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sábado, 31 de março de 2012

Dois filmes controversos e um conto do Poe

ESTE FILME, O MUNDO ANIMAL, QUE VAI ALÉM DOS ESTEREÓTIPOS DOS MORADORES DE RUA, É A MISÈRIA SOCIAL DE GRANDE PARTE DOS LATINOS AMERICANOS.

http://www.youtube.com/embed/8HUWkEdYy3s

CARTIER

Este filme que levou 2 anos para ser produzido e tem 3 minutos e meio e contou é o retrato da elite internacional e foi realizado com 50 profissionais, entre eles designers, músicos e editores. Tudo sob a supervisão do diretor Bruno Aveillan. Além de Aveillan, Mathieu Lauxerois e Nataly Aveillan assinam a direção. A criação é da agência francesa Marcel.

http://www.odyssee.cartier.us/#/film


Releituras.com

O CORAÇÃO DELATOR
Edgar Allan Poe

É verdade! Nervoso, muito, muito nervoso mesmo eu estive e estou; mas por que você vai dizer que estou louco? A doença exacerbou meus sentidos, não os destruiu, não os embotou. Mais que os outros estava aguçado o sentido da audição. Ouvi todas as coisas no céu e na terra. Ouvi muitas coisas no inferno. Como então posso estar louco? Preste atenção! E observe com que sanidade, com que calma, posso lhe contar toda a história.
É impossível saber como a idéia penetrou pela primeira vez no meu cérebro, mas, uma vez concebida, ela me atormentou dia e noite. Objetivo não havia. Paixão não havia. Eu gostava do velho. Ele nunca me fez mal. Ele nunca me insultou. Seu ouro eu não desejava. Acho que era seu olho! É, era isso! Um de seus olhos parecia o de um abutre – um olho azul claro coberto por um véu. Sempre que caía sobre mim o meu sangue gelava, e então pouco a pouco, bem devagar, tomei a decisão de tirar a vida do velho, e com isso me livrar do olho, para sempre.
Agora esse é o ponto. O senhor acha que sou louco. Homens loucos de nada sabem. Mas deveria ter-me visto. Deveria ter visto com que sensatez eu agi — com que precaução —, com que prudência, com que dissimulação, pus mãos à obra! Nunca fui tão gentil com o velho como durante toda a semana antes de matá-lo. E todas as noites, por volta de meia-noite, eu girava o trinco da sua porta e a abria, ah, com tanta delicadeza! E então, quando tinha conseguido uma abertura suficiente para minha cabeça, punha lá dentro uma lanterna furta-fogo bem fechada, fechada para que nenhuma luz brilhasse, e então eu passava a cabeça. Ah! o senhor teria rido se visse com que habilidade eu a passava. Eu a movia devagar, muito, muito devagar, para não perturbar o sono do velho. Levava uma hora para passar a cabeça toda pela abertura, o mais à frente possível, para que pudesse vê-lo deitado em sua cama. Aha! Teria um louco sido assim tão esperto? E então, quando minha cabeça estava bem dentro do quarto, eu abria a lanterna com cuidado — ah!, com tanto cuidado! —, com cuidado (porque a dobradiça rangia), eu a abria só o suficiente para que um raiozinho fino de luz caísse sobre o olho do abutre. E fiz isso por sete longas noites, todas as noites à meia-noite em ponto, mas eu sempre encontrava o olho fechado, e então era impossível fazer o trabalho, porque não era o velho que me exasperava, e sim seu Olho Maligno. E todas as manhãs, quando o dia raiava, eu entrava corajosamente no quarto e falava Com ele cheio de coragem, chamando-o pelo nome em tom cordial e perguntando como tinha passado a noite. Então, o senhor vê que ele teria que ter sido, na verdade, um velho muito astuto, para suspeitar que todas as noites, à meia-noite em ponto, eu o observava enquanto dormia.
Na oitava noite, eu tomei um cuidado ainda maior ao abrir a porta. O ponteiro de minutos de um relógio se move mais depressa do que então a minha mão. Nunca antes daquela noite eu sentira a extensão de meus próprios poderes, de minha sagacidade. Eu mal conseguia conter meu sentimento de triunfo. Pensar que lá estava eu, abrindo pouco a pouco a porta, e ele sequer suspeitava de meus atos ou pensamentos secretos. Cheguei a rir com essa idéia, e ele talvez tenha ouvido, porque de repente se mexeu na cama como num sobressalto. Agora o senhor pode pensar que eu recuei — mas não. Seu quarto estava preto como breu com aquela escuridão espessa (porque as venezianas estavam bem fechadas, de medo de ladrões) e então eu soube que ele não poderia ver a porta sendo aberta e continuei a empurrá-la mais, e mais.
Minha cabeça estava dentro e eu quase abrindo a lanterna quando meu polegar deslizou sobre a lingüeta de metal e o velho deu um pulo na cama, gritando:
— Quem está aí?
Fiquei imóvel e em silêncio. Por uma hora inteira não movi um músculo, e durante esse tempo não o ouvi se deitar. Ele continuava sentado na cama, ouvindo bem como eu havia feito noite após noite prestando atenção aos relógios fúnebres na parede.
Nesse instante, ouvi um leve gemido, e eu soube que era o gemido do terror mortal. Não era um gemido de dor ou de tristeza — ah, não! era o som fraco e abafado que sobe do fundo da alma quando sobrecarregada de terror. Eu conhecia bem aquele som. Muitas noites, à meia-noite em ponto, ele brotara de meu próprio peito, aprofundando, com seu eco pavoroso, os terrores que me perturbavam. Digo que os conhecia bem. Eu sabia o que sentia o velho e me apiedava dele embora risse por dentro. Eu sabia que ele estivera desperto, desde o primeiro barulhinho, quando se virara na cama. Seus medos foram desde então crescendo dentro dele. Ele estivera tentando fazer de conta que eram infundados, mas não conseguira. Dissera consigo mesmo: “Isto não passa do vento na chaminé; é apenas um camundongo andando pelo chão”, ou “É só um grilo cricrilando um pouco”. É, ele estivera tentando confortar-se com tais suposições; mas descobrira ser tudo em vão. Tudo em vão, porque a Morte ao se aproximar o atacara de frente com sua sombra negra e com ela envolvera a vítima. E a fúnebre influência da despercebida sombra fizera com que sentisse, ainda que não visse ou ouvisse, sentisse a presença da minha cabeça dentro do quarto.
Quando já havia esperado por muito tempo e com muita paciência sem ouvi-lo se deitar, decidi abrir uma fenda — uma fenda muito, muito pequena na lanterna. Então eu a abri — o senhor não pode imaginar com que gestos furtivos, tão furtivos — até que afinal um único raio pálido como o fio da aranha brotou da fenda e caiu sobre o olho do abutre.
Ele estava aberto, muito, muito aberto, e fui ficando furioso enquanto o fitava. Eu o vi com perfeita clareza – todo de um azul fosco e coberto por um véu medonho que enregelou até a medula dos meus ossos, mas era tudo o que eu podia ver do rosto ou do corpo do velho, pois dirigira o raio, como por instinto, exatamente para o ponto maldito.
E agora, eu não lhe disse que aquilo que o senhor tomou por loucura não passava de hiperagudeza dos sentidos? Agora, repito, chegou a meus ouvidos um ruído baixo, surdo e rápido, algo como faz um relógio quando envolto em algodão. Eu também conhecia bem aquele som. Eram as batidas do coração do velho. Aquilo aumentou a minha fúria, como o bater do tambor instiga a coragem do soldado.
Mas mesmo então eu me contive e continuei imóvel. Quase não respirava. Segurava imóvel a lanterna. Tentei ao máximo possível manter o raio sobre o olho. Enquanto isso, aumentava o diabólico tamborilar do coração. Ficava a cada instante mais e mais rápido, mais e mais alto. O terror do velho deve ter sido extremo. Ficava mais alto, estou dizendo, mais alto a cada instante! — está me entendendo? Eu lhe disse que estou nervoso: estou mesmo. E agora, altas horas da noite, em meio ao silêncio pavoroso dessa casa velha, um ruído tão estranho quanto esse me levou ao terror incontrolável. Ainda assim por mais alguns minutos me contive e continuei imóvel. Mas as batidas ficaram mais altas, mais altas! Achei que o coração iria explodir. E agora uma nova ansiedade tomava conta de mim — o som seria ouvido por um vizinho! Chegara a hora do velho! Com um berro, abri por completo a lanterna e saltei para dentro do quarto. Ele deu um grito agudo — um só. Num instante, arrastei-o para o chão e derrubei sobre ele a cama pesada. Então sorri contente, ao ver meu ato tão adiantado. Mas por muitos minutos o coração bateu com um som amortecido. Aquilo, entretanto, não me exasperou; não seria ouvido através da parede. Por fim, cessou. O velho estava morto. Afastei a cama e examinei o cadáver. É, estava morto, bem morto. Pus a mão sobre seu coração e a mantive ali por muitos minutos. Não havia pulsação. Ele estava bem morto. Seu olho não me perturbaria mais.
Se ainda me acha louco, não mais pensará assim quando eu descrever as sensatas precauções que tomei para ocultar o corpo. A noite avançava, e trabalhei depressa, mas em silêncio. Antes de tudo desmembrei o cadáver. Separei a cabeça, os braços e as pernas.
Arranquei três tábuas do assoalho do quarto e depositei tudo entre as vigas. Recoloquei então as pranchas com tanta habilidade e astúcia que nenhum olho humano — nem mesmo o dele — poderia detectar algo de errado. Nada havia a ser lavado — nenhuma mancha de qualquer tipo — nenhuma marca de sangue. Eu fora muito cauteloso. Uma tina absorvera tudo – ha! ha!
Quando terminei todo aquele trabalho, eram quatro horas — ainda tão escuro quanto à meia-noite. Quando o sino deu as horas, houve uma batida à porta da rua. Desci para abrir com o coração leve — pois o que tinha agora a temer? Entraram três homens, que se apresentaram, com perfeita suavidade, como oficiais de polícia. Um grito fora ouvido por um vizinho durante a noite; suspeitas de traição haviam sido levantadas; uma queixa fora apresentada à delegacia e eles (os policiais) haviam sido encarregados de examinar o local.
Sorri — pois o que tinha a temer? Dei as boas-vindas aos senhores. O grito, disse, fora meu, num sonho. O velho, mencionei, estava fora, no campo. Acompanhei minhas visitas por toda a casa. Incentivei-os a procurar — procurar bem. Levei-os, por fim, ao quarto dele. Mostrei-lhes seus tesouros, seguro, imperturbável. No entusiasmo de minha confiança, levei cadeiras para o quarto e convidei-os para ali descansarem de seus afazeres, enquanto eu mesmo, na louca audácia de um triunfo perfeito, instalei minha própria cadeira exatamente no ponto sob o qual repousava o cadáver da vítima.
Os oficiais estavam satisfeitos. Meus modos os haviam convencido. Eu estava bastante à vontade. Sentaram-se e, enquanto eu respondia animado, falaram de coisas familiares. Mas, pouco depois, senti que empalidecia e desejei que se fossem. Minha cabeça doía e me parecia sentir um zumbido nos ouvidos; mas eles continuavam sentados e continuavam a falar. O zumbido ficou mais claro — continuava e ficava mais claro: falei com mais vivacidade para me livrar da sensação: mas ela continuou e se instalou — até que, afinal, descobri que o barulho não estava dentro de meus ouvidos.
Sem dúvida agora fiquei muito pálido; mas falei com mais fluência, e em voz mais alta. Mas o som crescia – e o que eu podia fazer? Era um som baixo, surdo, rápido — muito parecido com o som que faz um relógio quando envolto em algodão. Arfei em busca de ar, e os policiais ainda não o ouviam. Falei mais depressa, com mais intensidade, mas o barulho continuava a crescer. Levantei-me e discuti sobre ninharias, num tom alto e gesticulando com ênfase; mas o barulho continuava a crescer. Por que eles não podiam ir embora? Andei de um lado para outro a passos largos e pesados, como se me enfurecessem as observações dos homens, mas o barulho continuava a crescer. Ai meu Deus! O que eu poderia fazer? Espumei — vociferei — xinguei! Sacudi a cadeira na qual estivera sentado e arrastei-a pelas tábuas, mas o barulho abafava tudo e continuava a crescer. Ficou mais alto — mais alto — mais alto! E os homens ainda conversavam animadamente, e sorriam. Seria possível que não ouvissem? Deus Todo-Poderoso! — não, não? Eles ouviam! — eles suspeitavam! — eles sabiam! – Eles estavam zombando do meu horror! — Assim pensei e assim penso. Mas qualquer coisa seria melhor do que essa agonia! Qualquer coisa seria mais tolerável do que esse escárnio. Eu não poderia suportar por mais tempo aqueles sorrisos hipócritas! Senti que precisava gritar ou morrer! — e agora — de novo — ouça! mais alto! mais alto! mais alto! mais alto!
— Miseráveis! — berrei — Não disfarcem mais! Admito o que fiz! levantem as pranchas! — aqui, aqui! — são as batidas do horrendo coração!

sexta-feira, 30 de março de 2012

HUMOR










NA MEMÓRIA

O antropólogo, poeta e escritor Nunes Pereira (Moronguêtá, Baíra, Panorama da Alimentação Indígena, A Casa das Minas, etc.), meu dileto amigo, me confidenciou um poema popular do Maranhão que dialoga com a graça desta minha caricatura que recebi de um artista amigo.

Na tribo dos jurupicaris
Disse o tuxaua sacana a sua discípula pudica:
- Tenho verdadeira adoração por sua bunda...

Bunda paz e troféu.
Bunda que uma paixão me inunda
E se estou de chapéu, tiro o chapéu.

Bunda, eu terei de ti profundas queixas
Se não deixares a minha triste pomba
Desvirginar as suas rosais bochechas...

E o poema segue, só que eu não me lembro do resto...

quinta-feira, 29 de março de 2012

POEMA EM PROSA

VIVER

Estou aqui para contribuir, nada mais do que isso. Uma vida inteira de contribuição. Nunca pensei receber nada em troca, mas também nunca imaginei que nada mesmo receberia. Um velho amigo, o tempo, cochicha a máxima, com sua boca murcha e odor de mofo, perto do meu rosto, só para me consolar: - Vai o homem, mas a obra fica!E daí? Ela é eterna? Responde-me: Pensei: - consola-me saber que não sou o primeiro, mas não quero ser o último, a saber... O quê? - Que eu não sou o primeiro e sei que por último saberei que toda a minha contribuição de nada valeu. O trabalho de toda uma vida que jamais seria lembrado. Um vaticínio que em nada contribui com a verdade. Aqui estou. Nada mais que isso. Nada mais ouvi. Nenhuma contribuição. Nada vale. Vi m ver. Mor rir.

CRIANÇAS LENDO POESIA NA ESCOLA

O poeta mineiro Carlos Figueiredo começa o seu acalentado projeto nas escolas de Jundiaí e diz que depois irá levar os nossos poetas para todas as escolas do Brasil

http://www.youtube.com/watch?v=TBL2fXwjDJ8&feature=youtu.be

quarta-feira, 28 de março de 2012

Artigo de Cinema

Fábio com a atriz Maria Gladys CONVERSANDO COMIGO MESMO –
O FANTASMA DO CINEMA
Fábio Carvalho


Uma das mais célebres pesquisas surrealistas
começava com essa pergunta:
que esperança coloca no amor?
De minha parte respondi:
se amo, esperança total.
Se não amo, nenhuma.
Luis Buñuel
Após um intenso debate dentro de mim, concluí que o filme CINEMA NUNCA MAIS, agora no momento da sua finalização, amadureceu e se metamorfoseou em O FANTASMA DO CINEMA. O organismo vivo do filme a partir da mudança do nome se sentiu compreendido, e passou a funcionar saudavelmente com as veias e as artérias desentupidas. A câmera filma o pensamento. Quarta-feira, sete do três do doze, embarquei na rodoviária de BH, num ônibus da empresa Atual rumo a Juiz de Fora para me encontrar com o meu maestro Big Charles. Me sentia muito bem e tranqüilo naquela temporária nova vida de trinta e poucos dias me abstendo dos paraísos e dos infernos etílicos. Ainda melhor eu estava, para minha surpresa, por não ter que dispender nenhum esforço de contenção. Descobri que sou um alcoolista controlado. Já na partida cochilei. Assim eu estava na calçada parado, esperando não sei o que. Era uma rua do bairro Prado, onde passei minha infância e parte da adolescência. Dor passada não dói. A nostalgia sempre andou longe de mim. Vem se aproximando pela guia, em fila indiana, a Beth sua bela filha Luíza e a netinha.
Noto que a Luíza está chorando. Tento despistar, para elas não me verem e passarem direto, quando a Luíza me vê e a Beth me chama. Vamos caminhando juntos até uma van que estava parada algumas quadras adiante. Entramos na van e a Luíza continua chorando. Penso em perguntar o motivo das lágrimas, mas não pergunto. Também não pergunto aonde vamos. Peço para o motorista parar para eu descer em um lugar desconhecido. Desço com outras pessoas de quem não me lembro. Estamos num pátio interno de um edifício. Um urso preto enorme rosna perigosamente em nossa direção.
Subitamente ele pula o muro e reaparece atrás de uma grade, e a empurra contra nós completamente furioso e babando. Aparece o Toninho, chuta o urso que rola ladeira abaixo. Agora estou sozinho andando por ruas que me são familiares e ao mesmo tempo estranhas. Percebo vendo de baixo uma escadaria, que eu já tinha descido vindo da casa do Simão, estava na direção certa para onde eu não sabia. Do meu lado, depois da escadaria, vejo um prédio cercado por um muro baixo. Subo no muro com a intenção de pular para o outro lado. Lá em cima vejo que o outro lado é separado por um vão de três andares abaixo do térreo. Desequilibro e quase caio, me pergunto se ainda estou vivo, coisa que me é recorrente. A bruxa entra pela janela e em círculos trombando no lustre repetidas vezes. A gata elegantemente pula na mesa observando o vôo da bruxa. Pego a mãozinha de madeira de coçar as costas, e lhe acerto uma paulada. Destrambelhada a bruxa vai voando em zigue-zague até cair no telefone preto. Catherine Deneuve me diz o quanto meu ato foi absurdo e aproxima sua boca da minha. O mundo é cruel, a obra de arte é a nossa vingança. Desperto com o ônibus parando e descubro para meu desgosto total que ele pararia em todas as cidades no caminho até o meu destino. Era o famoso pega jeca. Não só o Rio de Janeiro a imensidão e o mar. A evasão do meu humor me propiciou bastante desconforto. Pneu furou ascenda o farol. Depois de ter certeza que era impossível, chequei na rodoviária de J.F. De lá eu iria encontrar com o Big no centro da cidade, algumas léguas dali, mas ele já estava me esperando na rodô. Compramos passagem para o Rio no dia seguinte ao meio dia. Pegamos um táxi em direção ao centro para comermos. O tempo fechou. Então decidimos ir direto para o Morro das Pedras Preciosas onde fica o extraordinário chalé do extraordinário Big, antes da chuva. O Big, carinhoso como sempre, tinha me preparado uma recepção calorosa, formada de uma garrafa de Grant’s, outra de Black&White e alguns acepipes, além de um banheiro reformado com toalhas limpas. Ele tinha certeza que eu esqueceria a escova de dentes, portanto comprou uma para mim. Infelizmente eu tinha levado a minha. Como se vê, tive que dar uma trégua para minha crise de abstemia. Nós já estávamos trabalhando na trilha sonora desde o inicio das filmagens que aconteceram em 2007. O Big vinha pensando em utilizar uma orquestra de câmara. O motivo de nosso encontro agora era fechar as idéias vendo o filme na sua montagem final e produzirmos as gravações. Vamos lembrar os dois mestres chamados Jean. O Godard disse: a ficção é o documentário do imaginário do autor. Enquanto o Rouch argumenta que a única maneira de fazer um documentário, é fazer um documentário sobre o fato de fazer um documentário. E ainda um terceiro Jean também mestre, o Renoir disse: o mundo de Stroheim existe como o de Cézanne ou o de Picasso. Seus cidadãos são perfeitamente reconhecíveis: têm sua linguagem, seus costumes. Ultrapassam a realidade. Pois bem, descemos a primeira garrafa até a metade e como já tinha escurecido estava na hora de vermos o filme. Embora eu estivesse bastante ansioso para resolvermos logo a logística desta missão impossível, antes do filme o Big falou que queria me mostrar uma “coisa”, e sacou mais um coelho de sua enorme cartola. Era uma peça em três movimentos registrada há dois meses por nosso amigo Zé Luís Good, composta e tocada ao piano pelo próprio Big. A magistral trilha sonora do filme já ali pronta e irretocável. Acho que caí para traz quando ouvi. Só acreditei porque não duvido dos ancestrais nem dos alquímicos futuristas. Vimos que era a do filme esta expectativa sonora, claro estava que aquela música nasceu para o filme. O tom exato. Os dedos curtos de não pianista expressando toda sua verve artística e criativa a la Thelonious, Glenn Gould e Hermeto. Era o cinema música. Atingimos o êxtase da trepanação lá no topo do mundo das Pedras preciosas. Derrubamos as duas garrafas em meio a dezenas de cigarros e eloqüentes discussões em torno dos planetas que nos habitam, tendo como única testemunha a cachorra Pirata. CELA S’APPELLE L’AURORE. Fomos voando para o Rio. Minha alma canta. Quero aqui acrescentar o escrito de outro mestre Roberto Rossellini: “De que serve liberar o cinema das pressões do dinheiro, se é para levá-lo às pressões do fantasma individual, à espera de que o fantasma se torne coletivo para trazer-lhes o sucesso?”

terça-feira, 27 de março de 2012

POESIA

AMAXON

Dois Poemas de José Vieira

Olhar

Os olhos não são tristes
Apenas vêem a tristeza de perto
Em sua forma e cor
Apenas com ela dançam
Com ela cantam
E por ela apaixonam
Se tornando tristes.

O Padre e a Puta

O Padre é um canalha!
A Puta é uma flor!
O Padre faz o verso!
A Puta faz amor!
O Padre amputa a gente!
A Puta leva a dor!
O Padre é um canalha !
A Puta é uma flor!

segunda-feira, 26 de março de 2012

ARTIGOS

REFLEXÕES DE FIDEL
Esta Reflexão poderá ser escrita hoje, amanhã ou qualquer outro dia sem risco de equívoco. Nossa espécie se defronta com problemas novos. Quando expressei há 20 anos, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, que uma espécie estava em perigo de extinção, tinha menos razões do que hoje para advertir sobre um perigo que via talvez à distância de 100 anos.
Então uns poucos líderes dos países mais poderosos dirigiam o mundo. Aplaudiram por mera cortesia minhas palavras e continuaram placidamente cavando a sepultura de nossa espécie.
Parecia que em nosso planeta reinava o senso comum e a ordem. Há tempos que o desenvolvimento econômico apoiado pela tecnologia e a ciência parecia ser o Alfa e o Ômega da sociedade humana.
Agora tudo está muito mais claro. Verdades profundas foram abrindo caminho. Quase 200 Estados, supostamente independentes, constituem a organização política à qual teoricamente corresponde a tarefa de reger os destinos do mundo.
Cerca de 25 mil armas nucleares em mãos de forças aliadas ou antagônicas dispostas a defender a ordem em mutação, por interesse ou por necessidade, reduzem virtualmente a zero os direitos de bilhões de pessoas.
Não cometerei a ingenuidade de atribuir à Rússia ou à China a responsabilidade pelo desenvolvimento desse tipo de armas, depois da monstruosa matança de Hiroshima e Nagasaki, ordenada por Truman, após a morte de Roosevelt.
Tampouco cairia no erro de negar o holocausto que significou a morte de milhões de crianças e adultos, homens e mulheres, principalmente judeus, ciganos, russos e de outras nacionalidades, que foram vítimas do nazismo. Por isso, repugna a política infame dos que negam ao povo palestino seu direito a existir.
Alguém pensa por acaso que os Estados Unidos serão capazes de atuarem com a independência que o preserve do desastre inevitável que os espera?
Em poucas semanas os US$ 40 milhões que o presidente Obama prometeu arrecadar para sua campanha eleitoral só servirão para demonstrar que a moeda de seu país está muito desvalorizada e que os Estados Unidos, con sua insólita e crescente dívida pública que se aproxima dos US$ 20 trilhões, vivem do dinheiro que imprimem e não do que produzem. O resto do mundo paga o que eles dilapidam.
Ninguém crê tampouco que o candidato democrata seja melhor ou pior que seus adversários republicanos: chame-se Mitt Romney ou Rick Santorum. Anos-luz separam os três de personagens tão relevantes como Abraham Lincoln ou Martin Luther King. É realmente inusitado observar uma nação tão poderosa tecnologicamente e um governo ao mesmo tempo tão órfão de ideias e valores morais.
O Irã não possui armas nucleares. Acusa-se o país de produzir urânio enriquecido que serve como combustível energético ou componente de uso médico. Queira-se ou não, sua posse ou produção não é equivalente à produção de armas nucleares. Dezenas de países utilizam o urânio enriquecido como fonte de energia, mas este não pode ser empregado na confecção de uma arma nuclear sem um processo prévio e complexo de purificação.
Contudo, Israel, que com a ajuda e a cooperação dos Estados Unidos fabricou o armamento nuclear sem informar nem prestar contas a ninguém, até hoje sem reconhecer a posse destas armas, dispõe de centenas delas. Para impedir o desenvolvimento das pesquisas em países árabes vizinhos, atacou e destruiu os reatores do Iraque e da Síria. E declarou o propósito de atacar e destruir os centros de produção de combustível nuclear do Irã.
Em torno desse crucial tema tem girado a política internacional nessa complexa e perigosa região do mundo, onde se produz e fornece a maior parte do combustível que move a economia mundial.
A eliminação seletiva dos cientistas mais eminentes do Irã, por parte de Israel e de seus aliados da Otan, se converteu em uma prática que estimula os ódios e os sentimentos de vingança.
O governo de Israel declarou abertamente seu propósito de atacar a usina produtora de urânio enriquecido no Irã, e o governo dos Estados Unidos investiu centenas de milhões de dólares na fabricação de uma bomba com esse propósito.
Em 16 de março de 2012 Michel Chossudovsky e Finian Cunningham publicaram um artigo revelando que "um importante general da Força Aérea dos EUA descreveu a maior bomba convencional – a antibunkers de 13,6 toneladas – como ‘grandiosa’ para um ataque militar contra o Irã".
"Um comentário tão loquaz sobre um artefato assassino em massa teve lugar na mesma semana na qual o presidente Barack Obama se apresentou para advertir contra a ‘fala leviana’ sobre uma guerra no Golfo Pérsico."
"…Herbert Carlisle, vice-chefe do Estado Maior para operações da Força Aérea dos EUA. [...] agregou que provavelmente a bomba seria utilizada em qualquer ataque contra o Irã ordenado por Washington."
"O MOP, ao qual também se referem como ‘a mãe de todas as bombas’, está projetado para perfurar através de 60 metros de concreto antes de detonar sua bomba. Acredita-se que é a maior arma convencional, não nuclear, no arsenal estadunidense."
"O Pentágono planifica um processo de ampla destruição da infraestrutura do Irã e massivas vítimas civis mediante o uso combinado de bombas nucleares táticas e monstruosas bombas convencionais com nuvens em forma de cogumelo, incluídas a MOAB e a maior GBU-57A/B ou Massive Ordenance Penetrator (MOP), que excede a MOAB em capacidade de destruição."
"A MOP é descrita como ‘uma poderosa nova bomba que aponta diretamente para as instalações nucleares subterrâneas do Irã e Coreia do Norte. A imensa bomba – maior do que que 11 pessoas colocadas ombro a ombro, ou mais de 6 metros desde a base até a ponta."
Peço ao leitor que me desculpe por esta complicada linguagem do jargão militar.
Como se pode verificar, tais cálculos partem do pressuposto de que os combatentes iranianos, que totalizam milhões de homens e mulheres conhecidos por seu fervor religioso e suas tradições de luta, se renderão sem disparar um só tiro.
Em dias recentes os iranianos viram como os soldados dos Estados Unidos que ocupam o Afeganistão, em apenas três semanas, urinaram sobre os cadáveres de afegãos assassinados, queimaram os livros do Corão e assassinaram mais de 15 cidadãos indefesos.
Imaginemos as forças dos Estados Unidos lançando monstruosas bombas sobre instituições industriais capazes de penetrar 60 metros de concreto. Jamais semelhante aventura tinha sido concebida.
Não é preciso uma palavra mais para compreender a gravidade de semelhante política. Por esse caminho nossa espécie será conduzida inexoravelmente para o desastre. Se não aprendemos a compreender, não aprenderemos jamais a sobreviver.
De minha parte, não abrigo a menor dúvida de que os Estados Unidos estão a ponto de cometer e conduzir o mundo ao maior erro de sua história.

Fidel Castro Ruz
21 de março de 2012
19h35

domingo, 25 de março de 2012

INESQUECÍVEL ERICSON PIRES

"O movimento é a afirmação do corpo em toda sua carga de corporeidade. É no corpo que os trabalhos de arte e os fluxos de invenção poéticas são transubstancializados em ação afirmativa de criação e diferença. É nesse corpobra que a resistência é afirmada como única necessidade. Essa resitência que - acima de qualquer coisa - é a insistÊncia da afirmação da vida."
(Ericson Pires, Cidade Ocupada - 2007)

..."Nossa extensão máxima se resume em no mínimo tocar o outro, ser tocado pelo outro, outro toque do outro, outro dentro do outro, um dentro do outro, todos dentro dos outros, uma imensa infinidade de outros... somos sempre nós. Os nós não se desatam facilmente."
(Cinema de Garganta-Ericson Pires)

Para conhecer mais sobre Ericson Pires


http://oglobo.globo.com/cultura/morre-aos-40-anos-poeta-ericson-pires-4339434






sábado, 24 de março de 2012

ERICSON PIRES VIVE!

QUE SE REVIVA O ARTISTA BRASILEIRO!
Outro dia tive a triste notícia do falecimento do intrépido Ericson Pires.
Ele era amigo do meu filho, mas muito querido por todos que o conheciam.
Eu conheci esta personagem interessantíssima na noite carioca e, em algumas outras poucas vezes, na casa dos amigos comuns. Um rapaz forte, atleta, mas sensível as mais profundas manifestações da arte do conhecimento.
Professor, escritor e poeta, ele vivia, antes de adoecer, um grande momento criativo, dedicava-se a música, a seus amigos e doava toda aquela energia vulcânica, toda a luz de sua inteligência vanguardista, ao experimental, ao novo, ao que ainda estava para nascer.
Foi então convidado pelo Daniel Castanheira "O Carioca", Nana Carneiro da Cunha, Ava Rocha e meu filho Emiliano 7, para dirigir o espetáculo musical AVA Diúrno. Estava completamente ambientado com esse novo desafio e já, com suas idéias anárquicas, (pelo que eu ouvi falar) esboçada em sua direção, apresentava a mise-em- scène revolucionária que viria a seguir. Seria a glória, talvez, se fosse esse espetáculo tudo o que ele queria realizar, mas não, pela idade e o seu vigor intelectual ele queria e tinha bagagem para muito mais oferecer a cultura de seu país.
Um dia passou mal e foi internado em estado grave. Como a vida é cruel com os jovens, pois ele amava a vida, mas a vida não lhe deu crédito, o vulcão adormeceu, os ensaios pararam, a saudade apertou.
Gostaria muito de ter conhecido com ele vivo toda a sua obra, suas poesias, seus escritos, pois o admirava, mas o nosso tempo foi curto.
Fiquei então agradavelmente surpreso quando recebi do meu filho Emiliano esse vídeo que mostra um pouco do muito que esse artista foi e poderia ter sido para a sua geração. Pra mim Ericson não morreu...Viva Ericson! Viva o jovem poeta! Viva o artista brasileiro! Que viva a sua história, que nunca deixará de ser lembrada e contada por quem o amou e o conheceu.


CONVITE em memória



JUIZ DE FORA - IMPERDÍVEL!



CONVITE ESPECIAL
Lançamento do livro

GERALDO SANTANA – Sonho, Música e Realidade
28 de março de 2012
Quarta-feira, às 20:00 horas
Museu do Crédito Real
Av. Getúlio Vargas, 455 – 3º andar “Salão Multimeios”

Conto com a sua honrosa presença.
Até lá.
Autor: Wanderley Luiz de Oliveira


QUE PENA! SÓ HOJE FUI INFORMADO DA MORTE DO AMIGO DA RUA HALFELD. NÃO SEI AINDA O QUE FALAR...


sexta-feira, 23 de março de 2012

ESSE FILME PODE E DEVE CAUSAR POLÊMICA

ESTRÉIA NACIONAL NO FESTIVAL TUDO É VERDADE MR SGANZERLA - OS SIGNOS DA LUZ

"Filme-ensaio que recria o ideário do cineasta Rogério Sganzerla por meio dos signos recorrentes em sua obra: Orson Welles, Noel Rosa, Jimi Hendrix e Oswald de Andrade, que são consideradas as matrizes de seu pensamento. O método de criação, a musicalidade do olhar, o estilo inovador na montagem, o duo com a atriz e companheira Helena Ignez que revolucionou a "mise en scène" no cinema, a parceria com Júlio Bressane na produtora Belair e a atitude iconoclasta do autor atravessam o filme numa linguagem que se contamina com a dicção vertiginosa do artista. Narrado em primeira pessoa, a partir de imagens raras e situações encenadas hoje com personagens-chave de sua filmografia"

Direção: JOEL PIZZINI Fotografia: LUÍS ABRAMO Camera: LUÍS ABRAMO, EDUARDO DUWE, ALEXANDRE CONTADOR, ANDRÉ GUERREIRO LOPES Som Direto: ALEXANDRE CONTADOR E HELDER D2 Montagem: CLÁUDIO TAMMELA, FELIPE DAVID RODRIGUES Musica: LÍVIO TRAGTENBERG Editor de Som: DAMIÃO LOPES Assitencia de Direção: MARIA FLOR BRAZIL Produção: SARA ROCHA, MARIA FLOR BRAZIL Produção Executiva: SARA ROCHA Companhia Produtora: PÓLOFILMES

Pergunta que não quer calar:
- Vocês acham que se o Rogério estivesse vivo gostaria de se ver nas telas com o corpo do comediante Zé Bonitinho?


quinta-feira, 22 de março de 2012



PROJETO RELEITURAS.COM

Queixa de defunto
Lima Barreto

Antônio da Conceição, natural desta cidade, residente que foi em vida, a Boca do Mato, no Méier, onde acaba de morrer, por meios que não posso tornar público, mandou-me a carta abaixo que é endereçada ao prefeito. Ei-la:

Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Doutor Prefeito do Distrito Federal. Sou um pobre homem que em vida nunca deu trabalho às autoridades públicas nem a elas fez reclamação alguma. Nunca exerci ou pretendi exercer isso que se chama os direitos sagrados de cidadão. Nasci, vivi e morri modestamente, julgando sempre que o meu único dever era ser lustrador de móveis e admitir que os outros os tivessem para eu lustrar e eu não.

Não fui republicano, não fui florianista, não fui custodista, não fui hermista, não me meti em greves, nem em cousa alguma de reivindicações e revoltas; mas morri na santa paz do Senhor quase sem pecados e sem agonia.

Toda a minha vida de privações e necessidades era guiada pela esperança de gozar depois de minha morte um sossego, uma calma de vida que não sou capaz de descrever, mas que pressenti pelo pensa mento, graças à doutrinação das seções católicas dos jornais.

Nunca fui ao espiritismo, nunca fui aos “bíblias”, nem a feiticeiros, e apesar de ter tido um filho que penou dez anos nas mãos dos médicos, nunca procurei macumbeiros nem médiuns.

Vivi uma vida santa e obedecendo às prédicas do Padre André do Santuário do Sagrado Coração de Maria, em Todos os Santos, conquanto as não entendesse bem por serem pronunciadas com toda eloqüência em galego ou vasconço.

Segui--as, porém, com todo o rigor e humildade, e esperava gozar da mais dúlcida paz depois de minha morte. Morri afinal um dia destes. Não descrevo as cerimônias porque são muito conhecidas e os meus parentes e amigos deixaram-me sinceramente porque eu não deixava dinheiro algum. E bom, meu caro Senhor Doutor Prefeito, viver na pobreza, mas muito melhor é morrer nela. Não se levam para a cova maldições dos parentes e amigos deserdados; só carregamos lamentações e bênçãos daqueles a quem não pagamos mais a casa.

Foi o que aconteceu comigo e estava certo de ir direitinho para o Céu, quando, por culpa do Senhor e da Repartição que o Senhor dirige, tive que ir para o inferno penar alguns anos ainda.

Embora a pena seja leve, eu me amolei, por não ter contribuído para ela de forma alguma. A culpa é da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro que não cumpre os seus deveres, calçando convenientemente as ruas. Vamos ver por quê. Tendo sido enterrado no cemitério de Inhaúma e vindo o meu enterro do Méier, o coche e o acompanha mento tiveram que atravessar em toda a extensão a Rua José Bonifácio, em Todos os Santos.

Esta rua foi calçada há perto de cinqüenta anos a macadame e nunca mais foi o seu calçamento substituído. Há caldeirões de todas as profundidades e larguras, por ela afora. Dessa forma, um pobre defunto que vai dentro do caixão em cima de um coche que por ela rola sofre o diabo. De uma feita um até, após um trambolhão do carro mortuário, saltou do esquife, vivinho da silva, tendo ressuscitado com o susto.

Comigo não aconteceu isso, mas o balanço violento do coche machucou-me muito e cheguei diante de São Pedro cheio de arranha duras pelo corpo. O bom do velho santo interpelou-me logo:

— Que diabo é isto? Você está todo machucado! Tinham-me dito que você era bem-comportado — como é então que você arranjou isso? Brigou depois de morto?

Expliquei-lhe, mas não me quis atender e mandou que me fosse purificar um pouco no inferno.

Está aí como, meu caro Senhor Doutor Prefeito, ainda estou penando por sua culpa, embora tenha tido vida a mais santa possível. Sou, etc., etc. Posso garantir a fidelidade da cópia a aguardar com paciência as providências da municipalidade.

Sobre o autor:
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 1881 e aqui morreu em 1922. Estudou engenharia, mas interrompeu o curso e foi ser funcionário da secretaria do Ministério da Guerra. Dedicou-se, desde o tempo de estudante, às letras. Escreveu nas principais revistas de sua época, como "Fon-Fon", "Careta", "O Malho", "Brás Cubas" e muitas outras. Grande parte de sua notável obra literária foi de cunho satírico e humorístico, servindo de exemplo "Os Bruzundangas" e "Triste Fim de Policarpo Quaresma". Merecem também destaques seus romances "Recordações do Escrivão Isaias Caminha", "Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá" e "Clara dos Anjos". Deixou muitos contos, além dos constantes de seu livro "Histórias e Sonhos".

Publicado na revista "Careta" - Rio de Janeiro, edição de 20/03/1920.


O texto acima foi extraído do livro “As cem melhores crônicas brasileiras”, Organização e Introdução de Joaquim Ferreira dos Santos, Editora Objetiva – Rio de Janeiro (RJ), pág. 34/35. Foi também publicado na “Coleção Melhores Crônicas”, direção de Edla vaan Steen, Editora Global – São Paulo – 2005, pág. 45/48.

quarta-feira, 21 de março de 2012

ESTOU LENDO ESSE LIVRO

Pequeno Manifesto

“Só uma pequena manifestação da arte regional, pode ser, em todo complexo criativo, universal”.

Uma dos atos mais importantes na transformação da miséria cultural em que vivem os pequenos municípios brasileiros eu vivenciei na cidade mineira de Juiz de Fora. Com algumas falhas de políticos inescrupulosos e de governantes incapazes de uma boa gestão no trato da coisa publica, a Lei Municipal de Incentivo a Cultura Murilo Mendes passou e é um importante feito na luta em defesa da criação e da consolidação das pequenas manifestações culturais dos muitos artistas que vivem nas pequenas cidades do país. Vejo nesta iniciativa política um imprescindível aprimoramento da liberdade criativa e educacional do estado democrático brasileiro.
Todas as pequenas cidades deveriam ter a sua lei municipal de incentivo a cultura regional de acordo com as possibilidades de sua arrecadação tributária.

A Lei está no site da Prefeitura de Juiz de Fora

Em 27 de agosto de 1994, a Câmara Municipal de Juiz de Fora criou a Lei nº 8525/94 – Programa Cultural Murilo Mendes, conhecida como Lei Murilo Mendes, em homenagem ao poeta juizforano. O projeto de lei foi proposto pelo ex-vereador Vanderlei Tomaz em 1993 e passou por intensa discussão. O objetivo foi o de estabelecer que o poder público destine recursos a projetos de artistas e produtores culturais da cidade. Através da lei, que entrou em vigor no ano de 1995, com gerenciamento da Funalfa, criou-se também o FUMIC - Fundo Municipal de Incentivo à Cultura, através do qual a Prefeitura disponibilizou uma verba inicial de R$100.456,34 para apoio à classe artística. Na primeira edição foram inscritos 75 projetos e 37 foram aprovados. Também foi prevista na legislação a formação da COMIC – Comissão Municipal de Incentivo à Cultura, que analisa as propostas apresentadas. Hoje, os recursos destinados à Lei ultrapassam um milhão de reais. O número de artistas que, anualmente, pleiteia os recursos da Lei, também aumentou consideravelmente, aproximadamente 300. O aperfeiçoamento da legislação tem sido uma característica do programa de incentivo. Nos últimos anos, a classe artística sugeriu alterações no decreto e no edital, muitas delas incorporadas pela Funalfa. Outro aspecto relevante desencadeado pela Lei Murilo Mendes é a repercussão que diversos projetos alcançaram ao conquistar prêmios no Brasil e no exterior, projetando o nome de Juiz de Fora. O investimento que o município faz na criatividade e no talento de nossos artistas rende bons frutos e reafirma a intensa e histórica tradição cultural da cidade. Inúmeros projetos foram premiados, especialmente na literatura e nas artes visuais.


A importância desta Lei Municipal é que ela incentiva o artista-independente que vive no município, viabilizando a produção dos seus projetos culturais sem maiores burocracias.
Depois de prontos, finalizados, as obras serão distribuídas, pela Fundação de Cultura do Município e pela Secretaria de Educação, nas escolas, nas universidades, centros de estudos, bibliotecas, etc. Pelo resto que cabe a cada artista (50% da obra) ele, se quiser, é ajudado a distribuí-las e a promovê-las por todo o Brasil e muitas vezes até no exterior.

Assim os músicos, poetas, atores, diretores, pintores, escritores, cineastas e dramaturgos das pequenas cidades, podem exercitar os seus trabalhos de arte. Mesmo dispondo desta pequena dignidade financeira, o bom artista sobrevive e os resultados da sua criação, às vezes, são grandes e surpreendentes.
Realizei, enquanto morei na cidade, através do apoio de verbas disponibilizadas pela Lei Murilo Mendes, quatro filmes: O Rei do Samba, Labirinto de Pedra, Janela do Caos e VerTigem. Fotografei na cidade outros tantos filmes, financiados pela Lei. Ouvi CDs de músicas, assisti espetáculos de teatro e li alguns livros financiados também pela Lei. Presenciei debates e vi florescer na juventude desta e de outras cidades a vontade de conhecer e de saber tudo sobre aquilo que ali estava sendo produzido.

A partir da Lei surgiram mostras e festivais de todos os gêneros na cidade, vindos a fortalecer na pratica o reconhecimento à criação artística dos seus bons artesãos. Produções de boa arte com muito pouco dinheiro e a cidade se movimentou, cresceu em seu saber, sendo hoje, depois de 18 anos de existência, referência de estudo e de cultura em todo o país.
Já que estamos à véspera do pleito municipal, é sempre bom lembrar, aos candidatos a prefeito e vereadores da cidade, que o fortalecimento e a valorização do conhecimento e do saber no seu município deve ser o ponto prioritário no programa de governo do candidato e que deverá, nos próximos meses, ser exposto aos eleitores e estes, por sua vez, deverão repudiar candidatos que não tragam cunhadas em suas promessas de campanha as quatro palavras que nortearão o futuro do homem brasileiro: liberdade, tecnologia, educação e cultura.

domingo, 18 de março de 2012

O Cinema por Sérvulo Siqueira

Queridos amigos,

Gostaria de convidá-los a conhecer a nova programação visual do site

www.guesaaudiovisual.com

e o site

www.servulosiqueira.com

que acaba de ser montado.

Todos os comentários, críticas e sugestões serão bem-vindos.

Um grande abraço do
Sérvulo

As Piramides

Eis aqui um emeio recebido do meu amigo Paulo Laender.

Lavorate con il mouse per avvicinare e per ingrandire.
Da vedere con calma!
Salite sulla sommità di una piramide e girate a 360 °....Magnifico !!!
Cliccate qui :
http://www.airpano.ru/files/Egypt-Cairo-Pyramids/start_e.html

sábado, 17 de março de 2012

Memória

Marx e Engels

Há 129 anos, Marx está mais próximo que nunca
Escrito por Bianka de Jesus

Em 14 de março de 1883 faleceu Carlos Marx, filósofo e economista alemão, cuja obra e influência transcendem até hoje, como previu ante sua tumba Federico Engels, fiel amigo e cofundador do socialismo e do comunismo científicos. Vítima há meses de uma doença pulmonar, sua morte ocorreu em Londres, serenamente como se estivesse dormindo, e foi enterrado em 17 de março junto a sua esposa Jenny, falecida de câncer em 2 de dezembro de 1881.
Marx nasceu em 5 de maio de 1818 em Tréveris (cidade da Prússia renana); estudou nas universidades de Bonn e Berlin, Direito, História e Filosofia; escreveu em vários meios de imprensa, e submeteu sua análise e crítica às ideias filosóficas, econômicas e políticas precedentes.
Sua concepção materialista e dialética, quanto à filosofia e a sociedade, levam-no a fundar junto a Federico Engels (1820-1895) uma nova doutrina ideológica.
Marx era, antes de mais nada e, sobretudo, afirmou Engels, um revolucionário; o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo...e morre venerado, amado, chorado por milhões de operários semeados por toda a órbita, desde as minas da Sibéria até a ponta da Califórnia.
E bem posso dizer com orgulho -asseverou- que, se teve muitos adversários, não conheceu seguramente um só inimigo pessoal.
Assim continua até nossos dias tudo o referente a Carlos Marx, venerado por milhões e repudiado por outros que tratam de minimizar seu prestígio para além dos tempos e da lógica.
Sua vida esteve intimamente unida ao movimento operário e à criação da doutrina denominada marxista, a que mais prevaleceu desde então, incluídas suas variantes, não só no proletariado, senão entre as forças de esquerda e socialistas em geral.
Uma boa parte de seus esforços dedicou-os à ciência econômica e a demonstração de sua descoberta a respeito da mais-valia.
É autor de numerosas obras, algumas em colaboração com Engels, como A sagrada família, A ideologia alemã e o Manifesto Comunista.
Entre as mais notáveis suas estão, Contribuição à crítica da economia política (1859) e O Capital (tomo I, 1867); outros textos neste campo foram publicados postumamente.
Marx e Engels fundaram sua amizade em 1844, em Paris, onde residia o primeiro, e depois de afiliar-se à sociedade secreta Liga dos Comunistas e assistir a seu II Congresso (1847), redigiram a petição do agrupamento o Manifesto (1848), sem dúvida um importante documento.
"Um fantasma percorre a Europa: o fantasma do comunismo. Todas as forças da velha Europa se uniram em santa cruzada para acossar a esse fantasma...", começa o texto e termina com a exortação "Proletários de todos os países, uni-vos!"
Foi também o mentor da Associação Internacional dos Trabalhadores (1864-1872), a I Internacional, criada em Londres em 28 de setembro de 1864; escreveu seu primeiro Manifesto e diversos acordos, declarações e apelos.
Suas maiores contribuições radicaram no campo teórico, segundo expressou Engels ante sua tumba.
Bem como Darwin descobriu a lei da evolução da natureza orgânica, Marx, a lei pela qual se rege o processo da natureza humana e a especial que preside a dinâmica do regime capitalista de produção e da sociedade burguesa engendrada por ele (a lei da mais-valia).
A primeira explica-a Engels com palavras singelas: até ele aparecia soterrado baixo uma fumaça ideológica que o homem precisa acima de tudo, comer, beber, ter onde habitar e com que se vestir, antes de dedicar à política, à ciência, à arte, à religião.
Ou, seja, a produção dos meios materiais e imediatos de vida, o grau de progresso econômico da cada povo ou da cada época -destaca-, é a base sobre a que depois se desenvolvem as instituições do Estado, as concepções jurídicas, a arte e inclusive as ideias religiosas das pessoas desse povo ou dessa época.
À luz de seu método, denominado materialismo histórico, escreveu três obras com respeito à história francesa: As lutas de classes na França de 1848 a 1850, O 18 Brumário de Luis Bonaparte e A guerra civil na França (1870-1871).
Não obstante o desaparecimento da União Soviética e do chamado Campo Socialista no final do passado século, milhões de pessoas estão convencidas que "um fantasma percorre o Mundo: o fantasma de Carlos Marx", parafraseando o Manifesto Comunista.

sexta-feira, 16 de março de 2012

POESIA





GRITO


O grito vadio me invade as orelhas, a ordem de morte foi dada!
Em cada detalhe no fino corte da carne tenra a dor é muda e o prazer aos berros estremece a alma a fazendo calar. No interior de meu sorriso bambo a língua torta bamboleia o sangue, bamboleia o rio que transborda espesso.
Quero morar no limbo de tua aurora eterna, cavalgar no pêlo do teu ventre alado, e se preciso for morrerei mil vezes
sob o sopro forte da trombeta alarma no desespero amor.
Vou chorar sem medo e dormir profundo o sono oriundo dessa solidão, e não se assuste nunca se eu for embora, pois a vida agora encontrou seu fim.

José Vieira
março 2012

quinta-feira, 15 de março de 2012

Dia da Poesia 14/março

Dois poemas de José Vieira

No dia da poesia

Seria capaz de reservar por
ininterruptas horas minha
atenção ao seio esquerdo
fixado sobre o coração da
mulher poesia, pois o
particionamento corpóreo
em unidades autônomas
de prazer me é interessante.

Haicai

Laico Latejo
lacto latejo
lato latejo
solto latejo
torto e desembocado
no caminho louco
até sua biboca

quarta-feira, 14 de março de 2012

NOTÍCIAS

“O FIM DO CINEMA COMO EU CONHECI”
Extinção de cópias em 35 mm leva governo e donos de cinemas a corrida para digitalizar as salas no Brasil
Os créditos finais devem rolar em breve para a película de 35 mm no Brasil.Criada pela Kodak no final do século 19, a tecnologia definha nos cinemas mundo afora, assim como a empresa que a fabricou. Após patinar por quase dois anos, a troca em massa dos projetores de 35 mm por equipamentos digitais deve enfim avançar nas salas de cinema brasileiras.Já aprovado por deputados, um projeto de lei chega ao Senado para desonerar projetores digitais em até 30% e incentivar a construção de cinemas no interior. A previsão, ontem de manhã, era que fosse votado hoje -na quinta, perde a validade.Na prática, o texto implementa o Cinema Perto de Você, lançado com pompa pelo então presidente Lula em 2010. Para cidades de 20 mil a 100 mil habitantes, é visto como luz no fim do túnel para o escurinho do cinema.Em 1975, 80% das salas estavam no interior. Hoje são 50%, e muito disso se deve aos multiplex nas capitais. Se aprovado, o programa disponibilizará ao setor R$ 500 milhões para investimentos e empréstimos. Também concederá isenção de tributos federais e incentivos para a construção de salas Brasil adentro. De olho no cenário, 16 empresas, donas de quase mil salas de cinema no país (42% do total), formaram um grupo em janeiro para negociar a digitalização coletiva.O grupo decidiu pelo modelo VPF (taxa de cópia virtual; leia mais abaixo), dominante nos EUA. Em vez de gastarem quase R$ 2.500 por cópia em película, estúdios e distribuidores pagam às salas de cinema metade desse valor por cada filme digital.Parte dos recursos sairá do bolso deles, que querem menos gastos com cópias e mais segurança contra a pirataria.O Brasil conta hoje com 2.377 salas de cinema, segundo estimativas do Filme B, portal que monitora o mercado. Do total, 514 salas já têm projetores digitais.A digitalização deve chegar até 2014 às mil pertencentes às empresas. A troca do restante deve ocorrer em seguida, gradativamente.Há uma corrida contra o tempo nesse processo porque, segundo previsões, a película estará praticamente extinta no mundo em 2015. Dois fatos corroboram as previsões: o pedido de concordata da Kodak e a afirmação da associação dos donos de cinema dos EUA de que a película deve sumir do país em 2013.
MATHEUS MAGENTA
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER

terça-feira, 13 de março de 2012

FRAGMENTOS DO CAPITAL

“ A pátria do capital não é o clima tropical com sua vegetação exuberante, mas a zona temperada.”
“ O dinheiro é a forma transfigurada da mercadoria na qual seu valor-de-uso particular desaparece”
“A natureza não produz de um lado possuidores de dinheiro ou de mercadorias, e, de outro meros possuidores das próprias forças de trabalho. Essa relação não tem origem na natureza, nem é mesmo uma relação social que fosse comum a todos os períodos históricos. Ela é evidentemente o resultado De um desenvolvimento histórico anterior, o produto de muitas revoluções econômicas, do desaparecimento de toda uma série de antigas formações da produção social.”
“Essa paixão inextinguível pelo lucro e a maldita cobiça caracterizará sempre o modo de pensar capitalista.”
“Assim desenvolve-se no coração do capitalista um conflito fáustico entre o impulso de acumular e o de gozar a vida”

Karl Marx

domingo, 11 de março de 2012

ATENÇÃO

Confiram e divulguem o vídeo de resposta a Sky produzido pelo CARTA CARIOCA
e DCE VLADIMIR HERZOG

O CBC / Congresso Brasileiro de Cinema, os produtores independentes, a
cultura e o povo brasileiro parabenizam e agradecem ao Carta Carioca e ao
DCE Vladimir Herzog por esta iniciativa que responde mentirosa e caluniosa
campanha promovida pela SKY e apresenta a VERDADE SOBRE OS EFEITOS CAUSADOS
PELA LEI 12.485.

Confira o vídeo. E depois compartilhe em seus grupos e divulgue aos seus
amigos.

http://www.youtube.com/watch?v=C3lVoDZp9a0&feature=youtu.be

E se você ainda não assinou o MANIFESTO DO CBC AO POVO BRASILEIRO EM
REPÚDIO A SKY, ASSINE AGORA:

http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2012N21427

DIGA SIM AO AUDIOVISUAL E A CULTURA BRASILEIRA!

*João Baptista Pimentel Neto*
Presidente do CBC Congresso Brasileiro de Cinema

sábado, 10 de março de 2012

LOUCURA POUCA É BOBAGEM

O SOL ESTÁ REVOLTO E ESPALHA SUAS PARTÍCULAS PELO ESPAÇO E A TERRA ESTA DESPROTEGIDA DO SEU ESCUDO NATURAL ... O QUE PODE ACONTECER EM SEGUIDA

sexta-feira, 9 de março de 2012

Memória de Cinema

Foto de cena do Filme de Jose Sette sobre o mesmo tema. O filme 100% brasileiro

A Idéia Original
Blaise Cendrars

Apresentação

Mon cher Paul,
Você encontrará, anexo, o projeto do grande filme de propaganda de que tanto falamos. Creio que a redação das minhas sugestões está bastante completa. Peço-lhe a gentileza de ler este projeto com muita atenção e ficarei bastante grato se você me der sua opinião e me fizer todas as suas observações. Aguardo sua orientação antes de dar prosseguimento a esse negócio. Oswald está por demais impaciente.
Trabalho na minha conferência do dia 12 [sobre a pintura contemporânea, que daria no Conservatório Dramático e Musical]. Foi o Oswald que pegou a coisa na mão e dela se ocupa. Ele é muito gentil.
Toda essa bateção de máquina me ocupa o dia todo me impedindo de achar o tempo demasiado longo durante a sua ausência.
Enfim o frio anunciado chegou e você de novo tem razão: um sobretudo pesado não é demais.
Minhas melhores lembranças à d. Marinette, a você
minha mão amiga
BC

O Roteiro
Nunca seria demais destacar a importância do Roteiro. Dele decorre todo o interesse de um filme. Depois das filmagens, da realização técnica, é o ponto crucial do filme.
O Tema de um roteiro para um filme de Propaganda do Brasil deve ser procurado na História do país, e mais na história ligeiramente lendária que na precisão dos fatos. A história ligeiramente lendária atinge diretamente as mais amplas camadas sociais e humanas; ela põe em relevo o que há de Universal na história nacional: as Personagens Heróicas.
Inútil insistir sobre as razões históricas que nos levam a procurar o tema de um Filme de Propaganda do Brasil na História Paulista que se confunde tão freqüentemente com a História Nacional. Uma página dessa história paulista nos fornecerá o elemento lendário e o elemento heróico necessários: é a Época das Bandeiras.
Estas considerações e os conselhos de alguns amigos brasileiros, notadamente do dr. Paulo Prado, nos fizeram escolher como ponto de partida para o roteiro A história da Capitania de São Paulo4, do dr. Washington Luís, e mais particularmente os capítulos IV e V, que tratam tão magistralmente da história e das aventuras dos Irmãos Lemes.
Aí temos matéria para um belíssimo filme dramático.
É em suma a história da última bandeira. A luta entre o poder da metrópole e o sentimento da liberdade nascente, da independência, da nacionalidade. O espírito de conquista e as aventuras dos Irmãos Lemes conduzem-nos para o interior do país. Florestas virgens, rios* gigantescos, lutas com os Índios, natureza hostil, animais selvagens, mamalucos*, escravos negros, cinematograficamente falando, são elementos extraordinários. Os caracteres das personagens são heróicos e bem definidos. Mas será necessário acrescentar em função das necessidades dramáticas do filme algumas personagens femininas, em torno das quais a intriga se estabelece e os interesses, as motivações de todos gravitam5.
Mas o aspecto Propaganda Moderna não deve ser perdido de vista. É por isso que o roteiro deve conter uma ação nos Tempos Modernos. E esta ação será, em suma, o prolongamento nos tempos modernos da história dos Irmãos Lemes e mostrará a Persistência do espírito de conquista e de empreendimento (as grandes culturas, o café, o algodão), a persistência do espírito de liberdade (declaração da Independência), a persistência da vontade e da vitalidade da raça (formação da nacionalidade, abolição da escravatura, absorção dos imigrantes). Esta segunda parte do filme deve ser igualmente tratada de forma Romanesca.
Concebido desta maneira, o roteiro adquire um interesse particular, pois contém Duas Ações Dramáticas que se passam em Duas Épocas Diferentes da história e mostram o país sob Dois Aspectos, em dois momentos típicos da sua Evolução. Assim será possível perceber todos os recursos que uma tal concepção oferece para a Propaganda Geral do País e todas as vantagens que o diretor pode também tirar de uma dupla intriga que lhe permite Valorizar as coisas de uma maneira nova, seja por Contrastes Bruscos, seja pela Simultaneidade Rápida, procedimentos que estimulam bastante a imaginação das massas.
Cinematograficamente falando, esta dupla ação pode ser conduzida seja Sucessivamente, seja Paralelamente, seja Simultaneamente.
Redação do Roteiro. Procede-se à redação do roteiro da seguinte maneira: uma vez aceita a História dos Irmãos Lemes, faz-se uma redação Sinóptica do roteiro. Esta sinopse é dividida em tantas Partes quantas terá o filme, geralmente três grandes partes ou quatro pequenas. Como o tema do presente filme comporta duas grandes divisões, uma ação no passado e outra no presente, é preferível adotar a fórmula em quatro partes e subdividir cada ação em dois momentos principais. A sinopse delineia sucintamente o conjunto do tema, desenha em traços largos as principais personagens, fixa a sua psicologia, desenvolve sua ação, define a sua situação no filme. Ela indica igualmente um número aproximado de personagens de segundo plano. E situa em cada subdivisão um ou dois momentos mais particularmente dramáticos e em cada parte uma cena patética. Ela prevê também os dois, três efeitos indispensáveis e as grandes cenas sensacionais.
Este primeiro trabalho será feito pelo dr. Oswald de Andrade. Será então submetido ao Autor e ao Diretor, que o discutirão, e somente quando estiverem de acordo sobre o conjunto, as coordenadas e o desenvolvimento da história, é que o Autor, o dr. Washington Luís, passará à redação Romanceada do Roteiro.
O Autor se cerca de todos os colaboradores e de toda a documentação necessária. Ele não deve perder de vista que o Diálogo não existe no cinema e que todos os problemas e todas as situações dramáticas devem ser resolvidos ou desenredados Visualmente. Nunca será demais insistir sobre esta questão da Visualidade, ela é própria do cinema e é por ela que o cinema se torna uma Arte. O diretor aliás figura entre os colaboradores mais próximos do Autor e lá está para fazer-lhe sugestões úteis e informá-lo sobre as possibilidades novas de sua arte. O Autor deve encaixar sua história no quadro geral, nas subdivisões adotadas, fornecer toda a documentação necessária sobre as armas, os figurinos, os costumes etc., dar informações sobre os Interiores nos quais as diferentes ações se desenvolvem (casas históricas, igrejas, palácios etc.) e dar sugestões úteis para os Exteriores (lugares, rios, florestas, lagos, grutas etc.).
No momento do lançamento do filme, a versão romanceada do roteiro é publicada em livro, brochura ou como folhetim nos jornais, é traduzida para todas as línguas dos países onde o filme será apresentado. O alcance do roteiro romanceado se junta ao do filme e passa a integrar a Propaganda do país.
A Decupagem do Roteiro é a fragmentação, anotada e numerada, do roteiro romanceado e contém todas as indicações técnicas necessárias à tomada das cenas. (Um filme de 3.000 metros pode ser detalhado em 1.500 cenas numeradas.) A redação da Decupagem deve ser feita por alguém do ramo, conhecedor de todos os recursos de sua arte, dos truques da técnica, das necessidades comerciais e do gosto dos diferentes públicos do mundo. Deve ser ainda um fino psicólogo e dotado do sentido da realidade, pois seu trabalho servirá de base para o planejamento de toda a formidável organização hoje necessária para a realização de um grande filme moderno. O sr. Blaise Cendrars se encarregará deste trabalho, em colaboração com o Autor, o dr. Washington Luís, e com o autor da Sinopse, o dr. Oswald de Andrade. Constitui uma vantagem inapreciável que o autor da Decupagem seja ao mesmo tempo Diretor do filme, pois assegura dessa maneira a Unidade de Concepção e a Unidade de Realização, a melhor garantia para o alcance Total do filme.

O Diretor
O sr. Blaise Cendrars, poeta, escritor e jornalista, tem atrás de si Dez Anos de atividade cinematográfica. Realizou entre outras, em colaboração com o sr. Abel Gance, as duas maiores produções cinematográficas da Europa: J'accuse, grande filme de guerra de propaganda francesa, e La roue, grande filme sobre a atividade e a importância social de uma grande rede de ferrovias, a P.L.M. [Paris Lyon Méditerranée]. Isso bem mostra que ele está qualificado para exercer a direção geral e a mise-en-scène do Grande Filme de Propaganda do Brasil, de que teve a idéia.






quinta-feira, 8 de março de 2012

POESIA

FUTURO

Sombras cobrem a cor azul
A realidade comprime o tempo
Tudo passa rápido

Solidão torce as cores no céu
Sonhos rompem o espaço
Explodem as horas

Nuvens sentimento chuva
Vida peregrina infinda
Homem abstração cósmica

DOS EMEIOS RECEBIDOS
Do maestro Jorge Antunes - Brasília

Oi, pessoal:
Que tal organizar a entrada dos músicos em uma bela fanfarra?
Um click sobre um músico faz com que ele comece a tocar.
Outro click e ele para.
Pode pôr a tocar os músicos que entender.
Abrir este site:

http://www.audepicault.com/fanfare/fanfare.htm

Se quiser, cante com o trompete:

“Grileiros querem desmatar,
é tudo imoral.
A Dilma vai ter que vetar
o Código Florestal”

Divirta-se.
Abraços,
Jorge Antunes

quarta-feira, 7 de março de 2012

NOTÍCIA DO RIO DE JANEIRO

DJALIOH

O grande ator Otávio III em cena



Não perca! DJALIOH é um dos dois longas premiados em 2012 da Mostra do Filme Livre com o Prêmio de Melhor Filme.

CCBB - Chegar um pouco antes para RETIRADA DAS SENHAS
SESSÕES:
8/03 - QUINTA-FEIRA - 20:00
16/03- SEXTA-FEIRA - 19:00

TRAILER:
http://youtu.be/Jqz2oQhwkFg


adaptação livre do conto
QUIDQUID VOLUERIS
de Gustave Flaubert --

um filme de Ricardo Miranda
com: Bárbara Vida Mariana Fausto Octávio Terceiro
Atores Convidados: Helena Ignez Tonico Pereira
participação especial: Catia Costa
Fotografia e Câmera: Antonio Luiz Mendes

Abaixo segue a crítica do filme pelo curador da mostra e crítico de cinema Marcelo Ikeda.

DJALIOH, de Ricardo Miranda

Montador de filmes sintomáticos como A Idade da Terra, de Glauber Rocha, Triste Trópico, de Arthur Omar, e Crônica de um Industrial, de Luiz Rosemberg Filho, entre vários outros, Ricardo Miranda é parte significativa de um “cinema de invenção”. Seu trabalho como realizador, menos conhecido do que deveria, ainda merece ser melhor avaliado. Nesse sentido, DJALIOH talvez seja o seu trabalho mais radical. Se Miranda é mais conhecido através da montagem de filmes delirantes e elípticos, o sinuoso Djalioh é um filme muito mais de encenação do que de montagem, mostrando a versatilidade do diretor.
Essa adaptação sensual de um conto de um jovem Flaubert seduz por seu tom misterioso, pelo absoluto rigor da mise-en-scène e por suas influências straubianas. Ainda assim, uma sensualidade imanente anuncia a iminência de uma tragédia. Entre o lírico e o mórbido, entre a razão e o instinto, entre o explícito e o implícito, entre a literatura e o cinema, Djalioh é um filme de falsas aparências, misterioso e soturno, contando ainda com o expressivo trabalho dos atores Otávio III, Bárbara Vida e Mariana Fausto. Sem contar com recursos públicos, com baixíssimo orçamento, num trabalho cooperativo entre os membros da equipe, o rigor de Djalioh quebra supostos cacoetes do cinema independente, comprovando que invenção não é uma questão de idade e sim de coragem.

terça-feira, 6 de março de 2012

ESTALOS E SENTIMENTOS

Sete Pensamentos Imperfeitos

1. Sofrer é querer pra si o que lhe parece certo em um embaralhado de emoções.

2. Sofrer é perder o sonho roliudiano de ser feliz em um mundo de infelizes.

3. Sofrer é querer muito e não poder nada.

4. Sofrer é saber o quanto ignorante somos.

5. Sofrer é ser ninguém.

6. Sofrer é o espelho de o muito querer.

7. Sofrer é pensar que existe um homem feliz.

domingo, 4 de março de 2012

PERGUNTAS E RESPOSTAS

BISBILHOTEIRO DE ALMA
Quando fui perguntado por um estudante de comunicação porque um cineasta tinha um blog? Eu respondi que no começo pensei em ter um arquivo permanente e ilimitado na internet para guardar a minha produção imediata de textos, idéias e afins, e que também pudesse acessar textos em criação de qualquer lugar, a qualquer hora.
No final do primeiro ano já havia criado vários blogs como se fossem pastas e subpastas do primeiro. E assim, como uma biblioteca individual, pessoal, comecei a guardar de tudo que eu já havia digitalizado. A pasta (link) Folhetim é um exemplo disso.
Sempre soube que a internet é livre e que a principal função de um blog é de se comunicar, mas pensei: se você não anuncia a sua existência, o seu blog se perde no limbo, nas nuvens, dos que estão vivos mas ainda não nasceram. Poucas pessoas saberiam da sua existência.
Estava perfeito o plano, mas aconselhado por um amigo com quem eu dividia essa experiência, coloquei um contador de visitas. Surpresa! Notei algumas visitas na primeira semana do contador que foram crescendo com o passar dos dias, não tinha saída, nascia então Kynoma, o artesão. O livro estava aberto, sem controle como eu gosto, bisbilhotado todos os dias por pessoas que jamais eu iria conhecer. Sem ganhar nenhum tostão com isso, confesso: fiquei assustado. Mas já estava feito e na verdade tudo que eu faço é para ser visto, lido e ouvido. O dinheiro nunca foi impedimento para eu fazer a boa arte. Reestruturei o Blog como se ele fosse uma revista diária de cultura e passei a escrever para ele todos os dias. Tenho recebido colaborações. Tenho me divertido muito. Muito mais agora que coloquei os filmes na telinha.
Nestes três anos de existência foram mais de trinta mil visitas pelo mundo afora de bisbilhoteiros da alma deste artista. Sinto que fui recompensado. Pelo menos a minha alma de artista não estava à venda.
Tenho, além de tudo isso, a impressão que este blog passará a existir, mesmo após deixá-lo órfão, eterno, enquanto durem as ondas da internet. Sarava!

sábado, 3 de março de 2012

Minhas Crônicas Caiçaras

Pequenos Compromissos

Nada é mais irritante do que você receber um convite e depois, quando vai cumpri-lo, ele é descumprido, sem desculpas, sem explicações, sem palavra nenhuma escrita ou falada, por um sujeito no mínimo descuidado e desrespeitoso. Não quero generalizar, mas o brasileiro é assim sem compromissos, pois todos se julgam o maioral, o mais bonito do bairro... Basta ser proprietário, ter um carrinho mixuruca, empresário de secos e molhados, morar em casa própria, ele já se sente o todo poderoso, já pode romper pequenos compromissos e enganar os outros. Todos nós conhecemos pessoas, indistintas da classe social, que são assim.
Um ano atrás, eu estava em casa lendo meus emeios, quando me deparei com um deles vindo da Universidade de Campinas. Era um estudante que me convidava para participar de um acontecimento no campus com ações ligadas ao cinema. Respondi que aceitava o convite. Ele me respondeu dizendo que o meu nome foi sugerido pelo professor Paulo e que esperavam de mim sugestões para o encontro e que em breve voltaria a se comunicar para marcar as datas da viagem, etc. Agendei-me para essa semana ficar livre e me despreocupei. Até hoje estou despreocupado e sem nenhuma resposta. Inacreditável!
Hoje me aconteceu outra mancada circunstancial aqui na cidade onde vivo. Outro dia, passando pelo café do bulevard canal, conheci um ex-deputado que me convidou para participar de um programa na sua rádio. Na hora aceitei o convite e me preparei para no dia combinado. Confesso que me arrependi, mas como havia assumido o compromisso... Hoje acordei mais cedo, coisa que não é normal, e sai para o encontro marcado. Debaixo de um sol escaldante (o dia mais quente do ano – 46 graus), sai procurando a rua indicada no centro da cidade. Achei-a no seu começo e o número indicado no cartão com o endereço era setecentos e oitenta. Comecei a longa caminhada sob o sol das onze horas e já suava bicas. Levava o meu chapéu panamá protegendo a minha careca, mas não adiantava, o calor era de matar. Cheguei ao prédio, entrei e fui ao quarto andar – de elevador, é claro! No corredor vazio fui até a última porta que estava fechada. Toquei varias vezes a campanhinha e nada. Telefonei, Bati na porta, nada. Desisti e fui embora. Na volta pensava no que o empresário me dizia quando fez o convite: - Você vai se impressionar com a minha rádio! Fiquei sim impressionado foi com a facilidade que as pessoas têm de esquecer os seus pequenos compromissos. Ao atravessar a rua movimentada, uma rajada de vento levou o meu chapéu para o meio da rua e eu, como um palhaço, corri para pegá-lo, parando os carros, arriscando a vida, todo molhado de suor e sendo observado pelos passantes, visto como um velho louco atrás do seu velho chapéu. Mais uma vez senti o inacreditável e vi o que as pessoas podem fazer acontecer por um pequeno compromisso.

sexta-feira, 2 de março de 2012

NOTÍCIAS

OS INSACIÁVEIS



Ministério da Cultura libera R$ 6,4 milhões para realização de rodeios

O braço organizador de rodeios da Ambev, a Brahma Super Bull, foi autorizado pelo Ministério da Cultura a captar de 6,4 milhões de reais para patrocinar os eventos. A intenção é custear, parcialmente com dinheiro público, a realização de 16 rodeios em oito cidades brasileiras.
O Governo Federal (dito de esquerda) exigiu, em troca, que a organizadora mantenha anúncios do slogan oficial “Brasil sem pobreza” na beira das arenas.
Mas, que pobreza! Dona Ana de Holanda...Viva o erário!

http://www.anda.jor.br/26/02/2012/ministerio-da-cultura-libera-r-64-milhoes-para-realizacao-de-rodeios)


A Educação e a Cultura nacional é ainda um tabu na história da política e dos políticos brasileiros.

Se não bastasse isto, uma grande reunião internacional com representantes de todos os interesses que envolvem o mercado brasileiro do audiovisual e seus canais de veiculação (televisão), acontece no Rio de Janeiro.
Ali na Barra, na nossa Miami, todos os interesses se encontram, menos os nossos interesses.
Ali se faz todo tipo de negócios, mas o principal negócio que este aglomerado de pessoas importantes e poderosas está discutindo é se há alguma maneira, legal ou não, de derrubar a lei que os obriga a exibir o audiovisual brasileiro de produção independente na programação de suas emissoras.
A TV SKY por assinatura lidera o movimento dos insaciáveis. Tentam eliminar a possibilidade da pequena indústria do audiovisual brasileiro existir.
A burocrática Ancine, os sindicatos e associações, os famigerados movimentos e partidos de esquerda, os jovens alienados e os velhos enfastiados, os cineastas, os produtores, os mais prejudicados, ficam calados.
Assim estamos no Brasil – todos se calam para não perderem a boquinha.
O Governo (dito de esquerda) e seu Ministério, lá não dão as caras, por talvez acharem que isto não tem a menor importância face aos graves problemas sociais (moradia, saneamento, saúde, segurança, trabalho, transporte) que o país enfrenta.
Do outro lado de lá aparece o Município, a prefeitura (neoliberal e de direita) que financia o encontro, com sua Secretaria de Cultura e a Riofilme, que estão ali para apoiar o que julgam melhor para o Rio, ou seja: vender-nos aos interesses dos americanos, franceses, ingleses, etc., que querem comprar a cidade toda para vender e promover o lixo dos seus produtos de quinta categoria e assim passando, sem cerimônia, em todos nós, o já famoso conto do vigário.