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sábado, 27 de junho de 2009

OURO PRETO


BRASIL BARROCO

Ouro Preto, terra do ouro! Do barroco!
Da escravidão!
Da liberdade!
Da solidão...

Deste alto,
posso vê-la!
Velha Vila Rica!
300 anos passados
a ferro e fogo

Neste palco misterioso
se esconde em cada igreja, atrás de um santo, em cada beco, em cada rua, o símbolo tortuoso dos caminhos da liberdade

Aqui o barroco se projeta nas pedras talhadas em seus contorcidos desenhos

A espiral dança nas curvas... Gira o tempo veloz projetando círculos... Volúpia
sem limite!

Saudosa e sinuosa terra de colonizadores de ontem e de hoje onde os inventores do novo ver praticam longas caminhadas refletindo a vida, valorizando a arte...

A história livre dos absolutos!

Chegar lá em cima... Antes de lá chegar
Eu morro!
Tão longe...
Tão perto

Por essas pedras e ladeiras caminhamos livres valorizando a criação libertária de todas as obras
Revolucionários
Rebeldes
Amotinados
Camaradas

É preciso concentrar o olhar para se bem observar a vila afundada nas minas do ouro que não mais existem

Renascendo pela força da arte e do saber, vendo lentamente a neblina se dissipar, a vila mostrou-se, transformou-se em cidade, em capital. Foi abandonada e salvou-se

Marginal! Maldito! Solitário! Hermético!
Fora do sistema!

Só o que foi totalmente abandonado pode se salvar
Onde estão perdidos os personagens libertários de sua história? Morreram todos! Será preciso revelá-los novamente?

Ainda posso sentir o cheiro forte do sangue escorrendo nas íngremes e tortuosas ladeiras da velha vila rica barroca colonial brasileira.

Ouro Preto, sua história que foi forjada na luta libertária, fraterna, dos rebeldes de outrora, ainda não foi vencida

É preciso de total liberdade para se ver um pouco mais longe. Mas do que adianta a liberdade estando ela presa a roda do sistema?

O tempo contra o tempo arma-se de poesia e resistência.

O barroco refulge imutável na curva infinda do seu limite insondável
A boa história livre de todos os ranços do ouro...

Dos juros, infâmia, violência, ganância, fome, medo, miséria, soberba, ódio, vingança, fortuna, furto, trapaça, nada tenho a dizer...
Somos todos artistas.
Somos todos barrocos.

Somos brasileiros
Trabalhamos nos limites das formas

Criamos a beira do caos a gazua que abre as portas do saber e do prazer

Temos a certeza que existe um mundo melhor no nosso caminho

Saímos
De Ninguém
Para
Lugar Nenhum

O infinito é barroco
O universo é barroco
A terra é redonda
O céu é azul

No mundo Pequeno
Atômico
Barroco
Elétrons giram e bailam num frenesi
incontrolável
fora do tempo

Passado o presente Chegamos ao futuro
Vislumbramos o incomensurável amanhã
Redescobrindo a vida e seu caminho
Para sempre
Sem fim

quarta-feira, 24 de junho de 2009

NOTÍCIA AMAXON

No dia 2 de julho, quinta-feira, às 22.00 horas, no Cine Glória, Rio de Janeiro, estarei exibindo, para amigos e convidados, AMAXON, o meu novo filme de longa metragem, com Vera Barreto Leite, Otávio III e narração de Ava Rocha. Logo após a sessão sobe ao palco o grupo musical ESTUDO MUDO, que toca suas composições com a participação de Emiliano Sette, que é um dos compositores da trilha sonora do filme.
No dia 17 de julho estaremos exibindo o filme no Cine Vila Rica, às 21 horas, durante o Festival de Inverno da cidade de Ouro Preto, Minas Gerais.

Assista o trailer do filme Amaxon.
http://video.google.com/videoplay?docid=-9048805111654506440

domingo, 21 de junho de 2009

Página Aberta


Estou nestes dias com duas frentes de trabalho. A primeira é o lançamento do meu novo filme AMAXON. A segunda é apresentar o texto do meu livro TRILOGIA DA SEPARAÇÃO aos amigos, buscando a crítica e as reflexões que me ajudarão a dimensionar o valor do texto para uma futura publicação. Um dos meus melhores leitores foi a artista plástica Ofélia Torres que me remeteu o texto que publico hoje na página deste blog.

“Sei que vou virar algumas noites lendo e relendo compulsivamente os originais do livro TRILOGIA DA SEPARAÇÃO, um texto raro e inqualificável: romance, roteiro, memórias do cinema brasileiro, do cineasta e da história de toda uma geração?

Tratando-se de um livro escrito por um cineasta, com vasta experiência e grande paixão pelo kynoma, era de se esperar um autor narrador na primeira pessoa. Mas, é exatamente o oposto que se observa com o espaço ocupado quase que inteiramente pelos personagens e onde o leitor/expectador envolve-se também diretamente na trama, compactuando-se, projetando-se e enredando-se com os personagens – foi o que aconteceu exatamente comigo em OS HOMENS QUE NÃO TIVE.

Para além do ritmo cinematográfico, o livro é uma trilogia policial: patético e com uma carga emocional profundamente humana em OS HOMENS QUE NÃO TIVE; beirando ao surrealismo em MEU MESTRE FEITICEIRO e introspectivo, quase um diálogo entre mudos, em O MAR E O TEMPO. Em todos os três, as imagens saltam no colo do leitor/expectador e deslizam em uma cadência rítmica de diálogos e silêncios.
Nunca havia lido um texto onde os diálogos fossem tão constantes e alternativos – passando diretamente de fatos concretos para a introspecção “que o mar já está chegando... quando você descobriu que tinha amor por mim?” e exigindo do leitor/expectador a mesma agilidade. Consolida-se a trama policial com o os crimes insolúveis de cada etapa da trilogia.

José Sette, apesar de você dizer que não importa o estilo, gostaria de frisar um aspecto muito interessante observado – o estilo não é linear e monótono- ao contrário ele é tri-dimensional – pessoas, paisagens e fenômenos da natureza se misturam “o sol agora amarelo de fim de tarde, ilumina o rosto da mulher que está sorrindo” “É noite. A lua brilha cheia no céu de poucas estrelas”.

A sutilidade com que você fala do bom, do excelente cinema, seja através do manuseio de câmeras pelo personagem Lourenço ,seja por referências veladas ou explícitas de grandes filmes e cineastas ,é outro aspecto atrativo do livro TRILOGIA DA
SEPARAÇÃO.

Finalmente, o testemunho e o posicionamento contra a violência e truculência policial militar, os auto-exílios, os medos, a indignação e a repulsa pela tortura e a falta de liberdade de ir, vir e expressar idéias - são aspectos que aparecem com bastante ênfase no livro TRILOGIA DA SEPARAÇÃO e que contribuem, sem dúvida, para a recuperação da memória sobre os anos de chumbo.

Concluindo, publica logo, com urgência, o livro TRILOGIA DA SEPARAÇÃO”.

Junho de 2009 Ofélia de Lanna Sette Torres

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Notícia sobre uma entrevista

Assista a entrevista que fiz para um jovem universitário quando ainda morava na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, 7 anos atrás, onde se pode ver, em segundo plano, uma das minhas experiência perdidas nas artes plásticas “Anjomônios”.
http://video.aol.com/category/bossas/home-video/jose-sette

quinta-feira, 18 de junho de 2009

34 ANOS DEPOIS DA BANDALHEIRA


Consegui finalmente telecinar a única cópia (O negativo está perdido) que tenho em 35mm do meu primeiro filme "BANDALHEIRA INFERNAL". Isso só foi possível com o apoio do Festival de Inverno de Ouro Preto, onde estarei a partir do dia 12 de julho exibindo o meu cinema nobremente acompanhado de grandes amigos. Pretendo realizar um novo filme na cidade com o título de "BRASIL BARROCO" nesta semana onde o frio vento da história corta o pico Itacolomy.
Segue dois textos sobre o filme Bandalheira Infernal.

BANDALHEIRA INFERNAL
Um longa metragem experimental, filmado em 1975, sem história, sem roteiro, sem sinopse, guiado apenas, durante os sete dias de suas filmagens, pelo que era o sentimento da vida, naquele momento opressivo, paranóico, obsessivo, vividos pelos que se sentiam perseguidos. Uma metáfora sobre o conflito ideológico e político do país passado entre a ação e o pensamento conservador de direita, contra uma esquerda que é neurótica, autofágica e confusa. Um filme alegórico sobre a perseguição, a repressão e a desumanização do povo brasileiro pela ditadura militar.

MARÉ TÁ CHEIA!
Era quando o “doce” ainda era “ácido” e os conjurados se reuniam no pier de Ipanema. A mordaça era dupla (e a que apertava mais, podem crer, era a stalinista) e nossos ouvidos eram detonados a “telefonemas”. A saída dos caretas era fazer tudo de uma vez e o mais rápido possível, afinal anunciavam e garantiam que o mundo ia se acabar. Para nós, se acabasse, que importava? Outro melhor, muito melhor, estávamos construindo, pelo menos em nós mesmos, em meio àquela bandalheira infernal.
Foi ele (o que se acabava e de fato se acabou, e no qual hoje em seu entulho vivemos) que o olho-de-peixe do inconfidente José Sette (José de Barros em 78), um pouco à maneira do kino-glass de Dziga Vertov, um pouco ao “Limite” de Peixoto e bastante à sua própria e confidencial maneira, no momento exato da sua derrocada final, registrou em película 35 P&B.
Porém os náufragos de “Bandalheira Infernal” naufragam no asfalto, nos apartamentos de classe média, no trânsito corrosivo das metrópoles, nos morros e florestas da paisagem mágica do Rio de Janeiro, e vivem sempre perseguindo as suas próprias sombras e por elas continuamente sendo perseguidos. Cada quebrada, cada esquina, é a esquina do medo; o medo permanente e neurótico do inesperado, do incerto, do inseguro, o medo, enfim, de si mesmos, de sôfregos penitentes e derradeiros personagens de um mundo que rolou ladeira abaixo. - Mamãe!... O contraponto deste erro cósmico-kármico-pequeno-burguês, tão bem fotografado neste filme, no ato exato de sua cômica tragédia, e que nos exibe o retrato editado e falado daquilo que até hoje nos faz penar neste paraíso em plena América do Sol, do Sal, do Sul, vem na linguagem libertária do seu discurso cinematográfico,na postura irreverente da sua dramaturgia, na poesia hermética da sua criação, e, principalmente, na revelação de uma nova direção de cinema e de um estilo novo; um estilo de cinema-plástico, gráfico e contemporâneo até a alma. Vejam-no agora na tela: “o antigo que foi novo é tão novo como o novo mais novo”. Navegarbrasiliaterra.
Sim, leitor, estamos falando de Arte, sacou? Arte Maior! Biscoito fino, diamante legítimo, coisa rara, muito rara mesmo, nessa atual maré cheia de mediocridade. Algo para os (não poucos, mas raros) que sabem onde encontrar a essência da beleza e senti-la em toda a sua intensidade. Por isso que malandro (aquele que tem olhos livres e vê) tá sabendo que quando maré tá cheia é melhor entrar na areia. Porque na areia tem mais peixe que no mar.
Mario Drumond

domingo, 14 de junho de 2009

MEDITERRÂNEO

AMAXON
RECONHECER

O AMOR
Parado no espaço. No tempo. Dentro do fim.
Refletindo sobre as vinte mil linhas escondidas
No labirinto feminino de ideogramas desconhecidos

A VIDA.
No que pese a natureza do Eu
No templo ígneo de mulheres destemidas
Prepara-se a trama aflita

A LIDA.
O corpo dói com medo
Tudo aquilo que devo dar
Passar um certo segredo

O MAR.
No dia que o sol for primeiro
Demore a lua no céu de Alá
Observando o cruzeiro ali

OFIR.
Do sul para o norte sem direção
Um cometa de mil raios se via
No fim mil mundos em vão

AGADIR
No caos a mão inteira
Biblioteca das ilusões
Minha razão me diria:

ALEXANDRIA
Nesta louca brincadeira
Pantagruélico banquete
Bem doloroso seria

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Romance Moderno

Foto Nasa
ALMAS GÊMEAS
Tenho guardado alguns inéditos, textos e
poemas autografados recolhidos pela minha
avó Luisa Marinho Sette Câmara no início
do século 20, que venho publicando aqui
no blog. Hoje, perto do dia dos namorados,
retiro do baú o genial João do Rio, que
ao encontrá-la, no Rio, lhe dedicou esse
poema romântico e moderno.

"As mulheres são como pequenos vasos de cristal transparente.
Nós é que lhes pomos a tinta da ilusão e as vemos azuis,
rosas ou verdes, conforme o estado d’alma.
Para perdoar e amar a mulher serenamente,
é preciso retirar a tinta.
Poderemos então ver
através o céu e tudo o mais".

João do Rio em 1918

sábado, 6 de junho de 2009

Viagem nas histórias que o tempo leva...

Falar a tempo e tanto quanto baste ao assunto. Quem muito fala corre o risco de comprometer-se dizendo de si ou de outrem o que fora melhor calar. A discrição é a fidelidade da língua e, quantas vezes, por inadvertência ou assomo, deixamos escapar um dito cujo efeito acarreta-nos amargos dissabores.
Os que ponderam ensinam com o silêncio.
Coelho Neto
Rio, 19-11-1913

No início do século vinte um cordel de histórias românticas.

A todo encontro um poema; um texto; um autógrafo; um retrato; um postal.

Nas cidades, nos correios, sempre algum calígrafo romântico a branca donzela encantava.

À Rui Barbosa escreveu mil cartas de amor, mas só João do Rio é quem soube à ela dar o seu valor.

Coelho Neto, quando a viu, não se esqueceu do polígrafo que era e do atormentado de então, nos deu, peregrino da terra, o culto e a tradição.

Mas foi o príncipe Olavo Bilac, sem alarde, apostolado cívico pelo Brasil afora, que à tarde em Ouro Preto, se encontrava magro, tremendo, fazendo da dedicatória de um grande e grave segredo, em reflexões amargas, a via-láctea do enredo.

E assim os poetas nos dizem da criação na persistência do amor.

Olha, lá vem vindo o autor do nosso hino de escola! Osório Duque - Estrada, bem de perto, um mulato gozador, por Minas- barroca o gigante encurvado caminha, entre o desejo e a campina, onde a branca flor invade o limbo, majestosa, quase louca, hoje velha.

E é lá que o poeta nos ensina - que na terra andam os homens e no céu voam as meninas.