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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Os AgroTóxicos.

Sergio Santeiro


Realmente, o Silvio Tendler está com tudo. Amplia sua militância pela vida e pelo cinema. É uma pena que o mais progressista de nossos governos ainda ceda à chantagem do agronegócio e do imperialismo a envenenar o país com seus tóxicos.Seu novo filme ?O Veneno está na Mesa?, lançado nesta 2a.,25 de julho, no Oi Casa Grande lotado, na Campanha Permanente contra o Agrotóxico, que reúne tantas e importantes entidades de defesa da vida, reúne também uma bela equipe como lembrou o Silvio que foi capaz de absorver os estímulos múltiplos e gerar mais um de seus notáveis filmes.Lembra bem que agrotóxico, químicas e fármacos derivam dos campos de extermínio nazista e da invasão americana derrotada no Vietnam e que deixaram mortos, feridos aos milhares atrás de si. O complexo militar econômico que domina o sistema.E no entanto surpreendi-me com a alegria das crianças sem todas as partes do corpo como nós e que divertiam-se com estarem sendo filmadas e entre si. Exemplos. É a vitória da vida sobre a morte. Inesquecível em seu ?Utopia e Barbárie? a palavra de Giap a vitória é a paz!Mais uma vez é uma pena que o mais progressista de nossos governos como nunca antes na história deste país não reveja radicalmente a permissão e até o financiamento publico dos latifúndios e corporações multinacionais para esse modelo devastador de pretenso desenvolvimento às custas de eternas reservas naturais, êsse tal de capitalismo que explode mundo afora com suas crises e bombas.Afinal se é pra ser democrático nunca se esqueçam que os explorados e não os burgueses é que são a maioria.Pra qualquer lado que andamos vemos terras e mais terras aparentemente devolutas, sem trato, nem um pé de cupim sequer, vemos também eucaliptos a perder de vista, subindo e descendo as encostas, sem um pio.Senadores no senado defendem com unhas e dentes a predação absoluta de céus, terras e águas para aumentar a produção e ganhar mais vendendo para os países que não são loucos de destruir suas terras em monoculturas como as que desertificaram o nordeste brasileiro e agora ameaçam desertificar nada menos que a Amazônia.Vão comendo pelas beiradas, vão matando os colonos à bala, pela contaminação e pela indução à prática assassina do capitalismo que explode mundo afora com suas crises e bombas.Já imaginaram o que terá sido a nossa original Terra Brasilis ou o que teria sido o mundo inteiro se tivéssemos sustado o capitalismo no seu nascedouro como preconiza a ciência da história. Mas não, ainda continua rolando essa coisa que há séculos massacra impiedosamente a humanidade apenas e tão somente para que meia dúzia entesourem inutilmente a mais valia de cada um de nossos semelhantes.Por que não ousa o estado brasileiro rever a política agrário-agrícola como o Adonai no filme do Silvio que recria a semente nativa, a criolla, recusando a transgênica e seu pacote de agrotóxicos. Ao contrário, como no depoimento de uma pioneira ecoagrícola, o que se precisa é tratar a natureza como natureza. Afinal nós os humanos também somos natureza.Ela própria a natureza através do manejo sabe como ser tratada. Lá se vão nossos solos, nossos minérios no subsolo, nossas águas assoladas, todos, e nós também assolados pela praga maldita do mais dinheiro. Não há mais dinheiro. Entesouraram tudo, tá dominado. E tampouco adianta tirar água suja dos sais.Quanto menos mal fizermos ao entorno menos mal estaremos fazendo a nós mesmos. O diabo é ter que convencer disto os nossos governantes eleitos por nós e que pelo visto só nos querem matar. Devia-se imprimir por toda parte: Ministério da Saúde adverte. Capitalismo faz mal à saúde. Mata

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Não Vi O Filme, Já Gostei...

NOTÍCIAS DA ANTIGUIDADE IDEOLÓGICA: MARX, EISENSTEIN, O CAPITAL


DIREÇÃO Alexander Kluge DISTRIBUIÇÃO Versátil

Da Folha de São Paulo por ELEONORA DE LUCENA


Sobre o diretor alemão Alexander Kluge São nove horas e meia de filme. O desafio é trazer para a tela "O Capital", de Karl Marx, misturando com "Ulisses", de James Joyce.A ideia original foi de Sergei Eisenstein quando, em 1927, começava a cortar às 29 horas de "Outubro". O cineasta russo pensou em usar no seu novo projeto o método do escritor dublinense. Restaram anotações esparsas.A partir dessa matéria-prima, Alexander Kluge criou o seu amazônico "Notícias da Antiguidade Ideológica, Marx, Eisenstein, O Capital".Kluge, que aprendeu a filmar com Fritz Lang quando ele fazia "O Tigre de Bengala" (1959), conviveu com Adorno e se engajou no movimento do novo cinema alemão. Faz produções independentes e atua na TV alemã.Seu "O Capital" é todo fragmentado. Usa múltiplas linguagens: imagens antigas, fatias de ópera, entrevistas com intelectuais, ensaios de música, trechos de filmes, letreiros de cartazes, reportagens, encenações caricatas com atores, declamações de poesia, documentários e leituras de clássicos. (...)É experimental e caótico.O diretor parece não ter preocupação com o tempo e com a edição. Filósofos debatem com o cineasta o fetiche da mercadoria, a destruição criadora do capital, as revoluções, o trabalho alienado, a mais-valia, a crise do capitalismo. O ritmo às vezes é muito lento e cansativo. Noutras, é frenético e pede reflexão. Surpresas deságuam de quando em quando.Em entrevista à Folha, Kluge, 79, diz que esse jeito de filmar tem paralelo com a "Odisséia", de Homero. Explica que não trabalha com os métodos lineares de narrativa. Prefere usar a metáfora de uma bola, em que, a partir do núcleo, saem as histórias. "Se você fica no centro da bola, pode atingir todos os seus pontos e sempre voltar ao núcleo. Pode trabalhar em fragmentos, com pequenos filmes abreviados. Isso mantém o interesse do público." E quem é o público de Kluge? O filme é para poucos, para intelectuais, para ser debatido em grupos de estudo?, pergunto. "Não tem nada de acadêmico. O filme é para pessoas normais -jovens, por exemplo. As pessoas são mais inteligentes do que a mídia pensa."Kluge ("A Patriota") reconhece que não é fácil explicar temas como economia, Marx, Eisenstein. No decorrer do filme, fica perguntando como fazer isso a seus entrevistados. O resultado em geral não é didático. Mas, no início do segundo DVD, o filme "O Homem na Coisa", de Tom Tykwer, abre uma inusitada janela de luz sobre o intrincado conceito de mercadoria. Numa cena banal de rua de Berlim, a câmera mergulha nos detalhes, buscando a história de uma bolsa, um chiclete, uma pedra de calçamento, uma placa -de onde vem tudo isso, qual foi o trabalho envolvido.É um dos pontos mais interessantes do conjunto. Na sequência, uma citação de "O Capital": [A análise da mercadoria] "mostra que é uma coisa muito complexa, cheia de sutilezas metafísicas e de argúcias teológicas".À Folha Kluge afirma que Marx, assim como Adam Smith, é essencial para entender a crise atual. Acentua que é contra dogmatismos. "Marx não foi dogmático; foi também um poeta", diz. Para o cineasta, a compreensão da realidade exige "o uso de vários mapas", até o dos economistas de Chicago.Conta que fez um filme sobre a crise grega, fazendo ligações com a Alemanha. Outro, de sete horas, sobre a história do Japão e o desastre de Fukushima. Mais um, de 12 horas, trata da Primeira Guerra. Sua mais recente obra revisita o mito do Minotauro para discutir o amor.Fala com entusiasmo da rebelião no Egito e refuta a ideia de que o mundo esteja mais conservador. "Os governos podem ser conservadores, mas as coisas, mesmo assim, estão mudando. A realidade é fragmentada." Como em seus filmes. E Hollywood? Ele suspira. "Não tenho nada contra. Poderiam fazer mais." Elogia "Bastardos Inglórios", de Quentin Tarantino. "O cinema é como o mito de Fênix", diz, avaliando que hoje há muitos novos e bons cineastas. Como exemplo, cita o alemão Romuald Karmakar. Mas sua predileção é mesmo por Eisenstein e Jean-Luc Godard, que dá uma curiosa entrevista no terceiro DVD. E como se define Kluge? "Não sou político; gosto de observar as coisas", diz.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Notícia do Rio

Noilton Nunes comenta a sessão do filme ecológico " O Veneno Está na Mesa", do Silvio Tendler.


Silvio fez com que o Teatro Casa Grande voltasse a ser aquele lugar de memória e de debates onde aconteceram tantas batalhas contra as ditaduras, tantas guerras em favor das liberdades de expressões. Parabéns Silvio e a todos que nos ofereceram tão valiosa oportunidade de saber o que estamos comendo nas nossas mesas. As cenas mostrando a eficiência dos produtos da Monsanto e ou da Bayer usados nas câmaras de gases do holocausto ou as dos desfolhantes laranja e do napalm jogados contra o povo vietnamita, são contundentes. Mesmo vencedores da guerra contra os Estados Unidos, os vietnamitas herdaram o sofrimento de milhares de suas crianças, jovens e velhos mutilados pelo poderio das armas químicas. Os alimentos contaminados que engolimos pela boca todos os dias são similares aos sons e imagens que engolimos pelos olhos todos os dias nas telas dos nossos cinemas e televisões invadidos pelos produtos made in USA, que tentam formatar nossos olhares e tornar natural, normal, todo o processo de dominação de nossas mentes. Sem vencermos a ditadura da comunicação, da informação, os venenos que comemos, que ouvimos, que assistimos não serão detectados pelo povo a tempo de mudarmos as condições de vida no Planeta.


terça-feira, 26 de julho de 2011

Foi-me pedido




Entrevista completa com JLGodard
FIACHRA GIBBONSDO "GUARDIAN"


Tradução de Clara Allain


Jean-Luc Godard tem uma solução para a crise financeira da Europa. Ela é simples e criativa, como se poderia esperar de um homem que nos anos 1960, juntamente com todos os jovens cineastas da Nouvelle Vague, libertou o cinema da camisa-de-força dos estúdios. "Os gregos nos deram a lógica. Temos uma dívida com eles por isso. Foi Aristóteles quem propôs o grande 'logo'. 'Você não me ama mais, logo...'. Ou, 'encontrei você na cama com outro homem, logo...'. Usamos essa palavra milhões de vezes para tomar nossas decisões mais importantes. É hora de começarmos a pagar por ela."


"Se formos obrigados a pagar dez euros à Grécia cada vez que usarmos a palavra 'logo', a crise acabará em um dia, e os gregos não precisarão vender o Partenon aos alemães. Temos no Google a tecnologia para rastrear todos esses 'logos'. Podemos até cobrar das pessoas pelo iPhone. A cada vez que Angela Merkel disser aos gregos 'nós emprestamos todo esse dinheiro a vocês, logo vocês precisam nos pagar de volta com juros', ela será obrigada, logo, a pagar primeiro aos gregos pelos royalties."

Ele ri, eu rio, alguém que está ouvindo na sala ao lado ri. É claro que Godard é contra todo o conceito capitalista burguês do copyright: ele dá uma banana a isso em uma gag pouco sutil no final de "Film Socialisme", a mais recente salva de tiros em sua guerra de 40 anos contra Hollywood, lançado no Brasil no final de 2010. O "enfant terrible" do cinema pode estar com 80 anos, mas não perdeu nada de sua verve em matéria de irreverência e espírito do contra.

"Film Socialisme" é o mais puro Godard em toda a glória desconcertante de sua fase mais recente: um ataque visual avassalador que entorpece os olhos, o cérebro e as nádegas do espectador, que toma liberdades com a paciência e a resistência mental dele, mas cuja originalidade é inegável. Não há trama, é claro. Em vez disso, estamos ao mar em um cacofônico navio de cruzeiro no Mediterrâneo, uma Las Vegas flutuante que se afoga em consumo excessivo, onde um coro grego de atores e filósofos perambula entre os passageiros de meia-idade, citando Bismarck, Beckett, Derrida, Conrad e Goethe em francês, alemão, russo e árabe.

Não é fácil de se assistir. A vontade de viver frequentemente desaparece enquanto imagens do último século atormentado passam diante de nossos olhos --apenas para ser despertada outra vez pelas tomadas sublimes que Godard faz do navio e do mar, ou por alguma citação aleatória que acerta o alvo em cheio. "Ter razão, ter 20 anos, ter esperança", ouvimos enquanto Patti Smith percorre o convés com sua guitarra, como uma adolescente mal-humorada. Quer dizer que é isto o futuro do cinema, como alegam os defensores de Godard? Tenho minhas dúvidas. Só sei que ninguém mais faz filmes deste jeito. E que outro diretor importante colocaria o filme inteiro no YouTube --embora em velocidade-relâmpago-- no dia antes de chegar aos cinemas.

Os discípulos eternos de Godard veem "Film Socialisme" como não apenas uma metáfora da Europa --um navio de descontentes envelhecidos boiando à deriva em sua própria história--, mas como um manifesto em favor de "uma nova república de imagens", livre do domínio morto da propriedade corporativa e das leis de propriedade intelectual. Este novo cinema será recortado e colado em um mundo para além do copyright, onde os direitos do autor em pouco tempo passarão a ser vistos como tão medievais quanto o "droit du seigneur" (o suposto direito dos senhores feudais de deflorar as donzelas que viviam em seus domínios, antes de elas se casarem). Godard lançou pouca luz sobre sua criação até agora, tendo desaparecido sem explicações exatamente quando o filme fez sua estreia em Cannes este ano, deixando apenas uma mensagem: "Em função de problemas de estilo grego, não poderei estar com vocês em Cannes. Eu iria até a morte pelo festival, mas nem um passo além disso."

Este é o tipo de Godard satírico que já conhecemos, o Godard dos grandes gestos, o Godard que é objeto de piadas intelectuais desde que fez um desvio pelo obscurantismo maoista depois de reescrever as regras do cinema no início dos anos 1960 com filmes como "Acossado". Incitado por Raoul Coutard, seu brilhante diretor de fotografia, ele filmou ao improviso, com câmeras seguradas na mão e praticamente nenhum roteiro, abrindo o caminho não apenas para a Nouvelle Vague francesa mas para toda uma geração de diretores independentes em todo o mundo. Scorsese, Tarantino, Altman, Fassbinder, De Palma, Soderbergh, Jarmusch, Paul Thomas Anderson --de uma maneira ou outra, eles e incontáveis outros se inspiraram neste enigmático cineasta suíço dotado de uma reserva inesgotável de aforismos espirituosos que manterão os teóricos do cinema ativos por séculos: "A fotografia é verdade. O cinema é verdade 24 vezes por segundo", "uma história deve ter um começo, um meio e um fim, mas não necessariamente nessa ordem".

Mas parece que, em algum lugar no meio desse caminho, o homem foi consumido pelo mito. O Godard que está sentado à minha frente em um apartamento de Paris, usando uma camiseta tão apertada que lhe dá o ar de um Buda de óculos e barba por fazer que foi acordado no meio de sua soneca da tarde, é tão mais humano, tão mais infantil que a lenda. Ele fala com um ligeiro ceceio. Ele é brincalhão e paciente. Procura responder perguntas que outros poderiam interpretar como insultos. Ele faz sentido, na maioria das vezes. É difícil enxergá-lo como o sujeito "merda" com quem o colega cineasta da Nouvelle Vague François Truffaut se desentendeu nos anos 1970.

Godard chega a falar bem de Hollywood, ou, pelo menos, da Hollywood dos anos 1930-1950, "que sabia fazer filmes como ninguém mais sabia. Hoje, nem mesmo os noruegueses conseguem fazer filmes tão ruins quanto os americanos." Ele se derrama em elogios à forma não narrativa dos westerns. "Só o que você sabe é que um estranho chega à cidade a cavalo." Pergunto sobre a pressão de ser visto como o autor dos autores, um visionário permanente. "Não sou um autor, bem, pelo menos, não agora", ele responde tão casualmente como se deixar de ser autor fosse como deixar de fumar. "Houve uma época em que pensávamos que fôssemos autores, mas não éramos. Realmente não fazíamos ideia. O cinema acabou. É triste que ninguém esteja explorando o cinema realmente. Mas, fazer o quê? De qualquer maneira, com os celulares e tudo o mais, hoje todo o mundo é autor."

Godard raramente concede entrevistas e frequentemente as cancela. Há mais de 30 anos ele vem tentando encontrar uma nova linguagem do cinema, encerrando-se em sua garagem na enfadonha cidade suíça de Rolle. Um filósofo francês me contou que certa vez passou uma semana diante da casa de Godard, aguardando em vão por uma audiência. Pergunto sobre o significado do lhama e do asno em "Film Socialisme", motivo de muitos questionamentos por parte de críticos. "A verdade é que eles estavam no campo ao lado do posto de gasolina na Suíça onde filmamos a sequência. Voilà. Não há mistério algum. Eu uso o que encontro." Ele diz que as pessoas frequentemente identificam significados inexistentes em seus filmes. Começo a me perguntar se é possível que Godard tenha sido profundamente incompreendido: será que, na realidade, ele é muito mais simples do que parece?

"As pessoas nunca fazem as perguntas certas", ele diz. "Minha resposta à pessoa que jamais vai me fazer a pergunta certa sobre este filme é que a imagem que eu gosto realmente é a imagem sobre a Palestina, os trapezistas." É uma metáfora da beleza que nascerá no dia em que judeus e árabes aprenderem a trabalhar em conjunto.

Estamos nos aproximando do tópico espinhoso do suposto antissemitismo de Godard, tema que voltou à tona novamente no ano passado quando ele recebeu um Oscar honorário. Sua hostilidade a Israel e seu apoio forte à causa palestina muitas vezes foram confundidos com ódio aos judeus, acusação que ele diz ser "idiota". O filósofo Bernard-Henri Lévy, que trabalhou com Godard em uma série de projetos abortados sobre "o ser judeu", certa vez descreveu o cineasta como um homem "que está tentando se curar de seu antissemitismo". Este pode ou não vir de sua família franco-suíça de alta classe, muitos de cujos membros foram favoráveis a Vichy. Em "Film Socialisme", Godard volta a enfiar a mão no vespeiro, com falas como "que estranho que Hollywood tenha sido inventada pelos judeus".

Outro livro que o acusa de antissemitismo saiu algumas semanas atrás, do intelectual Alain Fleischer. Este define como antissemita qualquer pessoa que se opõe à existência de Israel; ele admite, contudo, que Godard é antissemita apenas no mesmo grau em que "um judeu às vezes pode sê-lo". Procuro espicaçá-lo para que dê uma resposta, mas Godard não morde a isca. "Isso me deixa triste. Ele diz que o homem falou isso, mas o homem e a obra são coisas diferentes." Pergunto se isso quer dizer que o homem pode ser antissemita, mas a obra não é, mas Godard faz um gesto de afastar com as mãos. "Não, não! Isso é ridículo."

Preparo-me para partir, perguntando o que ele vai fazer a seguir, e ele se levanta rapidamente, como um adolescente, e vai procurar entre objetos na sala ao lado, retornando com um roteiro. "Tome", diz Godard, escrevendo uma dedicatória a "o guardião da cinematografia", pensando, por alguma razão, que eu talvez possa ajudar para que o filme seja feito. Fico comovido, mas profundamente entristecido pelo fato de um grande pioneiro do cinema estar sendo obrigado a usar desses estratagemas para divulgar sua criação.

Mas será que ele está mesmo? Será que Godard, aos 80 anos, está simplesmente oferecendo sua criação para quem quiser vê-la --como, por exemplo, colocando seu filme no YouTube? Enquanto desço o bulevar Magenta, me pergunto se eu mesmo deveria fazer o filme, já que direitos autorais e o conceito de autor já não significam nada para Godard. O roteiro é intitulado "Adieu to Language" (Adeus à Linguagem), e é mais ou menos isso mesmo. Trata de um casal e um cachorro, da vida, da morte e de todo o resto, embora o cachorro seja o protagonista real. Sim, quem sabe eu deva fazer o filme. Mas será que o mundo já está preparado para "Lassie - A Busca de um Cão por Sentido em um Universo Existencial"? Ou, algo mais louco ainda-- um filme de Godard com final feliz?

domingo, 24 de julho de 2011

Corpos de Mensagens

“DIAMANTE DEVANEIO AO ÉTER"
ficção/ 23 min./ Diamantina/ BH/ colorido/ 2010/2011
Os quatro elementos – água, terra, fogo e ar – emergem da natureza nos arredores da secular cidade de Diamantina.
Mais um filme de Fábio Carvalho no Teatro Santa Izabel em Diamantina, durante o festival de inverno da UFMG.

rota do sal kalunga", da avesso filmes.
a luta pela sobrevivência de um povo escravizado
4 estados brasileiros - 2.000 km de trajeto –
1.000 km remados até o momento –
4.000 fotos...50 horas de material bruto
a poesia que espreita cada curva de rio
acompanhe em www.rotadosal.com.br
o dia-a-dia da expedição cinematográfica
que dará origem ao doc longa-metragem "
a viagem está apenas na metade....

sábado, 23 de julho de 2011

Política

Don Vincenzo

Outro dia, comentando a política local, uma voz amiga me falou que eu deveria permanecer neutro neste confronto de interesses, pois, se não estivesse do lado certo, poderia depois sofrer as consequências dessas minhas singelas reflexões.

Esta política de coerção, afeito aos coronéis das Minas Gerais no século retrasado, já havia sido expurgada da história com a morte da Guarda Nacional, criada na época do Império, e eu nunca imaginei de reencontrá-la aqui nestas terras costeiras que escolhi para viver.

O que as pessoas precisam saber é que hoje em dia, neste mundo hegemônico e cruel, só existe uma maneira de ser: ou você é um gangster, um homem rico, um Don Vincenzo na vida, ou é um revolucionário, um transformador de paradigmas e geralmente pobre.

Eu escolhi ser o segundo, mas o Brasil parece-me que escolheu um Don Vincenzo qualquer como protagonista das histórias escritas por uma geração de políticos. Mas essa aberração não é privilégio do nosso país, é sim o reflexo do que vem acontecendo em todo mundo dominado pelo interesse maior do capitalismo: o dinheiro. Ninguém vive sem ele. Quanto maior é o caixa, maior é o poder que ele exerce sobre outros poderes menores. Esta ganância vai crescendo até chegar ao poder supremo que é quando Don Vincenzo se julga deus.

Os homens brasileiros que hoje fazem política são todos iguais de longe. Posam de bons meninos. Querem o melhor para o cidadão. Mas quando se chega mais perto, ao aproximar-se, de um lado ou de outro, observando a intimidade dos grupos, pode-se ver que eles se agarram as elites financeiras do país como ostras no casco do navio. Ninguém quer largar o território conquistado. Todos querem ficar ricos, dar o melhor para a família, não perder a boquinha, nada eles pretendem transformar, nada eles podem mudar. Olhando-os de binóculos nota-se que em volta deles, geralmente escondidos, existe uma plêiade de impiedosos e mesquinhos empresários conservadores.

O povo pobre e a burguesia insatisfeita de uma pequena ou grande cidade brasileira sofrem com o poder estabelecido vivendo um regime de usura onde prevalece o capital com a selvageria do poder. Muitas cidades em todo território nacional passam por esse processo, algumas são tão massacradas que chega a assustar o observador mais atento. Rouba-se até da merenda escolar. Todos nós ficamos escandalizados, mas de maneira diferente. O povo pobre, trabalhador, biscateiro, a maioria, fica em silêncio e se contenta com pouco, Don Vincenzo sabe disso e anda com seu bolso cheio de moedas. Do outro lado, passando dificuldades e como está sempre assustada, a classe média coagida, a burguesia mais bem informada, querem participar mais do que nunca das mudanças democráticas que virão por ai. Eles só querem que o próximo homem, seja de que partido for, represente o seu futuro. E sendo aos seus olhos um governante confiável, novo, dinâmico, faça o que for preciso e muitas vezes rompendo os paradigmas do impossível para que todos eles melhorarem de vida.

Na verdade é que o povo precisa lutar por um governo socialista e verdadeiro, com oportunidades iguais a todos, mais saúde, trabalho e moradia para os que precisam e aos seus filhos educação de qualidade e boas escolas, universidades livres e públicas e muita cultura para elevar o sentimento do existir.

Mas Don Vincenzo não se interessa por nada que é público, justo e honesto. No mundo do capital eles são os ricos, donos do poder maior e por isso fica tão difícil derrotá-los sem ter a mesma moeda de troca, a mesma arma, o mesmo capital. - Não se luta contra um canhão com pedras na mão. Disse o comandante a José: - Eles estão dispostos a tudo. Sabem que com o tempo vão perder seu dinheiro e suas boquinhas, mas sabem também que o dinheiro compra homens e idéias e para não serem escorraçados, financiam campanhas, criam compromissos, distribuem benesses.

O povo precisa entender e ser informado da mecânica reacionária dos poderosos e dar um passo à frente na busca de novos horizontes sociais.

Don Vincenzo quer ver prevalecer seus interesses inescrupulosos, regidos por princípios de segredo e de silêncio solidários. Quando estão, chegam ou voltam ao poder, governam estabelecendo leis próprias e buscam sobrepor-se ao constituído.

Nada disso precisa novamente acontecer se o bom político, que ainda existe e vai mostrar a sua cara, não criar compromissos novos com as velhas oligarquias estabelecidas e seus representantes.

O povo precisa acreditar e apostar no novo, no que pode vir para transformar o velho e carcomido sistema e mudar o que for preciso ser mudado, com reformas e posicionamentos administrativos coerentes com a vontade desse mesmo povo. Nada melhor para isso que as eleições majoritárias do ano que vem. Mais do que nunca hoje eu tenho certeza que vai vencer o melhor.

Meu pai Sette de Barros, político habilidoso, getulista, juscelinista e janguista, era um homem de idéias avançadas. Depois de vinte anos afastado pelo golpe militar, voltou à política se elegendo prefeito de Ponte Nova, sua terra natal. Mesmo com a elite rural e grande parte da burguesia contra ele, nunca perseguiu ninguém nos seus seis anos de governo. O senador Tancredo Neves, na época candidato ao governo de Minas, dizia para o meu pai que ele não devia concorrer à eleição majoritária, perderia na certa em uma cidade comandada por uma poderosa oligarquia rural. Ele respondeu ao amigo disputando a eleição “do sem tostão contra o milhão”, como ficou conhecida, mas tratando o povo com a leveza da verdade combinada com o exemplo do seu passado de luta e de determinação da vitória construída a ferro e fogo contra os poderosos locais, ganhou a eleição com grande maioria dos votos. Assim Ponte Nova foi a primeira cidade visitada por Tancredo Neves, governador eleito de Minas. Ele fez tudo oficialmente, cheio de protocolos e pompas, só para prestigiar e cumprimentar publicamente o amigo em sua espetacular vitória. O velho tinha, portanto poder e muito, mas nem por isso precisava andar de mãos dadas com Don Vincenzo, perseguindo seus inimigos, que não eram poucos na política municipal sob seu comando. Ele me dizia: - a política não é feita com ódio, mas com idéias e liberdade e que um inimigo inteligente ajuda muito mais um governante esperto que um amigo burro e tapado. Viva o velho Sette!

(Essa história é tão longa que é quase uma vida. Sei que ela precisa ser contada ou escrita em todos seus detalhes qualquer dia desses para se conhecer e se entender, a partir da minha visão cinematográfica, a intrincada rede de intrigas e traições que forjam a cabeça e o pensamento do político brasileiro).

quinta-feira, 21 de julho de 2011

CINEMA

Estou publicando hoje na telinha acima uma entrevista com o enigmático cineasta português Pedro Costa.



Na página KTV, publico o seu filme de longa metragem intitulado OSSOS.



Não conhecia a pessoa. É um inventor. Um artista.
Não conhecia o seu cinema. Fiquei surpreso...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Poema

Morreu à mingua

O Brasil não tem mais graça
Deixou de ser um sonho
Passou a ser uma rima
Do casal enamorado
De o metafísico ser que dizia

Só contemplo o que não pode ser visto
Só penso o que não pode ser pensado
Só ando por onde não se deve andar
São as marcas da minha rebeldia

Aos quatro ventos insisto
Por onde quer que eu vá
Vejo quem é marcado
Pela brasa rubra da valentia

Só se é valente quando a certeza é maior que a razão
Só se é covarde quando o medo é maior que a certeza
Só se é santo quando a razão deixa de existir

Aos puros a presunção do perdão
Aos ímpios o castigo da pobreza
Aos teístas a adoração e o refletir

Não nasci guerreiro
Não comi o pão que o diabo amassou
Não me convenceram de nada
Não sei o que faço aqui

Quem é esse brasileiro?
Quem é a sua mulher amada?
Quem sabe se eu sou?
Quem nós vamos encontrar ali?

Sim! Eu mesmo me espero
Sem pressa de chegar
Sim! Eu e você no juízo

É assim que vamos está
É só isso que espero
Com o fim do paraíso

Uma farsa aliterante
Um dogmatista causticante
Uma onda que passa
Um sonho infantil que fica


terça-feira, 19 de julho de 2011

NOTÍCIAS
Li no jornal o Estado de São Paulo que os EUA devem mais do que 17 países da zona do euro juntos e o presidente ainda quer aumentar o teto da dívida, ou seja: aumentar o calote chamado moratória. É só uma questão de tempo. A briga política entre os republicanos e democratas está longe de acabar. A elite americana não quer pagar com o aumento dos impostos a estupidez dos políticos prejudicando às suas empresas e diminuindo os seus fantásticos lucros.
O Senado dos EUA faz sessão permanente. Com aumento do risco o preço do ouro bate recorde. O grande império inglês do novo mundo começa a ruir e precisa ser salvo para que o mundo todo não se afogue no maremoto que se segue.
Enquanto isso a Venezuela, socialista, passa Arábia Saudita, capitalista e que está em crise social, em suas reservas de petróleo, diz a Opep. As reservas da Venezuela estão em 296,5 bilhões de barris.
E o Brasil corre atrás do pré-sal.
A questão do petróleo provoca a cobiça também no Oriente Médio e a OTAN intensifica o bombardeio na Líbia para apoiar rebeldes.
Explosão Populacional: Seremos 7 bilhões em outubro

segunda-feira, 18 de julho de 2011

EXERCÍCIO DE MEMÓRIA

COMO COMECEI A ESCREVER
Carlos Drummond de Andrade

Aí por volta de 1910 não havia rádio nem televisão, e o cinema chegava ao interior do Brasil uma vez por semana aos domingos. As notícias do mundo vinham pelo jornal, três dias depois de publicadas no Rio de Janeiro. Se chovia a potes, a mala do correio aparecia ensopada, uns sete dias mais tarde. Não dava para ler o papel transformado em mingau.
Papai era assinante da Gazeta de Notícias, e antes de aprender a ler eu me sentia fascinado pelas gravuras coloridas do suplemento de Domingo. Tentava decifrar o mistério das letras em redor das figuras, e mamãe me ajudava nisso. Quando fui para a escola pública, já tinha a noção vaga de um universo de palavras que era preciso conquistar.
Durante o curso, minhas professoras costumavam passar exercícios de redação. Cada um de nós tinha de escrever uma carta, narra um passeio, coisas assim. Criei gosto por esse dever, que me permitia aplicar para determinado fim o conhecimento que ia adquirindo do poder de expressão contido nos sinais reunidos em palavras.
Daí por diante as experiências foram se acumulando, sem que eu percebesse que estava descobrindo a leitura. Alguns elogios da professora me animavam a continuar. Ninguém falava em conto ou poesia, mas a semente dessas coisas estavam germinando. Meu irmão, estudante na Capital, mandava-me revistas e livros, e me habituei a viver entre eles. Depois, já rapaz, tive sorte de conhecer outros rapazes que também gostavam de ler e escrever.
Então começou uma fase muito boa de troca de experiências e impressões. Na mesa do café-sentado ( pois tomava-se café sentado nos bares, e podia-se conversar horas e horas sem incomodar nem ser incomodado ) eu tirava do bolso o que escrevera durante o dia, e meus colegas criticavam. Eles também sacavam seus escritos, e eu tomava parte nos comentários. Tudo com naturalidade e franqueza. Aprendi muito com os amigos, e tenho pena dos jovens de hoje que não desfrutam desse tipo de amizade crítica.

domingo, 17 de julho de 2011

GERALDO MAGALHÃES
Faleceu em maio e só hoje tive a notícia , o mineiro Geraldo Magalhães, que foi colega no inicio da década de 1960 de Paulo César Saraceni e Glauco Mirko Laurelli no Centro Experimental de Cinema em Roma. Amante do cinema voltou ao Brasil e tornou-se editor do caderno 2 do jornal Estado de Minas, tornando-se um personagem importante da cultura mineira e da crítica cinematográfica. Geraldo foi um caso típico do centralismo da política cinematográfica brasileira, pois só conseguiu realizar em 2005 um único filme “Amor Perfeito” que também só foi lançado em Belo Horizonte e logo depois esquecido. Ele merecia uma homenagem maior na capital mineira que ele tanto amou.

Texto do escritor Nilseu Martins sobre Geraldo Magalhães http://nilseumartins.blogspot.com/2011/07/300-anos-de-ouro-preto-sem-o-geraldo.html

Ouro Preto celebrou dia 8 deste mês, com pompa e circunstância, seus 300 anos de fundação. A celebração remeteu-me, por razões muito particulares, ao jornalista, escritor e cineasta Geraldo Magalhães, de quem amigos e familiares se despediram em meados de maio. Com estoicismo e bravura ele enfrentou implacável doença, que aceitou sem amargura nem ressentimento. Quem conviveu de perto com ele pode dizer, até, que a recebeu com a lhaneza e fidalguia que alguém como ele jamais deixaria de dispensar a uma mensageira da Parca. Mas chega-se a um ponto em que não dá mais e, então, foi em meados de maio, ele foi embora.Ô Geraldo! Eu estou aqui falando essas coisas tentando manter o tom de tanta conversa fiada nos botequins do Maletta, na Gruta Goiás, na Metrópole, sobre coisas boas e banalidades da vida, de vez em quando uma discussão mais acalorada sobre preferências estéticas. Livros, filmes, poemas sempre aproximam os amigos, nem que seja pelo viés da controvérsia. Cachaça também, mas aí sempre houve unanimidade. Que nos perdoem Januária e Itamogi se a de Salinas é incomparável!...

sábado, 16 de julho de 2011

Raridades

FILME EM 35mm DE CLAUDE LELOUCH POR PARIS NUMA FERRARI GTB -1978

Em agosto de 1978, o cineasta francês Claude Lelouch adaptou uma câmera estabilizada na frente de uma Ferrari 275 GTB e convidou um amigo, piloto profissional de Fórmula 1, para fazer um trajeto no coração de Paris, na maior velocidade que ele pudesse. A hora seria logo ao amanhecer. Havia filme só para 10 minutos e o trajeto seria de Porte Dauphine, através do Louvre até a basílica de SacreCoeur. Lelouch não conseguiu permissão para interditar nenhuma rua no perigoso trajeto a ser percorrido. O piloto completou o circuito em 9 minutos, chegando a 324 km/h em certos momentos.O filme mostra-o furando sinais vermelhos, quase atropelando pedestres, espantando pombos e entrando em ruas de sentido único. O sol nem havia saído ainda. O piloto, teria sido René Arnoux ou Jean-Pierre Jarrier. Quando mostrou o filme em público pela primeira vez, Claude Lelouch foi preso. Mas ele nunca revelou o nome do piloto e o filme foi proibido, passando a circular só no circuito underground. Se você não viu ainda esse clássico, prenda a respiração e clique no link. Se você já viu, curta de novo. Vale a pena sentir a emoção de passear em Paris a 120 por hora. Ligue o som e sinta a sensação de estar no volante. Versão Integral... Raridade!!!!!!
http://www.youtube.com/watch?v=gWVde1pWl24&feature=fvsr

Do grande músico brasiliense JORGE ANTUNES

Descobri que colocaram no Youtube minha música MIXOLYDIA, para theremim e sons eletrônicos, tirada do CD esgotado da russa Lydia Kavina:



Aproveite e veja o filme raro de Leon Theremin, em 1927, fazendo demonstração de seu instrumento em Londres.




E outro filme raro, de 1'33”, em que ele explica e toca o instrumento:



sexta-feira, 15 de julho de 2011

GODARD

TRISTE CONSTATAÇÃO


Jean-Luc Godard, um dos grandes nomes do cinema de autor, disse ao jornal britânico "The Guardian" que, para ele, o cinema acabou. "Film Socialisme" foi o seu último filme.
"Certa vez, acreditamos que éramos 'autores' mas não éramos. Não tínhamos ideia da verdade. O cinema acabou. É triste que ninguém o explore. Mas fazer o quê? E, de qualquer maneira, com celulares e tudo mais, todo mundo é um 'autor' agora", disse Godard ao jornal.
“No cinema americano, todos os filmes produzidos em Hollywood atualmente são ruins”. Para ele, a produção hollywoodiana entre os anos 1930 e 1950 era boa, já que "conseguiam fazer filmes como ninguém". "Agora, até mesmo os noruegueses podem fazer filmes tão ruins quanto os americanos", afirmou o cineasta.
É preciso entender o que Godard quis dizer decretando a sua morte, pois Godard é cinema e são poucas as pessoas que hoje “exploram” a linguagem cinematográfica como ele o fez.
Na verdade ninguém quer mais saber do cinema e de Godard, não querem ter visão, não pensam, privilegiam a cultura do divertimento, do mais fácil, do que já vêm pronto, multidões sem nenhuma ideia, a não ser do registro de suas façanhas caseiras, fazem a sua MTV, praticam o seu besteirol e exibem o seu lixo íntimo pelas páginas digitais da internet. Hoje todo mundo é um autor com suas câmeras digitais e seus programas de edição que qualquer computador possui. Todos se acham cineastas e julgam fazer cinema. Grande engano do saber. O Cinema acabou. Triste constatação essa do intelectual e do artista que mais influenciou a minha maneira de ver e de fazer cinema, mas consigo entendê-lo. A visão e a audição do mundo das artes chegaram ao limite. Parece que nada mais há para fazer, tudo já foi feito e muito pouca gente deu atenção a isso.

quinta-feira, 14 de julho de 2011



Uma história trágica, incrível, retratada em fatos reais

No final da semana passada o cineasta Emiliano Ribeiro foi encontrado morto em sua casa.A tragédia foi muito maior, porque Emiliano não tinha uma doença aparente e estava feliz junto com a sua mulher que esperava um filho seu.Morreu de infarto dormindo na cama.

Sua esposa grávida ao encontrá-lo morto, entrou em estado de choque e ficou ao seu lado, sozinha por 48 horas, sem se alimentar ou beber nada.

A empregada entrou dois dias depois na casa e quando viu a triste cena pediu por socorro.
O socorro chegou e a esposa, em estado de choque, foi levada para o hospital. No caminho ela não resiste, tem um infarto fulminante e falece carregando no seu ventre uma nova vida.

Três vidas são apagadas em um piscar de olhos. Mundo cruel que me provoca um sentimento de impotência com o seu destino e que me faz duvidar da existência... Duvidar da criação... Duvidar do criador e da criatura. Pouco importa!

Deus só pode estar morto e Eu estou vivo ou sou apenas um sonho de uma borboleta no paraíso.

(notícia da lista cinemabrasil)




Filmes no Youtube

"without records" Otomo Yoshihide+Yasutomo Aoyama
http://vimeo.com/1802336

quarta-feira, 13 de julho de 2011

UM RECADO



às vezes fico pensando
que não tenho mais nada a dizer
ou mesmo se alguma vez disse coisa nenhuma
sobre tudo que nunca deveria ser dito a você

terça-feira, 12 de julho de 2011

CINEMA E MEMÓRIA

Os nazistas e os homossexuais

Na década de 1920, Berlim tornou-se conhecida como um éden para os homossexuais , onde gays e lésbicas viviam uma vida relativamente aberta no meio de uma cultura emocionante e transformadora de artistas e intelectuais. Berlim era uma festa. Com a chegada ao poder dos nazistas, tudo isso mudou. Entre 1933 e 1945 100.000 homens foram presos nos termos do Parágrafo 175, a pena para a homossexualidade do código penal alemão, que remonta a 1871. Alguns foram presos, outros foram enviados para campos de concentração. Destes últimos, apenas cerca de 4.000 sobreviveram. Hoje, menos de dez desses homens são conhecidos por serem vivos. Cinco deles vêm contar suas histórias pela primeira vez neste filme novo e poderoso. A perseguição nazista aos homossexuais pode ser a última história não contada do Terceiro Reich. Parágrafo 175 preenche uma lacuna importante no registro histórico, e revela as conseqüências duradouras deste capítulo oculto da história do século 20, como dito por meio de histórias pessoais de homens e mulheres que a viveram: o combatente da resistência, meio judeu, meio gay que passou a guerra ajudar refugiados em Berlim, a lésbica judia que fugiu para a Inglaterra com a ajuda de uma mulher que tinha uma queda por ela; o fotógrafo alemão Christian, que foi preso e encarcerado por sua homossexualidade e, em seguida, se alistou no exército ao ser solto porque ele "queria estar com homens"; o adolescente francês que viu o seu amante torturado e assassinado nos campos. São histórias de sobreviventes - às vezes amargas mas apenas como muitas vezes cheios de ironia e humor; torturados por suas memórias, ainda repletas de muita vontade de resistir. Seus comoventes testemunhos, prestados com imagens evocativas da sua vida e da época, contam uma história, assombrosa e convincente de resistência humana em face da crueldade inominável. Parágrafo 175 levanta questões provocativas sobre memória, história e identidade. Foi exibido no 8º Mix Brasil, em 2000, Parágrafo 175, para variar, não foi distribuído comercialmente no Brasil. Veja o trailer.

O cinema francês de hoje e de ontem


Assisti, outro dia ao filme O Diário Roubado (Le Cahier Volé, 1993), de Christine Lipinska.Um dos roteiristas deste filme, Bernard Revon, trabalhou com Truffaut, inclusive nos roteiros de Beijos Proibidos (Baiser volés, 1968) e Domicílio Conjugal (Domicile conjugal, 1970). A característica típica da obra de Truffaut, a mistura de lirismo e crueldade, contaminou a trama de O Diário Roubado. Eis aqui uma belíssima cena entre Virginie e Anne, as jovens amantes.




segunda-feira, 11 de julho de 2011

Novas Notícias

A morte lenta do diretor de fotografia

Por causa de uma série de inovações no sistema de captação de luz, o cientista Ren Ng inventou uma câmera que acerta o foco mesmo depois da foto tirada. Neste site (www.lytro.com/picture_gallery) há um simulador da experiência. Ou seja, se você quer o foco na flor e não no rosto, basta clicar alguns botões no computador e recuperar o foco que você gostaria de dar.

Uma descoberta revoluciona a fotografia
http://gizmodo.com/5818115/vain-monkey-steals-cam-to-take-self+portraits
Só para atualizar sobre o fim da carreira dos diretores de fotografia:
http://www.petapixel.com/2011/06/24/amp-camera-captures-hdr-video-in-real-time-with-a-single-lens/
http://www.lytro.com/

"Lacarmélio"

Um documentário sobre o quadrinista de BH que produz a HQ Celton...
Segue o link:

domingo, 10 de julho de 2011

NOTÍCIAS

1ª sessão de cinema do Brasil completa 115 anos


Em uma sala alugada do Jornal do Commercio, na Rua do Ouvidor, centro do Rio, ocorreu há exatos 115 anos a primeira sessão de cinema do Brasil. Para marcar a data, a RioFilme anunciou que vai colocar uma placa indicando o local.
"Foi uma iniciativa do belga Henri Paillie, um exibidor itinerante", lembra o pesquisador Hernani Heffner, especialista em restauro de filmes. Paillie mostrou aos cariocas oito filmetes de cerca de um minuto, com interrupções entre eles. Provavelmente haviam sido comprados na França e vistos pela Europa, alguns retratando apenas cenas pitorescas do cotidiano.As exibições duraram duas semanas, contou ontem Heffner, e ficaram restritas aos cariocas mais abastados. "Paillie cobrava ingresso e não era barato. O cinema era para a elite, não para o povão, uma atividade de luxo. Ele era um personagem obscuro. O que se sabe é o que saiu na imprensa à época."

O Mundo está ridículo

Mais um ponto a favor da arte e contra a imbecilidade de certos políticos. A escultura "Bolsonaros Sex Party", criada pelo artista plástico brasileiro Fernando Carpaneda, acaba de ser adquirida pela The Leslie Lohman Gay Art Foundation. A obra passa a integrar o acervo permanente da fundação. Carpaneda, além de artista plástico, é escritor e também autor do livro "Anjo de Butes"."Acho que, da mesma forma que o Jair Bolsonaro tem direito garantido e imunidade parlamentar para ir à televisão brasileira falar mal de gays e negros, eu, como brasileiro, também tenho o direito de me expressar em público sobre o Jair Bolsonaro", disse Carpaneda recentemente."Quero que ele se sinta constrangido ao ser visto retratado praticando sexo oral e anal. Assim, sentirá na pele o que é ter sua intimidade transformada em alvo de piada".A obra mostra exatamente uma orgia, com uma representação de Jair Bolsonaro em meio à suruba. A escultura também aproveita para criticar as campanhas homofóbicas que surgem no mundo, como a "God Hates Fags" (Deus Odeia as Bichas).Agora, a "Bolsonaros Sex Party" ficará exposta ao lado de obras de mestres da arte moderna e gay, como Andy Warhol, Keith Haring e Robert Mapplethorpe. Com isso, Bolsonaro conseguiu justamente aquilo que ele não queria: ficará para sempre associado à questão gay, e nos EUA - fora do Brasil."Seja viado, seja herói!", brada Carpaneda, citando a famosa frase "Seja marginal, seja herói", criada pelo artista brasileiro Hélio Oiticica (1937-1980) nos anos 60.





Reflexões de Fidel: Uma declaração brilhante e valente

A atenção a outros assuntos agora prioritários me afastou momentaneamente da frequência com que elaborei reflexões durante o ano de 2010. Contudo, a proclamação do líder revolucionário Hugo Chávez Frías na última quinta-feira (30 de junho) me obriga a escrever estas linhas.
O presidente da Venezuela é um dos homens que mais fez pela saúde e educação de seu povo; como são temas nos quais a Revolução cubana acumulou maior experiência, com imenso prazer colaboramos ao máximo, em ambos os campos, com este país irmão.
Não se trata em absoluto de que esse país necessitasse de médicos, pelo contrário, os possuía em abundância e, inclusive, entre eles profissionais de qualidade, como em outros países da América Latina. Trata-se de uma questão social. Os melhores médicos e os mais sofisticados equipamentos poderiam estar, como em todos os países capitalistas, a serviço da medicina privada. Às vezes, nem sequer isso, porque no capitalismo subdesenvolvido, como o que existia na Venezuela, a classe rica contava com meios suficientes para ir aos melhores hospitais dos Estados Unidos ou da Europa, algo que era e é habitual, sem que ninguém possa negá-lo.
Pior ainda, os Estados Unidos e a Europa se caracterizaram por seduzir os melhores especialistas de qualquer país explorado do Terceiro Mundo para que abandonem sua pátria e emigrem para as sociedades de consumo. Formar médicos para esse mundo nos países desenvolvidos implica fabulosas somas que milhões de famílias pobres da América Latina e do Caribe, não poderiam pagar nunca. Em Cuba sucedia isso até que a Revolução aceitou o desafio, não só de formar médicos capazes de servir a nosso país, mas a outros povos da América Latina, do Caribe ou do mundo.
Jamais arrebatamos as inteligências de outros povos. Ao contrario disso, em Cuba se formaram gratuitamente dezenas de milhares de médicos e outros profissionais de alto nível para devolvê-los a seus próprios países.
Graças a suas profundas revoluções bolivarianas e martianas, a Venezuela e Cuba são países onde a saúde e a educação se desenvolveram extraordinariamente. Todos os cidadãos têm direito real a receber gratuitamente educação geral e formação profissional, algo que os Estados Unidos não puderam nem poderão garantir a todos os seus habitantes. O real é que o governo desse país investe cada ano um trilhão de dólares em seu aparelho militar e suas aventuras bélicas. É igualmente o maior exportador de armas e instrumentos de morte e o maior mercado de drogas do mundo. Devido a esse tráfico, dezenas de milhares de latino-americanos perdem a vida cada ano.
É algo tão real e tão conhecido, que há mais de 50 anos, um presidente de origem militar denunciou, com tom amargo, o poder decisivo acumulado pelo complexo militar industrial nesse país.
Estas palavras seriam excessivas se não existisse a odiosa e repugnante campanha desencadeada pelos meios de comunicação de massa da oligarquia venezuelana, a serviço desse império, utilizando as dificuldades de saúde que o presidente bolivariano atravessa. Estamos unidos por uma estreita e indestrutível amizade, surgida desde que ele visitou nossa pátria, pela primeira vez, em 13 de dezembro de 1994.
Alguns estranharam a coincidência de sua visita a Cuba com a necessidade de atenção médica que se produziu. O presidente venezuelano visitou nosso país com o mesmo objetivo que o levou ao Brasil e ao Equador. Não tinha nenhuma intenção de receber serviços médicos em nossa pátria.
Como se sabe, um grupo de especialistas cubanos da saúde presta, há anos, serviços ao presidente venezuelano, que fiel a seus princípios bolivarianos, jamais viu neles estrangeiros indesejáveis, mas filhos da grande Pátria Latino-americana pela qual lutou o Libertador até o último suspiro.
O primeiro contingente de médicos cubanos partiu para a Venezuela quando ocorreu a tragédia no estado de Vargas, que custou milhares de vidas a esse nobre povo. Esta ação de solidariedade não era nova, constituía uma tradição arraigada em nossa pátria, desde os primeiros anos da Revolução; desde que há quase meio século médicos cubanos foram enviados à recém independentizada Argélia. Essa tradição se aprofundou à medida que a Revolução cubana, em meio a um cruel bloqueio, formava médicos internacionalistas. Países como o Peru, a Nicarágua de Somoza e outros do hemisfério e do Terceiro Mundo, sofreram tragédias por terremotos ou outras causas que requereram a solidariedade de Cuba. Assim, nossa pátria se converteu na nação do mundo com mais alto índice de médicos e pessoal especializado em saúde, com elevados níveis de experiência e capacidade profissional.
O presidente Chávez se esmerou na atenção de nosso pessoal de saúde. Assim nasceu e se desenvolveu o vínculo de confiança e amizade entre ele e os médicos cubanos, que foram sempre muito sensíveis ao trato do líder venezuelano, o qual por sua parte, foi capaz de criar milhares de centros de saúde e dotá-los dos equipamentos necessários para prestar serviços gratuitos a todos os venezuelanos. Nenhum governo do mundo fez tanto, em tão breve tempo, pela saúde de seu povo.
Um elevado percentual de pessoal cubano da saúde prestou serviços na Venezuela e muitos deles atuaram também como docentes em determinadas matérias ministradas, para a formação de mais de 20 mil jovens venezuelanos que começam a graduar-se como médicos. Muitos deles começaram seus estudos em nosso próprio país. Os médicos internacionalistas integrantes do Batalhão 51, formados na Escola Latino-americana de Medicina, ganharam um sólido prestígio no cumprimento de complexas e difíceis missões. Sobre essas bases se desenvolveram minhas relações nesse campo com o presidente Hugo Chávez.
Devo acrescentar que, ao longo de mais de doze anos, desde 2 de fevereiro de 1999, o presidente e líder da Revolução venezuelana não descansou um só dia, e nisso ocupa um lugar único na história deste hemisfério. Todas as suas energias, as consagrou à Revolução.
Poderia afirmar-se que por cada hora extra que Chávez dedica a seu trabalho, um presidente dos Estados Unidos descansa duas.
Era difícil, quase impossível, que sua saúde não sofresse algum quebranto e isso ocorreu nos últimos meses.
Pessoa habituada aos rigores da vida militar, suportava estoicamente as dores e incômodos que com frequência crescente o afetavam. Dadas as relações de amizade desenvolvidas e aos intercâmbios constantes entre Cuba e a Venezuela, isto somado a minha experiência pessoal com relação à saúde, que vivi desde a proclamação de 30 de julho de 2006, não é estranho que eu me desse conta da necessidade de uma checagem rigorosa da saúde do presidente. É demasiado generoso de sua parte, atribuir-me algum mérito especial neste assunto.
Admito, desde já, que não foi fácil a tarefa que me impus. Não era difícil para mim perceber que sua saúde não andava bem. Haviam transcorrido sete meses desde que fez sua última visita a Cuba. A equipe médica dedicada à atenção de sua saúde me havia rogado que fizesse essa gestão. Desde o primeiro momento, a atitude do presidente era informar ao povo, com absoluta clareza, sobre seu estado de saúde. Por isso, estando a ponto de regressar, informou ao povo, por meio de seu ministro das Relações Exteriores, sobre sua saúde até aquele momento e prometeu mantê-lo detalhadamente informado.
Cada cura ia acompanhada por rigorosas análises de células e de laboratório, que se realizam em tais circunstâncias.
Uno dos exames, vários dias depois da primeira intervenção, trouxe resultados que determinaram uma medida cirúrgica mais radical e o tratamento especial do paciente.
Em sua digna mensagem de 30 de junho, o presidente notavelmente recuperado fala de seu estado de saúde com toda a clareza.
Admito que para mim não foi fácil informar ao amigo a nova situação. Pude apreciar a dignidade com que recebeu a notícia que — para ele com tantas tarefas importantes que tinha em mente, entre elas o ato comemorativo do bicentenário e a formalização do acordo sobre a unidade da América Latina e do Caribe — muito mais que os sofrimentos físicos que uma cirurgia radical implicava, significa uma prova que, como expressou, a comparou com os momentos duros que teve de enfrentar em sua vida de combatente inflexível.
Junto a ele, a equipe de pessoas que o atende e que ele qualificou de sublime, enfrentou a magnífica batalha da qual tenho sido testemunha.
Sem vacilação afirmo que os resultados são impressionantes e que o paciente tem enfrentado uma batalha decisiva que o conduzirá, e com ele a Venezuela, a uma grande vitória.
É preciso fazer com que sua declaração seja comunicada ao pé da letra em todas as línguas mas, sobretudo, que seja traduzida e legendada para o inglês, um idioma que pode ser entendido nesta Torre de Babel em que o imperialismo transformou o mundo.
Agora, os inimigos externos e internos de Hugo Chávez estão à mercê de suas palavras e suas iniciativas. Haverá, sem dúvida, surpresas para eles. Brindemos-lhe o mais firme apoio e confiança. As mentiras do império e a traição dos vende-pátrias serão derrotadas. Hoje, há milhões de venezuelanos combativos e conscientes, que a oligarquia e o império não poderão voltar a submeter jamais.

Fidel Castro Ruz

3 de julho de 2011

sábado, 9 de julho de 2011

ARTE PLÁSTICA

atelier de jose sette



Terminei hoje de pintar o último quadro de uma nova fase alucinatória (papel em tinta têmpera) onde exponho a minha visão das cidades no futuro imediato que intitulei de URBE. Estarei publicando aqui em breve os 12 trabalhos. Segue abaixo uma amostra fotografada pelo meu celular.




sexta-feira, 8 de julho de 2011

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Filme de animação



http://www.youtube.com/watch?v=n9vgZia8_Rg&feature=player_embedded#at=122

O cinema brasileiro em cartaz no Youtube. Cobertura dos principais festivais, exibição de curtas, longas e materiais exclusivos dos principais lançamentos do cinema.



http://www.youtube.com/cinema?gl=BR&hl=pt

YouTube/Cinema,

Foi lançada a Frente Parlamentar do Audiovisual no Congresso,

que conta com a deputada Fátima Bezerra a frente. No total, são 204 deputados e 22 senadores. A principal medida a ser batalhada no Congresso é a aprovação do PLC 116, cuja votação está marcada para a semana que vem. A provação marca uma nova legislação para a TV por assinatura no Brasil.

http://revistadecinema.uol.com.br/pagina_conteudo_listagem.asp?id_pagina=65&func=1&id=1971

O dialogo com a instituição, (vigiar e punir), & o discurso do padrasto, (a lógica do capital).

Liberdade imediata em andamento,
Livre & preso estamos ao mesmo tempo.

Paulo Duarte Guimarães
http://cambralha1.blogspot.com/


quinta-feira, 7 de julho de 2011

EXERCÍCIO DE MEMÓRIA

Grilhões do Passado
Sou a favor da liberdade total no processo criativo. Se um escritor começa a escrever um livro, um cineasta a fazer um filme, um pintor a pintar um quadro, um poeta esboçando o seu poema, e se o seu enredo está preso no cipoal dos clichês de uma trama que se quer realista, verossímil, novelesca, comum, mesmo sendo ele recheado de surpresas lingüísticas, erudição, personagens fortes, mesmo assim ele está preso a vida, ao que é papável, a terra e aí os seus limites são pétreos. Uma página após outra em sequência coloca a inteligência criativa presa aos objetivos de se chegar a um fim. Mas se ao contrário você cria a gênese dos seus personagens em situações fora do contexto acadêmico e lógico de um romance e passa a lhe dar asas poéticas experimentais, você primeiro se livra dos grilhões do passado, do lugar comum e se solta e voa com a liberdade do futuro, do inatingível, do novo, ao que não foi ainda experimentado e que verdadeiramente merece ser criado. Depois você está criando a partir do nada, não tem que chegar a lugar nenhum, não há o compromisso com o tempo, com a forma, tudo pode se estender pelo eterno e o texto vai fluindo em todos os sentidos, cristalino, puro na essência dos seus significados, só epifania! Só isso é prazer,..
Orson Welles fez no seu cinema um exemplo disso em dois dos seus filmes: Citizem Kane (1945) e Mr. Arkadin (1955). O primeiro, embora uma obra prima, foi concebido e realizado dentro dos conceitos clássicos do cinema e o segundo já está mais perto de um cinema livre e poético e por isso, na minha maneira de ver, é um filme mais revolucionário, mais impactante, que o primeiro e por isso menos visto, menos apreciado, menos entendido, até hoje conserva os seus mistérios e provoca novas descobertas, epifanias.
Assisti novamente os dois filmes aqui no meu computador, parando em algumas cenas descobri que Wells gosta mais do texto, escreve também com a imagem, o ator é o complemento, o meio. Eu gosto mais do segundo filme, me identifico com sua liberdade poética. Orson Welles e quem tem a palavra no final de uma entrevista dada ao crítico francês Andre Bazin;
... Vou lhes fazer uma confidência mais terrível: só gosto de cinema quando estou filmando; então é preciso saber não ser muito tímido com a câmera, violentá-la, acuá-la em suas últimas trincheiras, pois não passa de um vil mecanismo. O que conta é a poesia.

terça-feira, 5 de julho de 2011

CABO FRIO

Primeiro Manifesto
Julho de 2011

Cheguei nesta cidade faz sete anos vindos lá das bandas da zona da mata mineira.
Não tenho a sede do mar que contamina os habitantes das Gerais, pois passei a minha infância nas praias do Rio de Janeiro, tenho sim sede das tradições e dos cantos e encantos que o mar nos proporciona. Amei a região dos lagos, principalmente Cabo Frio, desde que aqui cheguei pela primeira vez em 1958. Isto aqui é o paraíso! Exclamei quando aqui voltei em 1967, pouco antes de entrar na luta dos estudantes contra a ditadura militar.
Em 1974, quando retornei do meu exílio, passei na cidade a caminho de Búzios onde queria alugar uma casa para descansar e recompor a cabeça. Ainda vivíamos a ditadura. Lembro-me que o centro de Cabo Frio continuava ainda preservado, conservando em muitos recantos o seu aspecto colonial. Sou ainda encantando com seus cenários de rara beleza e só voltei aqui outra vez acompanhado de duas amigas para degustar o sabor inigualável dos seus frutos do mar. Aqui viemos filmar “Abismu” de Rogério Sganzerla. Todo o cinema brasileiro queria filmar em Cabo Frio. Confesso que sempre pensei que um dia eu gostaria de aqui pousar durante um tempo... Trinta anos depois sai de Minas, arrumei a mala e fui pro Rio morar... Aqui estou em uma casa de onde se pode ver o mar... Aqui filmei “Amaxon”, com produção local. Posso dizer que sempre gostei e continuo gostando desta cidade costeira, deste povo caiçara, do pescador e humilde trabalhador aos personagens característico desta região, desta sociedade sendo ou não de suas elites, sou um sujeito eclético e sem medo, navego em qualquer mar.
Bem entendida a minha chegada, passo ao assunto desta minha reflexão a esse prestigioso Jornal do amigo Totonho: Quero falar por este rápido texto da política municipal, matéria que está na pauta do dia e na boca de todos. Mas antes é preciso dizer que não sou, como muitos que se escondem da história, um analfabeto político. Vim de uma família de políticos mineiros e, mesmo podendo, adianto que não pretendo ser candidato a nada e nem militante de nenhum partido político, mas apenas um colaborador de idéias futuras. Estou aqui também para aprender.
A primeira coisa que notei quando comecei a morar e a andar pela região foi a degradação da sua natureza paradisíaca e histórica. Tudo que havia me encantado, em poucos anos passados tinha se perdido na ganância e na estupidez de seus governantes e na ignorância pacífica de um povo oprimido pelo capital. Toda a riqueza de sua história, os sobrados centenários, as praias desertas, a água cristalina dos canais e da grande lagoa de Araruama, que eu conhecia com as suas salinas e os seus cata-ventos, foram transformadas em ruínas e prédios de arquiteturas duvidosas; hoje as praias cobertas de apartamentos fantasmas; as águas completamente poluídas e as ruas, embora limpas, exala pelos bueiros um cheiro nauseabundo que me deixa, em meus passeios pelo centro, neurastênico, transmutado, em pleno ataque de nervos... Como deixaram um lugar como esse chegar a esse ponto? Hoje os turistas se afastaram da região e os gananciosos, cegos pela febre do petróleo, disputam a tapa o seu lugar nas grandes negociatas que tamanho dinheiro envolve. Não é possível ficar alheio a tudo isso. O povo tem de deixar de ser minoria, precisa mostrar força, se conscientizar, deixar de ser massa de manobra, de obra, de tijolos, de cesta básica e dogmas teológicos e nas próximas eleições municipais votar sem medo, unido e consciente do melhor. O povo pode renovar em um único dia todo universo carcomido de políticos que habitam há anos o paço municipal, pois o seu voto é a única arma democrática que possuímos para derrubar de uma só vez todos esses oportunistas de plantão. Para isso acontecer tem que se unirem os políticos e os partidos de visão em torno do melhor candidato. Vocês que querem renovar e ao mesmo tempo conscientizar, informe aos seus eleitores quem pode e quem não pode ser votado e eleito. É longo o caminho. Então futuros candidatos é preciso começar já o trabalho. Mostrar a sua cara. Não é possível mais se conviver na política com os inimigos do povo. É preciso convencer-se que para salvar Cabo Frio é necessário mudar tudo que ai está. Não adianta remoer derrotas. Fazer política não é torcer por um clube de futebol, na política você pode mudar de time. Há de se saber também que de nada adianta ficar culpando o passado dos governantes por erros cometidos em suas desastrosas administrações. Isso não interessa. Não podemos retornar o tempo e muito menos desfazer os espaços ocupados. Mas programar uma dinâmica de trabalho construtiva voltada ao interesse da maioria e implementar na administração pública, a inteligência e a criatividade, isso sim pode ser feito. Repito: Cabo Frio tem de se unir para frear o caos administrativo que vem destruindo a cidade. Aqui, onde coisas importantes precisam com urgência serem feitas, nada se faz, tudo se desfaz numa rapidez espantosa. Como uma prefeitura pode pagar novecentos mil reais por ano a uma emissora a cabo (InterTV) por algumas produções caseiras de vídeo amador que em nada contribuem para o crescimento do conhecimento cultural e o desenvolvimento social, político e econômico da cidade? É incrível! Qualquer pessoa de bom senso sabe que todo esse dinheiro poderia ser muito mais bem empregado.
Com isso tudo exposto penso que os políticos que querem governar essa cidade têm de formalizar no mínimo sete compromissos com os seus eleitores e eu proponho para a reflexão dos leitores desse insigne jornal eletrônico, as minhas sete prioridades – são só idéias a serem observadas pelos futuros candidatos:
1 Cabo Frio é uma cidade com vocação para a educação de qualidade e integral que precisa com urgência de uma Universidade Federal.
2 Cabo Frio precisa, através do Governo Federal, do Banco Mundial e de outros órgãos, implantar, em convênio com outras prefeituras de toda região, obras de saneamento básico e consequente despoluição das suas águas.
3 Cabo Frio precisa retornar com a indústria do turismo para a cidade. Turismo de qualidade que possa trazer benefícios para os seus habitantes.
4 Cabo Frio precisa criar uma política de incentivo a criação cultural e prestigiar os seus artistas.
5 Cabo frio precisa criar uma indústria do peixe e beneficiar com ela o pequeno pescador a desfrutar de toda a riqueza que o seu auspicioso mar pode lhe fornecer.
6 Cabo Frio precisa urgentemente de uma reforma urbana que preserve o seu ecossistema e sua sustentabilidade futura.
7 Finalmente a cidade de Cabo Frio para se erguer precisa de uma nova administração, limpa e transparente, composta com o que de melhor a cidade pode oferecer e assim proporcionar a toda a sua população saúde, segurança e transporte de qualidade, sabendo que isto é o básico indispensável a qualquer governo que se quer começar.
No meu modo de pensar esses são os primeiros passos para se formalizar um compromisso com a sociedade de transformação e reformas.
Todos os habitantes de bom senso, com o mínimo de informação, já sabem que como está não pode ficar. Chega de nos enganar. É preciso mudar e a hora é essa.
Vou transferir o meu título para a cidade, pois quero ajudar a eleger o futuro prefeito e os vereadores que formalizarem um compromisso de mudança, de reformas e de transformações sociais.

domingo, 3 de julho de 2011

NOTÍCIA



No Interior das Minas

Morreu o Presidente Itamar Franco, o último político da geração do meu pai. Conheci o homem e o político mineiro ainda criança na sede do PTB que Sette Barros, meu pai, presidia. Depois, mais tarde, na convivência com o José Aparecido de Oliveira, José de Castro Ferreira, Raul Belém, nos encontros que ele promovia no Hotel Del Rey em Belo Horizonte nos idos de 1978 para conversar, contar os “causos políticos” dos mineiros e preparar o terreno para a redemocratização do país, foi nesta época que eu me aproximei um pouco mais do futuro Presidente.
Ele era senador da república quando fui convidado pelo Festival de Brasília para exibir o meu filme “Interior das Minas” sobre o paleontólogo e descobridor do homem pré-histórico de Lagoa Santa, Peter Lund, em suas descobertas e pesquisas em mais de 800 grutas e cavernas na região de Codisburgo, Minas Gerais. Em lá chegando fui estar com ele no Senado onde, depois de sua insistência, escrevi uma nota sobre o meu filme que ele me deu a honra de lê-la no plenário da casa.
O homem Itamar era assim: intempestivo, de atitudes inesperadas, obstinado, vaidoso e dizem seus inimigos que guardava ódio na geladeira, jamais esquecia uma traição.
O político Itamar conservava essas mesmas características pessoais, mas também era um nacionalista de centro-esquerda, probo e determinado na defesa do homem brasileiro e de suas tradições.
Foi no seu governo que renasceu das cinzas o cinema brasileiro massacrado por Collor e seus asseclas.
Sim! Ele era também paradoxal em suas posturas políticas. Ontem era vice do Collor e depois ficou contra ele. Amigo e depois inimigo de FHC. Apoiou Lula e depois se voltou contra ele apoiando Serra. Mas entre uma guinada e outra, construiu um caminho sólido de honradez e tornou-se um exemplo de dignidade que muito fará falta ao Brasil.
O conhecimento e a disseminação agora de sua história elevarão o pensamento e a postura pública dos jovens políticos que hoje surgem no cenário nacional.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Meleagro

Basta de Diálogos Ocultos

O Egito, com suas pragas bíblicas, se assemelha a este país tropical
Ouvi esta afirmação de um Meleagro das matas dos confins do norte
Ele vivia em uma palafita fincada nas águas escuras do rio
Encoberta pelas centenárias árvores amazônicas
Em dois dias de viagem
No igarapé do alto Rio Solimões

Para ele o Brasil é o éden e o Egito o divino
O Egito é a terra das múmias antigas, dos enigmas decifrados
O Brasil é o tabu, a terra pré-histórica mais antiga e cifrada
Terra de ninguém, de nenhum brasileiro, terra do nada
O Brasil é o índio e sua história
Ontem e hoje pobres índios massacrados...

Porque tamanha pobreza? Tamanha miséria? Tamanha crueldade?
Será que os deuses egípcios e os pajés das matas nos enganaram?

Você precisa saber, continuou ele exaltado:
O homem brasileiro é representado pelo índio
O povo do Egito é representado pelos árabes
Os judeus por eles mesmos
Onde o princípio é o fim
Romeu é Julieta
Marco Antônio nunca amou Cleópatra
Amava César que detestava Roma

Os que nascem sábios em toda uma geração de anacoretas deverão pagar este alto preço... O preço da traição, do esquecimento, da decepção e do veneno...

Só se você se jogar nos braços da morte se desfaz este feitiço.
Respondeu-me o Meleagro

Não sou cristão e não me beatifico
Mártir? Não sou herói nem bandido
Não sou guerreiro e nem predador
Permaneço longe desta confusão
Não respeito à origem da família e nem da propriedade
Sou contra a igreja e o capital
Não vivo da lealdade dos amigos
Nunca os tive
Nem dos escravos das crenças dos judeus
O capital nunca o quis
Vivo pela liberdade total do ser
Sou a favor do bacanal
Do Eu em Você e Nós dois em Todos
Falei para ele com ar de farsa

Este tema é o anátema dos nossos dias
Ele me respondeu
O Egito milenar está escrito na pedra verde
Espalhado por toda a América
Muiraquitã é um dos nossos deuses
Miramar é o outro
Nunes e Oswald
Macunaímas anárquicos e elétricos
Mitologia brasileira ou a etimologia da memória?

O que fizemos de errado para sofrermos esta escolha divina e cristã?
Se Deus é brasileiro
O oriente miscigenado ao ocidente
A nossa esculhambação
Nasce no carnaval
História ou Acidente?
Não há registro.

Assim fica decretado:
Que em nome da infâmia seja apagado das pedras do rio
Todas as tradições da nossa cultura e do nosso folclore
Em troca das miçangas estrangeiras

Agora olha um para o outro
O que esta em você e pela última vez
Acabe de vez com a farsa
Se você morrer será pelas mãos dele e não pelas minhas

No deserto abrasador deste mundo
Homens que haviam andado com reis
Andam hoje solitário

Abandonados pelos amigos
Em todas as horas
O homem civilizado é um morto-vivo
Zumbi do mercado e da moda
Uma macumba de turista

Perdido e Maldito

A cada dia mais você se deixa
Ao abraço da solidão

Estou e sou só e daí?
Não há o que duvidar

Este calor insuportável dos trópicos
Levará multidões à loucura

No paraíso do nada
Pois ainda mal sabemos de onde viemos
Vivemos malgrado pela força do ouro

Pizarro trucidou a terra milenar americana
Pela cultura bárbara da descoberta
Isso amaldiçoou a Espanha

Hoje são todos adoradores do Midas e da mídia
Do metal nobre na mão do criador e da expressão do mesmo

Somos todos alquimistas

Meu amigo, haverá uma nova geração briguenta
Haverá a cada dia um novo rebelde indômito
Jovens que doarão o seu sangue novamente para a abstrata renovação
O eterno povo pintado de vermelho para a revolução
Cara pálida
Somos heróis!
Houve alguma mudança?
Novas e cansativas tentativas surgirão
Sempre haverá um romântico idealista
Um barco a deriva

Novos modelos político econômico de governo também existirão
Tudo é nada na mais pura mentira inventada
Ninguém deve agüentar mais isso
Revolta e transformação

Muita censura econômica sem nenhuma liberdade
Muito amor no país do romance e da carochinha...

E você onde estava em 1968?

Meu amigo é tão bom te ver de novo
Limpo, barbeado e sadio.
As drogas não lhe consumiram?
Não lhe mataram?
Eu estava perdido...

Voa, voa, doce anjo e vai estar com os mentirosos
E diga a eles o que me fizeste.

Até onde podemos chegar?

Você está inteiramente maluco!

Voe meu doce anjo para a verdade


A loucura do céu azul de tanto anil
Em pinceladas inusitadas
Cria uma nova bandeira
Com o Sol vermelho da solidão
O verde das matas e do mar
O branco da renovação e da paz

Renovar é tudo que alguém pode pedir na vida
Ela flana solta e verdadeiramente livre
Falo de todas as amarras do sistema
Tendo todo poder em suas mãos
Em seu corpo, em sua língua,
Em acordo com a sua inteligência,
Sua cultura, seu saber e suas necessidades.

Liberdade é amar alguma coisa além de nós
Nos olhos verdes da morena arábica
Duros como um cedro do Líbano
Vejo a revolução brasileira, vietnamita, cubana e chinesa
Penso na história

Precisamos derrubar a mentalidade stalinista que domina o pensamento para sabermos onde esta o erro praticando a revolução permanente de Trotski...

Uma jóia, às vezes, possuí o brilho do fogo, mas todas as pedras, por mais rara e preciosa que sejam, não trazem em si nenhum calor, nenhuma luz, nenhum sol. Quanto maior é a luz mais tenebrosa é a SOMBRA e mais valioso o diamante

O país só nos oferece a dor
Mas nós lhe oferecemos tudo o que temos de alegria
Afinal morrer faz parte da vida
E gozar é só o princípio

Os árabes dominaram a Bahia e a Minas os ingleses
Não nos faltou o comércio das quinquilharias
Ao peso de um Moisés, de um Ramsés ou de um francês
A nossa pré-história, os nossos ossos
Vieram os ingleses e colonizaram a língua e os costumes
Construíram as nossas cidades com a força do campo
Implantaram as estradas de ferro de bitola estreita
Forjaram as pirâmides do desenvolvimento inexplicável
O povo escolhido se deixou escravo por milênio
Agora, deixaram um furo bíblico, messiânico, evangélico
O milagre milenar do pastor barbudo e do sapo venenoso

Eu sou seu pastor de ovelhas, seu carmesim
Toda a nossa história começa assim
José, tire as sandálias dos pés, pois esta terra é sagrada
O senhor é o seu pastor e nada vos faltará...
Senhor! Como posso tirar o meu povo do cativeiro
Sendo eu o que sou?
O que direi a eles ?
Um homem de fé vale pôr mil soldados... Diga-lhes!
Moisés com sua cabeça branca e suas sandálias velhas
Pisando descalço na terra santa comandou um exército
Comandou uma nação adoradora do bezerro de ouro

No Egito contemplei a morte quando disse que não seria pela espada de um guerreiro que os deuses libertarão os seus protegidos mas sim pela vara simples de um pastor. No Brasil deram aos ricos empresários vários presentes e muitas espadas para protegê-los

Mas que reino te enviou?
O reino das alturas, um anjo me respondeu.
Deixai o meu povo em liberdade
Oh! Dura servidão
Um homem santo me torturou e me cortou em mil pedaços
A sua vara se transformou em cobra viva, venenosa...
Milagres eu faço! Agora engolir a cobra é trabalho de mágico

Disse o faraó: O poder do seu deus é um truque barato de magia
A minha serpente engole todas as outras ignomínias
Disse-me o carrasco: deus perdoa-te pelo fraco uso de suas forças
Faça o que quiser comigo mas não perca a fé em nosso país

Eu lhe amaldiçoei por que o amo, meu deus!
Entre todas elas a quem fui apresentado eu me apaixonei por você
Eu me apaixonei por um pastor, por um carpinteiro, por um camponês
E pelo torturador dei a outra face

Existe uma beleza no espírito, não podemos vê-la, mas podemos senti-la
Mas a beleza não libertará o nosso povo
Você é o pó onde deus realiza os seus propósitos

Para todos que amam este país com fé resta pouquíssimo tempo de se consubstanciar a vida nesta sessão de pancadaria
E o medo me libertará
Delação!

Água da vida se enriqueça e nunca transforme o deserto seco no mar
Disse-me um incauto que naquela igreja está jorrando o sangue de Deus
Os terroristas foram exterminados no altar

O sertão virará deserto e o deserto tornar-se-á um inferno
E o céu? E o mar? Por sete dias o Egito morreu de sede.

Purifiquem a ponte por onde vocês vieram - índios da América!
O Amazonas e o Nilo ficarão vermelhos de sangue
Deus que não é brasileiro tende a negar tudo que seja popular
Ele não deu asas à cobra do paraíso

Nada te fará curvar aos poderosos faraós desta terra brasílica
No grande e sinuoso Chico onde irás navegar
Três dias de trevas
Três figuras santas
O medo de quem governa
O saque do povo faminto, nada o impedirá de ver
Quem é o escravo e quem é o faraó
Os vencedores sempre contam as histórias dos vencidos
O Egito nunca se renderá ao deus dos seus escravos

E você, miserável destino, quando libertará o meu povo?
Se houver mais uma praga, uma mentira, a nossa gente se revoltará
Não venha mais aqui Moisés pois ao vê-lo os famintos o devorarão

Chamem a polícia e o ladrão, o mau e o bom, pois uma nova praga vou lhes pregar: Uma criança pobre e maltrapilha morrerá a cada dia que antecede a libertação em mãos estrangeiras

Eu o perdi porque o amava
Supremo paradigma !
Deus de todos os poderes me proteja...

Louvado seja aquele que trouxeram o pão à nossa mesa
O povo desta terra não haverá de morrer de fome
É história universal e divina
Nasceu sobre a proteção guerreira de São Jorge
Meu santo protetor com sua mão forte livra-me deste cativeiro
Partiremos em busca da terra prometida, em busca do saber
Lutaremos juntos! Disse-me Jorge no dia 23 de abril

Grande senhor do mundo superior erguerei para ti um templo de magia e orientação maior que as pirâmides onde sua sombra se lançará por enigmas de cânticos louvores e ritos que te projetará como se fosse esfinges incontáveis a devorar toda a luz do mundo e farei surgir assim o seu novo e único mandamento aos homens tirado de toda luz que guiará uma geração de desgovernados

Toque-me ! Alo você! Troque-me por coisa mais real...
Meu senhor, eu te mato mesmo sendo meu salvador!

A minha liberdade rompe suas fronteiras
Mas alguns ainda se deixam incrédulos
Pela força onipotente do império do norte

Atiçam seus cavalos e suas bestas em defesa de seus interesses
Nossa força não é só o trabalho, mas criação e a arte

Não cultivamos a preguiça como querem nos colocar
Somos trabalhadores e ordeiros que eles querem escravizar
Não tenham medo fiquemos sim perplexos
Extasiados com a força da razão e o fogo do saber

A divisão das águas! E Deus abriu o mar.
O Povo se viu livre dele outra vez
De quem? Do seu povo?
Mas dentro desta alcova sagrada eles surgiram em grandes números
Como milhares de insetos traidores devoram o que esta a sua frente
Sem solução merecem morrer
Envenenados por seu apetite incontrolável
Os que querem tomar o lugar do divino
Destino final deste trem
A última estação
Do santo prazer!

Regido pelas forças inferiores clamavam que Deus existia mais tinha esquecido do seu povo.Tinha se esquecido do Brasil
Mas lá no norte, nas selvas amazônicas, ele renascerá...

E aqui estou eu!
Novamente JURUPARI.
FECHAM-SE AS ÁGUAS.
SUCUMBEM OS HIPÓCRITAS
NAUFRAGAM OS DESTEMIDOS
ASSOMBRAM-SE OS IMPÉRIOS
Da eternidade para a eternidade vós sois Deus!
Professou e Pajé das matas... MELEAGRO
Mas antes de matar-me mostre-me o sangue deles

Antes do paraíso está o deserto
Antes de um homem está o animal
A planta, o mineral, o nada!

Foram-se todos à montanha proibida de Roraima
Receberam novamente os mandamentos divinos
Beberam o xarope do índio
Criaram uma nova lei
Dançaram a noite toda

É preciso ter muita fé para amá-lo - disse-me Deus
O que eu deixei de fazer para que este povo se contente com tamanha hipocrisia? É tão grande a estupidez que me deixa enraivecido, envergonhado de ter nascido aqui, neste quintal mundano

Enquanto Jurupari lapidava os mandamentos os índios famélicos se contentavam em adorar as coisas da natureza exuberante da selva

Este é o nosso Deus, diziam, o único
O Deus do prazer
O Deus natural
O país vivia a sodomia moderna antropofágica
Os índios nus comiam uns aos outros num banquete de famintos

Basta de podridão só o canto gregoriano do negro faz com que o povo suporte a sua miséria gritou o padre na capela
Só os privilegiados filhos do mal se divertem cochichou no ouvido do bispo o papa
O que o Senhor tem contra o prazer? Disse o ouvinte revoltado
Quero a felicidade e quem não quer viver por ela que morra nela
O Senhor esta irado? Perguntei-lhe
Jurupari criou asas e voou ao céu e na volta disse aos seus: Proclame a liberdade por toda a terra em nome de todos os homens e seja o que os deuses quiserem.Chega de bezerro de ouro. Abaixo o capital, os milagres e os planos diabólicos. Enforquemos Midas. Somos do ocidente e não um acidente. Oriente a sua mente pois é chegada a hora do Juízo final e basta...