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domingo, 26 de agosto de 2012

Programa Político para TV


Política na Província Caiçara
Informe do jornal:
“ O Programa Político do PSOL é brega e o seu marqueteiro está nos devendo um pouco mais de criatividade...”
Carta Aberta de Desagravo.
Três perguntas para varias respostas é o que devo dar ao meu amigo Cabral, proprietário e editor do jornal diário Folha dos Lagos, que deseja desconstruir com ironia o trabalho videográfico de um artista não engajado na luta política em uma imprensa comprometida.
1.    O que vou dizer dos incautos que atribuem ao meu candidato uma votação pífia nestas eleições de 2012?
2.    O que devo falar quando os eternos gozadores de plantão querem menosprezar o meu trabalho na criação de um simples, mas sincero programa de três minutos e meio para a televisão?
3.    O que posso pensar quando o diabo quer me oferecer lembranças e mesuras afetadas a minha atuação como mensageiro de todos os contrários, quando só procuro midiatizar o bom pensamento ideológico de um político de trajetória ascendente?
Meu caro jornalista, você pode anotar e depois me cobrar que o candidato para quem estou trabalhando chegará ao mês de outubro vitorioso em sua singela campanha a Prefeitura de Cabo Frio.
Saber ver é a maior característica de um cinematógrafo. Saber escutar pertence aos bons ouvidos de um maestro. Saber falar é que distingue o poeta do orador. A eloquência do silêncio e a facúndia do palavrório, nos três sentidos, é a ferramenta dos enganadores, dos desesperados, dos destemperados, dos inconformados e dos que sofrem de anacroasia.  
Não sou publicitário e não pretendo vender nenhum produto nessa peleja de egos inflados e de marqueteiros que trabalham na frieza dos seus produtos enlatados. Nada quero vender, por isso não pertenço a essa contenda do que é o melhor e do que é o pior em relação direta àqueles que vendem mais ou menos o seu produto, ao contrário, eu só quero mostrar a verdade ou o que ela representa no simples contexto dessa eleição provinciana.
Sempre acreditei que uma peça de arte talhada na madeira é mais cara e preciosa do que outras peças virtuais elaboradas nos mais sofisticados computadores.
Faço o meu trabalho com arte me abstendo de firulas e falsetes que o mundo eletrônico da publicidade pode oferecer. Acredito nos olhos dos que enxergam mais, nos ávidos de leitura e saber, nos que querem a verdade em tudo que nasce da arte e do homem.
Mas, meu caro jornalista, muito longe do seu niilismo em relação ao meu trabalho, desconhecendo o que eu me propus a realizar - criar, produzir, fotografar, dirigir, editar -  está a minha mão, o dedo de um artista. Pois ali, naqueles vídeos manifestos que você faz questão de não ver, tem alguma coisa de diferente, não há como negar, por mais simples que ele possa te parecer.
Sem receio, digo-lhe que cafona é qualquer arabesco advindo de complexos mundos artificiais, vistos, lidos e ouvidos, por cegos de espíritos.  Mas, por você ser um homem sensível, ao ver novamente os meus pequenos vídeos ideológicos, sem as colorações dos seus interesses, notará que eles têm mais força de comunicação que as longas propagandas sofisticadas, ditas “criativas”, que nossos opositores pretendem mostrar. 

Novo texto do cineasta Fabio Carvalho


Carmem Santos

NOVO AMANHÃ COM CURVAS DELINEADAS
Fábio Carvalho
O tempo pode afastar nós dois.
Antonio Mário Marcos

Ontem encontrei dentro do livro do David Neves um papel de agenda de 2002, dobrado e anotado à mão por mim: ligar às 10:00 da manhã. Embaixo estava o número do telefone do Carlos Reichembach. Mais embaixo também com minha letra este texto que não me lembro de onde o tirei:
“O sentido último da vida não pode ser definido. Sua essência está pendente em todo o movimento e em tudo que não se move”. Mordomo do papa vai a julgamento. Era a manchete do noticiário. Demorei a voltar por aqui. É febre e amor. A música no ar. A vida é engraçada. Eu sei que o amor valeu. Sem tanta certeza assim. Continuo achando que estou sabendo. Vou ter que me adequar de alguma maneira. Enfim, reconheço que estou na faixa instrumental. Sem me cansar, embora me sentindo mal e muito bem ao mesmo tempo, além do mais, ainda com um estranho prazer diante deste novo e antigo movimento: tudo ótimo e pode melhorar. Vem logo vem curar seu nego que chegou de porre, lá da boemia. Coisa boa João Pessoa. Seu manancial. Além da detestável adequação, vou conquistar a transformação. Melhor dizendo: estou a tentar. Como diria o bom português. Que se for bom mesmo se perde com uma boa mulata, o pecado irresistível do tom da cor. Ou então se encontra bem. Cruzados são os desencontros, e outros encontros também. Indecifrável para mim, eu ando. Tenho andado. Demorou: mentiu a verdadeira morena de cabelo liso e com a boca da cor vermelho sangue. Imagem e som. O mar azul com que você sonhou. É esta a minha estrela nacional mais brilhante lá no céu. Por enquanto só posso ir com Tonho, o bombeiro, amanhã cedo para tirar o vaso, sem reclamar. Muito é claro, um pouco posso. O poço. Gato Barbieri. El perseguidor. De fonte aparentemente fidedigna fico sabendo que o nome do pai do escritor Guimarães Rosa era Florduardo Pinto Rosa. Todos os músicos acham que sabem mais do que eles mesmos, como se não se bastassem. Estou ao ponto de tocar um instrumento, quem sabe até dois. Flanando, com sabor. 13 é Galo.

domingo, 12 de agosto de 2012


O DOMÍNIO FINAL DO ATO
                                                                         
 Fábio Carvalho
O cinema começou assim: não se fazia roteiro,
não se escrevia... partia-se e filmava-se.
Leva-se muito mais tempo para saber manejar
uma câmera do que uma espingarda.
Jean Luc Godard


O retumbante é o que interessa. Viagem de palavras. A hora do lobo. Nosso romance não durou dois anos, restam boas e fugidias lembranças. Acho até que não passou de seis meses.
Um desejo de amor coletivo muito intenso formado num longo tempo curto. Ele fez nascer uma escrita de gestação aparentemente demorada, todavia o tempo foi justo. Se a antevisão existia, só agora depois, compreendendo o passado se difundiu e ampliou-se as bordas da visão. O conhecimento. Alegro andante. Quase todos os rostos são ainda claramente visíveis. Misteriosamente outros não. Abricó de macaco. É o curioso nome dado para a flor que nasce numa árvore muito comum no Rio, especialmente no velho bairro de Botafogo. São umas bolotas cor de rosa de onde explode uma flor fininha vermelha, deixando quatro pétalas abertas como páginas dobradas com as partes de dentro mais vermelhas ainda. Melhor dizendo, vermelhonas. O cheiro é horrível. Já a tinha visto algumas vezes, nunca me chamara tanto a atenção quanto no cruzamento Visconde de Caravelas com Capitão Salomão. O paraíso já ali instalado com bares em cada uma das quatro esquinas, irretocável na seleta diversificação. De dentro de um você pode observar os outros três. Avant la lettre, dizia o Guará. Era um fim de tarde. As bolotas tomavam a rua, tornando a ambiência nada realista. Abricó de macaco. Cuspi vários caroços de mexerica pela janela enquanto escrevia esta frase. Vou transformar o meu jardim em um jardim vergel. Enfim um pomar. Naturalmente desde criança sou fascinado pelos botequins. Quanto menor e mais discreto na fachada, mais me atrai. A que eu sei, não herdei esta peculiaridade de ninguém da família sanguínea, a não ser de uns tios tortos.  De volta a Belo Horizonte de novo nos ouvidos Moacir Santos. Uma benção. Esta é para o Toninho. Manhã grená as folhas caem no Jardim de Alá. Parei no sinal vermelho hoje na hora do almoço, dois pré-adolescentes se beijavam em frêmito com os rostos colados no vidro da janela do carro escolar parado ao lado. Não sei se estavam indo ou vindo da escola. De volta às esquinas de Botafogo, Aurora é o belo nome de um destes bares. Já meio decadente, lá estão os mesmos garçons que sempre lá estiveram. As mesmas cadeiras de madeira também. Se me perguntarem onde quero ir, respondo que vou lá. Na contra esquina tem um minúsculo copo sujo ou pé sujo, aonde você encontra todos os tipos de veneno, seja para fumar, beber, cheirar ou comer. Os boêmios terminais estão sempre por ali. Ao lado tem o Informal que freqüento mais porque meus amigos o preferem. Boemia saudável. Na última das esquinas, está o único que ainda não experimentei.Tive o privilégio de filmar dois cineastas-atores, Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, e o Cláudio Costa Val, fazendo o que vivi em um botequim. Esta seqüência eu nominei através de uma cartela “A METAFÍSICA DO BAR”. Filmamos em uma cachaçaria na cidade de Tiradentes. Este título eu roubei de um texto encantador escrito pelo Presidente Francisco de Almeida Salles, que o cineasta David Neves publicou como prefácio em seu livro “Cartas do meu bar”. Transcrevo aqui um pequeno trecho: “entramos no bar e a História se detém, não somos mais seres biográficos, com problemas e preocupações. O mundo Histórico morre às portas do bar.
Daí o seu fascínio, já que o tempo devora a vida, como disse Baudelaire. Le temps mange la vie.

domingo, 5 de agosto de 2012

CINEMA

PARÁBOLA DO VÔO LIVRE


Fábio Carvalho

Um cineasta tem basicamente dois desejos:

Filmar o homem morrendo


e o homem fazendo amor.

Nagisa Oshima
Comecei de novo, depois de um breve hiato necessário para reconstituições internas, a deambular pela trilha sonora abismal a qual me entreguei. Sem delongas, vamos lá. Eu era a câmera e a câmera era eu. No sábado à noite subi novamente e pela última vez, os três longos lances da escadaria em zigue-zague, que levam ao quintal da casinha de fundos perto da Arena do Independência, onde morava a Mariana. Acontecia uma festinha de despedida daquele endereço, já que ela estava de mudança para o Santo Antonio. Depois que o Tadeu me deu um copo com cerveja, sentei numa cadeira embaixo da jabuticabeira e fiquei conversando com o João Flores sobre a bela cidade de Cataguases. Meu ponto de visão era de noventa graus em suave movimento panorâmico. Nada mais inquietante que a luz vermelha montada num pedestal dentro de um secador antigo de salão de beleza, incidindo sobre o muro descascado. Quatro amigas modernetes conversavam e riam sem parar no contraluz. Gesticulavam muito e ensaiavam umas reboladas ao som de um DJ latino que tocava um baticum insuportável, que todos pareciam conhecer de cor. A visão me agradava. Mudaram para um samba e a lua minguante apareceu no pedaço de céu que nos restava. Já não bebo mais cachaça. Melancólico pensamento, mas a vontade continua. Gradualmente o ruído ambiente foi abaixando e pude ouvir o piano do Bill Evans. No grau. Registrei toda música em filme reversível. Há poucos dias estava me produzindo para fugir da ilha de montanhas onde habito, rumo ao meu Rio de Janeiro citando a Bebel, quando inesperadas forças ocultas me mantiveram ilhado. O inesperado tem sempre lugar. Por raras vezes ficando parado no mesmo lugar me senti bem. Aqui, concentrado no jardim da infância, descobri outras possibilidades muito atraentes. Voltei à música. Ela voltou a mim. É doce viver no mar. Hoje de manhã, ela me disse o que o Léo Maciel tinha postado no facebook: a casa que o Guignard morou na Serra vai ser demolida. Era a casa dos Meinberg na rua Santa Helena. A casa bem desenhada foi construída pelo marido alemão da Lisete, artista plástica que tinha sido aluna do mestre. Reza a lenda que depois da Lisete ter passado para Guignard um dinheirinho advindo da venda de uns cartões que ele desenhara, o grande artista fanhoso sumiu por uns três dias. Quando voltou, maltrapilho, sujo e sem um tostão, a anfitriã, no sermão da recepção, deixou escapar uma pérola semântica: “Guignard! Você pintou comigo, hein!” O hóspede ajoelhou-se e clamou: “perdão minha senhora!” A harmonia se restabeleceu. Chamamos o João Diniz e vamos filmar a casa e sua demolição para o filme O ANJO GUIGNARD da Isabel. Claro e evidente sempre contando com o tempo. Tudo tempo. No confiteor da nossa estória foi impresso os anos-luz manualmente esculpidos na tridimensionalidade deste trabalho: a dor do crescimento. Chega de rocamboles. Novamente tenho caminhado muito pelas ruas da Serra. Coisa de cabrito Montanhês. Os encontros e as topadas me estimulam. Continuo como era. Agora com nova mudança para a velha Rua do Ouro. Tecnicamente ainda no meio da festinha ela interrompeu bruscamente o piano do Bill Evans citando o que estava escrito no caderninho de notas que mora na bolsa: “se a gente deixar essa argentina doidona e porra-louca escolher a música nós estamos ferrados”. Trocamos o canal para melhor. Viver a vida. Vou aprender a escrever sobre O $ANTO E A VEDETE, o filme sem adjetivos do nosso mestre Rosemberg. Vento louco. O adjetivo é o cancro da língua. Incêndio no circo. Peguei variadas boas ondas no espaço daquele principio de noite no quintal. Chegado o tempo desço pela última vez a escadaria em zigue-zague. Deixo a luz do olhar no teu luar cantou o Lamartine. O Rosemberg escreveu:

... debruça-se sobre um outro cinema contrário à

obediência. Filma, então, depoimentos, festa, espaços, palavras,

beleza, liberdade, sonhos, amigos, potência, esforço, encontros,

desacordos, diferenças, expressões, música, mãos, embriaguez,

vontades, abnegações, gozo, experiências, textos, livros, poesia,

natureza, incertezas, alternativas, razão, a cidade, o mar, a praia,

reflexões, o cinema vivo, trilhas, raciocínios, sentimentos, afetos,

amigos... é um pouco a história de um saber que se negou a

envelhecer. A luta continua!