intenções. O agente da CIA é o herói, bom pai, marido exemplar, profissional eficiente, capaz de vencer desconfianças com poucas palavras. Affleck e o roteirista Chris Terrio, com base em relatos do ex-agente da CIA, Antonio J. Mendez/Kevin Harkins, e da reportagem “A Grande Escapada”, do jornalista da revista Wired, Joshua Berrman, preferiram mostrá-lo assim e centrar a narrativa no resgate dos “seis diplomatas” estadunidenses que se refugiaram na embaixada do Canadá. Isto exclui o drama dos 52 funcionários que ficaram retidos na embaixada dos EUA durante 444 dias (04/11/1979/ 20/01/1981), período que Jimmy Carter negociou o fim da ocupação da embaixada.
Desta forma, tentam retocar o fracasso das tentativas de acabar com a ocupação e a imagem de fraqueza de Carter. E usam um fato real que serve ao heroísmo de Harkins e “resgata” a CIA do limbo. As sequências iniciais da ocupação da embaixada servem apenas para situar a história, mostrando os manifestantes entrando pelo prédio principal. A partir daí a narrativa desloca-se para a embaixada canadense e a articulação de Harkins para resgatar os “seis diplomatas”. Parece que eles, sim, são o centro do conflito e das exigências dos manifestantes. Não são, ficaram à margem.
A ocupação da embaixada estadunidense se deu por vários fatores: o controle que os EUA exerciam sobre as reservas petrolíferas do Irã, nacionalizadas pelo premiê Mohammed Mossadegh, em 1951, seu papel na derrubada de Mossadegh, em 1953, a sustentação do Xá Reza Palevi (Teerã, 1919/ Cairo, 1980) no poder, sua resistência à Revolução Iraniana (16/01/1979), liderada por Ruhollah Khomeini (Khomein, 1902/Teerã, 1989) e a proteção dada ao Xá, após sua queda. Daí Khomeini chamá-los de “O Grande Satã”.
Clichês e ralo suspense
Estes fatos não são vistos na tela. Apenas a abertura fala da brutalidade do Xá, como se por trás não houvesse os interesses político-econômicos dos EUA. Tampouco se sabe qual é a real importância política dos “seis diplomatas”. É tão só pretexto para transformar o fracasso das negociações do Governo Carter com o ayatollah Khomeini no sucesso do resgate dos referidos “diplomatas”. Inúmeros filmes trataram de resgate de reféns. A lista é enorme: De Volta Para o Inferno, de Ted Kotcheff, 1983, foi um deles. Argo”é tão só uma variante da realidade ficcionada, em tempos de baixa dos EUA.
Além disso, o suspense do filme é um rol de clichês, com preparação da ação a cada sequência (veja as sequências do aeroporto de Teerã). É repetitivo. Sobra o humor de dois grandes atores: Alan Arkin (Lester Siegel) e John Goodman (o maquiador John Chambers). “A história começa como farsa e acaba em tragédia”, diz Siegel a Chambers. É muito pouco para um filme que recebeu o Oscar de Filme do Ano. “Os Miseráveis”, de Tom Hooper, Globo de Ouro, de Melhor Filme, é superior. Hollywood, sem dúvida, pensa politicamente. Cinema não é só diversão.





terça-feira, 19 de março de 2013

Mais uma sobre o Vaticano

Uma singela conclusão as sandices sobre correntes na Igreja Católica em meio a esse esforço semântico para dourar os conflitos de interesses escusos que escondem a face oculta (e podre) do Vaticano: um paraíso fiscal à prova de fiscalização e controle do mundo dos mortais.

Tanto que não se pode levar a sério as folclóricas correspondências enviadas desse quarteirão que o Tratado de Latrão patrocinado por Benito Mussolini transformou num Estado soberano, com o compromisso de apoiar incondicionalmente o fascismo na Itália. A partir de 1929, o ditador derramou dinheiro nas contas eclesiásticas e teve em troca até a dissolução do Partido Popular católico, para forçar o fortalecimento do Partido Fascista.
Com ajuda de Mussolini, Vaticano acumulou fortuna
Se o Estado do Vaticano foi chancelado por Mussolini em 1929, o tenebroso banco do Vaticano surgiu em 1942, pelas mãos de Pio XXII, em plena guerra, tendo como suporte fundos do regime fascista e uma grande rede internacional que tem propriedades no mundo inteiro, inclusive nos Estados Unidos, um país de maioria protestante, onde, segundo Avro Manhattan, autor do livro The Vatican Billions, é sócio de grandes empresas, desde o Bank Of America, onde teria 51% de suas ações, até grandes multinacionais, riquíssimas instituições educacionais (só nos Estados Unidos, 28 universidades) e numerosos hospitais privados.

domingo, 17 de março de 2013

REFLEXÃO PAPAL


O PAPA
"O perdão é sempre fácil de conceder, o mais difícil é ter coragem de pedi-lo."
Morrison West

Eu acredito que qualquer igreja precisa de um dirigente competente, de um homem forte, que administre todo o poder de “Deus” aqui na terra.
De todas as igrejas a católica é a que mais acumulou riquezas, pois sempre esteve aliada aos poderosos e aos interesses do estado, sejam eles quais fossem nos últimos dois mil e treze anos de muita guerra e pouca paz no mundo da fé.
Se uma igreja nova, como a Universal do Bispo Macedo, acumulou tão grande quantidade de poder, em tão pouco tempo, pode-se imaginar o quão grande e opulento é o poder do Deus católico de Roma.
Posso dizer que ali, em Roma, os interesses ocultos em cada concílio são de vida ou de morte – de vida, aonde não se admite a desobediência das suas tradições seculares ou de morte, como constatação da dúvida por seus valores maiores. O Rei está morto. Viva o Rei.
A igreja de Roma é dominada pelas forças mais retrógadas e egoístas que existem hoje na terra, é sem dúvida a mais conservadora de todas as outras que querem existir e competir com ela em nome de um deus homem.
Esquecem que também são homens sem serem deuses e cometem os mesmos erros de todos os mortais.
Vamos trocar as máscaras, mas permaneceremos os mesmos animais famintos – uns de poder - outros de saber e outros, mais ainda, de comer os que têm pela frente.
Não creio em nenhuma igreja; em nenhum partido político; em nenhuma fé que derruba montanhas, mas acredito indubitavelmente no ser humano e em sua transformação histórica por força das revoluções que se sucedem no caos de cada um de nós.
Pela coragem de pedir o perdão de seus seguidores o intelectual Joseph Ratzinge torna-se Francisco e esse mistério representa um belo exemplo de transformação em nossa conturbada contemporaneidade e só isso já me basta para despertar em mim a força de uma revolução se processando na história de uma igreja que traz consigo mais de um bilhão de almas perdidas.

sábado, 16 de março de 2013

POESIA


Charles Baudelaire

Antigamente, se bem me lembro, minha vida era um festim no qual todos os corações exultavam, no qual corriam todos os vinhos.

Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos. - E achei-a amarga. - E injuriei-a.

Armei-me contra a justiça.Fugi. Ó feiticeiras. ó miséria, ó ódio, a vós é que foi confiado o meu tesouro!
Tudo fiz para que se desvanecesse em meu espírito a esperança humana.
Como um animal feroz, investi cegamente contra a alegria para estrangulá-la
Conjurei os verdugos para morder, na minha agonia, a culatra de seus fuzis.
Conjurei as pragas, para afogar-me na areia, no sangue. Fiz da desgraça a minha divindade. Refocilei na lama. Enxuguei-me ao ar do crime. E preguei boas peças à loucura.

sexta-feira, 15 de março de 2013

VENEZUELA



Chávez e os novos militares

Mauro Santayana (JB)
A morte, prematura, de Hugo Chávez, deixa uma certeza: a Venezuela não voltará a ser o país que foi antes de sua presença no Palácio de Miraflores. Como anotou o New York Times, o presidente não construiu auto-estradas nem grandes edifícios, mas legou a seu povo uma nova forma de ver e sentir o país. E esse povo não voltará a aceitar as regras antigas de submissão social. Chávez não era predestinado ao poder, como tantos outros líderes militares latino-americanos, que viam as forças armadas como “a última aristocracia”. A definição é do poeta argentino Leopoldo Lugones, ao discursar no centenário da Batalha de Ayacucho, travada em 1826 no Alto Peru, que expulsou os espanhóis de nosso continente.
Os militares, principalmente os argentinos e chilenos, sempre se sentiram herdeiros daqueles nascidos na América do Sul, que participavam dos exércitos espanhóis e se uniram a Bolívar e a San Martin para fazer a independência. Mas isso não impediu que se submetessem aos interesses externos, quando isso interessava às oligarquias internas de que, por origem familiar, procediam.
O homem que morreu terça-feira foi um soldado comum, jogador de beisebol, que se insurgiu contra a desigualdade social em seu país e, depois de frustrado golpe de estado, elegeu-se seu presidente. Sua ascensão ao poder e seu prestígio popular podem surpreender os que não conhecem com a história nestes últimos 20 anos na América Latina. Mas nada houve de insólito em sua vida e destino.
Os exércitos da América Latina não são os mesmos. A origem de classe dos oficiais – embora haja ainda alguns com sobrenomes históricos – mudou bastante, depois dos regimes ditatoriais que, patrocinados pelos Estados Unidos, infelicitaram os nossos povos. Não é difícil hoje encontrar oficiais superiores filhos de famílias bem modestas e mesmo pobres. A memória das dificuldades na infância os faz diferentes, dispostos a apoiar governantes que almejam vencer as desigualdades históricas.
CORRUPÇÃO
Chávez nasceu no mesmo ano, duro para os brasileiros, em que morreu Vargas. A Venezuela, em 1954, estava sob o mando de Marcos Perez Jimenez, o mais corrupto de todos os seus governantes, e que chegara ao poder em um dos tradicionais golpes de estado. Jimenez usou o dinheiro dos royalties do petróleo – como certos comentaristas brasileiros preferiam que Chávez tivesse feito – para financiar o “desenvolvimento” dos empresários associados ao capitalismo internacional e participar, pessoalmente, de todos os negócios, mediante as propinas conhecidas.
Derrubado em 1958, Perez Jimenez fugiu para os Estados Unidos, com 200 milhões de dólares, que seriam hoje mais de dois bilhões. A pedido de Caracas, foi extraditado, julgado e condenado, e passou cinco anos preso. Em liberdade, asilou-se em Madri, sob a proteção direta de Franco, e ali morreu em 2001.
Ao contrário do que dizem seus inimigos, Chávez manteve as instituições democráticas. Ao voltar ao poder, depois do frustrado golpe contra seu mandato, ele poderia ter usado de repressão violenta contra os responsáveis, mas não o fez. Manteve as instituições e governou de acordo com os marcos democráticos da Constituição de 1999, aprovada por uma assembléia nacional e referendada pelo voto direto dos cidadãos.
“Yo no soy um hombre, soy un pueblo”, dissera o colombiano Jorge Eliécer Gaytán, cujo assassinato, provavelmente com a participação da CIA, levantou o povo de Bogotá em 9 de abril de 1948, e serviu de inspiração a Fidel Castro, que se encontrava na cidade. Naqueles dias, a OEA, mais do que hoje submissa a Washington, realizava ali sua assembléia anual.
SEM SUBSTITUTOS
Chávez, como personalidade invulgar, não terá substitutos. Coube-lhe ensinar o povo a ver com clareza o seu país e os seus direitos, e assim, cumprir o próprio destino. Ele repetiu a retórica de Jorge Eliécer Gaytán, ao dizer – já resignado com a idéia da morte – que ele já não era ele mesmo, mas, sim, o seu povo. E que, em seu povo, ele continuaria a dirigir a “revolução bolivariana”.
Talvez a mais expressiva homenagem a Chávez tenha partido de Sean Penn, o grande astro do cinema norte-americano. “O povo norte-americano perdeu um grande amigo, que nunca soube que tinha”, disse o excepcional ator de All the King’s Men. Os cineastas Oliver Stone e Michael Moore também manifestaram o mesmo pesar.
O grande dirigente político não foi exceção na América, mas a expressão, que se renova em cada geração, em homens da mesma estatura, na luta permanente pela igualdade, liberdade e soberania nacional de nossos povos. E não adianta matá-los, como fizeram a Allende, nem levá-los ao suicídio, como ocorreu a Vargas. O povo, que há neles, é a forja dos novos combatentes.

quarta-feira, 13 de março de 2013

OS RUMOS DO CINEMA BRASILEIRO


QUE VALE? QUE CULTURA? QUE CINEMA?


Queridos amigos e amigas deste Brasil profundo,
Uma pergunta que não quer calar....

O cinema no Brasil, hoje, é restrito aos guetos dos Shoppings centers, onde é visto (em média) por apenas 2% a 4% de toda a população brasileira. Neste circuito só é exibido o cinemão dos EUA, com uma ou outra exceção, de um filme brasileiro "comercialmente extraordinário" ou uma ou duas comédias bem sucedidas da Globo Filmes. Mais de 90% do cinema brasileiro não é distribuído ou, quando o é, entra em cartaz em quatro ou cinco salas de todo o país (aqui estamos falando de um país continental), geralmente em um único horário, saindo de cartaz após uma semana, perfazendo uma média de 15 mil espectadores. Muitos filmes de grande qualidade estética e com muitos prêmios, no Brasil e no exterior, ficam com seus bravos e dignos 2.000
espectadores.

Quando o "Vale Cultura" nasceu, mesmo sendo dirigido a todas as artes, foi junto do projeto "um cinema perto de você", das redes de cinemas nas cidades pequenas e de porte médio, das redes de cinema universitários, dos cinemas nos conjuntos habitacionais, dos cinemas do circuito de bairros e favelas, da ampliação dos cineclubes etc e etc.  Onde está este projeto? Havia para isso, segundo os discursos da época, quase um bilhão de reais...  Dinheiro que gente besta não conta. Maravilhas e maravilhas! Mas onde está este dinheiro? Por acaso, foi para o financiamento de novas salas nos shoppings centers? (Aqui não afirmo nada, só pergunto, exercitando o meu papel de cidadania, e espero que as represálias governamentais que sempre vêm, depois de qualquer questionamento, sejam tão leves como os sete palmos de terra que nos cobrem após a morte (a parte que nos cabe deste latifúndio audiovisual).

Se, afora o circuito do shopping center, em um modelo que só favorece o cinema da Motion Pictures e uma alguma exceção do cinema nacional, o projeto dos circuitos de cinema populares e da diversidade não foi pra frente, qual é mesmo a saída, afora o aeroporto ou catar coco babaçu no Maranhão? Onde estão os projetos transformadores antes propostos? Estamos lutando mesmo pelo que? Por que? Pra que? Pra quem?

Desculpem a minha ignorância, mas é porque eu não entendo mesmo, por isso pergunto.

Que diferença faz entregar o dinheiro do povo brasileiro a Sky ou a Motion Pictures? Este dinheiro vai mesmo pra quem? A serviço de que? Será que não podemos também criar o "Vale-coquinho-babaçu"?

Esta reflexão é sobre a situação do cinema nacional (o modelo em crise,neste momento). O vale cultura, em relação ao nosso cinema, não muda nada ou quase nada, porque terminará favorecendo as grandes corporações, posto que o projeto popular não avançou. Sem o projeto de cinemas populares, do Banco de Audiovisual Brasileiro (para licenciamento de filmes brasileiros para as redes publicas, educativas e comunitárias de TV), o incentivo às micro e pequenas empresas de audiovisuais, a criação das TVs públicas regionais, os cineclubes sobre novos formatos, os pontos de cultura, etc e etc, não há saída. Estamos ferrados e condenados.

Outra pergunta que sempre me faço: Quem se interessa em mudar alguma coisa que quebre esta hegemonia? Quem propõe novos paradigmas? Quem está pensando um novo projeto? Qual é o projeto, para o cinema brasileiro, que está em curso? Por que devemos fazer de conta que está tudo bem?

Desculpem, mas só tenho perguntas e mil incertezas.

Como membro do Conselho Superior de Cinema (2010-2012), inúmeras vezes,levantei a questão de pensarmos um modelo diferente para o cinema
brasileiro? Inutilmente, respeitáveis senhores e nobres damas. Dom Quixote sempre desperta o riso, já que a tragédia humana nunca é enxergada em sua
profundidade.

Com todo o respeito, desejo bom trabalho e boa luta para todos companheiro(a)s, mas pra mim tudo isto é conto da carochinha mal (e mau)contado.

Acredito que outras artes possam conquistar algum benefício. Sobretudo nos grandes centros. Vamos ver, o futuro dirá.

No mais, FUI!... Catar coquinhos!

Um grande e caloroso abraço de um cineasta das beiradas do mundo e das marcianas caatingas

Rosemberg Cariry

terça-feira, 12 de março de 2013

O REI DO SAMBA X TV BRASIL


Uma vida dedicada ao nada?

Nada me deixa mais acabrunhado do que ser desrespeitado no meu trabalho.
Tenho escrito sobre o destrato que venho sofrendo em várias ocasiões desde que optei na minha adolescência pelo fazer cinema. Aos dezoito anos já havia escrito um roteiro para um filme de longa metragem (Cidade Sem Mar) em parceria com dois amigos: o escritor Luiz Carlos Dolabela e o jornalista Marco Antônio de Menezes. Morava em Minas Gerais e convivia com os jovens diretores do cinema mineiro: Maurício Gomes Leite, Schubert Magalhães, Carlos Prates Correa e sonhava em realizar meu primeiro filme de ficção.
Saí do Brasil, no trágico ano de 1970 e só pude concretizar esse sonho no meu retorno, em 1975, produzindo, sem os recursos necessários, o longa-metragem “Bandalheira Infernal”. Nesta época já existia a Embrafilme, mas não se interessaram pelo projeto. Só em 1985, com a Empresa em profunda decadência, é que eles aceitaram produzir o meu roteiro “Um Filme 100% Brazileiro”, sobre o poeta modernista francês Blaise Cendrars, com o mais baixo orçamento que até aquela data a estatal havia liberado. O filme, premiado aqui em festivais de cinema, foi para Berlim e depois disso nunca mais consegui emplacar outro projeto, mas continuei a fazer cinema com muito pouco dinheiro.
No final dos anos 90, consegui em Juiz de Fora, com apoio da lei municipal Murilo Mendes e do Governo de Minas Gerais, produzir e realizar um longa-metragem sobre o compositor mineiro Geraldo Pereira. No dia 23 de abril, ano seguinte a sua produção, consegui convencer o Leonardo, na época diretor de programação da TV E do Rio a unir-se ao Rogério Brandão, diretor de programação da TV Cultura de São Paulo e mais a direção da TV Minas, a exibirem em cadeia nacional, no dia de São Jorge, Pixinguinha, Tia Ciata, o Rei do Samba, filme que fiz sobre o mineiro sambista Geraldo Pereira. O programa foi um sucesso que nada custou aos cofres das três emissoras – Não me arrependo - pensei em dar esse presente ao samba e acrescentar ao cinema brasileiro de baixíssimo orçamento o seu justo valor.
O tempo passou e uns anos atrás eu abro os jornais e vejo que a Tevê Brasil, que substituiu a TV E, lança um edital de aquisição de filmes brasileiros de longa metragem. Entro com o filme “O Rei do Samba” que numa grata surpresa é um dos escolhidos entre um grande número de escritos. Penso: Deus é justo! Finalmente vou receber o pagamento do meu gesto de desapego e de amor à cultura brasileira. Mas nada disso aconteceu. O tempo foi passando, mandei alguns e-mails, telefonei outras vezes, procurei saber o que estava acontecendo com o edital. Um dia me pediram para tirar o CPB na Ancine. Depois de muito trabalho e gastos financeiros tirei o certificado. Volto ao telefone, aos emails e nada. Vou falando com um e com outro e nada. O primeiro a tratar comigo foi o senhor Fernando Nascimento (email abaixo). Depois me informaram que ele não trabalhava mais na emissora e que em seu lugar entraria o Rogério Brandão. Puxa! Que bom. Pelo menos agora eu vou saber o que está acontecendo. O tempo passou e continuo navegando no nada. Só sei, porque vejo... Muitos filmes foram adquiridos pela TV Brasil, menos o meu. Confesso que hoje se esgotou a minha paciência. Ao ler às listas de cinema, os jornais, as revistas especializadas, eu percebo que ninguém tem reclamado de ser maltratado ou desrespeitado pelos burocratas do governo que ocupam cargos importantes e que muitas vezes não sabem o que fazem por desconhecerem completamente o universo e a importância da nossa obra cinematográfica. Puxa tenho 65 anos e estou a 45 anos vivendo do nada em que me meti.

Documento – email que nada significa.

De: Fernando Nascimento
Para: josesette
Enviadas: Sexta-feira, 4 de Novembro de 2011 14:46
Assunto: Re: FILME O REI DO SAMBA

Boa tarde, 
Após a realização, no primeiro semestre, de três editais visando cadastramento de obras audiovisuais para licenciamento e programação na TV Brasil (longas ficção, curtas e longas doc), e um próximo dedicado a séries, ainda não lançado, a EBC precisou fazer dramático esforço para adequar-se ao corte de R$ 76 milhões no orçamento para 2011. Por essa razão, foram suspensos sine die os licenciamentos de obras indicadas pelas comissões seletivas. Tão logo tenhamos condições de retomar as contratações, conforme as necessidades de nossa grade e a disponibilidade financeira da empresa, você será comunicado.
 Com relação a negociação de seu filme com outras empresas, informamos que os contratos de licenciamento com a TV Brasil não prevêem exclusividade, ou seja, você está livre para negociá-lo sem prejuízo.
Atenciosamente,
 Fernando Nascimento
Gerência de Licenciamentos Nacionais - TV Brasil

domingo, 10 de março de 2013

NOVO CINEMA


UM FILME 100% BRAZILEIRO

Estou postando no Youtube e aqui no kynoma o meu filme mais premiado e o único, em toda a minha cinematografia, que consegui realizar com algum dinheiro, uma baixíssima produção (em torno de 100 mil dólares). Todo esse dinheiro foi praticamente doado pela extinta Embrafilme. É bom que se diga que esse filme só foi possível ser pensado e feito graças à admiração de um dos seus diretores, à época, o paulista Carlos Augusto Calil, pelo poeta Cendrars e também pela minha insistência em transformar o que seria a princípio um curta sobre o personagem Febrônio Índio do Brasil e seu envolvimento com o poeta francês, em uma longa metragem sobre o poeta francês e seu envolvimento com o modernismo brasileiro.
As primeiras cenas filmadas foram com Febrônio, o primeiro preso do manicômio judiciário do Rio de Janeiro, representado pelo ator Jesus Pingo, irmão do ator PC Pereio, que no filme representa Blaise Cendrars. Ao seu lado caminha o demônio representado pelo ator Wilson Grei. Só depois é que filmei as outras duas histórias, Coronel Bento, Lobisomem de Minas e toda a trama modernista, dionisíaca, expressionista, que compõem esse grande poema cinematográfico - não tenho vergonha em dizê-lo: é o meu melhor filme e não consigo vislumbrar nada melhor, mais significativo, mais visionário no cinema, do que esse filme que foi tão difícil de ser realizado e em todos esses anos boicotados. Em suas poucas exibições, este filme simples, popular e de pouquíssimo entendimento, deveria e merecia ser mais bem lembrado por aqueles que gostam de cinema.

O Filme foi Premiado no I Rio Cine Festival, como a melhor produção e a melhor linguagem cinematográfica. Premiado no I Festival de Cinema de Fortaleza, como a melhor cenografia e foi Convidado para o Festival de Cinema de Berlim na Alemanha em 1987.

Eis aqui, por um breve momento, em homenagem aos amigos que mais cedo partiram para o outro lado da lua, o filme que todos amam, mas que dificilmente conseguem confessar de pronto esse amor doído por 100% dos brasileiros.

Nossa história é uma ficção modernista sobre a vinda ao Brasil do grande poeta e aventureiro francês Blaise Cendrars, que amou a nossa terra mais do que ninguém, durante o carnaval do Rio de Janeiro em 1924. Aqui ele escreve um livro contando três histórias: Febrônio Índio do Brasil; O Lobisomem de Minas; Coronel Bento, que neste filme são retratadas, reescritas, em textos cinematográficos.

É como escreveu Jose Tavares de Barros, crítico e professor de cinema na UFMG para a revista Cadernos de Cinema...
“... Um filme 100% Brazileiro é uma experiência avançada e revolucionária, tanto no que diz respeito à releitura da obra de Cendrars, quanto às inúmeras facetas da transposição cinematográfica... é uma espécie de divisor de águas, fazendo ponte entre certas heranças do Cinema Novo e alguns aspectos do cinema de Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, mas com total autonomia e independência por parte de seu autor.”

...Ou o crítico de cinema Aramis Millarch no jornal O Estado do Paraná...
“Obra experimental, difícil, mas importante... Um Filme 100%Brazileiro é uma obra belíssima. Uma fotografia caprichada, perfeita cenografia e uma trilha sonora de Luiz Eça (Tamba Trio) que tranquilamente merecia ser premiada nos festivas em que o filme foi exibido...”

… Mas a Films Reviews, Variety, dos EUA, em 1987 disse ao ver o filme em Berlim:
“…Sette plunges the viewer from one exotic scene into the next, filling his film with visual and literary references which will be lost on many”.

sábado, 9 de março de 2013

AMÉRICA LATINA CHORA

"Yo soy Chávez"

MARIO DRUMOND

"Você, criança, é Chávez! Você, estudante, é Chávez! Você, camponês, operário, soldado, trabalhador, aposentado, mulher e homem revolucionário e patriota, é Chávez! Chávez não sou eu; todos somos Chávez; porque Chávez é o povo!" (Hugo Chávez, durante a vitoriosa campanha para a eleição presidencial de 7 de outubro de 2012 na Venezuela)

Quando soou em meus ouvidos a notícia da morte de Chávez, a sensação foi a de que o mundo murchava como uma bola cheia que acaba de ser brutalmente perfurada. De fato, o mundo ficou menor sem Chávez. Porém, graças a seu legado de estadista e orador, com mais conteúdo humano. Em especial no que mais falta fazia a este mal tratado planeta e a seus infelizes habitantes: a chama política revolucionária - revolucionária mesmo! - que, ao final do passado século, por pouco (por Chávez) não se extinguiu.

Acompanhando pela TeleSur o cortejo fúnebre em Caracas pude testemunhar o esplendor dessa chama nos depoimentos do povo venezuelano. Diante das câmaras, os homens e as mulheres do povo da Venezuela, em particular e com melhor fluência os de extratos sociais de menor renda, não titubeiam nem se acanham. O discurso revolucionário está na ponta da língua. E em um grau superior de comunicação verbal.

Nas seis horas de cortejo, a TeleSur colheu pelo menos uma centena de depoimentos de populares, tomados ao acaso de quem passava por perto da equipe de reportagem. Foi um programa e tanto, apesar da longa duração. Sinceramente, eu gostaria de revê-lo todo, pois o imperativo do trabalho várias vezes me obrigou a deixá-lo. Devo ter perdido muita coisa boa, pela amostra do que pude ver. Penso que uma boa montagem geraria uma antologia audiovisual tão preciosa quanto saborosa e atraente. "Todos somos Chávez!"

Muitas vezes embargada pela dor da perda ou pela emoção do momento, mas sempre com o timbre de uma consciência sinceramente refletida, a hoje revolucionária voz do povo venezuelano tornou-se capaz de compor análises, críticas, dissertações, cantos de amor, poemas e outras peças de oratória, com elevadíssima média de qualidade comunicacional (e até literária), algumas das quais alcançando mesmo, e sem exagero, o virtuosismo.
Termos considerados eruditos e tidos como de complexa ou difícil verbalização em discursos de improviso, mais ainda quando saindo da boca do povo, tais como, "parafraseando a Pablo Neruda", "construindo o homem novo", "oligarcas apátridas", "plutocracia entreguista", "proibido olvidar", "célula revolucionária", "participação protagônica", "construção do socialismo", "emancipação do poder popular" entre outros do tipo, são pronunciados com uma surpreendente fluência, propriedade e domínio conceitual, sem nenhuma afetação cartilhesca ou cacoete de decoreba.
A maior riqueza audiovisual do documentário que aqui mentalmente realizo estaria na força dessa incrível oratória amparada nas imagens com ela sincronizadas de donas-de-casa, operários, empregadas domésticas, lavradores, balconistas, taxistas, deficientes físicos, secundaristas, malabaristas, artesãos e até atletas e artistas, na grande maioria pessoas de origens humildes, de todas as etnias e miscigenações, numa ampla variação etária (calculei a "faixa" entre os 15 e os 90 anos).

Num determinado momento, peguei um breve contraponto da TeleSur tomando depoimentos numa manifestação pró-Chávez em Madrid. Pobre Europa! Seus "cultos" filhos já mal sabem balbuciar umas poucas e desconexas frases diante das câmeras. Foi de dar pena. Falta ao povo europeu o espaço cultural e midiático que Chávez conquistou para os "sudacas" venezuelanos. Daí o despreparo e o pouco convívio com o léxico daqueles pobres nordacas (o que não quer dizer que são nordacas pobres, apesar de em crise).

Vi certa vez num programa da VTV (estatal venezuelana) o filósofo mexicano Fernando Buen Abad exibindo um gigantesco catálogo de obras e conquistas da Revolução Bolivariana, preparado por um grupo de jornalistas de Caracas. Estou certo de que esta não consta nele. É uma conquista pedagógica, de essência; essência revolucionária, humanista e marxista por excelência. Quando perguntaram a Marx sobre "liberdade de imprensa", ele respondeu que não lhe interessava a "liberdade de imprensa" mas, sim, "a imprensa da liberdade". Pois aí está ela, nas telas da TeleSur. E assim deve ser incluída no catálogo das conquistas de Chávez: a imprensa da liberdade.

Contudo, gigantesca mesmo é a glória de Chávez. Perto dele, os "estadistas" neoliberais que assolam as Américas e a Europa não são mais que um balaio de ratazanas imundas e peçonhentas que mal chegam aos seus calcanhares. O que lhes bastou para, enfim, inocularem essa peçonha altamente infecciosa, produzida com tecnologia "de ponta" ou "de última geração", num dos calcanhares do nosso Aquiles sulamericano.

Eis porque a transmissão da TeleSur não me salvou do pessimismo.
Permanecem em mim graves razões para pensar que é a estupidez que prospera na humanidade, que a imundície se sobrepõe à pureza. É a ação do diabo na natureza humana, a que nos faz recordar a indignação de Unamuno ao ver as falanges facistas de Franco invadirem o seu "templo do saber", a sua amada Universidade de Salamanca:
"Vocês vencerão; vencerão porque lhes sobra a força bruta. Mas não convencerão, porque para convencer é preciso persuadir. E para persuardir necessita-se o que lhes falta: a razão e o direito de lutar."
Vai, Osama! Vai, Merdel! Vai, Montim! Vai, Rajoya! Vai, Hollanda! Vai, Camelon! Vai, Azner(a)! Vai, Uribi! Vai, Vagas Llosa! (assim mesmo, sem revisão) Vão vocês todos, de preferência, à puta que os pariu! O mundo é todo seus e de seus drones. Já dizia o meu falecido amigo Rogério Sganzerla: "o mundo é dos boçais!"

Quanto à mim, mesmo pessimista, eu sou Chávez!
Abraços
Mario Drumond
Produtor de Cinema, escritor, artista gráfico de Belo Horizonte

quinta-feira, 7 de março de 2013

O PENSAMENTO DO PSOL DE CABO FRIO

ROYALTIES : OS DOIS LADOS DA QUESTÃO


Em uma votação bastante tumultuada o Congresso Nacional decidiu, nesta quarta-feira, anular o Veto da presidente Dilma que impedia a distribuição dos recursos provenientes dos royalties do petróleo para todos os Estados da Federação. Derrota para o Rio de Janeiro e o Espírito Santo e vitória para os demais estados. Entendo que esta questão merece ser analisada por vários aspectos. Aqui, por uma questão de espaço no blog, pretendo me ater apenas a dois.

O primeiro e mais importante é a legitimidade legal e econômica que os estados produtores tem de receber estes recursos. Os royalties, analisados como variável econômica, são um direito compensatório sobre a exploração de um recurso natural finito e é adotado em vários países do mundo. Os estados produtores têm este direito até porque o ICMS decorrente é pago no destino da mercadoria e não na sua origem produtora, gerando impostos em outros estados. As perdas conjuntas do Estado do Rio e municípios podem chegar a 3,5 bilhões neste ano. Este direito está muito bem fundamentado na Constituição, e embora, tenha havido uma derrota no legislativo, acredito que tal fato será revertido no STF.

Fato semelhante ocorre com os estados produtores de minérios, caso de Minas Gerais e Pará, e também estados produtores de energia elétrica, onde podemos citar o Paraná. Recebem parcelas de royalties por terem esta atividade econômica.

Portanto, são totalmente justas as lutas e “as gritas” dos governadores, prefeitos e parlamentares para a manutenção desta parcela de recursos que já integram os orçamentos estaduais e municipais.

Entretanto, antes de entrarmos nesta luta reivindicatória, precisamos apurar nosso censo crítico sobre como foi feita à aplicação destes recursos ao longo de todo este período e refletir sobre este segundo lado. Algumas perguntas precisam ser feitas e respondidas por nós e também pelos governantes que administraram estas fabulosas quantias : Os municípios beneficiados possuem hoje equipamentos urbanos de infraestrutura compatíveis com esta dinheirama ? As políticas públicas essenciais como Educação, Saúde, Habitação e Saneamento tiveram avanços adequados? Políticas de preservação do meio-ambiente? Por que não temos IDH superior às cidades que não tem estes recursos? Houve inchaço na máquina pública com excesso de nomeações políticas?

Os nossos governantes “sheiks do petróleo” e seus grupos políticos mostram sinais de enriquecimento ilícito?

Acho que vale a pena responder estas perguntas apurando nosso censo crítico.

O roubo descarado do dinheiro público e a falta de critérios nos investimentos destes valores também estimularam estes parlamentares contrários a entrar com estas medidas de repartição.

Não vamos cair nesta de aderir a “pirotecnia política” de quem nos roubou e usou mal os recursos e lutar como alienados para a justa manutenção destes direitos. Vamos cobrar do Governo Federal uma ação política pertinente, pois tem maioria no congresso e o mesmo só vota o que o Governo quer. A Presidente Dilma “lavou as mãos “ neste episódio.

Vamos cobrar do Judiciário (STF) que faça valer o que está escrito na Constituição e restabeleça a legalidade necessária.

Entretanto, nada disso adianta se não cobrarmos dos nossos governantes a correta utilização destas verbas com foco em seu uso coletivo. Nada disso adianta se não cobrarmos de nós mesmos uma ação crítica e fiscalizadora para não sermos cúmplices da roubalheira e da canalhice política. Antes de sairmos às ruas, vamos refletir sobre isso, caso contrário, nada mudará e vamos apenas servir de massa de manobra nas mãos dos velhos canalhas de sempre.

“A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhece-la.” - Eduardo Galeano

Cláudio Leitão é economista e membro da executiva municipal do PSOL em Cabo Frio.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Morte produzida em laboratório
Chávez foi eliminado, como Arafat, Jango, Torrijos, Roldós e outros inconvenientes para os EUA

Não tenho a menor dúvida: tanto como Yasser Arafat, em 2004, Hugo Rafael Chávez Frias foi eliminado com o uso do que há de mais moderno e sofisticado da tecnologia criminosa desenvolvida na CIA e nas dezenas de agências satélites privadas que prestam serviço ao governo norte-americano.

Digo isso com a responsabilidade de quem tem 52 anos como repórter e estou convencido de que não será difícil a mesma conclusão para a comissão de cientistas que o governo da Venezuela deverá criar, conforme anúncio do vice-presidente Nicolás Maduro.

O corajoso (e descuidado) presidente bolivariano, de 58 anos, não foi o único líder latino-americano morto pela máquina mortífera norte-americana nos últimos anos: em dezembro de 1976, o ex-presidente brasileiro João Goulart foi assassinado na Argentina com a troca dos remédios que tomava para o coração.

Omar Torrijos, presidente do Panamá e militar como Chávez, foi assassinado num acidente aéreo forjado em 1981, conforme relato detalhado do ex-agente da CIA John Perkins, no seu livro "Confissões de um Assassino Econômico".

domingo, 3 de março de 2013

ADEUS QUEM SABE



Ana Lucia Martins - Dario Freitas - Márcia Saltarelli - PN MG 1978

Morreu o fotógrafo Dario de Freitas, um dos meus mais queridos amigos que morava em São Paulo. Ultimamente tinha com ele poucos contatos, o que me parece uma constante com os amigos distantes quando se tem mais de sessenta anos. Quando recebi a notícia já havia passado alguns dias, mas me lembrei, com nostalgia, das festas no seu apartamento de Belo Horizonte e veio-me, de pronto, a lembrança da Aninha, sua linda irmã, com quem namorei alguns anos, lembrei-me também do velho Dario, seu pai e da sua linda mãe, naquele apartamento que ficava ao lado do Minas Tênis Clube. Toda uma família que sem você, meu amigo querido, com sua partida, deixou de existir. São mais de 40 anos de histórias. Como o tempo passa sem ser notado e como a vida é um sopro nesta grande ventania cósmica. Contra o destino nada podemos fazer a não ser um até breve velho amigo.

sábado, 2 de março de 2013

GRITO NO ESCURO

DESCULPEM-ME MAS CONTINUO NA MINHA CASA NO BOSQUE DO PERÓ SEM SINAL DA INTERNET. É UMA VERGONHA PARA A CIDADE DE CABO FRIO...