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sábado, 29 de setembro de 2012

Questão Palestina


Judith Butler: nova vítima do lobby israelense na Alemanha

Ludwig Watzal (Palestine Chronicle)
Campanhas de difamação contra pessoas que não obedeçam a pauta estreita, ‘politicamente correta’, e respectiva retórica, no que tenham a ver com expor as repetidas violações de direitos humanos e a opressão brutal, por Israel, do povo palestino, são rotina na ação do lobby israelense pró-sionistas na Alemanha.
A mais recente vítima do lobby israelense pró-sionistas na Alemanha é a judia Judith Butler, professora do Departamento de Retórica e Literatura Comparada e co-diretora do Programa de Teoria Crítica na Universidade da California, Berkeley. Judith Butler também é militante ativa da luta contra preconceito de gênero, pelos direitos humanos, contra a guerra, e participa do movimento Voz Judaica pela Paz. Esse ano, recebeu o Prêmio Adorno, da cidade de Frankfurt, distribuído a cada três anos, no valor de 50 mil euros.
Por que Judith Butler foi massacrada? Seu ‘crime’ é incluir o Hamás e o Hizbollah como parte ativa da esquerda global, e apoiar a campanha BDS (Boicote, Desinvestimento, Sanções) contra o consumo de produtos israelenses provenientes dos Territórios Palestinos Ocupados. Imediatamente depois de divulgada a notícia de que lhe fora conferido o Prêmio Adorno, abriram-se contra ela as portas do inferno.
A procissão de detratores foi chefiada pelo Secretário Geral do Conselho dos Judeus na Alemanha, Stephan Kramer; ao seu lado apareceram imediatamente o embaixador de Israel na Alemanha, seguido dos suspeitos de sempre.
Kramer acusou Butler de ser “odiadora confessa de Israel” e “cúmplice” do Movimento BDS, apesar da abordagem nuançada de Butler sobre a campanha BDS; classificar o Hamás e o Hizbollah como parte da esquerda global ignoraria a visão de mundo fundamentalista arcaica dos dois grupos, sobretudo contra as mulheres. Mas Kramer não rotulou a crítica que Butler construiu contra a política de governo de Israel como “antissemitismo”. A controvérsia em torno do Prêmio Adorno revelou a tensão existente dentro do judaísmo entre a ética universalista e as tendências nacionalistas, autoritárias, do sionismo.
Na furiosa campanha movida contra ela, Butler manteve-se inabalável. Recebeu apoio, dentre outros intelectuais alemães, do professor Micha Brumlik da Universidade de Frankfurt e do professor Neve Gordon da Universidade Ben-Gurion, em Beer-Sheva. Gordon escreveu: “A bem orquestrada caça às bruxas, iniciada pelos autoproclamados “Intelectuais pela Paz no Oriente Médio” contra Judith Butler é sórdida tentativa – baseada em mentiras e meias verdades – para silenciar uma vigorosa crítica contra a política de abuso de direitos que Israel pratica nos Territórios Ocupados.”
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DIFAMAÇÃO
Campanhas de difamação promovidas pelo “Lobby israelense” na Alemanha acontecem periodicamente. Antes da atual campanha contra Butler, houve a campanha contra Gunter Grass, prêmio Nobel, que se atreveu – no poema “O que tem de ser dito” – a sugerir que o governo israelense é maior ameaça à paz mundial que o Irã. Embora o Conselho dos Judeus na Alemanha tenha iniciado a campanha, as calúnias foram publicadas em toda a grande imprensa alemã, com a única exceção do semanário “der Freitag” de Jakob Augstein.
Há dois anos, a famosa advogada e militante da defesa de direitos humanos Felicia Langer, que vive na Alemanha, foi também massacrada pelo “lobby israelense” e seus infames apoiadores, imediatamente depois de receber a prestigiada medalha da “Ordem do Mérito de Primeira Classe da República Federal da Alemanha”. Alguns caluniadores não se envergonharam sequer de tentar chantagear o presidente da Alemanha, ameaçando-o de devolver as próprias medalhas, no caso de o presidente não cancelar a condecoração de Langer.
O modo como as instituições alemãs e seus representantes tratam os professores palestinos é exemplificado pela caso da conhecida professora britânico-palestina Dra. Ghada Karmi, da Universidade de Exeter. Em fevereiro de 2012, a professora Karmi foi convidada para falar sobre a Palestina, numa conferência na Universidade de Bremen. No último minuto, o convite foi cancelado, e a universidade declarou que as ideias da professora não seriam “adequadas”.
Depois se descobriu que um aluno dos cursos de pós-graduação, israelense, havia protestado contra a conferência ter convidado a professora Karmi, que teria ideias “antissemitas”. As mesmas acusações infundadas foram feitas contra o professor Ilan Pappé, judeu israelense, para impedi-lo de falar em público na Alemanha.
O pior aconteceu, no caso da professora Karmi, quando ela participava de uma conferência  Na Universidade Livre de Berlim, organizada pelo Research College da mesma universidade em colaboração com o Conselho Alemão de Relações Internacionais. Nas palavras da professora Karmi: “O que aconteceu ali foi deprimente manifestação da hipocrisia alemã diante dos israelenses presentes e mal disfarçado incômodo com a minha presença, como se lamentassem a autorização para que se ouvisse uma voz palestina.”
A professora Karmi foi apresentada à conferência por um representante do Conselho Alemão de Relações Internacionais, como alguém que, segundo “alguns israelenses” é “terrorista palestina”. O público não protestou nem a universidade pediu desculpas à professora. Se algum representante do Conselho Alemão de Relações Internacionais se atrevesse a apresentar algum professor israelense como alguém que segundo “alguns palestinos” é “terorista israelense”, sua carreira acadêmica estaria imediatamente terminada.
Essas campanhas de difamação são retrato claro da desoladora paisagem política na Alemanha, hoje.
(Artigo enviado por Sergio Caldieri)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Memórias que não se contam


Rogério filma ABISMU com a minha câmera Arriflex-blimpada 

Hoje, 26 de setembro, o meu saudoso amigo Rogério Sganzerla (1946) estaria completando 66 anos.

De meu outro amigo Andrea Tonacci, um dos maiores expoentes do  cinema brasileiro, relembrando  Rogério: “Fazia-se cinema para mudar o mundo, não para ganhar dinheiro ou ocupar mercado. Devo a Rogério essa compreensão de que o cinema era um instrumento de descoberta, de transformação do mundo. O cinema como um processo vital, não funcional”.
  

Maranhão em transe

(Transcrito da Tribuna da Imprensa)

Sebastião Nery
GLAUBER
O Maranhão continua sem ser a Rússia. E é um pesadelo nacional. Tem o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano, medido pela ONU) do País. De todos os Estados, ainda hoje, com 47 anos de dominação de Sarney sobre a política e a economia do Estado, é onde há mais fome no Brasil.
O gênio de Glauber Rocha viu isso logo depois de 1965, quando o jovem deputado José Sarney se elegeu governador anunciando a revolução do “Maranhão Novo”. Glauber foi lá fazer um documentário, viu a alma profunda do Maranhão em transe e anos depois se inspirou para fazer o clássico “Terra em Transe” sobre gente de carne e osso, contando a história de uma nova oligarquia que estava nascendo:
– Paulo Autran, conservador, velho líder absoluto, era Victorino Freire. José Lewgoy, bigodinho bem cuidado, cabelo brilhantinado até a testa, contraditório, cada dia defendendo uma posição diferente, era Sarney.Paulo Gracindo, sotaque gringo, era Alberto Aboud, dono de jornal, que Sarney, governador, comprou e mudou o nome para Estado do Maranhão. Jardel Filho, jornalista, poeta, poliglota, era Bandeira Tribuzzi. Joffre Soares, o padre sempre com Sarney, era o cônego Artur Gonçalves. Quase 50 anos depois, o filme consagrado, Glauber já morto, o transe do Maranhão pouco mudou. Dono da principal TV (repetidora da Globo) e de rádio e jornal, e da alma política dos donos das outras duas TVs, Sarney foi, até há pouco, senhor de baraço e cutelo do Estado. Diz o povo que aqui ele só não conseguiu comprar três coisas: o Jornal Pequeno, a fábrica de papagaio de Manoel Caveira e o “Cuscuz Ideal”. O resto é dele ou dos dele.

domingo, 23 de setembro de 2012

MOMENTOS


Entre a Farsa e a Tragédia

Um pouco da história...
Meus amigos leitores e leitores amigos, eu estou de volta à vida...
Há dois meses assumi a criação do programa de tevê da campanha política do PSOL na cidade de Cabo Frio.  Escrevi aqui que não manteria mais a publicação diária dos textos, fotos, artigos, críticas, neste blog, por total falta de tempo. Os 19 programas e os vários comerciais necessários à campanha, ficariam em torno de 800 mil reais (o mais baixo de todos os orçamentos), mas no caso deste pequeno partido, por inexistência total de verba, os programas só poderiam ser realizados por uma equipe pequeníssima, de um só profissional: – Eu mesmo! Assim parti com o peito aberto para essa aventura. Primeiro pelo desafio de fazer o que nunca antes fora feito - um programa de televisão escrito, fotografado, dirigido, editado  e produzido por uma só pessoa - depois pela amizade ao Claudio Leitão, protagonista desta peleja e pela simpatia ao seu pequeno exército de aguerridos militantes, me fazendo, com esse trabalho quase cinematográfico, conhecer melhor os personagens políticos desta cidade onde hoje moro e vivo.  Fiz entre eles alguns amigos, mas o professor Babade, uma das mais puras e integras figuras do pensamento marxista e das lutas socialistas da humanidade contra o capitalismo, foi quem mais me encantou, embora eu já o conhecesse por sua amizade com Totonho, outro professor  que eu já conhecia. É como dizia o velho Marx: “A história se repete, às vezes como farsa e outras vezes como tragédia”. Realizei, desde que retornou a democracia brasileira, alguns filmes de publicidade e outros de programas políticos, mas nunca havia feito nada igual a essa campanha do PSOL. O esforço foi tremendo para um jovem como eu de 64 anos. Mas ganhei o desafio, derrotei a farsa daqueles que diziam que isso seria impossível e tenho certeza que fiz a cidade de Cabo Frio conhecer muito bem o pensamento do seu mais jovem político.
Os Fatos que antecederam a quase tragédia:
Estava eu no Rio de Janeiro no fim de semana visitando a minha mãe de 93 anos quando aproveitando a presença do seu enfermeiro tirei a minha pressão cardíaca – 18 por 11 – Ana e Raquel ficaram apavoradas e me levaram ao médico. Sai para Cabo Frio medicado com um remédio controlador da pressão arterial. Continuei com a minha vida normal. No dia 15 de setembro, depois de um debate promovido pelo sindicato dos professores, tomamos uma cerveja gelada e o Claudio me deixou em casa. Entrei no meu pequeno espaço de trabalho que fica no primeiro andar da casa onde moro, liguei o computador e redigi a página publicada no blog. Fumei um cigarro e já ia me levantar quando comecei a me sentir mal, achei que ia desmaiar... Comecei a suar bicas, fui para o banheiro e o meu segundo filho, José Luiz, apavorado com o meu estado, chamou Raquel que dormia no segundo andar da casa. Ela apareceu na porta do banheiro mais apavorada que ele. Achei que iria morrer, pois não parava de suar. Mas o pesadelo passou em pouco mais de uma hora. Recuperado subi para o segundo andar da casa e me sentei na poltrona em frente da TV. Estava me sentindo bem quando fui me deitar. Tudo estava calmo e assim dormi. Acordei lá pelas três horas da madrugada com a minha perna esquerda totalmente adormecida, pesada. Um  grande e doloroso pesadelo. Não conseguia dormir mais e fiquei acordado até o sol raiar no horizonte, acima da ilha do mar distante de Amaxon. A tragédia estava se anunciando mais fortemente e eu nada podia fazer. Raquel Ribeiro, companheira de mais de vinte anos de convivência, mulher suave como a brisa de uma manhã ensolarada de primavera, mas, ao mesmo tempo forte como uma deusa do Olímpio, foi quem tomava as decisões e assim me levou, contra a minha vontade, a cidade para procurarmos um médico. Passamos praticamente o dia todo neste périplo de um consultório médico a outro, de um hospital com a fachada arquitetônica da II grande guerra, onde o jovem médico com ares prepotente trazia no dedo o anel de doutor e nada sabia sobre a minha perna, ao horror do último profissional de saúde visitado, que me disse que eu estava prestes a perder a perna, exatamente igual a uma sua paciente que já havia perdido as duas e estava no CTI morrendo aos poucos. Eu já havia experimentado a incompetência médica que envolve os planos de saúde deste balneário tropical. Ficamos desesperados e voltamos para casa que fica situada em um bairro afastado. Resolvemos então, depois de consultar em São Paulo meu amigo e irmão Dr. José Rogério Nader, ir para Juiz de Fora onde ele já havia movimentado alguns médicos amigos. Preparado e carinhosamente avisados pela minha incansável companheira eu estava já informado dos acontecidos e me fortaleci sabendo que iriam me esperar no grande hospital. Raquel, com uma sinusite crônica e exausta, com febre, não conseguiria dirigir a noite os 300 km que separa uma cidade da outra. Ela liga então para a nossa amiga Jô Mureb, contando que precisaria de um motorista para dirigir o seu carro. Jô arrumou um taxi da sua confiança que imediatamente nos pegou e nós saímos como três malucos exaustos para esta viagem em busca do alívio de uma dor na perna que se tornava insuportável. Para mim foi à viagem mais longa de toda a minha vida.
Não tenho medo da morte, mas tenho horror da dor e da incompetência humana.
Não me lembro de como chegamos à cidade na qual vivi mais de dez anos e onde sou muito querido e respeitado. Sei que em pouco tempo estava em uma sala onde o simpático e alto-astral médico Jose Daher  já me esperava.
Lembro-me da sala de cirurgia, para onde fui levado imediatamente, e também da sua jovem e linda anestesiologista, que me deixou envergonhado com a minha nudez e com as minhas partes íntimas raspadas expondo a minha identidade de macho encolhida, escondida, enrugada, tal qual um caramujo aflorando a pele branca. Apaguei falando com ele, como fez o poeta Vinícius de Moraes, pedindo a deus que levantasse um pouquinho mais a minha moral latina oprimida... A dor passou e não vi mais nada.
Preparem-se meus amigos que estou voltando renovado e com sangue novo para o ato final das eleições municipais e posteriormente, em outubro mesmo, reunindo os atores e a equipe técnica na preparação do meu novo filme de longa metragem que realizarei nas praias de Cabo Frio ainda este ano antes da posse dos eleitos.
Obrigado a todos que de uma maneira ou de outra contribuíram para que eu superasse essa tragédia pessoal.

sábado, 22 de setembro de 2012

PARADOXO DO SABER


O mundo da tecnologia e a sua distância do mundo social... 
Porque é tão avançada e tão rica a ciência e tão pobre e atrasada a alma humana? VEJA:  

CINEMA EM IPANEMA







NOVO FILME DO LEONARDO ESTEVES

É com muito prazer que convido a todos para a primeira sessão carioca do meu novo filme "Não dê ouvidos a eles...", sucessor do nosso "Derrota!" 
Após mais de dois anos de filmagens, uma "suave" dívida contraída e muitos frascos de Novalgina consumidos, eis que nasce meu primeiro filme colorido, com som parcialmente direto! A estréia foi mês passado no 23º Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo. A cópia ainda não é a definitiva: é preciso corrigir alguns problemas de marcação de luz (como trabalhar com cor é difícil)... mas essa quebra um galho!
Espero todo mundo lá, segunda, 19h, no cinema da Cândido Mendes, em Ipanema!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

VALE A PENA PUBLICAR



                                                               EU, O MEU ORGULHO, A MINHA ADORÁVEL NINA

Aniversários onde se comemora um pouco da cultura brasileira

2012                                                                                                                               

Neste ano, Nunes Pereira (1892) estaria completando 110 anos. Edgar Brasil (1902) estaria completando 110 anos. Maurício Gomes Leite (1936) estaria completando 76 anos. Sergio Bernardes Filho (1944) estaria completando 68 anos. Jairo Ferreira (1945) estaria completando 67 anos.

SETEMBRO

Neste mês, no dia...
1 de setembro, Blaise Cendrars (1887) estaria completando 125 anos.
26 de setembro, Rogério Sganzerla (1946) estaria completando 66 anos.

Segue assim um oportuno artigo de Adriano Benayon que é doutor em economia e autor de Globalização versus Desenvolvimento.

Três aniversários

I - 24 de agosto de 1954
Este aniversário é o da deposição do presidente Getúlio Vargas, programada e dirigida pelos serviços secretos estadunidense e britânico.
2. A quadra histórica era decisiva. O  Brasil – desde sempre dotado de colossais recursos naturais – havia, a partir de 1930, acelerado o processo de substituição de importações industriais, graças a três fatores principais:
a) a falta de divisas, advinda da crise financeira e econômica mundial, com a queda da demanda por café e outros produtos primários;
b) a tensão entre potências mundiais de 1933 a 1939, e daí a 1945 a Segunda Guerra Mundial;
c) a Revolução de outubro de 1930 e os posteriores eventos políticos no Brasil até à primeira deposição de Getúlio Vargas, em 29.10.1945.
3. Os dois primeiros fatores são as condições de crise e oportunidade. O terceiro é o papel das instituições políticas  geradas em resposta à crise, as quais transformaram a estrutura econômica no sentido de reduzir a dependência da exportação de matérias-primas. Além disso, Vargas mandou proceder à auditoria da dívida e liquidou os títulos no mercado secundário, com grande desconto.
4. Ele se manteve na chefia do governo durante aqueles 15 anos, conquanto de novembro de 1937 a 1945 dependesse das Forças Armadas, a fonte de poder instituidora do Estado Novo.
5. Por terem as políticas de Getúlio Vargas desagradado as potências anglo-americanas, era questão de tempo ele ser apeado da presidência,  terminada a Guerra Mundial (maio de 1945),
6. Durante a Guerra,  Vargas teve de colaborar com essas potências, as quais, não mais precisando dele, teleguiaram  a oligarquia local, políticos, mídia e chefes militares para depor o “ditador”, sob o pretexto de que queria ficar no poder.
7. Isso não tinha cabimento, porque Vargas convocara eleições e se dispunha a passar a presidência ao eleito. O golpe de 1945 foi só vingança e tentativa de humilhar o líder trabalhista.
8.  Por ocasião do golpe de 1937, os chefes militares, movidos pelo anticomunismo, estavam divididos entre simpatizantes do imperialismo anglo-americano e partidários das potências nazi-fascistas.  Assim, Vargas pôde atuar como fiel da balança e no interesse nacional
9. Os militares nacionalistas não ocupavam posições que lhes habilitassem a  imprimir rumos diferentes, em 1937, e menos ainda em 1945, quando os de tendência fascista convergiram com os admiradores das potências anglo-americanas.
10. Eleito em 1945, o Marechal  Dutra (1946-1950), mentor do golpe de 1937, reprimiu os comunistas, converteu-se mais que à “democracia” , à abertura irrestrita às políticas do agrado de Washington.
11. Entretanto,  Vargas ganhara  a simpatia dos trabalhadores, elegeu-se senador por vários Estados, e voltou à presidência em 1951, por grande maioria popular. Criou a Petrobrás e deu  passos para a fundação da Eletrobrás. Apoiou os excelentes projetos de sua assessoria econômica e cuidou de deter as abusivas remessas de lucros ao exterior das transnacionais.
12. Se prosseguissem as realizações de Vargas,  o Brasil teria chances de se desenvolver,  e esse foi o móvel do golpe de agosto de 1954, organizado pelas potências imperiais.
13. Os agentes externos postos por esse golpe  na direção da política econômica instituíram enormes subsídios em favor dos investimentos  das transnacionais, que operavam em muitos mercados no exterior, cada um de dimensões muito maiores que o brasileiro.
14. Em vez de proteger as indústrias de capital nacional para viabilizar competirem com as transnacionais, aquelas sofreram discriminação,  com os imensos subsídios que só podiam ser utilizados pelas corporações estrangeiras.
15. Eleito para o quinquênio 1956-1960, Juscelino manteve esses subsídios e estabeleceu facilidades adicionais para as empresas estrangeiras. Implantadas no País, estas transferem ao exterior, de diversas maneiras, os enormes lucros obtidos no mercado brasileiro, causando déficits no Balanço de Pagamentos. 
16. Primeira cena dessa tragicomédia: eleito, antes de tomar posse, JK viajou ao exterior para atrair investimentos estrangeiros, com notórios entreguistas na comitiva.  Segunda cena: sai JK, entra Jânio Quadros, e este envia ao exterior missão chefiada por Roberto Campos para rolar dívidas externas vencidas, contratadas durante o governo de JK.
17. Depois do conturbado período entre a renúncia de Jânio e o golpe de 1964, derrubando Goulart, o primeiro governo militar, a pretexto de fazer face à alta da inflação e à crise externa, adotou, sob a direção de Roberto Campos, políticas fiscal, monetária e de crédito restritivas, eliminando grande número de empresas nacionais.
18. As lições econômicas disso tudo são importantes, como também as lições políticas. Entre elas avulta esta: prevalece sobre a Constituição escrita  a regra constitucional, não-escrita, de que os governos em regime “democrático” só concluem seus mandatos, se se curvarem às pressões das potências imperiais.
19. Vargas e João Goulart realizaram políticas que visavam a gerar maior autonomia econômica para o País, embora fizessem concessões ao poder imperial.
20. Diferentemente, Dutra cedera aos interesses das potências estrangeiras, e JK deu-lhes plena satisfação no essencial: a abertura aos investimentos estrangeiros, escancarada pela outorga de privilégios que permitiram as transnacionais, a médio prazo, assenhorear-se do mercado brasileiro.
21. Até a proteção tarifária e não-tarifária aos bens duráveis produzidos no Brasil significou uma vantagem a mais às multinacionais, ampliada, quando, em 1969-1970, Delfim Neto estabeleceu vultosos subsídios para a exportação de manufaturados, entre os quais créditos fiscais no valor do imposto de importação dos bens de capital e dos insumos.
22. Os governos militares de 1967 a 1978 tentaram redinamizar a economia sem alterar o modelo dependente, nem garantir espaço às empresas nacionais em face da então já dominante ocupação do mercado pelas transnacionais. O resultado disso nos leva a outro aniversário.
II - Agosto/setembro de 1982
23. Em 16.08.1982, o México declarou moratória.  Em seguida, o setembro negro, em que os gestores da política econômica brasileira, sob o espectro da inadimplência, imploraram aos  banqueiros internacionais refinanciar as dívidas.
24. A crise de 1982 foi muito maior a de 1961, gerada pelas políticas de 1954 a 1960. A causa essencial de ambas foi a mesma: a ocupação dos mercados pelas transnacionais, intensificada de 1964 a 1982.
25. JK recebeu a dívida externa de US$ 1,4 bilhão em 1955. Ao sair, deixou US$ 3,5 bilhões. Em 1964 ela fechou com US$ 3,1 bilhões, pulando para US$ 43,5 bilhões, em 1978, e para US$ 70,2 bilhões em 1982, tendo-se avolumado ainda mais pela elevação das taxas de juros e comissões, em 1979, além da composição desses encargos arbitrários.
26. As altas taxas de crescimento do PIB de 1967 a 1978 foram pagas pelo povo brasileiro, não só com a queda do PIB, de 1980 a 1984, e a estagnação nas duas décadas perdidas (anos 80 e 90). Em 1984, o Brasil transferiu para o exterior 6,24% do PIB e mais 5,54% em 1985.
27. Mas o dano maior - e irreversível sob as presentes instituições - é a  deterioração estrutural.   Essa prossegue até hoje e se caracteriza pela infra-estrutura deficiente e pela produção  quase totalmente desnacionalizada, inclusive através das privatizações de 1990 a 2002.
28. Há um processo cumulativo em que a desnacionalização faz crescer a dívida, e esta é usada como pretexto para desnacionalizar mais. Tudo isso faz prever novas e piores crises, em que cresce a desindustrialização.
29. As débâcles, como a de 1982, ilustram a mentalidade servil diante dos “conselhos” e pressões imperiais, pois o Estado brasileiro curvou-se às imposições dos credores, aceitando a integralidade de dívidas questionáveis, depois de tê-las alimentado, subsidiando a ocupação estrangeira da economia e inviabilizando a tecnologia nacional.
30. “O Globo” veicula a desculpa de Delfim Neto, de que  o colapso de 1982 decorreu da elevação dos preços do petróleo.  Isso não procede: a Argentina não importava petróleo, e o México era grande exportador. O denominador comum das maiores economias latino-americanas é o modelo dependente.
31.  Nos anos 70, a Petrobrás já substituía razoável quantidade de petróleo importado, e as importações eram pequena fração das de Alemanha, Japão, França.
32. O primeiro choque do petróleo deu-se em 1973. Daí a 1982 são nove anos. Tempo suficiente para medidas na estrutura produtiva, com resultados em seis anos, antes, portanto, do segundo choque do petróleo em 1979.
33. Tecnologia não faltava para substituir as importações de petróleo. O Brasil havia adotado, durante a Segunda Guerra Mundial,  uma solução que funcionou muito bem: o gasogênio, para mover  os veículos, com equipamentos que usavam carvão mineral do Sul, carvão e óleos vegetais. Foi abandonado após a Guerra, mas poderia ter sido retomado em 1973.
34.  Geisel apoiou Severo Gomes e Bautista Vidal, no Programa do Álcool. Mas este não prosseguiu na forma planejada, nem se avançou  nos Óleos Vegetais, que oferecem ao Brasil grande campo – até hoje inaproveitado – para produzir excelentes óleos e fabricar motores próprios para eles.
35. O dendê, na Amazônia e no Sul da Bahia, pode render mais de 6 mil litros hectare/ano.  Para produzir quase tanto como a Arábia Saudita, ou seja, mais de cinco vezes o consumo brasileiro da época, bastaria plantar dendê em 60 milhões de hectares, ou seja, 12% da Amazônia Legal, associado a culturas alimentares.   Em outras regiões a macaúba dá 4 mil litros ha/ano.
36. Essas opções são mil vezes melhores para a ecologia que extrair madeira para exportar, enquanto as ONGs vinculadas ao poder mundial fazem demagogia a respeito do desmatamento da Amazônia.
37. O óxido de carbono só é absorvido pelas plantas quando crescem. A Amazônia, com a floresta estável, não é pulmão do mundo. Esse papel cabe aos oceanos, que as petroleiras mundiais poluem de modo brutal.
38. É fácil e praticado, há muito, na Alemanha, produzir kits para adaptar motores ao uso de óleo vegetal. Melhor seria, mas o sistema de poder nunca o permitiu - produzir motores para esse óleo, o verdadeiro diesel. Biodiesel é um dos golpes do sistema para impedir o desenvolvimento dessas tecnologias, bem como as da química dos óleos vegetais e da alcoolquímica.
39. A deterioração das contas externas no final dos anos 70 serviu de gazua para a penetração do Banco Mundial no Programa do Álcool, desvirtuando-o, pois foi desvinculado da produção alimentar e tocado no  sistema de plantations e mega-usinas, hoje, na maior parte, desnacionalizadas.
40. Moral: se houvesse autonomia política, coragem e discernimento, ter-se-ia aproveitado o choque do petróleo para desenvolver produções agrárias e industriais com tecnologia própria e adequada aos recursos naturais. Resultaria em prosperidade social incalculável com a energia renovável, além de esse padrão de desenvolvimento autônomo estender-se a outros setores.
41. Em suma, o mega-entreguismo de Collor e FHC não teria sido possível sem as políticas inauguradas em 1954 e continuadas de 1956 a 1960 e de 1964 até hoje. Por que? Porque essas políticas engendraram a relação de forças econômica e política determinante das desastrosas eleições daqueles dois.
III - Sete de setembro de 1822
Está, pois, claro que o povo brasileiro precisa de real independência e que esta não existe. Não merece crédito o argumento de que há autonomia política, embora falte a econômica, porquanto uma não é possível sem a outra. Não se confunda a independência formal com a real.

sábado, 8 de setembro de 2012


ATENÇÃO
Vai o link para assistir ao filme.
Minas Futebol de Fábio Carvalho
http://www.youtube.com/watch?v=SwFM_KVAISs

ENFIM O COMEÇO DE TUDO
                                                                          
 “Independência ou morte.”
Dom Pedro
 Fábio Carvalho

Finalmente conheci a nectarina, prima do pêssego. As primas sempre me atraíram pelos mais secretos caminhos. Aleatórios incontroláveis priapismos. Desenhados e imemoriais. Antes fui ao bar tomar um tempo. De lá segui para o sacolão monitorado por ela. Mesmo sem concordar estou a buscar uma lata de tomate pelado. A fruta. Não me permito, mas aceito, por enquanto. A noite vai ser boa. Ainda resta esta esperança. Doçura de luz. Pudesse eu ter a rota que me levasse ainda mais para dentro de mim. Oh grande mistério. Roubei e mudei bem, tenho certeza. Gracias Djavan. Continuo acreditando. Tenho sido bastante atrevido, acho que nasci assim. Só mudo enquanto ando sem direção, mesmo duvidando. Posso só me enganar. Decidi que tudo passa por mim. É esta a curva dramática. Esqueçamos. E sobre o papel onde escrevo, entre ela e eu tudo foi derramado. Disse o Fernando Pessoa. E uma alegria de barcos embandeirados erra.
Numa diagonal difusa. Entre mim e o que eu penso... Um grande abraço alucinado. Apenas mais uma música. Afinal de contas o que significa isto? Nada. Nenhuma vontade de fugir. Sigamos em riste os sonhos também estremecem, segundo cantam alguns. A canção de não dormir. Perdi de novo aquela beata. Novamente lá vem este pianista tentando tocar como eu. Finalmente chegaram as cantoras, tenho que contê-las, não precisa de tanto. Sem derramar por enquanto. Bom de tudo para você, falou a locutora da rádio. Jamais poderia esperar tal fala vinda da voz dela. Inesperada veio. Ainda não sei ser mulher. Tudo era um filme a me desestabilizar. Não tive como fugir, mesmo sem me encontrar dando várias voltas, eu me vi sendo obrigado a procurar minha sombra. Pedi de verdade para minha filha me levar com ela para o Rio de Janeiro no feriado. Ela achou que era brincadeira. Fui excluído do grupo e do carro, como era de se esperar. Vamos ficando por aqui mesmo, sem reclamar. Ali neste instante começou mais este filme, sem pedir licença. Como o anacoreta que recentemente me descobri, levantei este breve vôo acima das nuvens. O Anjo Exterminador. Voltei ao clube da esquina, mesmo abominando os clubes ou qualquer coisa que o valha. Alto mar. Amo a Marina compositora, não sei por que. Quem sabe as razões do amor. Tenho que cuidar bem mais desta escrita, senão o barco deriva. O respeito ao mar.
As sereias como guia. Me responda depois. Vou dar uma chance para ela que ela merece. Comigo. Seus lábios vão além. De onde não sei, sei que estou figurinista e seu figurino posa bem. Incrível. Não é toda hora que estou como sonhei nesta sexta feira. Três graus a mais. A nefelibata finalmente se exibiu para mim. Meus olhos ficaram certeiros. Senti um cheiro inesquecível.

COISAS DA POLÍTICA




Carlos Newton (Tribuna da Imprensa)
A independência política foi muito fácil de conquistar. D, Pedro I ganhou no grito, e estamos conversados. O que o Brasil jamais conseguiu foi declarar sua independência econômica. Este é o nosso dilema shakespeariano – do tipo ser ou não ser.
No início, o Brasil era até desprezado economicamente por Portugal, que invejava as descobertas da Espanha. Embora o território brasileiro fosse imenso, seus habitantes eram diferentes dos maias, astecas e incas, nada sabiam sobre mineração e metais preciosos. Não havia ouro e prata para roubar, nem trabalhadores especializados para escravizar.
O nome Brasil originou-se de seu produto original de exportação – o pau brasil. A casca da árvore era um excelente corante e a madeira era aproveitada. Outras espécies de madeira nobre também foram exploradas.
Demorou décadas até chegarmos ao ciclo do açúcar, primeiro grande produto de exportação, produzido com mão de obra escrava.
CICLO DO OURO
Um novo ciclo de crescimento foi iniciado em 1690 com a descoberta de ouro na região onde hoje é o Minas Gerais. A extração cresceu continuamente até 1760, e o Brasil teria sido responsável por metade da produção mundial de ouro no século XVIII.
O ciclo do ouro terminou no final do século XVIII, quando se esgotaram as principais minas. Parte da população mineira, então, rumou em direção ao Planalto Central do Brasil, onde encontrou trabalho em fazendas de gado, e outros foram para o Sul, engajando-se em atividades agrícolas.
Veio então o ciclo do café, que na década de 1821–30 foi responsável por 19% do total de exportações. Em 1891 essa participação havia aumentado para cerca de 63%. As exportações de café foram o instrumento de crescimento durante quase todo o século XIX, e a pecuária também avançava.
UM PAÍS AGRÍCOLA
Ao lado do café, outros produtos primários eram exportados pelo país, como açúcar, algodão, fumo, cacau e borracha. O Brasil, porém, não pôde competir com a borracha asiática, muito mais barata, e gradualmente perdeu toda sua participação no mercado mundial.
Hoje, em pleno III Milênio, o Brasil segue como país exportador agrícola e de minérios, embora disponha do mais diversificado parque industrial da América Latina.
O pior é que jamais conseguiu se tornar independente em termos econômicos. Pelo contrário, nos últimos 18 anos a dependência se agravou dramaticamente, porque último presidente competente que tivemos foi Itamar Franco. Consertou os equívocos de Sarney e conseguiu derrotar a inflação crônica, que nos consumia desde o regime militar. E deixou uma dívida pública equivalente a apenas 30% do PIB.
INDEPENDÊNCIA
No governo Fernando Henrique Cardoso a relação só fez aumentar, se elevando até valores astrônomicos superiores a 50% (com pico de 56% em setembro de 2002), em um aumento de incríveis 72%.
No governo Lula, a situação continuou piorando e em 2010 ele entregou uma dívida pública brasileira equivalente a 66,8% do PIB nacional.
Diminuir essa relação é o grande desafio da presidente Dilma Rousseff, que acaba de jogar sua grande cartada, ao obrigar o Banco Central a reduzir os juros básicos da economia para 7,5% ao ano, a menor taxa da História do Brasil.
Quanto menor for a relação endividamento/PIB, maior será nossa independência econômica. Essa realidade é como a Lei da Gravidade. Não pode ser revogada no grito.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

ENTREVISTA COM LUIZ ROSEMBERG FILHO





“ Há muito tempo sinto vergonha, por ter sido, mesmo que de longe, mesmo que de boa-fé, também eu, um assassino. Por isso, decidi recusar tudo aquilo que, de perto ou de longe, por boas ou más razões, faça morrer ou justifique que se faça morrer. “
ALBERT CAMUS

“AFEIÇÕES E DESENCANTOS “

1 – Por que o cinema e não as artes-plásticas, o jornalismo ou qualquer outro ofício?

r – Talvez o cinema por poder trabalhar com o imaginário sem a obrigação de estar fazendo a coisa certa. Você pode criar uma história nova tanto para o presente, como para o passado, ou mesmo para o futuro. O cinema se não é livre, criativo e poético vira televisão, clipe ou até mesmo publicidade. E aí é lixo, né? Infelizmente, lixo no sentido da criação. E no baixo uso do lixo quem defende e até goza, são os Partidos políticos, a TV e as religiões de resultado que já estão nas telinhas. É o horror virando mercadoria para consumo. Lamentavelmente temos que sobreviver e não posso condenar aquele que trabalha na publicidade ou na TV. O que eu me permito criticar é o sujeito fazer um cinema publicitário ou televisivo. Cinema nunca foi uma coisa, nem outra.
2 – O Cinema Novo ajudou ou atrapalhou a geração de vocês?

R – No início com “Deus e o Diabo”, “Vidas Secas”, “Os Fuzis”, “Terra em Transe”, “Matraga”, “O Bravo Guerreiro”, “Opinião Pública”, “O Padre e a Moça”... nos foi fundamental e referencial como abordagem e postura. Já o seu fim me parece assustador pois virou autoritário, patronal, burocrático e de direita defendendo até a polícia, o bufão do governador e até o prefeitinho sem carisma. Mas...como não defender ainda hoje Nelson Pereira, Glauber Rocha, Joaquim Pedro, Ruy Guerra, Leon? Ainda vivos com talento só resta o Nelson, o Ruy e o Capovilla. O resto a palavra já está dizendo. Pena pois poderia ter sido diferente pois inicialmente pareciam ser mais humanos e criativos. Viraram velhas cartas dentro do baralho mofado. Múmias, né? Tô me referindo aos poucos ainda vivos.

3 – Valèry dizia que “a arte vive de constrições e a morte de liberdade”. O que você acha disso?

r - Eu sou obrigado a concordar. Mas seria melhor viver de liberdade. Foi na mais ampla liberdade interna que se fez filmes como “Bang-Bang”, “Um Filme 100% Brasileiro”, “Jardim de Guerra”, “Perdidos e Malditos”, “A Mulher de Todos”, “A$suntina das Amérikas”... Jóias de um tempo de resistência real ao fascismo. Nossos filmes provavam que existia censura, entre outras coisas. Lamentavelmente o cinemão aliou-se ao poder,e o mercado e venceu. E hoje temos talvez o pior cinema do planeta. Claro que para os eternos baba-ovos, é a nossa Idade de Ouro. Só que fazendo m.... e apoiando as novas “otoridades” do circo Brazil! O que se pode esperar daí? Apenas espetáculos pobres e autoritários pois são vendidos como primorosos. Só que não se pagam na bilheteria. “Paraísos Artificiais” se pagou? E o novelão do “Heleno”? Vive-se na verdade um “cinema” de pilantragem! Mas talvez se descubra no Brasil, via TV aliada a publicidade um novo ciclo: o da pilantragem!

4 – O cinema e a imagem eletrônica podem ter a mesma força?

r - O cinema é hoje a mão direita da comunicação. Já a imagem eletrônica é uma rica possibilidade de oposição ao fascismo que volta a dominar o mundo, e por tabela o cinema. Mas...nunca fiquei preocupado com isso. Sempre achei que a técnica sem a história ou a poesia, só pode reproduzir a ideologia dominante. E para ver m... eu fico em casa tentando ver a TV. E que talvez seja uma droga muito pior que o crack ou a cocaína. Dopa sem questão alguma. Mas a não questão é a questão fundamental da dependência. E convenhamos: toda droga não é um instrumento bélico a serviço do capital e da ordem? E porque nunca se fala que a TV sendo uma droga, serve ao poder e as religiões?

5 – O que mais o incomoda na constante acrobacia dos financiamentos?

r – A burocracia e o fascismo que se esconde nela. As comissões. Os patético Editais. A arrogância dos “podres poderes” da República. A eterna pilantragem das verbas públicas, dadas sempre as mesmas múmias e seus filhotes, desde 64... Ou seja, nunca muda nada. Mudar para quê, né? Não acham as múmias que o nosso cinema vive numa Idade de Ouro? Mas fazendo o quê? Curiosamente todos os filmes se parecem, saído da fornalha da Globo. E existe algo mais nocivo e hipócrita que a Globo no cinema? Tudo e todos reflexos da pilantragem patronal. Lixo, né?

6 – Já mais velho, você sente saudades de algum outro momento do passado?

r – Eu nunca gostei de viver de passados. Reconheço o seu valor, mas fui adiante com mais de 40 trabalhos. Queiramos ou não, o progresso nos impulsiona para o futuro. A questão é: como será ele? Como se representará “Antígona” ou mesmo Strindberg? Como será vivido o humano no ano 3001? Terá tido fim a pobreza das nações? E as guerras terão terminado? Mas... sinto falta sim dos velhos amigos que me foram fundamentais como Mario Carneiro, Echio Reis, Nelson Dantas, Renato Coutinho, Joaquim Pedro, Novais Teixeira, Glauber... Sinto muito pelos que se foram. Os melhores, né? Vive-se hoje, aqui nessa falsa Idade de Ouro, um vazio assustador. Uma multiplicidade de fascismos incivilizados e bárbaro. Tenho nojo de ver essas múmias nos piores jornais do planeta, ou na TV. Estão lá bostejando as suas arrogâncias. Na verdade porcos no chiqueiro das elites.

7 – Você foi muito criticado por pessoas próximas, por ter defendido filmes de alguns cineastas odiados pelos mais jovens. Como você justificaria isso da tua parte?

r - Errei, né? Errei em ter defendido dois filmes do Cacá, e que vistos algum tempo depois, meus críticos estavam com razão: eram filmes fracos! E de certo modo, sempre foi um cineasta menor. Até escrevia direitinho, mas filmava mal. Mas...quis ser cineasta e sempre teve cobertura na burocracia e nas verbas palacianas. Mas nem por isso tornou o seu cinema referencial como Glauber, Rogério ou Joaquim Pedro. Já o Jabor tem pelo menos três filmes que eu gosto muito: “O Circo”, “Opinião Pública” e o “Tudo Bem”. Mesmo a sua “Suprema Felicidade” que é não é um grande filme, tem lá suas pequenas qualidades. Não me arrependo de tê-lo elogiado, e não é um Cacá, né? E eu não misturo o Jabor cineasta com o jornalista de um jornal conservador, ou reacionário como queiram. Ele é bem melhor que o jornal em que escreve. Mas mesmo como jornalista quando escreve sobre cinema é bom. Já quando escreve sobre política, deixa lá os seus furos.

8 – O que você acha de ser colocado pelos críticos Jairo Ferreira e Fernão Ramos, como sendo um cineasta do Cinema de Invenção?

r - Me creia, eu nunca me preocupei com isso e sempre fui contra clubinho fechado. Glauber em Paris ficava puto comigo por eu não me achar fazendo parte de grupelho algum. Essa divisão foi a maior imbecilidade de todos os tempos pois só fortaleceu o mercado, e deu no que deu. E claro que somos todos responsáveis! Na verdade não se estava lutando por um cinema mais ousado e criativo, e sim pelo poder. É curioso mas a moda pegou e agora tem um novo clubinho do Cinema de Garagem. Qualquer dia vamos ter o Cinema dos Cemitérios! E os coveiros estão a cata de novos defuntos para que possam justificar os seus salários.

9 – Que filmes e cineastas te marcaram mais?

r - Filmes são muitos e não poderia apontar só: “Persona”, “O Ano Passado Em Marienbad”, “Mãe e Filho”, “O Leopardo”, “Pierrot Le Fou” ou “Terra em Transe” pois o número é muito maior. Fico então com os seguintes cineastas, lá fora: Welles, Godard, Bergman, Visconti, Kubrick, Resnais, Losey, Wajda, Sukurov, Straub, Bertolucci, Rivette, Nicholas Ray, Antonioni, Rossellini, Pasolini, Tarkowski.... Aqui dentro: Glauber, Santeiro, Joaquim Pedro, Tonacci, Joel Yamaji, Ana Carolina, Coutinho e a garotada furiosa que está chegando e que são originalíssimos. Poderia citar o Abelardo de Carvalho, Leonardo Esteves, Marcelo Ikeda, Ruan Posada, Joel Pizzini, Arthur Frazão, Isabel Lacerda, Fabio Carvalho... Claro que me refiro as pérolas da resistência ao nosso eterno fascismo.

10- Por que você ultimamente resolveu falar de você, e se apresentar como personagem e até ator?

r – Eu não sou, nem nunca fui ator. Quanto ao personagem, é interessante você se observar no Outro, sendo uma imagem sem representação alguma. Me observo um pouco como se estivesse diante do analista. E é curioso se observar sem nenhum tipo de máscara ou representação. E o que fiz foi uma espécie de cine-diário. Aos 70 posso fazer o que bem entendo. E não tô fazendo com dinheiro público, e sim com o apoio de doces amigos que me acompanham desde a juventude. E não me arrependo de nenhum filme feito. Talvez se tivesse um pouco de dinheiro poderia os ter feito melhor. Mas como nunca fui baba-ovo da burocracia e do poder, fiz o que pude do nada. E sempre com muito cuidado para não virar múmia para o programa do Amaury Jr ou espetáculo para a TV.

ENTREVISTA COM LUIZ ROSEMBERG FILHO - 2





11- E do Mercado, o que você tem a falar?

r - Sempre me permitir achar que resiste uma falsa compreensão do conceito de mercado. Ele não precisa ser só o lixo de “Os 2 Filhos de Francisco”, “De Pernas Para o Ar” ou “Cilada.com”, “Cidade de Deus” ou as “”Tropas das Elite”. Aí é lixo, né? Meu conceito de mercado é “Macunaíma”, “Estômago”, “Tom Jobim”... O trabalho com o lixo quem faz é a Comlurb, e até parece que o faz bem. Penso que é preciso desmistificar esse conceito de quanto pior, melhor! Isso é ignorância e fascismo. Pode até servir ao poder e a TV, não ao cinema. E menos ainda a poesia. Se é que a poesia ainda é importante! Muito raramente eu a vejo no nosso cinema. Pena.

12 – Existiu em algum momento, ou existe ainda generosidade e afeto no mundo do cinema?

r - Não. Nunca existiu. O cinema foi sempre um campo de guerra, com todos lutando pelo poder. E quando alguns poucos lá chegam, só fazem merda. Tornam-se até fascista e passam a defender lixo, repressão, prostituição e horrores. Mas... onde foram parar? Na televisão mais conservadora e reacionária do país. E a defendem como se fosse o útero angelical de suas mães. O afeto é uma coisa mais séria e profunda que a luta pelo poder. Com o afeto goza-se! Com o poder matam-se os sonhos e a própria vida.

13- Por que você foi sempre avesso a participar de festivais, premiações e até cerimônias feitas para você?

r – Nunca aceitei muito bem essa exposição sistemática a uma espécie de festividade reinante, onde o cinema como postura ou linguagem é o que menos importa. Gasta-se muito dinheiro público com esses eventos e cineastas como Fabio Carvalho, Sergio Santeiro, Tonacci, Ricardo Miranda, José Sette, Marcelo Ikeda...não conseguem filmar com um mínimo de dinheiro. E repare como esse circo dos grandes eventos com verbas públicas comporta tudo: das mulheres frutas a vedetinha da TV que entrou ontem e já se acha atriz? Eu teria vergonha de ser entrevistado no Copacabana Palace, por uma perua afetada da sociedade. Nossos mundos são totalmente diferentes, e eu não teria nada a dizer aos seus possíveis telespectadores. A perua até ganha para fazer o seu papel de “inteligente” e “profunda”. Agora o outro não ganha nada e sai se achando o rei da merdinha previsível. Não fui educado para isso, e tem questões mais sérias a serem enfrentadas. Por que nesses eventos festivos não se levanta a questão da burocracia e da ocupação dos nossos espaços no cinema e na TV? Quem está por trás das verbas oficiais? Como podemos aceitar calados editais burocratizantes? E a quadrilha da Ancine que trabalha para os mesmos de sempre também burocratizando tudo, com a quadrilha sendo bem remunerada. Não estão ali pelo cinema brasileiro e sim pelos bons salários. E nos ditos festivais, falam alguma coisa? Falar implica em se comprometer e isso pelo visto morreu com o Glauber. Prefiro ficar na minha e falando o que eu penso quando tenho espaço.

14- E como crítico o que você foi fazer nela?

r - Nunca me considerei um crítico. Eu sempre escrevi sem a preocupação de ser um crítico. E tirando o Paolo Emílio, o Jaime Rodrigues, o Alex Vianni, o Jairo Ferreira, o Rogério Sganzerla, o Sergio Santeiro, o Celso Marconi, o Carlos Guimarães de Mattos, o Gustavo Dahl... eu raríssimamente leio uma crítica, pois vivo metido em livros, projetos e afetos. O tempo depois de certa idade conta e é cruel pois passa muito rapidamente. Ainda ontem eu tinha vinte anos e lutava por um país que não aconteceu. Não por nossa culpa, mas pelas religiões, Bancos, Partidos, mídia e políticos. Eu sou mais um cineasta que escreve o que vai saindo sem a preocupação e rigidez necessária a um bom crítico. Pô, eu não fui elogiar um filme fraco como o “Orfeu” do Cacá? Se fosse um critico criterioso não o elogiaria nem no inferno! Reconheço aí um grande erro. Mas na época achava que poderia interferir e melhorar a ação do Outro sobre o cinema. Errei, né? Também nunca fiz questão de ter a generosidade do Paulo Emílio. Ele segue sendo único, e seus copiadores são humanamente pobres, poderosos e lamentáveis. E pior: fascistões colloridos, emplumados pelo poder!

15- Tendo feito “Deserto’ no final do ano de 2011, que significado tem esses novos “Fragmentos”? Não é uma insistência um tanto egóica da tua parte voltando a aparecer falando muito sobre a dor?

r - Depois do “Deserto” fiz um filme muito duro sobre as péssimas relações de trabalho, no Brasil. O trabalho como fonte de alienação, repressão e humilhação. O trabalho como elevação do horror! É um filme que me foi muito duro. Por sorte dividido com amigos como o fotografo Renaud Leenhardt, o montador Antonio Ecki e a leitura do José Carlos Asbeg. Com “Fragmentos” volto ao “Deserto” para colocar um ponto final nessa injustiça chamada angustia e o envelhecimento. Digamos que essa burra encenação da felicidade na velhice, é uma peça mal escrita sobre a morte. De egóico não tem nada pois está além dos meus muitos medos, e mesmo do cinema que faço. É um depoimento que foi saindo sem ensaio ou um roteiro prévio. O filme foi sendo procurado a medida em que era feito. O que o texto diz, saiu exatamente como foi sendo escrito: como um tango onde a dança está ausente e a encenação foi sendo procurada entre raízes e imagens soltas e criadas ao acaso, como no curta “O Inventário” de Audrey e Arthur Frazão. Mas já estou com outro rodado, mais bem humorado, sobre o conceito do Espetáculo, com um texto lido por uma linda menina chamada Gabriela Rosa, filha do talentoso Juan Posada que defendi na Revista Moviola em “O Estado de Exceção”, um filme para que se tente entender essa convivência da sociedade com a repressão e a morte.

16- Você não acha “Fragmentos” um texto muito fúnebre fixado na dor e na derrota?

r – Fúnebre é a política dos Partidos, e do país. “Fragmentos” ainda que um tanto pessimista, é um pequeno espaço de liberdade e de prazer. É uma outra dimensão de associações livres para com as imagens. Concordem ou não, não tem a mínima aproximação com as caricaturas vendidas pelo mercado. É um trabalho onde a complexidade está na simplicidade, sem ser simplório em nenhum momento. E to nele exposto como sou: como uma contradição! Todo mundo de um modo geral sabe bem o idiota em que se deixou transformar. Eu ainda tenho lá as minhas dúvidas. Mas...continuo abertamente crítico aos fascismos de fora e de dentro.

17- E como as pessoas reagem a este tipo de trabalho pessoal?

r - Como conseguirem chegar nele. Podem não gostar que não serão chamadas de burro. Eu nunca fiz merda para o público. Acostumá-lo com isso, é o que o mercado vem fazendo insistentemente. Mas porque o mercado não pode ser sensível e inteligente? Pó que é na burrice que exerce o seu poder de fogo? E claro que você pode querendo, trabalhar filmes melhores para o mercado. “Estômago” e “Tom Jobim” foram belos exemplos recentes de filmes de mercado, sem o mínimo momento de pobreza. Faturaram e foram belíssimos.

18- Existe uma nova geração favorável a um Cinema de Invenção, como defendia o teu amigo e crítico Jairo Ferreira?

r – Bem, os bostas vão sempre existir! Mas vão existir também inventores como Ana Carolina, Leonardo Esteves, Marcelo Ikeda, Juan Posada, Jose Carlos Asbeg, Abelardo de Carvalho, Arthur Frazão, Isabel Lacerda, Ricardo Miranda, Pedro Asbeg... que apesar da repressão do dinheiro se permitem trabalhar não a anestesia ou a satanização da experimentação, mas a linguagem, a poesia e a revolução. Não como afirmação de pequenas vidas buscando o seu lugar ao sol. Mas com a ousadia criativa da juventude.

19- E para onde vai o cinema?

r - Vai depender muito para onde vai a humanidade. Se vai voltar a assumir o fascismo uma vez mais, ou compartilhar da busca de um mundo melhor para todos. Penso que esse disfarce de democracia tá chegando ao fim pois os sistemas caminham para o suicídio. Basta que vejamos por algumas horas as programações da TV, para se constatar o culto a burrice em conexão com a reprodução permanente de fascismos. Mas nesse seu processo, ela atua disciplinadamente dopando! E não a nada que se salve. Da falsa e deslumbrada Galisteu ao Jornal Nacional. Claro, sem falarmos de Ratinhos, religiões, Datenas e Faustões. É um aparelho de enloquecer e empobrecer a coletividade. Já imaginou essa constante mecanização do coletivo em mais algumas décadas? E como se pensar o cinema no futuro, desconectado desses tantos horrores? Eu prefiro ir tocando meu barco como venho fazendo.

20- E o que é esse novo curta sobre o curioso conceito de “Espetáculo”?

r - Um trágico reconhecimento da nossa doença: a ignorância “protetora” sendo questionada por uma criança.. Um retorno à pureza, como confronto com a ordem militarizada do país. Talvez um paralelo mais bem humorado com o “Trabalho”, rodado depois do “Deserto”. De modo algum aceito essa ordem criminosa de fascismos e idiotismos comerciais burros. Dito de outro modo, sempre odiei o lixo oficial! Nunca acreditei nas boas intenções das múmias do velho cinema brasileiro. Cultuam só, os clichês da fraqueza humana. “Espetáculo” tenta então disfuncionalizar a perversidade castradora das velhas e novas múmias que vivem de lamber a falsificação como atuação assistencialista (populista, pô!) de fascismos.